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Archivos de Zootecnia
versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592
Arch. zootec. vol.61 no.235 Córdoba sep. 2012
https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922012000300012
Efeito da suplementação de fitase na alimentação de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum)
Effect of phytase supplementation for juveniles of tambaqui (Colossoma macropomum)
Mendonça, P.P.1*, Costa, P.C.2, Polese, M.F.3, Vidal Jr, M.V.4 e Andrade, D.R.4
1Setor de Aquicultura. Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Campos Alegre. Alegre, Espírito Santo. Brasil. *ppmendonca@ifes.edu.br
2Centro de Ciências Agrárias. Universideda Federal do Espírito Santo. Brasil.
3Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Campos Piúma. Brasil.
4Universidade Estadual do Norte Fluminense Darci Ribeiro. Campos dos Goytacazes. Rio de Janeiro. Brasil.
RESUMO
O presente experimento foi realizado na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, no setor de aqüicultura, objetivando-se avaliar a suplementação de fitase para alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum). Foram utilizados 170 alevinos com peso inicial médio de, 3,12±0,05 g e comprimento total médio inicial de 5,36±0,06 cm. Os alevinos foram distribuídos aleatoriamente, em 20 aquários experimentais de volume útil 40 L, com abastecimento de água proveniente de um sistema de circulação fechado, equipado com filtro biológico. Os tratamentos foram constituídos de cinco dietas isoprotéicas e isocalóricas (28% de proteína e 3100 kcal de ED/ kg de dieta), suplementadas com quatro níveis de fitase exógena (700, 1400, 2100 e 2800 UAF/kg de dieta) mais uma sem suplementação. A adição de fitase as dietas, foi realizada durante a mistura dos ingredientes para fabricação das dietas peletizadas. Foi verificado o efeito da suplementação de fitase sobre as variáveis mensuradas, sendo a menor dose estimada igual a 1540,62UFA kg-1 de dieta, para variável consumo de ração e a maior dose estimada igual a 2303,83 UFA kg-1 de dieta, para variável taxa de desenvolvimento especifica. As doses estimadas no presente trabalho são superiores às encontradas em trabalhos que citam o efeito da suplementação sobre os peixes. Entretanto a dose de suplementação, assim como a idade e outros fatores podem ser motivos de verificação ou não da ação da fitase sobre o desenvolvimento dos peixes. Ao final do experimento, concluiu-se que a fitase influenciou o desenvolvimento dos juvenis de tambaqui a partir da dose estimada em 1540,62 UFA kg-1 de dieta.
Palavras chave: Fitato. ATP. Fisiologia. Peixe.
SUMMARY
This experiment was conducted the Norte Fluminense State University Darcy Ribeiro in the aquaculture sector, aiming to evaluate the supplementation of phytase for juvenile tambaqui (Colossoma macropomum). It was used a total of 170 fingerlings with average initial weight of 3.12±0.05 g and initial total length with the average of 5.36±0.06 cm. The fingerlings were randomly distributed in 20 experimental tanks with an useful volume of 40 L, being the water supplied from a closed circulation system, equipped with a biological filter. The treatments consisted of five isoproteic and isocaloric diets (28% protein and 3100 kcal ED/kg diet), supplemented with four levels of exogenous phytase (700, 1400, 2100 and 2800 UAF/kg diet) with one more without supplementation. The addition of phytase to the diets was done during the mixing of the ingredients for the manufacture of pelleted diets. It was verified the effect of phytase supplementation on the measured variables, being the smallest estimated dose equal to 1540.62 UFA kg-1 of diet for feed intake variable and the higher estimated dose equal to 2303.83 UFA kg-1 of diet for variable rate of specific development. The doses estimated in this study are much higher than those found in studies that mention the effect of supplementation on the fish, although the dose of supplementation, as well as age and other factors may be grounds, or not, for checking the action of phytase on the development of fish. At the end of the experiment, it was concluded that phytase influenced the development of tambaqui from the estimated dose, 1540.62 UFA kg-1, of diet.
Key words: Phytate. ATP. Physiology. Fish.
Introdução
Dentre as espécies nativas produzidas pela piscicultura brasileira, o tambaqui (Colossoma macropomum) e a espécie mais produzido e comercializado no Brasil, com um total médio produzido em 2009 de 46 454,00 toneladas (MPA, 2009). Este fato esta ligado diretamente com as características de produção que essa espécie possui: boa adaptação ao cativeiro, boa aceitação no mercado, alta prolificidade, hábito alimentar onívoro, bom crescimento, boa conversão alimentar e rusticidade. (Menezes, 2005).
A alimentação pode corresponder a valores acima de 60% dos custos de produção, e melhorias na eficiência da utilização dos nutrientes resultam em economias significativas. Assim, torna-se importante o conhecimento da utilização dos nutrientes como a proteína, os lipídios, os carboidratos, as vitaminas e os minerais nas formulações de rações para produção de dietas de baixo custo. Assim minerais como fósforo podem influenciar na eficiência das dietas, pois, de acordo com Lehninger et al. (1993), a maioria do fósforo nos grãos de cereais está na forma do complexo orgânico fitato. Devido ao grupo ortofosfato do fitato ser altamente ionizado, este se complexa com uma variedade de cátions (Ca, Fe, Zn, Mn) e com o grupo amina de alguns aminoácidos, tornando-se indisponível para alimentação de peixes e demais animais monogástricos, pela ausência da enzima fitase.
O fósforo é um nutriente essencial, e a sua deficiência acarreta uma redução na taxa de crescimento, redução na eficiência alimentar e baixa na mineralização óssea (Furuya et al., 2001).
Nos peixes, aproximadamente 85 a 90% do fósforo estão presente nos ossos e escamas (Lovell, 1988). A deficiência de fósforo pode resultar na redução do apetite, retardo no crescimento e anemia hipocrômica microcítica. Em alguns casos, convulsão seguida de morte, além de escoliose e lordose. Além disso, pode causar deformidade e hipodensidade de minerais nas vértebras pela baixa mineralização (Hellandet al., 2006).
Souza (2008) comenta sobre a ação da fitase sobre o fitato, que acarreta em maior disponibilidade de fósforo para a absorção pelo intestino. Essa maior disponibilidade de fosforo pode melhorar o desempenho, a digestibilidade e a disponibilidade dos nutrientes da dieta, além de reduzir a excreção do fósforo presente no fitato. Assim, a utilização de dietas suplementadas com fitase tem-se mostrado cada vez mais importante, uma vez que pode favorecer a criação de peixes com redução do impacto ambiental. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta dos alevinos de tambaqui à suplementação de fitase exógena em diferentes dosagens.
Material e métodos
O presente experimento foi realizado no Brasil, estado do Rio de Janeiro na cidade de Campos dos Goytacazes, na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, no setor de aqüicultura. O período de duração do experimento foi de 23 de março a 13 de maio de 2010, totalizando 50 dias de experimentação.
Para realização do experimento foram utilizados 170 alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum) com peso inicial médio de, 3,12±0,050 g e comprimento total médio inicial de 5,36±0,06. Os alevinos foram distribuídos aleatoriamente, em 20 aquários experimentais de volume útil 40 L, com abastecimento de água proveniente de um sistema de circulação fechado, equipado com filtro biológico, aquecedores com termostatos para manutenção da temperatura da água.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, quatro repetições, totalizando 20 unidades experimentais. Cada unidade experimental foi composta por um aquário com 7 alevinos de tambaqui, com entrada e saída de água independentes.
Os tratamentos foram constituídos (tabela I) de cinco dietas isoprotéicas e isocalóricas (28% de proteína e 3100 kcal de ED/kg de dieta), suplementadas com quatro níveis de fitase exógena (700, 1400, 2100 e 2800 UFA/kg de dieta) mais uma sem suplementação. A adição de fitase as dietas, foi realizada durante a mistura dos ingredientes para fabricação das dietas.
O produto utilizado para suplementação de fitase (Natuphos® 5000, BASF, Germany) apresenta concentração de 5000 UFA/g de produto. Ressalta-se que uma unidade de fitase ativa (UFA) é a quantidade de fitase que libera fósforo inorgânico do fitato de sódio (5,1 mM) a uma taxa de 1 µmol/ min em pH 5,5 e temperatura de 37oC (Kornegay, 1999).
O período pré-experimental, para a adaptação dos juvenis às condições de laboratório, foi de cinco dias, durante os quais todos receberam a ração experimental sem adição de fitase, fornecida em quatro vezes por dia.
Para a confecção das rações os alimentos foram finamente moídos em moinho de martelo, com peneira de 0,5 mm, misturado em misturador industrial tipo Y. A mistura então foi umedecida e peletizada. Após a peletização a ração foi seca à sombra e passada em peneira para padronização no tamanho dos peletes, os quais foram adequados ao tamanho da boca dos peixes. As rações foram acondicionadas em embalagens plásticas, identificadas e armazenadas em geladeira.
O oxigênio dissolvido e temperatura foram mensurados diariamente, após a ultima alimentação do dia, através de oxímetro e termômetro digital. Os valores de pH foram mensurados com auxilio de um pHmetro digital com duas casas decimais. A condutividade elétrica foi medida com o auxílio de um condutivímetro.
A sobrevivência foi acompanhada diariamente e a cada dez dias três alevinos foram pesados e medidos individualmente para avaliação do peso, para adequação das taxas alimentares, até completar os 50 dias de experimentação. O desempenho produtivo foi avaliado pela conversão alimentar aparente, taxa de eficiência protéica, taxa de crescimento específico.
Para cada variável mensurada no experimento foi realizada uma anova geral, onde observou-se a existência ou não do efeito do tratamento sobre as variáveis mensuradas. Após observação positiva foi feita a analise de regressão polinomial de cada variável. Todos os cálculos foram realizados com auxílio do programa estatístico SAEG (2007).
Resultados e discussão
Os valores dos parâmetros relacionados à qualidade da água, oxigênio dissolvido, temperatura da água, pH e condutividade elétrica, mensurados neste experimento, estão na tabela II.
O teor médio de oxigênio dissolvido, durante o período experimental, foi de 5,75 mg/L. Segundo Araújo-Lima e Gomes (2005), o tambaqui tem seu crescimento normal em níveis de oxigênio acima de 3 mg/L, portanto os valores obtidos no experimento ora descrito atendem perfeitamente a exigência do tambaqui. Da mesma forma, as médias dos valores de pH mantiveram-se dentro dos padrões recomendados por Aride et al. (2004), entre 5,0 e 6,5. A temperatura dos aquários experimentais mostrou-se adequada para espécies de clima tropical, apresentando médias entre 28,0oC.
Com relação aos resultados obtidos com a biometria realizada no presente trabalho, foram observadas maiores respostas quanto as variáveis, comprimento total, comprimento padrão e peso final, nos tratamentos com suplementação de fitase (tabela III).
A sobrevivência não foi afetada, demonstrando que a suplementação de fitase não possui efeito sobre essa variável, assim como foi percebido por Rocha et al. (2007), o mesmo foi observado também por Furuya et al. (2001 e 2004) para juvenis de tilápias do Nilo.
As melhores respostas (tabela III) estão sempre acima da dose de 1400 UFA/kg de ração (T3). O análise de regressão realizada com intuito de estimar a dose de fitase que dará melhor resposta em desenvolvimento, indica que as variáveis apresentaram comportamento quadrático (p>0,05), sendo elas descritas da seguinte forma:
Para as quatro variáveis citadas, foram estimados os pontos de máxima de cada parábola descrita pela regressão (2139,98; 2147,49; 2209,07 e 2246,36 UAF/kg de ração) para as seguintes variáveis, peso final, comprimento total, comprimento padrão e altura, respectivamente.
Estes valores de suplementação estimados no presente trabalho são superiores aos valores encontrados por Furuya et al., (2001) trabalhando com alevinos de tilápia (Oreochromis niloticus) estimaram uma dose máxima de 700 UFA/kg de ração, assim como Rocha et al. (2007) trabalhando com alevinos de jundiá (Rhamdia quelen) concluíram que a suplementação com fitase até 1500UAF/kg de ração apresenta efeito positivo sobre variáveis de desenvolvimento e Furuya et al. (2008) que trabalharam com alevinos de pacu (Piaractus mesopotamicus) encontraram valores máximos para o desenvolvimento de 433,33UF/ kg de ração. Estes resultados mostram que a suplementação de fitase em dietas para peixes em fase inicial de vida pode variar bastante entre espécies diferentes.
De acordo com Silva et al. (2005), a suplementação de fitase não afeta a digestibilidade dos nutrientes da dieta fornecida para alevinos de tilápia nilótica. Sajjadi e Carter (2004) também não verificaram efeitos positivos da suplementação de fitase sobre a digestibilidade da dieta fornecida para salmão do atlântico. Quando uma ração passa pelo processo de extrusão as moléculas dos nutrientes desta ração expandem, principalmente o amido, devido à alta pressão combinada com a elevada temperatura e umidade, resultando em uma ração com melhor digestibilidade. Uma vez que a ração utilizada no presente trabalho não foi extrusada e sim peletizada, provavelmente não melhorou alterou a digestibilidade dessa ração e conseqüentemente causou uma maior necessidade de suplementação com fitase, para se obter os resultados desejados.
Por outro lado, sugere-se que a base da ração também possa ter influenciado a resposta da suplementação no presente trabalho, pois segundo Bock et al. (2007) em estudos com alevinos de tilápia do Nilo perceberam que dietas com baixos níveis de fósforo disponível restringiram a utilização da proteína dietética. Como a ração base para o presente trabalho não tinha uma base vegetal e sim uma base mista, a mesma provavelmente apresenta uma pequena porcentagem de fósforo disponível, conseqüentemente diminuindo a utilização da proteína dietética e causando um aumento na suplementação de fitase para melhorar a utilização do fósforo não disponível (fitato) e conseqüentemente melhorar o desempenho dos alevinos de tambaqui do trabalho.
As variáveis ao desenvol-vimento dos alevinos de tambaqui apresen-taram um comportamento quadrático (tabela IV).
Para as variáveis, consumo de ração (CR), conversão alimentar aparente (CAA) e taxa de eficiência protéica (TEP), os valores de suplementação de fitase na ração que correspondem de forma mais eficiente são; 1540,62; 1796,90 e 1760,35, respectivamente.
Esses valores foram estimados através das seguintes equações:
Souza (2008) observou uma piora na conversão alimentar dos peixes que receberam dietas com fitase em comparação aos que consumiram dieta com fosfato bicálcico. Mesmo quadro foi observado para a truta arco-íris (Vielma et al., 2004) e para a tilápia do Nilo, quando as dietas foram suplementadas com fitase em níveis de 500 a 1250 UFA/kg da dieta (Liebert e Portz, 2005). Em estudos com o salmão do Atlântico e carpa comum, Nwanna e Schwarz (2007) indicaram que a fitase estimula o apetite dos peixes levando à piora na conversão alimentar.
Contradizendo estes resultados, o presente trabalho através da coleta de dados e da analise estatística estimou que a suplementação de fitase melhorou significativamente a conversão alimentar atingindo seu ápice na dose de 1796,90 UFA/kg de ração, o mesmo foi abservado para outras espécies em outros trabalhos como o de Jackson et al. (1996) com juvenis de catfish, por Furuya et al. (2001) para a tilápia do Nilo, por Debnathet al. (2005) com alevinos de P. pangasius e por Baruah et al. (2007) com o L. rohita.
A maior retenção de proteína pelos peixes que receberam as rações com maior inclusão de fitase provavelmente está relacionada com a maior disponibilidade do fósforo (Yoo et al., 2005) nas rações suple-mentadas com fitase. Segundo Denstadli et al.(2007), a fitase aumenta a disponibilidade do fósforo na matéria prima utilizada para formulação de rações e conseqüentemente a digestibilidade da proteína. A fitase ainda aumenta a digestibilidade dos aminoácidos (Sugiura et al., 2001), e alguns minerais como zinco, magnésio, cobre e ferro (Masumoto et al., 2001).
Observa-se valores próximos entre a resposta da TEP para o tratamento sem suplementação e os tratamentos acima de 1400 UFA/kg de ração. Vários estudos relatam a eficiência da suplementação de enzimas ou complexos enzimáticos sobre o desenvolvimento dos peixes como Vielma et al., 1998; Furuya et al., 2004; Gonçalves et al., 2004; Sajjadi e Carter, 2004; Bock et al., 2006; Furuya et al., 2006; Silva et al., 2007; Rocha et al., 2008). Entretanto, Gonçalves et al. (2007), observaram que a suplementação ou não de fitase na ração ao nível de 1000 e 2000 UF/kg de ração não afetou a digestibilidade do farelo de trigo e do farelo de algodão. Furuya et al. (2005) também não observaram diferença entre a suplementação ou não de fitase para as variáveis taxa de eficiência protéica, peso final, conversão alimentar e sobrevivência utilizando ração com 25% de proteína bruta e para variável rendimento de carcaça com ração contendo 28% de proteína bruta.
Os menores valores observados em relação a taxa de eficiência protéica dos peixes alimentados sem suplementação ou com excesso de suplementação de fitase possivelmente está associada a possível inibição da β-oxidação dos ácidos graxos que resultou em menor utilização dos lipídios como fonte de energia, sendo utilizada a proteína como fonte alternativa de energia, o que reduziu a utilização da proteína (Roy e Lall, 2003). Por outro lado, a menor utilização da proteína pelos peixes que receberam dietas com altos valores de fitase na ração, pode estar relacionada com o maior valor de fósforo disponível, que pode ter inibido a utilização de minerais como: cálcio, zinco, magnésio e ferro (Furuya et al., 2008).
Alem da TEP, do CR e da CAA, outra variável que e afetada diretamente devido a utilização de proteína pelo peixe e o ganho de peso (GP), a taxa de crescimento especifico (TCE) e a taxa de desenvolvimento especifico (TDE). Essas variáveis demonstraram um comportamento quadrático com o máximo de resposta a suplementação com fitase, quando a dose de suplementação chega a 2145,77; 2170,67 e 2303,83 UFA/ kg de ração, respectivamente.
O comportamento quadrático das variáveis mencionadas acima esta relacionado aos efeitos positivos e negativos que pode ter a suplementação de fitase quando e feita de forma excessiva. Esta pode afetar a digestibilidade da proteína e a disponibilidade de minerais, o que podem favorecer ou não a absorção intestinal (Rocha et al., 2007).
Os resultados do presente trabalho diferem dos observados por Hugues e Soares (1998), que avaliaram a suplementação de diferentes níveis de fitase (0, 800; 1300 e 2400 FTU kg-1 dieta) e fósforo inorgânico (K2PO4), não encontrando efeito dos níveis de fitase sobre o ganho de peso entre os tratamentos para o striped bass (Morone saxatilis).
Cerca de 67% do fósforo total presente nas sementes de oleaginosas, grãos de cereais e seus subprodutos encontra-se na forma de fitato, de baixa disponibilidade para os peixes (NRC, 1993). A adição de fitase resulta em aumento 58,82% na disponibilidade do fósforo do farelo de soja integral (Silva et al., 2005).
Os efeitos positivos da suplementação de fitase sobre a utilização do fósforo fítico já foram demonstrados em estudos realizados com a truta arco-íris por Lanari et al. (1998) e Vielma et al. (2000). O aumento na disponibilidade do fósforo do farelo de canola suplementado com fitase também foi obtido por Richie e Brown (1996) e Forster (1999), em trabalho realizado com essa mesma espécie.
Já em trabalhos realizados por Rodehutscord e Pfeffer (1995), Lanariet al.(1998) com a truta arco-íris, os maiores valores de ganho de peso foram obtidos pelos peixes que consumiram ração com 1000 UF/kg de ração. Outro trabalho realizado com truta arco-íris foi o de Vielma et al. (1998), em que observaram maior valor desta variável no tratamento que recebeu ração contendo 1500 UF/kg de dieta, sendo inferior também ao valor determinado pelo presente trabalho, porem bem mais próximo.
O valor estimado para suplementação de fitase no presente trabalho para a variável GP, está próximo ao encontrado por Furuya et al. (2008) que observaram resposta linear a suplementação de fitase na ração para alevinos de pacu, com o maior valor de suplementação testado equivalente a 2000 UF/kg de ração, sobre o ganho de peso, sendo uma resposta linear, podemos esperar que a dose máxima para essa variável fique acima de 2000UF/kg de ração.
A taxa de desenvolvimento específico (TDE) e a taxa de crescimento específico (TCE) são variáveis que demonstram como o animal evolui em comprimento e em peso durante os dias do experimento, respectivamente. A TCE encontrada na tabela IV difere dos resultados obtidos por Mendonça et al. (2009) também trabalharam com alevinos de tambaqui e encontraram valores ainda menores em relação a taxa de crescimento especifica para os tratamentos com diferentes fotoperíodos (1,13; 1,26; 1,24 e 1,45). Porem os animais desse trabalho (Mendonça et al., 2009) não foram alimentados com ração balanceada para a espécie e nem suplementada com nenhum tipo de substância promotora de crescimento, isso pode explicar os valores estão abaixo dos encontrados no presente trabalho.
Valores de TCE abaixo dos apresentados no presente trabalho também são descritos por Santos et al. (2010), que trabalharam com níveis de proteína após período de privação alimentar para alevinos de tambaqui e observaram que a medida que aumentava os níveis protéicos, maior era o valor da TCE, sendo a maior resposta com ração contendo 36% de proteína bruta. Valor este de proteína superior ao utilizado no presente trabalho 28% de proteína bruta.
Já Signor et al. (2010) trabalharam com suplementação de complexo enzimático para juvenis de tilápia do Nilo com peso médio inicial de 14,57 ± 1,24 g, que também continha enzima fitase, não observaram diferença significativa entre os valores de TCE obtidos com as suplementações.
Rocha et al. (2007) observaram efeito linear para a taxa de crescimento específico (TCE) dos alevinos de jundiá até o nível de 1500 FTU/kg de ração. O aumento linear observado por Rocha et al. (2007) na TCE com o incremento dos níveis de fitase na dieta pode estar relacionado com os efeitos positivos da fitase sobre a digestibilidade protéica e a disponibilidade de minerais, favorecendo sua absorção intestinal. O mesmo foi observado por Portz e Liebert (2004) para juvenis de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) até o nível de 2000 FTU/kg de ração.
O fósforo geralmente é o nutriente mais limitante em grãos de cereais usados naelaboração de dietas para peixes. É um nutriente essencial e sua deficiência leva a uma redução na taxa de crescimento, redução na eficiência alimentar, baixa mineralização óssea (Furuya et al., 2001). A suplementação com fitase contribui para o aumento da disponibilidade dos amino-ácidos e minerais como o cálcio, zinco, magnésio, cobre e ferro (Sugiura et al., 2001).
Vários estudos têm sido realizados para avaliar os efeitos da enzima fitase sobre o desempenho e a disponibilidade dos minerais, principalmente o fósforo. Os efeitos da suplementação de fitase sobre a digestibilidade da energia bruta e dos nutrientes foram demonstrados em trabalhos realizados com a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) por Lanari et al. (1998) e Forster (1999), com salmão do Atlântico (Salmo salar) por Sajjadi e Carter (2004), com striped bass (Morone saxatilis) por Papatryphon e Soares (2001) e com a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) por Furuya et al. (2001).
Bock et al. (2007), trabalharam com níveis de suplementação variando de 1000 a 2000 UF/kg na dieta da tilápia do Nilo e não melhoraram o desempenho produtivo, apesar de reduzirem os níveis de fósforo nas fezes. Nwanna e Schwarz (2007) testaram a inclusão de três níveis de fitase (1000, 2000 e 4000 UF/kg) na dieta da carpa comum e não observaram efeito sobre o desempenho. Esses autores sugeriram níveis maiores de fitase para uma possível melhora no desempenho produtivo.
A taxa de atividade de hidrólise da enzima na temperatura do presente trabalho pode ter influenciando a resposta da suplementação, uma vez que a temperatura se manteve em 28oC. E a temperatura e o pH ideal para atividade de hidrólise da fitase é superior aos 30oC e 5,3, respectivamente Sugiura et al. (2001).
Baruah et al. (2007) relataram que, em peixes carnívoros, o baixo pH estomacal facilita a ação de enzimas digestivas, inclusive a fitase. Em peixes onívoros, esse mecanismo é reduzido, devido ao valor do pH do estômago dessas espécies. Como alternativa, poderiam ser utilizados ácidos orgânicos ou acidificantes na dieta para melhorar a atividade enzimática (Li et al., 2008).
O pré-tratamento das dietas com fitase, ou a inclusão de ácidos orgânicos, pode ser uma alternativa para melhorar o efeito desta enzima em peixes onívoros (Rocha et al., 2010). É importante mencionar, também, que a ação e o resultado dos níveis de fitase empregados estão relacionados com o valor biológico dos alimentos, a natureza e a quantidade de ácido fítico que estes possam conter (Gonçalves et al., 2004).
Conclusão
A suplementação de fitase na dieta influencia o desenvolvimento de alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum). Entretanto, concentrações mais altas são necessárias que as recomendadas em comparação à literatura disponível.
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Recibido: 15-4-11
Aceptado: 23-2-12.