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Revista de la OFIL

versão On-line ISSN 1699-714Xversão impressa ISSN 1131-9429

Rev. OFIL·ILAPHAR vol.30 no.4 Madrid Out./Dez. 2020  Epub 25-Maio-2021

https://dx.doi.org/10.4321/s1699-714x2020000400020 

Cartas al Director

Analgésicos opioides disponíveis em Portugal aprovados para dor crónica

Opioid analgesics available in Portugal approved for chronic pain

MF Valentim Maricoto Silva1  , GM Aguilar Abrantes Nogueira2 

1Farmacêutica Comunitária. Farmácia Covilhã. Covilhã (Portugal)

2Farmacêutico Comunitário. Farmácia Central. Caria (Portugal)

RESUMO

A prevalência de dor crónica na população portuguesa é de 37%, provocando limitações físicas, psicológicas, sociais e uma clara diminuição da qualidade de vida. Em alguns tipos de dor crónica, os analgésicos opioides mostraram-se como as únicas alternativas passíveis de proporcionar controlo de dor, devendo a terapêutica recorrendo a este grupo ser iniciada quando todas as outras opções falharam.

Este artigo pretende rever as principais características dos analgésicos opioides, incluindo efeitos secundários e formas farmacêuticas disponíveis, tanto para terapêutica basal como de resgate.

Palavras chave: Opioide; dor; analgesia; analgésico; Portugal

SUMMARY

Chronic pain has a prevalence of 37% in the Portuguese population, causing physical limitations, psychological and social problems and a great decrease in the quality of life. In many types of chronic pain, opioid drugs are the only options that can provide pain relief, and therapy using this pharmacotherapeutic group should be started when other options have failed.

This paper aims to review the main characteristics of opioid analgesics, including side effects and available pharmaceutical forms, both for baseline and rescue therapy.

Key Words: Opioid; pain; analgesia; analgesic; Portugal

Senhor Diretor:

Em Portugal, 37% da população adulta reportou sofrer de dor crónica, provocando além das limitações físicas, problemas psicológicos e sociais que afetam tanto a vida pessoal como profissional1. Em muitos tipos de dor crónica, os fármacos opioides mostram-se como as únicas soluções capazes de proporcionar alívio de dor e consequentemente aumento da qualidade de vida. A terapêutica da dor recorrendo a fármacos opioides é apenas considerada quando todas as abordagens terapêuticas não opioides e adjuvantes falharam2.

Em situações de dor crónica, principalmente em casos de dor oncológica, o doente pode experimentar exacerbações transitórias de dor, que ocorrem apesar de uma terapêutica basal analgésica. Normalmente o início é súbito e de curta duração e torna-se especialmente difícil de tratar. Estes doentes são tratados com um opioide de longa ação para alívio da dor persistente, e têm sempre disponível um opioide de resgate, de rápido início de ação, para estes episódios3. NaTabela 1 encontram-se resumidos os fármacos opioides comercializados em Portugal aprovados para gestão de dor crónica e respetivas formulações de longa ação e terapêutica de resgate.

Tabela 1.  Analgésicos opioides administrados para dor crónica, disponíveis em Portugal4  

LC: comprimido/cápsula; CB: comprimido bucal; CE: comprimido efervescente; CLP: comprimido/cápsula libertação prolongada; COD: comprimido orodispersível; N: solução nasal; R: supositório; SO: solução oral; ST: sistema transdérmico.

Os opioides ligam-se a recetores específicos acoplados à proteína G envolvidos na transmissão e modulação da dor, designados classicamente em recetores µ, κ e δ. Os seus efeitos terapêuticos e secundários estão diretamente relacionados com os recetores que estimulam. A maioria dos opioides analgésicos clinicamente relevantes são agonistas dos recetores µ no sistema nervoso central5. O tapentadol e o tramadol, além da ação agonista no recetor µ, também produzem analgesia por um mecanismo que inibe a recaptação de noradrenalina, permitindo maior potência analgésica e maior espectro de ação4.

Os efeitos secundários dos fármacos opioides são comuns a todos ou quase todos os fármacos e são dependentes da dose. Os mais comuns incluem confusão, sonolência, alucinações, pesadelos, boca seca, hipogonadismo, supressão da tosse, obstipação, náuseas e vómitos. Prurido, sudorese, hiperalgesia induzida por opioides, mioclonia e delírios são efeitos secundários menos comuns. A depressão respiratória é um efeito secundário grave, mas é raro se os opioides forem cuidadosamente titulados de acordo com a resposta do doente. Foi também associada a terapêutica opioide a efeitos secundários no sistema imunitário, assim como a função cognitiva. A gestão dos efeitos secundários deve ser feita com efeito preventivo, não só pelo ajuste terapêutico gradual permitindo recorrer sempre à mínima dose eficaz, como pela coadministração de fármacos que permitam minimizar alguns efeitos secundários6.

A tolerância e a dependência são dois efeitos secundários fundamentais de gerir em tratamento com fármacos opioides. A tolerância inicia-se na primeira administração de opioide, e é minimizada com a administração de doses baixas em intervalos de tempo maiores7. Para evitar a dependência física, a administração de opioides não deve ser parada abruptamente quando tomados consecutivamente há duas ou mais semanas, mesmo se a dor já foi suprimida8. Os sinais e sintomas de dependência física incluem rinorreia, lacrimejo, arrepios, hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vómitos, diarreia, ansiedade e hostilidade. A administração de um opioide suprime os sintomas e sinais de abstinência imediatamente7.

Apesar de haver pouca diferença nos efeitos terapêuticos e secundários de doses equianalgésicas entre diferentes opioides, a experiência clínica reporta que alguns doentes respondem favoravelmente a determinados opioides sendo intolerantes a outros, provavelmente devido à variabilidade interindividual existente. Existem dados clínicos que suportam que a mudança de um opioide para outro resulta em aumento dos efeitos terapêuticos ou diminuição dos efeitos secundários em mais de 50% dos doentes6.

A rotação opioide consiste na alteração do fármaco utilizado ou da via de administração e é útil em situações de inadequado controlo de dor, efeitos secundários limitantes ou alterações no estado clínico do doente que limitem a via de administração disponível. Na prática clínica existem escalas equianalgésicas disponíveis tanto em tabelas impressas como em aplicações de internet ou software específico9, servindo apenas como guia para ajustar a dose equianalgésica entre dois analgésicos opioides. A Morfina é considerada o opioide analgésico tipo e é usado na escala analgésica como termo de comparação com todos os outros fármacos opioides5.

Quando devidamente utilizados, os fármacos opioides são seguros e permitem aumentar a qualidade de vida do utente com dor crónica. Apesar dos vários efeitos secundários e potencial de dependência, nenhum analgésico se mostrou suficientemente forte para substituir estes fármacos6.

BIBLIOGRAFIA

1. Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias CC, Castro-Lopes JM. Epidemiology of Chronic Pain: A Population-Based Nationwide Study on Its Prevalence, Characteristics and Associated Disability in Portugal. The Journal of Pain. 2012;13(8):773-783. [ Links ]

2. O'Brien T, Christrup LL, Drewes AM, Fallon MT, Kress HG, McQuay HJ, et al. European Pain Federation position paper on appropriate opioid use in chronic pain management. European Journal of Pain. 2017;21(1):3-19. [ Links ]

3. Coluzi, PH. Sublingual Morphine: Efficacy Reviewed. Journal of Pain and Symptom Management. 1998;16(3):184-192. [ Links ]

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6. Drewes, AM, Jensen RD, Nielsen LM, Droney J, Christrup LL, Arendt-Nielsen L, et al. Differences between opioids: pharmacological, experimental, clinical and economical perspectives. British Journal of Clinical Pharmacology; 2013;75(1):60-78. [ Links ]

7. Katzung, BG. Basic & Clinical Pharmacology. 9a ed. San Francisco: McGraw-Hill Companies, Inc.; 2004. [ Links ]

8. Wickham, R J. Cancer Pain Management: Opioid Analgesics, Part 2. Journal of the advanced Practitioner in Oncology. 2017;8(6):588-607. [ Links ]

9. Treillet, E., Laurent, S. and Hadjiat, Y. Practical management of opioid rotation and equianalgesia. Journal of Pain Research. 2018;11:2587-2601. [ Links ]

Recebido: 02 de Fevereiro de 2019; Aceito: 28 de Fevereiro de 2019

Correspondencia: Mafalda Cristina Valentim Maricoto Silva - Avenida Maia Campos, nº 6 - 6200-680 Teixoso (Portugal)mafaldasilva00@gmail.com

Conflicto de intereses:

Los autores declaran no tener conflicto de intereses.

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