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Enfermería Global

versão On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.18 no.55 Murcia Jul. 2019  Epub 21-Out-2019

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.18.3.331811 

Originais

Fatores associados à experimentação do cigarro entre adolescentes

Luciene Dias Bispo Veiga1  , Claudio Bispo de Almeida2  , Paulo da Fonseca Valença Neto3  , Adriana Alves Nery4  , Djanilson Barbosa dos Santos5  , Cezar Augusto Casotti6 

1Enfermeira, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde/PPGES, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB. Brasil, lutebispo@gmail.com

2Discente, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde/PPGES, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB, Professor mestre na Graduação, Universidade do Estado da Bahia/UNEB. Brasil.

3Professor de Educação Física, Professor mestre na Graduação, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB. Brasil.

4Enfermeira, Professora doutora na Graduação/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde/PPGES, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB. Brasil.

5Doutor, Professor adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB. Brasil.

6Cirurgião-Dentista, Professor doutor, Graduação/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde/PPGES, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB. Brasil.

RESUMO

Objetivo

O presente estudo visa identificar a prevalência e fatores associados à experimentação de tabaco em adolescentes.

Método

Estudo epidemiológico, transversal, descritivo e analítico realizado com uma amostra aleatória simples, de escolares com idade de 14 a 19 anos, matriculada em escolas públicas de ensino médio da rede estadual da área urbana do município de Jequié-BA. Utilizou-se um questionário auto-aplicável de preenchimento voluntário, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelo responsável quando menor de 18 anos. Empregou-se o programa Epi DATA para a digitação dos dados e programa SPSS para calcular a razão de prevalência e realizar a regressão de Poisson.

Resultados

Participaram do estudo 765 adolescentes, sendo 59,9% do sexo feminino, 80,4% de etnia não branca, 71,4% sem ocupação remunerada, 74% menos favorecidos economicamente e 37,9% fazem uso de bebida alcoólica. A média de idade foi de 16,55 anos (dp±1,33) anos. A prevalência da experimentação de tabaco foi de 22,4%. As variáveis: pais fumam (RP=1,57; IC95%:1,15-2,12), amigos fumam (RP=2,15; IC95%:1,56-2,95), uso de bebidas alcoólicas (RP=2,05; IC95%:1,46-2,88) e grupo etário (RP= 1,36; IC95%:1,01-1,84) foram as que melhor permitiram prever o risco de um escolar vir a experimentar tabaco.

Conclusões

A prevalência de experimentação foi 22,4%, e as variáveis que melhor permitiram prever a predisposição de um escolar vir a experimentar o tabaco foram possuir pais fumantes, ter amigos que fumam, fazer uso de bebidas alcoólicas e serem do grupo etário de 17 a 19 anos.

Palavras-chave: tabaco; epidemiologia; saúde do adolescente; fatores de risco

INTRODUÇÃO

Estima-se que aproximadamente seis milhões de pessoas morrem por ano vitimadas por causa do tabagismo, e cerca de 600.000 pessoas morrem por exposição indireta ao fumo. A prevalência de uso do tabaco no mundo está estimada em cerca de 22%, sendo maior em homens (37%) do que em mulheres (7%). O consumo de tabaco aumenta o risco das doenças cardiovasculares, de câncer, das doenças respiratórias, diabetes melitos e mortes prematuras1.

Pesquisa realizada com adolescentes brasileiros em 26 capitais e distrito federal constatou prevalências de 22,7% para experimentação de cigarro, sendo que 6,1% fumante regular e 7,1% experimentou outros produtos de tabaco, sendo a metade desses fumantes regulares2. Outra pesquisa mostra prevalência de 29,3% para experimentação de tabaco, e afirma que 14,5% começaram a fumar antes dos 12 anos3. Outros estudos4,5 também mostram a prematuridade na experimentação de cigarro por crianças e adolescentes, tendo a idade inicial por volta dos 11 anos de idade.

Frente a isto, a indústria do tabaco tem direcionado, ao longo do tempo, seu marketing para adolescentes e adultos jovens, tendo em vista que o fato de deles verem com frequência muitas pessoas que fumam, pode ser um dos fatores associados à experimentação de tabaco, assim, deve-se considerar o controle da exposição de personagens tabagistas na mídia cinematográfica como forma de prevenção à experimentação do tabaco5. No Brasil, alta prevalência de experimentação de tabaco vem sendo observada em adolescentes estudantes de escola pública6,7,8, entretanto, deve-se considerar que também existem associações com estudantes matriculados em escolas particulares9,10. Nas capitais dos estados brasileiros a prevalência de experimentação de cigarros é maior em escolares do gênero masculino, com exceção dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul11.

Segundo dados de estudos realizados no Brasil, e no mundo, é na adolescência, que ocorre o maior risco para a experimentação do tabaco11. Diante disto, visando reduzir a prevalência deste agravo, na década de 1990 o Brasil proibiu a venda de tabaco para menores de 18 anos. Entretanto, os adolescentes continuam tendo acesso a compra destas substâncias5, tal situação demonstra a fragilidade no cumprimento da legislação, necessitando de maior controle na venda de cigarros como ação direta aos consumidores12.

Os adolescentes se encontram sob a influência em ambientes como a família, grupo de amigos, comunidade, propaganda e escola exercem funções essenciais e precipitantes, no que diz respeito a despertar os adolescentes para o consumo do tabaco. E por estarem em uma fase de transição para a vida adulta, período marcado por dúvidas e necessidades de aceitação em grupos a experimentação se constitui num problema de educação e não somente de saúde pública13.

Considerando que a experimentação do tabaco é um fator preponderante para que o jovem venha a se tornar um fumante1e motivados pela importância e magnitude do tema, este estudo objetivou identificar a prevalência e fatores associados à experimentação de tabaco em adolescentes residentes no município de Jequié-BA

MÉTODO

Trata-se de um estudo epidemiológico de corte transversal, analítico, realizado com adolescentes com idade de 14 a 19 anos, matriculados nas escolas públicas que ofertam o ensino médio na sede do município de Jequié-BA.

Foram critérios de elegibilidade: ter idade de 14 a 19 anos, estar matriculado em escolas públicas estaduais do ensino médio, nos turnos matutino, vespertino e noturno; estar presente na sala de aula no momento da coleta de dados; e apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido, devidamente assinado pelos pais e/ou responsáveis para os menores de 18 anos.

Para o cálculo da amostra utilizou-se prevalência de 10% para o consumo do tabaco, nível de confiança em 95% e grau de precisão de 2%, chegando a um número inicial de 714 estudantes. Prevendo as perdas e recusas, acrescentou-se a este valor 30%, o que elevou o tamanho da amostra para 928 escolares. A amostra utilizada foi aleatória simples sem reposição dos elementos amostrais. Para identificar o intervalo amostral (n=4) dividiu-se a população de escolares pelo valor obtido no cálculo da amostra. Em seguida realizou-se o sorteio do primeiro elemento amostral e a ele foi acrescido sucessivamente o intervalo amostral.

Empregou-se instrumento de coleta auto-aplicável, validado e utilizado no estudo Vigescola11, sendo a ele acrescentado um questionário proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) para avaliar a classificação econômica14. O instrumento continha variáveis sociodemográficas (sexo, idade, classe econômica, etnia, escolaridade do pai e da mãe, crença religiosa, trabalho remunerado, com quem reside e qual o provedor familiar), relacionadas ao tabaco (experimentação de cigarro, idade de iniciação do consumo; consumo de tabaco pelos pais e amigos) e bebidas alcoólicas (consumo).

Como variável dependente considerou-se como experimentador de tabaco os adolescentes escolares que em algum momento da vida tentou ou experimentou fumar cigarros, mesmo uma ou duas tragadas. As variáveis: grupo etário, escolaridade dos pais, e classificação econômica foram categorizadas, respectivamente, em 14 a 16 e 17 a 19 anos, baixa escolaridade (<8 anos de estudo) e alta escolaridade (> 8 anos), mais favorecidos economicamente (A2, B1 e B2) e menos favorecidos economicamente (C1, C2, D e E).

Os dados foram obtidos no período de julho a setembro de 2012, por uma equipe padronizada, nas salas de aula ou auditório das escolas onde os adolescentes estudavam. Durante a obtenção das informações, não havia a presença de professores ou coordenadores da escola no local da coleta. Em caso de dúvidas ao responder o questionário os escolares eram esclarecidos pela equipe de coleta. Para garantir a confidencialidade dos dados, após o preenchimento do questionário, sem identificação, o mesmo foi posto pelo próprio estudante em uma caixa.

Realizou-se análise descritiva das variáveis, calculando-se as frequências absolutas e relativas, bem como média e desvio-padrão para as variáveis contínuas. A associação entre a experimentação de tabaco (variável dependente) e os dados sóciodemográficos, econômicos, bebidas alcoólicas e a influência do entorno familiar e amigos (variáveis independentes) foi testada por meio da Técnica de Poisson. Foram calculados modelos robustos para estimar as razões de prevalência (RP), com os seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Em todas as análises a significância estatística adotada foi de 20% (p <0,20). Os dados foram tabulados e analisados noStatistical Package for Social SciencesparaWindows,versão 15.0.

Estudo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (CEP/UESB), protocolo n◦ 212/2011.

RESULTADOS

A amostra foi constituída por 765 adolescentes escolares, sendo a média de idade de 16,5 anos (dp±1,33). As perdas e recusas ocorreram em decorrência do preenchimento incompleto do questionário, da não autorização dos pais e de alguns alunos que não se sentiram a vontade em participar do estudo.

A Tabela 1 apresenta dados referentes à caracterização da amostra de adolescentes escolares.

Tabela 1. Características socioeconômica-demográfica, experimentação de tabaco, consumo de tabaco por amigos e familiares, e ingestão de bebidas alcoólicas entre adolescentes escolares (N=765). Jequié-BA, Brasil, 2012. 

Fonte: Dados da pesquisa

Conforme observado na Tabela 1, prevaleceram indivíduos do sexo feminino (59,9%), de etnia não branca (80,4%), do grupo etário de 14 a 16 anos (51,8%), com crença religiosa (85,1%), sem trabalho remunerado (71,1%), que residem com pai e mãe (54,4%), menos favorecidos economicamente (74,0%), que tem os pais como provedores do domicílio (82,5%), cujos pais possuem baixa escolaridade (54,7%), com mães com alta escolaridade (52,7%), que tem pais (79,1%) e amigos (63,3%) que não fumam e não usam regularmente bebidas alcoólicas (62,1%).

Verificou-se que a prevalência da experimentação do tabaco foi de 22,4% e dos que experimentaram 10,6% tinham idade entre 12 e 15 anos.

A Tabela 2 apresenta dados da análise bivariada da experimentação de tabaco e fatores associados entre adolescentes escolares.

Tabela 2. Experimentação de tabaco e fatores associados entre adolescentes escolares (N=765). Jequié, Bahia, Brasil, 2012. 

Fonte: Dados da pesquisa

Com base na Tabela 2, verifica-se que existe diferença estatisticamente significante entre a experimentação de tabaco e as variáveis: sexo (p=0,002; RP=0,65; IC95%=0,50-0,85), trabalho remunerado (p=0,001; RP=1,57; IC95%=1,19-2,05), grupo etário (p=0,005; RP=0,67; IC95%=0,51-0,88), pais que fumam (p=0,001; RP=1,72; IC95%=1,29-2,30), ter amigos que fumam (p=0,001; RP=2,59; IC95%=1,97-3,39) e fazer uso de bebidas alcoólicas (p=0,001; RP=3,08; IC95%=2,28-4,17). Escolares que tem amigos fumantes (RP bruta=2,59) e que fazem uso regular de bebidas alcoólicas (RP bruta=3,08) apresentam o maior risco de experimentarem o tabaco.

As variáveis: sexo, grupo etário, possuir trabalho remunerado, crença religiosa, classe econômica, pais que fazem uso de tabaco, amigos que fumam e fazem uso de bebidas alcoólicas regularmente foram inseridas na análise múltipla. Na Tabela 3, o modelo preditivo gerado permitiu identificar que o conjunto de variáveis que melhor permite prever a predisposição de um escolar vir a experimentar o tabaco foram: possuir pais fumantes (p=0,004; RP=1,57; IC95%=1,15-2,12), ter amigos que fumam (p<0,001; RP=2,15; IC95%=1,56-2,95), fazer uso de bebidas alcoólicas (p<0,001; RP=2,05; IC95%=1,46-2,88), e pertencer ao grupo etário de 17 a 19 anos (p=0,04; RP=1,36; IC95%=1,01-1,84).

Tabela 3. Modelo de regressão de Poisson empregado para identificar as variáveis associados à experimentação de tabaco por adolescentes. Jequié, Bahia, Brasil, 2012. 

Fonte: Dados da pesquisa

Percebeu-se que as variáveis: sexo (p análise bruta= 0,002; p análise ajustada=0,05), e trabalho remunerado (p análise bruta= 0,001; p análise ajustada= 0,14) perderam significância estatística na análise múltipla (Tabela 3) quando comparadas as análises brutas (Tabela 2).

DISCUSSÃO

O presente estudo possibilitou identificar os fatores de risco associados à experimentação de tabaco em adolescentes residentes em um município no interior da Bahia.

A prevalência de experimentação de tabaco na população estudada foi de 22,4%, corroborando com os dados de pesquisa realizada com 61.037 adolescentes residentes em capitais brasileiras (22,7%)2, e do estudo realizado em Uruguaiana-RS (29,3%)3.

Outro aspecto importante a ser considerado para a experimentação do tabaco é a idade de iniciação. No presente estudo, a média de idade foi 16,55 anos, média superior a encontrada em outros estudos para o início da experimentação ao tabaco, sendo que 10,6% dos entrevistados com idade entre 12 e 15 anos informaram já ter experimentado tabaco. Em um estudo com crianças, idade média de 11,56 anos, encontrou-se que 13,3% já haviam experimentado cigarro (5). Outro estudo trás uma média de idade similar para a idade da experimentação de cigarro pela primeira vez 11,1 anos (5-14 anos). Em Uruguaiana 14,5% dos adolescentes começaram a fumar antes dos 12 anos3, e em Santarém-PA, a média de idade da experiência com cigarro foi de 12,37 anos (DP±1,84 anos)6.

Atualmente existe uma preocupação em identificar comportamentos de risco à saúde em adolescentes, a exemplo do tabagismo, por esta fase constituir-se num período de experimentação do desconhecido e do proibido. Os hábitos adquiridos na adolescência podem perdurar e levar a dependência comprometendo a saúde dos indivíduos por toda a vida. A experimentação do tabaco pode ser um importante indicador de risco preditivo para o uso de drogas ilícitas7 e para a consolidação do hábito de fumar13,15.

Quanto mais precoce se estabelece a iniciação e dependência ao uso do tabaco, maiores os riscos para o adoecimento e morte prematura na meia-idade ou idade madura, sendo que a diferença de anos no início do consumo de cigarros, pode aumentar, em quase o dobro, os riscos de danos à saúde16. A partir disso, é relevante a manutenção e expansão das políticas públicas efetivas de prevenção ao consumo de tabaco, principalmente, para os indivíduos dessa faixa etária, visando a redução da experimentação e da transição desta para o uso contínuo de cigarros, e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis1,6,9.

No presente estudo as variáveis que melhor permitem prever os adolescentes que possam vir a experimentar o tabaco são: Grupo etário, pais fumantes, amigos fumantes e uso de bebidas alcoólicas pelos adolescentes.

Em relação à idade, observou-se que o grupo etário de 17 a 19 anos possui uma maior predisposição a experimentação do tabaco. Corroborando, identificamos estudo realizado com adolescentes de capitais brasileiras, onde a chance da experimentação e fumo regular crescem com o aumento da idade2. Resultados similares também foram encontrados em meninos de cor parda, com maior idade e de maior ren da familiar10, com escolares de Cuiabá-MT8 e com escolares de Várzea Grande-MT em relação ao uso do narguilé, que foi associado ao período final da adolescência9.

Observou-se, neste estudo, que o risco de vir a experimentar o tabaco é maior em adolescentes que tem pais e amigos que fazem uso desta substância. A presença de um fumante em casa e ter amigos fumantes são fatores de risco significantes para o início do hábito de fumar. Em adolescentes escolares com idade de 12 a 19 anos de Uruguaiana-RS, constatou-se que houve associação entre o tabagismo e ter amigo tabagista (OR: 5,67, IC95%: 2,06-7,09)3. Em outro estudo realizado com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - 2012 identificou-se que é maior a chance de experimentar o tabaco aqueles adolescentes que tem amigos e pais fumantes, e que ficam maior número de dias na presença de outra pessoa fumando (OR = 4,27; IC95% 3,82 - 4,77)2.

Em estudantes da rede pública de ensino, no Estado do Pará, consumo de tabaco pelos pais e amigos, também foi associado à experimentação6. Tais resultados mostram a importância dos relacionamentos sociais para a formação e tomada de decisão pelos adolescentes, considerando que a adolescência é uma fase que a busca pela autoafirmação em grupos sociais se evidencia.

Em escolares adolescentes de Jequié-BA verificou-se que aqueles que fazem o uso regular de bebida alcoólica apresentam um maior risco de experimentação do tabaco (RP=2,05). A bebida alcoólica tem se tornado um fator que vem sendo associado ao à experimentação de cigarro e ao habito de fumar, seja em crianças (p<0,001)5 ou em adolescentes, que experimentaram o tabaco6. Estes achados nos remete a necessidade de um maior investimento do setor público no sentido de atuar de forma a reduzir a experimentação de tabaco e o consumo de álcool, visto que tanto o hábito de fumar quanto de consumir bebidas alcoólicas são extremamente prejudiciais à saúde dos indivíduos em qualquer fase de sua existência.

No presente estudo foram verificadas algumas limitações: 1) o delineamento transversal que impede o avanço em análises temporais das observações estudadas, em virtude do não estabelecimento permitindo para encontrar relação de causalidade; 2) o fato da coleta de dados abranger, somente, adolescentes matriculados em escolas públicas do ensino médio da zona urbana do município; e 3) o viés de informação, pois, mesmo considerando a garantia do anonimato, existe a possibilidade de alguns estudantes terem omitido a experimentação do tabaco e o consumo do álcool por autocensura, vergonha ou viés de memória.

Por outro lado, a possibilidade de viés de informação no estudo está reduzida por ser uma amostra representativa de adolescentes estudantes do ensino médio das escolas públicas da localidade do estudo. Além disso, investigações epidemiológicas com delineamento transversal são relevantes para o desenvolvimento de políticas públicas. Sugerem-se novos estudos prospectivos, que sejam capazes de avaliar essa relação de causalidade entre os fatores que influenciam o risco para a experimentação do tabaco em adolescentes e consequentemente a dependência e prejuízos à saúde na fase adulta.

CONCLUSÃO

A prevalência de experimentação de tabaco em adolescentes escolares, com idade de 14 a 19 anos, de escolas públicas da área urbana do município de Jequié-BA foi alta.

Na população estudada, o conjunto de variáveis que melhor permite identificar fatores de risco que podem influenciar um escolar vir a experimentar o tabaco foram possuir pais fumantes, ter amigos que fumam, fazer uso regular de bebidas alcoólicas e pertencer ao grupo etário entre 17 a 19 anos.

Os resultados obtidos apontam para a necessidade de fortalecer, em nível municipal, políticas públicas voltadas para a prevenção da experimentação do tabaco, bem como garantir o tratamento adequado para os fumantes, visto que o convívio com familiares e amigos que fumam influencia nas escolhas dos adolescentes.

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Recebido: 22 de Maio de 2018; Aceito: 07 de Agosto de 2018

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