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Archivos de Zootecnia
versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592
Arch. zootec. vol.61 no.233 Córdoba mar. 2012
https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922012000100005
Características in vivo e componentes corporais de cabritos naturalizados do Alto Camaquã, Brasil#
In vivo characteristics and body components of naturalized goats in Alto Camaquã, Brazil
Oliveira, R.M.1*; Osório, J.C.S.2; Borba, M.F.S.3A; Osório, M.T.M.4A; Trindade, J.P.P.3B; Martins, L.S.1B; Lemes, J.S.1C; Kessler, J.D.1D; Esteves, R.M.G.4B e Lehmen, R.I.4C
1Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZ)-FAEM/UFPel. Pelotas, RS. Brasil. *roberson.macedo@ufpel.edu.br; Bvipmartins@yahoo.com; CJaqueline-lemes@hotmail.com;Djdkessler@hotmail.com
2Faculdade de Ciências Agrárias. Zootecnia. UFGD. Dourados, MS. Brasil. PVNS/CAPES. jcosorio@pq.cnpq.br
3Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Pecuária Sul. Bagé, RS. Brasil. Amfsborba@gmail.com;Bjptrindade@gmail.com
4Departamento de Zootecnia. FAEM/UFPel. Pelotas, RS. Brasil. Amtosorio@pq.cnpq.br; Besteves@ufpel.edu.br, Crosileneil@yahoo.com
#Pesquisa financiada pelo CNPq/Embrapa Pecuária Sul/CAPES e UFPel-PPGZ.
RESUMO
O principal objetivo do estudo foi avaliar as características in vivo, os componentes corporais, os custos de produção e calcular equações de regressão para as principais características de interesse comercial de caprinos. Para este estudo foram utilizados cabritos cruza Angorá, acompanhados durante um ano e abatidos com 11-12 meses (lote 1, n=20). A partir dos resultados do lote 1, foi abatido um segundo lote (lote 2, n=14) com animais de 8-9 meses de idade. Ambos os lotes foram criados em sistema extensivo no território do Alto Camaquã (Estado do Rio Grande do Sul, Brasil). Os cabritos abatidos com idade de 11-12 meses apresentaram custos de produção de R$/US$ 0,93/0,53 kg/peso vivo e R$/US$ 1,86/ 1,06 kg/carcaça e atingiram o peso de abate já aos 6-7 meses de idade. As equações de regressão determinaram que o perímetro torácico é a melhor característica para estimar o peso em jejum, já a compacidade corporal é melhor estimada pelo peso em jejum. Os caprinos abatidos com 8-9 meses tiveram maiores valores para as principais características avaliadas, quando comparados aos abatidos com 11-12 meses. A maior parte dos componentes corporais dos lotes avaliados demonstrou comportamento isogônico. Os resultados indicam que cabritos criados em sistema extensivo no território do Alto Camaquã, devem ser abatidos no período que antecede o inverno e a idade ótima de abate é de 8-9 meses, com peso vivo ao redor de 22 kg para as características avaliadas.
Palabras chave: Biometria. Sistema extensivo. Alometria. Crescimento. Desenvolvimento.
SUMMARY
The main objective of this study was to evaluate the in vivo characteristics, body parts, production costs and calculate regression equations for the main traits of commercial interest the goats. For this study cross Angorá goats, controlled during one year and slaughtered at 11-12 months (lot 1, n=20) were used. From the results of lot 1, a second lot (lot 2, n=14) with animals 8-9 months old, was tested. Both batches were reared under extensive system in the territory of the Alto Camaquã (State of Rio Grande do Sul, Brazil). The goats slaughtered at the age of 11-12 months had production costs of R$ 0.93 kg live weight and R$ 1.86 kg/carcass and reached slaughter weight as early as 6-7 months of age. The regression equations determined that the thoracic perimeter is the best measure to estimate the fasting weight, since the body compacity is better estimated by fasting weight. The goats slaughtered at 8-9 months had higher values for the main traits when compared to those slaughtered at 11-12 months. Most of the body parts surveyed showed isogonic behavior. The results indicate that kids reared under extensive management at Alto Camaquã territory must be slaughtered before winter period, and the optimum age for slaughter is 8-9 months with body weight around 22 kg.
Key words: Biometrics. Extensive system. Alometry. Growth. Development.
Introdução
A região do Alto Camaquã, no Brasil, com uma área de aproximadamente 8300 km2, inserida em um ecossistema que conserva características e potencialidade únicas para suportar uma caprinocultura sustentável, com base nos recursos locais disponíveis e na diferenciação da carne de animais naturalizados, passou oficialmente a ser membro da Associação Internacional de Montanhas Famosas, por ocasião da última reunião realizada em Jiujiang, na província de Jiangxi, China, no II Congresso das Montanhas Famosas, de 11 a 15 de outubro de 2010.
Nesse ambiente é desenvolvida por pecuaristas familiares, com a finalidade basicamente de subsistência e pequenas vendas do excedente, em especial para fins religiosos, uma criação de caprinos extensiva, com animais sem raça definida (SRD), naturalizados e adaptados à região e alimentando-se exclusivamente de pastagem nativa e do estrato arbóreo-arbustivo. De acordo com Borba e Trindade (2009) os sistemas de produção na região, caracterizam-se ainda por apresentam problemas significativos de renda, que devem ser considerados.
O rápido aumento da renda e a rápida urbanização nas últimas três décadas, juntamente com o crescimento da população, que está provocando o aumento da demanda por carne e outros produtos de origem animal em muitos países em desenvolvimento (FAO, 2009), o caminho que parece natural no caso do Alto Camaquã, é a proposta de Borba e Trindade, (2009) onde a ecologização da pecuária familiar, pode ser o meio de diferenciação e alternativa econômica, tendo como base a valorização dos recursos naturais e o conhecimento adquirido pela experiência.
Estas possibilidades atendem a afirmativa de Sañudo (2008), que diz: o objetivo de fidelizar al consumidor, a través de una imagen, un logotipo, una marca, debería ser una prioridad y, desde luego, una de las claves del éxito. O que só pode ser construída a partir de um processo de diferenciação de produtos cárneos com base científica e com o atendimento a priori de uma série de conhecimentos, entre eles o crescimento e do desenvolvimento do animal.
Perry et al. (1988), afirma que os estudos deveriam iniciar partindo das raças autóctones que são melhores adaptadas ao meio ambiente, tornando-se necessário determinar o potencial de crescimento e características produtivas destas. Assim a criação de bases tecnológicas para produção de carne de cabrito deve ser subsidiada, por pesquisas que possam definir critérios, como: idade, condição corporal e peso ótimo corporal econômico de sacrifício; através de características possíveis de medir em relação a estes fenômenos e que possuam uma implicação biológica de fácil determinação no animal e em sua carcaça (Osório e Osório, 2005).
O presente trabalho objetivou avaliar as características in vivo e os componentes corporais de cabritos naturalizados de diferentes idades, criados em sistema extensivo, em uma região com características inóspitas de relevo e predominando o sistema familiar, com vistas à criação de bases para diferenciação da carne de cabrito do Alto Camaquã.
Material e métodos
A pesquisa foi conduzida em duas unidades de pecuária familiar no 2o Subdistrito das Palmas/Bagé-RS, localizado dentro da área geográfica do Território do Alto Camaquã (30o58'44.7" S; 53o42'28.7" WO e 30o57'50.05" S; 53o36'14.13" WO, respectivamente), entre os anos de 2008 e 2009. Ambas desenvolvem criação de caprinos de cruza Angorá, em sistema de produção extensivo, com pastoreio combinado entre bovinos e ovinos e alimentação exclusiva de pastagem nativa e do estrato arbóreoarbustivo da região.
No lote 1, avaliou-se as características in vivo, pré-abate e componentes corporais de 20 cabritos nascidos no inverno de 2008 e abatidos em junho do ano seguinte ao redor dos 11-12 meses de idade.
Foi avaliado o peso em jejum (kg -14 horas), comprimento corporal (cm), perímetro torácico (cm), compacidade corporal (peso corporal/comprimento corporal, em kg/cm), e o ganho médio diário (g/dia) a cada 28 dias, ao longo do período (Osório e Osório, 2005). Foram ainda calculados os custos de produção, conforme descrito em Lopes e Carvalho (2002). A planilha de cálculo dos custos de produção foi montada com os dados coletados no experimento, oriundos de 20 matrizes fêmeas, um reprodutor e 20 caprinos jovens (referente ao lote 1 - durante 12 meses).
Os animais foram castrados ao redor dos seis meses de idade, quando se procedeu a aplicação de vermífugo e banho para controle de piolho, permanecendo com as mães até o momento do abate. O manejo sanitário de rotina durante o período constituiu de controle de problemas de casco. Durante todo o período experimental foi acompanhado as variáveis climatológicas da região (figura 1).
Previamente ao abate e após jejum, foi registrado o peso de cada cabrito, avaliado a conformação in vivo (escala subjetiva de 1 a 5, com intervalos de 0,5, em que 1= muito pobre e 5= excelente), a condição corporal (escala subjetiva de 1 a 5, com escala de 0,5, em que 1= excessivamente magra e 5= excessivamente gorda) e medido o comprimento corporal, o perímetro torácico, a compacidade, a altura do posterior (cm), a altura do anterior (cm) conforme (Osório e Osório, 2005).
Após insensibilização mecânica, os cabritos foram sacrificados por sangria e secção das artérias carótidas e veias jugulares. Seqüencialmente, foram realizadas a esfola, a evisceração e a separação da cabeça e das patas. Imediatamente após o abate, foram pesados os componentes: pele, cabeça, vísceras verdes (incluindo esôfago, compartimentos gástricos e intestinos delgado e grosso), patas, pulmões + traquéia, coração, fígado, baço, diafragma, pênis, testículos, bexiga e carcaça. Os rins e as gorduras pélvicas e renais foram pesados após o resfriamento das carcaças, calculando-se a porcentagem de cada componente em relação ao peso corporal ao abate. Não foram incluídos na pesagem os chifres.
No lote 2, avaliaram-se as características in vivo do pré-abate e componentes corporais (conforme já descrito para o lote 1), de 14 cabritos nascidos no outono de 2009 e abatidos em dezembro do mesmo ano ao redor dos 8-9 meses de idade.
Para a avaliação do desenvolvimento dos componentes corporais (y= peso de carcaça quente, cabeça, patas, etc.) em relação ao peso vivo corrigido de abate (x), foram calculados os coeficientes alométricos (b) pela equação exponencial y= a.Xb, de Huxley (1932), transformada logaritmicamente em regressão linear em:
onde:
y= Fração cujo desenvolvimento é investigado,
x= Tamanho do todo que serve de referência,
a= Coeficiente fracional e representa o valor de y quando x= 1, não tendo significado biológico.
Sendo assim, b é a relação entre a velocidade de crescimento de um órgão ou parte e a velocidade de crescimento do todo, denomina-se coeficiente alométrico é utilizado para medir o momento relativo de desenvolvimento de um órgão, tecido ou parte do todo.
Foram realizadas análises descritivas das características avaliadas de ambos os lotes e calculado equações de regressão e a correlação entre as principais características in vivo do lote 1, com a finalidade de predizer algumas características de interesse comercial.
Para avaliação do efeito dos lotes (lote 1 e lote 2) sobre as características in vivo, pré-abate, componentes corporais, adotouse o delineamento experimental completamente casualizado, em que a unidade experimental foi representada pelo cabrito. O fator estudado foi o Lote do cabrito e o modelo estatístico utilizado para representar uma observação foi:
em que:
Yijk= uma observação de característica avaliada
dos cabritos,
µ= média geral,
Gi= efeito do lote i do cabrito (i= 1, 2),
eijk= erro experimental.
As médias dos grupos de cada experimento foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05).
A análise estatística foi realizada, utilizando o NCSS 2004 e PASS 2005 (Hintze, 2004).
Resultados e discussão
O comportamento das características in vivo dos cabritos do lote 1, mostrou uma tendência linear positiva para perímetro torácico e comprimento corporal e negativo para ganho médio de peso dia. Em relação ao peso em jejum e compacidade demonstrou uma tendência quadrática, muito em função da queda acentuada de peso a partir do final do outono, chegando a valores médios no último mês de -1,36 kg (figura 2), resultado das baixas temperaturas registradas na região a partir do mês de maio. De acordo com dados climatológicos da Estação BagéA827/INMET (2010), a semana que antecedeu ao abate, a temperatura média ficou em 12 (oC), culminando com 8,5 (oC) no dia do abate.
Hernández et al. (2005) acompanhou a tendência do crescimento de caprinos crioulos em sistema extensivo no México e observou que estes seguem uma tendência ascendente até o período estudado (nascimento-102 dias de idade) e as variações para ganho médio de peso diário são grandes e ao final apresentaram uma redução drástica nesta característica. O mesmo encontrou ganhos médios de peso de até 106 g/dia, mas a média permaneceu em 82 g, caindo para 53,9 g ao final do período, atingindo um peso vivo de 11, 508 kg para os machos. Os caprinos do lote 1 chegaram a ganhos médios diários de peso na ordem de 94 g/dia, no entanto, a média do período não ultrapassou as 4 g/dia, muito em função, das perdas de peso no mês que antecedeu ao abate de -5 g/dia.
Analisando os resultados de Holanda Júnior et al. (2004), trabalhando com cabritos ecológicos (Boer x SRD), obtiveram peso aos 100 dias de 14,61 kg e peso ao abate de 21,6 kg aos 8 meses, é possível observar que mesmo em condições exclusivamente extensiva de produção, como no Alto Camaquã, pode se obter desempenhos semelhantes aos de outros autores em condições de pastoreio extensiva.
A partir das variáveis estudadas, foi possível observar que, já no mês de janeiro, quando os animais tinham ao redor dos 6-7 meses, já haviam atingido os índices do préabate. Estes resultados indicam que para as condições de estudo a idade ótima de abate já havia sido atingida no mês de março (8-9 meses) para todas as características avaliadas.
Malhado et al. (2008), estudando a curva de crescimento de um rebanho comercial de caprinos Anglo-Nubiano, criados na caatinga brasileira, observou que aos 150 dias de idade os animais atingiram 80% do peso adulto. Carneiro et al. (2009), determinou que caprinos da raça Manbrina, criados na caatinga devem ser abatidos com aproximadamente 240 dias de idade, visto que, a partir dessa idade, o crescimento é muito lento.
A utilização das características in vivo, como estimadoras de características de interesse comercial, como peso vivo e compacidade corporal, foram avaliadas, por ser uma alternativa simples ao produtor. Está técnica vêem sendo utilizada em caprinos como pode ser visto em Yañez et al. (2004) e Ribeiro et al. (2004).
O perímetro torácico mostrou-se a característica mais adequada para estimar o peso em jejum. Da mesma forma Ribeiro et al. (2004), utilizou medidas morfométricas para estimar o peso vivo de caprinos autóctones das raças Moxotó e Canindé e observou que o perímetro torácico foi a melhor medida para estimar o peso vivo destas raças (tabela I).
A compacidade é outra variável de grande importância, pois se trata de uma medida utilizada para avaliar a quantidade de tecidos depositados por unidade de comprimento, sendo um indicativo da conformação da carcaça (Osório e Osório, 2005). No trabalho observou que o peso em jejum é a variável que melhor estima a compacidade corporal, podendo ser utilizado como um bom indicativo em caprinos.
A equação de regressão múltipla apresentou pequeno aumento no R2, quando associado ao perímetro torácico o comprimento corporal, para estimar o peso em jejum. O que não foi observado quando a intenção é predizer a compacidade corporal, onde somente o peso em jejum já se mostrou eficiente, não havendo a necessidade da utilização das variáveis perímetro torácico e comprimento corporal.
Os custos de produção (referente ao lote 1 - durante 12 meses) ficaram em R$ 1,86 o custo por kg de carcaça e R$ 0,93 o kg de peso vivo (tabela II). O que evidencia a afirmativa de Borba e Trindade (2009), que a atividade pastoril na região, no presente, traduz a alta dependência de recursos naturais renováveis. Em comparação com Menezes et al. (2007), que avaliou cruzamentos entre a raça Alpino e Boer em sistema de confinamento, observou que o custo final da alimentação para a produção de 25,79 kg de cabrito foi de R$ 85,61, ou R$ 3,31 por quilo vivo de cabrito produzido. Considerando que o custo com alimentação representa 50% do custo total, o custo final aumentaria para R$ 6,62 e o custo por quilo de carcaça para R$ 13,24 considerando um rendimento de carcaça de 50%.
Em relação às características in vivo no pré-abate dos caprinos do lote 1 e do lote 2, houve diferença significativa para as principais características avaliadas, no entanto, não houve diferença para altura do posterior, comprimento corporal e conformação (tabela III). Os caprinos abatidos com 8-9 meses tiveram maiores valores de peso corporal, compacidade e condição corporal, quando comparados aos abatidos com 11-12 meses. Estes resultados demonstram que a idade ideal de abate de caprinos no Alto Camaquã é ao redor dos 8-9 meses.
A queda de peso dos animais abatidos em junho que tiveram parte de seu crescimento nas estações do outono e inverno foi determinante no desempenho pré-abate, quando comparado aos animais abatidos em dezembro. Fica claro, que o momento ideal de abate antecede aos períodos onde as condições climáticas não são favoráveis.
Menezes et al. (2007) observou em caprinos de diferentes raças aos 120 dias de idade, peso médio de 25,79 kg de peso vivo, valores de comprimento corporal, perímetro torácico e compacidade de 67,1 cm; 61,3 cm e 0,38 kg/cm, respectivamente. O comprimento foi superior ao encontrado no estudo, possivelmente uma função das raças que o autor avaliou, Alpina, Boer e seus cruzamentos. Já o perímetro, foi semelhante e a compacidade os cabritos do lote 1 e 2, foram superiores em função do menor comprimento corporal.
Dos componentes corporais a carcaça quente é o que representa maior valor comercial, conforme (tabela IV), não houve diferença significativa para peso de carcaça quente em valores absolutos (kg) entre as diferentes idades de abate, porém houve diferença em percentagem do peso corporal. Os animais abatidos com 11-12 meses foram superiores aos de 8-9 meses de idade. Isto reflete diretamente no rendimento de carcaça quente, que demonstrou que os animais mais velhos apresentaram um melhor rendimento em torno de 50% contra 48%.
Valores semelhantes foram encontrados por Meneses et al. (2006) trabalhando com cabritos Cashmere x Criollo, criados em sistema semi-intensivo com peso vivo de 14,8 kg e carcaça quente de 7,36 kg, observou um rendimento de 49,73%. Nogueiraet al. (2004) avaliando caprinos em sistemas de produção orgânico encontrou valor entre 49,25 e 51,22% para pesos de carcaça quente de 10,72 e 11 kg, para machos inteiros e castrados respectivamente.
Sainz (1996) afirma que o principal fator que confere valor à carcaça é o rendimento, que depende primeiramente do conteúdo do aparelho digestivo, que pode variar de 8 a 18% do peso corporal de acordo com o nível de alimentação do animal.
As vísceras verdes diferiram significativamente entre os tratamentos, sendo superior para caprinos com 8-9 meses de idade. A explicação para o observado decorre que estes animais não sofrerão nenhum tipo de restrição alimentar, associado à alta disponibilidade e a qualidade da forragem, e provavelmente maior consumo de alimento o que influi sobre o aumento das vísceras verdes (Mattos et al., 2006). Por outra parte, o aumento de peso corporal leva a incremento na proporção de vísceras verdes e pele (Azeredo et al., 2005). Comprova-se assim que o trato gastrintestinal é determinante do rendimento de carcaça.
Houve ainda diferença significativa para pele, cabeça, rins, gordura pélvica renal e gordura interna e pênis. Em relação à gordura pélvica renal e gordura interna, dos animais com 11-12 meses, foram superiores os valores encontrados, tanto em valores absolutos (kg) como em porcentagem do peso corporal.
Os caprinos com 8-9 meses de idade foram superior na maioria dos componentes com exceção da gordura pélvica renal e gordura interna, em função provavelmente do maior consumo de alimentos no período conforme já relatado, de encontro com o estabelecido por Mattos et al. (2006) que observou valores superiores para animais submetidos à alimentação à vontade.
A gordura pélvica renal e interna foi superior nos animais com 11-12 meses de idade, o que comprova a diferença de idade, pois conforme o avanço da idade, a um aumento do acúmulo de gorduras de reserva em caprinos e ovinos (Mahgoub e Lu, 1998). Comparado à ovelha, a cabra é um animal de carne magra e apresentam tendência em depositar mais gordura nãocarcaça e menos gordura na carcaça, ou seja, gordura subcutânea, inter e intramuscular (Gaili e Ali, 1985).
Para Mendizabal et al. (2002) as gorduras de reserva em caprinos são maiores comparados com ovinos o que mostra a aptidão da espécie em mobilizar e acumular gordura interna e determina a sobrevivência do animal em períodos de escassez de alimentos.
O estudo do desenvolvimento dos componentes do peso corporal, da parte (carcaça, baço, etc.) em relação ao todo (peso corporal) observou-se um desenvolvimento isogônico (na mesma velocidade do todo) para maioria dos componentes. Entre eles: carcaça quente, pele, pulmão+ traqueia, baço, rins, gordura pélvica renal e gordura interna (tabela V).
O desenvolvimento relativo apresentado para cabeça e fígado+vesícula foi heterogônico negativo, que indica ser este precoce e que no momento do abate se desenvolvia menos conforme aumentava o peso corporal, ou seja, a proporção dos componentes diminuía nos caprinos de 8-9 e 11-12 meses.
Os caprinos com 8-9 meses apresentaram crescimento precoce para vísceras verdes, patas e pele diferente dos animais com 11-12 meses demonstraram comportamento isogônico. Não foram encontradas diferenças para pênis e bexiga entre os tratamentos.
De acordo com Pereira Filho et al. (2008), em caprinos o crescimento é precoce ou isogônico da maioria dos não-componentes da carcaça (órgãos, vísceras, cabeça,patas). É importante lembrar que o desenvolvimento do animal e de suas partes depende não somente da idade de sacrifício ou do estágio de maturidade em que foram sacrificados, mas, também, do sistema de alimentação a que estavam submetidos estes animais (Osório et al., 1999).
Em relação à gordura pélvica renal e a gordura interna, apresentaram crescimento isogônico para os cabritos mais velhos e heteregônico positivo para os animais mais jovens, comprovando-se a diferença de idade e fases de desenvolvimento entre os lotes.
Conclusão
As características avaliadas de cabritos criados em sistema extensivo no Território do Alto Camaquã, demonstram que é possível produzir carne de qualidade, a partir de animais jovens, assim como diferenciar estes produtos no mercado consumidor.
Agradecimentos
Aos órgãos de fomento, pesquisa e ensino pelo financiamento e apoio (CNPq, CAPES, EMBRAPA - Pecuária Sul, PPGZ e UFPel). Aos funcionários e estagiários destas envolvidos no trabalho. Aos pecuaristas familiares do Território do Alto Camaquã e ao Grupo de Ovinos (GOVI) da UFPel, pelo capital humano empreendido na realização deste trabalho.
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Recibido: 2-9-10
Aceptado: 13-4-11