INTRODUÇÃO
O divertimento tem vindo a ser associado como uma variável chave na prática contínua de atividade física ao longo dos últimos anos (Jekauc, Voelkle, Wagner, Mewes, & Woll, 2013). De facto, o divertimento parece ser um forte preditor para a manutenção da prática de exercício físico em adultos (Rodrigues, Teixeira, Cid, & Monteiro, 2019a) bem como na prática desportiva em jovens (Gardner, Magee, & Vella, 2017). No entanto, apenas recentemente é que se tem vindo a medir a perceção de divertimento na população idosa em contexto da atividade física (Mullen et al., 2011). Tanto quanto se sabe, existe falta de informação sobre a perceção de divertimento adjacente à realização do comportamento nos idosos. De facto, até à data, não se sabe se os níveis de prazer/divertimento adjacentes à prática de atividade física são díspares entre grupos etários ((Rodrigues, Teixeira, Cid, & Monteiro, 2019). Nesse sentido, a medição do divertimento em idosos, e a posterior comparação, parece ser imprescindível (Mullen et al., 2011). Os resultados poderão ajudar técnicos de saúde e do exercício físico a estruturarem e planearem adequadamente sessões de atividade física, de acordo com os seus níveis de divertimento, promovendo uma maior intenção de se manterem na prática durante mais tempo (Mullen et al., 2011; Rodrigues et al., 2018; Rodrigues, Teixeira, Cid, & Monteiro, 2019b).
Divertimento e prática de atividade física
O divertimento é a sensação de prazer e satisfação que um indivíduo sente quando realiza um comportamento que gosta. Relativamente à prática de atividade física, o divertimento tem vindo a ser associado como variável mediadora entre diversos fatores cognitivos e motivacionais na perceção de competência (Jekauc et al., 2013), bem como desempenhar um papel crucial na realização do comportamento a longo prazo (Dishman et al., 2005). De acordo com a Teoria da Autodeterminação (TAD; Ryan & Deci, 2017) uma pessoa que regula o seu comportamento de forma intrínseca (i.e., referente ao comportamento que é impulsionado por recompensas internas) está mais direcionado a experienciar resultados positivos. Por outras palavras, a motivação intrínseca indica que o comportamento surge de dentro do indivíduo, porque é naturalmente satisfatório para este, estando posicionado a uma maior sensação de emoções positivas, tais como o divertimento (Rodrigues et al., 2019b). Por sua vez, é expectável que, quando se realiza um comportamento de que se goste, haja maiores intenções de vir a realizar esse comportamento no futuro (Hagger & Chatzisarantis, 2009). No caso da prática de atividade física, quanto maior for a experiência positiva da realização do comportamento (i.e., sensação de prazer e divertimento), maior será a probabilidade de repetir o comportamento no futuro (Mullen et al., 2011; Ryan & Deci, 2017). Os benefícios da prática da atividade física orientam-se quer para o prazer, quer para os benefícios da saúde mental. Assim, a associação entre o divertimento e o prazer são fundamentais para a adesão à atividade física, resultando posteriormente num bem estar físico relacionado com a saúde (Rodrigues et al., 2019a).
Em estudos empíricos, a perceção de divertimento tem vindo a ser associada a maiores níveis de prática desportiva e atividade física fora do contexto escolar (Gardner et al., 2017; Moore et al., 2009). Acresce ainda que, em adultos inscritos em ginásios/health clubs que percecionam divertimento e prazer durante as atividades fitness têm maiores níveis de adesão ( Rodrigues et al., 2019a). No entanto, no que diz respeito à medição e perceção de divertimento em idosos, a literatura continua a ser escassa. Até à data, poucos estudos têm medido e considerado o divertimento como variável chave na prática de atividade física (Mullen et al., 2011). Neste sentido Mullen et al. (2011) referem que se devem realizar mais estudos nesta população, dado a relação entre o divertimento e a prática de atividade física, bem como os benefícios adjacentes à realização do comportamento serem essenciais no bem-estar e na longevidade desta população.
Apesar da crescente necessidade de medir o divertimento, como promotor de atividade física, até o momento, a capacidade de medir o divertimento em grupos de faixas etárias diferentes usando o mesmo instrumento permanece desconhecida. De facto, análises multi-grupos têm demostrado resultados contraditórios entre géneros (Moore et al., 2009). Além disso, não há evidências por sua validade fatorial e invariância entre as faixas etárias em populações que não sejam nativas das escalas de medição. Este facto é ainda mais relevante em estudos que analisem o efeito preditor do divertimento na intenção de continuar na prática de atividade física, bem como a consequência da motivação intrínseca (Ryan & Deci, 2017).
Presente estudo
Este estudo teve como objetivo de analisar a perceção de divertimento em diferentes grupos etários, nomeadamente entre jovens, adultos e idosos. Especificamente, pretendeu-se analisar as propriedades psicométricas do Physical Activity Enjoyment Scale (PACES)(Mullen et al., 2011), em grupos com faixas etárias diferentes (i.e., jovens, adultos e idosos). Foi ainda analisada a validade preditiva do divertimento na intenção de continuar na prática de atividade física, e como consequência da motivação intrínseca. De acordo com a literatura, especula-se que; a) o PACES será equivalente entre grupos com faixas etárias diferentes (Mullen et al., 2011); o divertimento é um preditor significativo da intenção de continuar na prática de atividade física (Gardner et al., 2017; Rodrigues et al., 2019a); e c) o divertimento é consequência da motivação intrínseca (Deci & Ryan, 1985; Ryan & Deci, 2017).
MÉTODOS
Participantes
No total, participaram neste estudo 425 indivíduos (sexo feminino = 231) praticantes de atividade física em contexto de ginásio e/ou health clubs em Portugal. Os praticantes tinham uma experiência de prática de atividade física regular entre 6 a 40 meses (M = 21,34 ± SD = 4,12) e uma prática semanal entre 2 a 5 vezes por semana (M = 2,43 ± SD = 0,98). A atividade física praticada era primordialmente focada na componente de trabalho de força e capacidade cardiorrespiratória na sala de exercício (89%), no entanto os participantes também realizavam regularmente aulas de grupo (11%). Os participantes foram classificados como jovens (≤18 anos), adultos (>18 e <65 anos) e idosos (≥65 anos) de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Na Tabela 1 estão as características de cada grupo relativamente à média de idade, número de participantes e experiência da prática de atividade física.
Instrumentos
Para a recolha de dados relativamente à perceção do divertimento, utilizamos o Physical Activity Enjoyment Scale (PACES) traduzida e validada para a população Portuguesa (Teques et al., 2017). Esta escala é composta por oito itens (e.g., "É revigorante") precedida pela afirmação "A atividade física que pratico…" ao qual os participantes respondem através de uma escala tipo Likert com pontuação mínima 1 ("discordo totalmente") e máxima 7 ("concordo totalmente").
Como forma de medir a motivação intrínseca, usamos três itens do Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire 3 (BREQ-3) traduzido e validado para a população portuguesa (Cid et al., 2018) no contexto da atividade física. Estes três itens (e.g., "Acho que é uma atividade agradável") avaliam especificamente a forma como a pessoa regula o seu comportamento de forma intrínseca. As opções de resposta são dadas através de uma escala tipo Likert com pontuação mínima 0 ("discordo totalmente") e máxima 4 ("concordo totalmente").
Para avaliar a intenção de se manter na prática de atividade física, foram criados três itens (e.g., "Pretendo manter a prática de atividade física no mesmo registo que pratico atualmente nos próximos meses") com base nas recomendações de Ajzen (2006), e com base no sistema Objetivo, Ação, Contexto e Tempo (Target, Action, Context, Time; ACT) proposto por este autor, ao qual os participantes responderam a cada item através de uma escala tipo Likert com pontuação mínima 1 ("discordo totalmente") e máxima 5 ("concordo totalmente").
Procedimentos
Estudo foi aprovado pela comissão ética (número de registo: CE-UBI-pJ-2018-044:ID683) previamente à recolha de dados. Acrescido, o processo de recolha dos dados esteve de acordo com a Declaração de Helsínquia e as alterações consequentes. Diversos gestores de ginásios e health clubs (n =3) foram contactados por conveniência para a recolha de dados. Após explicação dos objetivos e aprovação por parte dos gestores, os investigadores contactaram presencialmente os potenciais participantes na zona de receção dos ginásios e health clubs. Foi explicado a todos os participantes os objetivos do estudo e foi-lhes providenciada a informação de anonimato. Os participantes preencheram o questionário através de uma plataforma online (i.e., surveymonkey). Todos os participantes assinaram consentimento informado previamente ao preenchimento do questionário. O tempo de preenchimento do questionário foi aproximadamente de 10 minutos.
Análises Estatísticas
Dado o questionário ter sido criado de forma a não existirem valores omissos, avançamos no cálculo de dados descritivos (média, desvio-padrão, assimetria e curtose) bem como de correlações bivariadas de Pearson com recurso ao programa estatístico IBM SPSS Statistics v23 (Arbuckle, 2013). Para aceitação de uma distribuição normal univariada, os valores de assimetria e de curtose devem estar contidos entre -2/+2 e -7/+7, respetivamente (Gravetter & Wallnau, 2014).
Estrutura Fatorial
A estrutura fatorial do questionário foi avaliada através de uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC) com recurso ao programa estatístico Mplus 7.4 (Muthén & Muthén, 2010) e com o estimador Robust Maximum Likelihood (MLR) dado ser robusto contra a não normalidade da distribuição da amostra. Tomando em consideração que o teste do qui quadrado pode ser influenciado pelo tamanho amostral (Hair, Black, Babin, & Anderson, 2019), consideramos os seguintes índices incrementais e absolutos para a aceitação do modelo de medida, dado não serem influenciados pelo tamanho da amostra e a complexidade do modelo (Hair et al., 2019; Sivo, Fan, Witta, & Willse, 2006): Comparative Fit Index (CFI); Tucker-Lewis Index (TLI); Standardized Root Mean Residual (SRMR); Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA) e o seu respetivo Intervalo de Confiança a 90% (IC90%). Para aceitação do modelo, foram considerados os seguintes valores de corte de acordo com as recomendações de diversos autores (Byrne, 2011; Hair, Black, Babin, & Anderson, 2014; Kline, 2016): CFI e TLI ≥0.90, SRMR e RMSEA ≤0.80.
De acordo com Hair et al. (2019), os pesos fatoriais devem ser ≥0.50 de forma a que cada item explique pelo menos 25% de variância no fator latente. Acrescido, os coeficientes de fiabilidade compósita devem apresentar valores acima de 0.70, tal como descrito por vários autores (e.g., Raykov, 1997). Foi também tido em consideração o cálculo da Variância Extraída Média (VEM), de forma a analisar a validade convergente dos itens. Para tal foi usado o valor de corte ≥0.50 proposto por diversos autores (Hair et al., 2019; Kline, 2016).
Análise Multi-grupos
A análise de invariância do modelo de medida demonstra a capacidade de aplicabilidade do mesmo questionário em grupos com características diferentes (Sass, 2011). De facto, são vários os autores que descrevem a análise de invariância como uma análise fundamental na validação de escalas de medida (Chen, 2008; Cheung & Rensvold, 2002). Nesse sentido, realizamos uma análise multi-grupos entre grupos etários (i.e., jovens, adultos e idosos) de acordo com recomendações de diversos autores (Byrne, 2011; Cheung & Rensvold, 2002). Primeiramente, o modelo de medida deve ajustar-se em cada grupo (i.e., jovens, adultos e idosos). Seguidamente, foi testado a invariância configural (sem restrições de igualdade), invariância métrica (restrições nos pesos fatoriais dos itens), invariância escalar (restrições nos pesos fatoriais dos itens e nas interceções dos itens) e invariância residual (restrições nos pesos fatoriais dos itens, nas interceções e variância dos itens). As diferenças no CFI (∆CFI) e TLI (∆TLI) entre o modelo configural com o modelo métrico, escalar e residual deve ser inferior a 0.10 (Cheung & Rensvold, 2002) e as diferenças no RMSEA (∆RMSEA) devem ser inferiores a 0.15 (Chen, 2007).
Validade Preditiva
A validade preditiva será analisada através de um modelo de equações estruturais (MEE) de acordo com a abordagem sugerida por Kline (2016). Primeiramente foi testado uma AFC tomando em consideração todas as variáveis em análise. No passo seguinte realizou-se um MEE tendo como base os pressupostos teóricos: a motivação intrínseca → divertimento → intenção. O ajustamento dos modelos resultantes da AFC e o modelo MEE serão analisados de acordo Hair et al. (2019), considerando os índices incrementais e absolutos tal como descritos anteriormente. Os coeficientes estandardizados serão considerados significativos caso o Intervalo de Confiança a 95% (IC95%) não englobe zero (Williams & Mackinnon, 2008).
RESULTADOS
Análise Preliminar
De acordo com a Tabela 2, a perceção de divertimento foi a variável que apresentou a média mais alta comparativamente à motivação intrínseca e a intenção de continuar na prática de atividade física. Todas as variáveis apresentaram uma distribuição normal, dados os valores de assimetria e curtose estarem contidos dentro dos parâmetros aceitáveis. De acordo com os coeficientes de fiabilidade compósita, todas os grupos apresentaram valores acima do recomendado (jovens = 0.95; adultos = 0.95; idosos = 0.94).
Estrutura Fatorial
A AFC demonstra valores de ajustamento aceitáveis em todos os grupos em análise (ver Tabela 3). Especificamente, é possível de observar na Tabela 4 que os índices tradicionais e absolutos respeitam as recomendações, ao mesmo tempo que, os pesos fatoriais estão acima do valor de corte. De facto, é possível de observar que os pesos fatoriais do modelo de medida considerando a amostra total apresentam valores acima de 0.50, explicando pelo menos 25% de variância no fator latente (ver Figura 1). Tomando em consideração os valores obtidos dos pesos fatoriais, é possível de observar que os valores da VEM são superiores aos valores de corte (jovens = 0.84; adultos = 0.83; idosos = 0.82).
Notas. χ2= teste qui-quadrado; gl = graus de Liberdade; CFI = Comparative Fit Index; TLI = Tucker-Lewis Index; SRMR = Standardized Root Mean Square Residual; RMSEA = Root Mean Squared Error of Approximation; CI90% = 90% Intervalo deConfiança a 90% do RSMEA;
* p <0.001
Notas: Os coeficientes e erros da estimativa são apresentados com valores estandardizados; valores entre parênteses (erro da estimativa); Intervalo de Confiança a 95%; todos os pesos fatoriais são significativos.
Análise Multi-grupos
De acordo com os resultados da análise multi-grupos descritos na Tabela 5, é possível de afirmar que o modelo de medida da perceção do divertimento é invariante entre faixas etárias. De facto, a perceção parece ser equivalente entre grupos dados as diferenças no CFI e TLI serem inferiores a 0.10.
Validade Preditiva
Foram encontrados efeitos diretos significativos tal como teoreticamente proposto: a motivação intrínseca apresentou ser um preditor positivo e significativo do divertimento; e o divertimento apresentou ser um preditor positivo e significativo da intenção em continuar na prática de atividade física divertimento. Acrescido, a motivação intrínseca apresentou um efeito indireto positivo e significativo na intenção continuar na prática de atividade física. Para mais informações ver Tabela 6.
DISCUSSÃO
Este estudo teve como objetivo de analisar a perceção de divertimento em diferentes grupos etários, nomeadamente entre jovens, adultos e idosos. Especificamente, pretendeu-se comprovar a aplicabilidade e invariância do PACES numa amostra portuguesa praticante de atividade física em ginásios/health clubs. Qualquer diferença encontrada entre grupos implicaria variabilidade inerente à medição. No entanto, consistente com os resultados obtidos por Mullen et al. (2011), a versão de oito itens do PACES mostrou valores fiáveis nos diversos grupos.
Estrutura Fatorial
O primeiro passo consistiu na análise do modelo de medida nos diversos grupos. De acordo com os resultados, o modelo teve um ajustamento aceitável em todos os grupos, evidenciando propriedades psicométricas aceitáveis tal como proposto por vários autores (Byrne, 2011; Hair et al., 2019). Estes resultados são expectáveis, dado outros estudos terem aplicado a mesma escala em jovens (Motl et al., 2012), em adultos (Teques, Calmeiro, Silva, & Borrego, 2017) e em idosos (Mullen et al., 2011). Os resultados também confirmaram consistência interna, na medida em que os valores da fiabilidade compósita são superiores aos valores de corte propostos por . Nesse sentido, podemos afirmar que os oito itens medem o que é suposto medir, neste caso em concreto, a perceção de divertimento durante a prática de atividade física.
Olhando especificamente para os pesos fatoriais, foi possível observar que estes são elevados, sendo suportados pela literatura (Byrne, 2011; Kline, 2016), explicando mais que 25% de variância no fator latente.
Análise Multi-grupos
De acordo com os resultados, foi possível comprovar que o modelo de medida do PACES foi invariante entre faixas etárias, dado ter respeitado os critérios de invariância previamente descritos (Chen, 2007; Cheung & Rensvold, 2002). Isto é, jovens, adultos e idosos percecionam de forma equivalente o divertimento durante a prática de atividade física.
Validade Preditiva
Tal como foi expectável, a perceção de divertimento esteve positivamente correlacionada com a motivação intrínseca e a intenção de continuar a na prática de atividade física. A validade preditiva foi demonstrada pelos efeitos positivos significativos entre a motivação intrínseca, divertimento e a intenção de continuar na prática. Estes resultados corroboram com estudos prévios (Monteiro et al., 2017; Rodrigues et al., 2019b) mostrando que um indivíduo que regula o seu comportamento de forma intrínseca está mais suscetível de experienciar respostas emocionais positivas, tais como o divertimento. Por sua vez, maiores níveis de divertimento estão subjacentes a uma maior intenção de continuar a realizar o comportamento no futuro. Estes resultados reforçam o papel chave do divertimento no que diz respeito à prática de atividade física, uma vez que a manutenção do comportamento está associada a um estilo de vida saudável (Hickey & Mason, 2017), a uma qualidade de vida superior em pacientes oncológicos (Ungar, Wiskemann, & Sieverding, 2016) e menor risco de contrair doenças crónicas não mutáveis (Andersen, Mota, & Di Pietro, 2016).
Interessantemente, o valor preditivo da motivação intrínseca para o divertimento variou entre grupos, mostrando que grupos de pessoas com idades diferentes podem percecionar de forma diferente a sensação de prazer e divertimento adjacente à prática de exercício físico (Mullen et al., 2011). De acordo com os resultados obtidos, a motivação intrínseca tem um efeito maior para o divertimento nos jovens. Isto poderá estar relacionado com a vertente lúdica envolvida na atividade. Os jovens parecem estar envolvidos na prática de exercício físico por considerarem o comportamento algo prazeroso e que lhe promove uma sensação de divertimento. De facto, estudos anteriores têm demonstrado que jovens de ambos os sexos apresentam valores elevados de divertimento, seja em contexto de educação física (Dishman et al., 2005), bem como no contexto desportivo (Monteiro et al., 2017). Não obstante, o divertimento apresentou um efeito direto para a intenção maior nos idosos, comparativamente aos jovens e aos adultos. Igualmente, a motivação intrínseca apresentou um efeito indireto maior nos idosos comparativamente aos outros dois grupos praticantes de exercício físico. Estes resultados parecem corroborar com estudos prévios (Dacey, Baltzell, & Zaichkowsky, 2008) evidenciando que os idosos que regulem o seu comportamento para a prática de exercício físico de forma intrínseca, considerando o comportamento como parte integrante deles, estão mais suscetíveis a sentirem prazer e divertimento durante a prática de exercício físico. Consequentemente, quando um sujeito realiza um comportamento do qual gosta e sente benefícios psicológicos adjacentes, apresenta maior intenção de voltar a realizar e manter esse comportamento como parte integrante no quotidiano (Mullen et al. (2011)).
Limitações e agenda para estudos futuros
Em primeiro lugar, este estudo foi realizado tendo em consideração uma amostra portuguesa praticante de atividade física, sendo por isso, os resultados deste estudo, limitados à população em questão. Assim, sugere-se a realização de mais estudos, especificamente de estudos interculturais, de forma a analisar a perceção do divertimento em diferentes grupos com faixas etárias diferentes. Em segundo lugar, este estudo é transversal no seu desenho metodológico. Nesse sentido, não é possível de evidenciar causalidade. Futuras investigações deverão realizar intervenções controladas de forma a estimular e promover maiores níveis de divertimento.
CONCLUSÃO
O PACES parece ser um instrumento fiável que avalia a perceção divertimento durante a prática de atividade física tanto em jovens, como em adultos e em idosos. Esta escala reduzida de oito itens é fiável na medição da perceção de divertimento em qualquer faixa etária analisada na população portuguesa, sendo também de rápida aplicação. De acordo com os resultados deste estudo, podemos afirmar que o PACES pode ser aplicado na medição da perceção divertimento em contexto da atividade física, como forma de avaliar o estado atual do praticante e como isso terá implicações na prática futura do comportamento.
IMPLICAÇÕES PRÁCTICAS
Em suma, os resultados poderão ajudar técnicos de saúde e de exercício físico a estruturarem e planearem adequadamente sessões de atividade física, de acordo com os seus níveis de divertimento. De facto, o acompanhamento personalizado e especializado, olhando para o ser humano como um ser emocional e não como um "objeto comercial", pode tornar a prática de atividade física como um comportamento prazeroso, resultando em maiores intenções e níveis de prática por parte da sociedade.