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Archivos de Zootecnia

versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.59 no.228 Córdoba dic. 2010

 

 

 

Novilhos nelore suplementados em pastagens: consumo, desempenho e digestibilidade*

Nellore steers supplemented in pastures: intake, performance and digestibility

 

 

Silva, R.R.1, Prado, I.N.4, Carvalho, G.G.P.2, Silva, F.F.1, Santana Junior, H.A.1, Souza, D.R. de1, Dias, D.L.S.1, Pereira, M.M.1, Marques, J.A.3 e Paixão, M.L.1

1DEBI-DTRA/UESB. Rua José A. Ribas Filho, 150 Morumbi. Itapetinga-BA. CEP 45700-000. Brasil. rrsilva.uesb@hotmail.com
2DPA/UFBA. Av. Adhemar de Barros, 500, Ondina. Salvador-Bahia. CEP 40170-110. Brasil. gleidsongiordano@yahoo.com.br
3CCAB/UFRB. Campus Universitário de Cruz das Almas. Centro-Cruz das Almas/BA. CEP 44380-000. Brasil. jmarques@ufrb.edu.br
4DZO/UEM. Av. Colombo, 5790. Jd. Universitário. Maringá, Paraná. CEP 87020-900. Brasil. inprado@uem.br

* Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor.

 

 


RESUMO

Objetivou-se com este estudo verificar os efeitos de diferentes níveis de suplementação em pastagens sobre o consumo de forragem, o desempenho animal e a digestibilidade dos nutrientes em novilhos Nelore na fase de terminação em pastagens no Sudoeste da Bahia. A parte de campo foi implantada numa área de 52,0 ha, dividida em oito piquetes de aproximadamente 6,5 ha cada, subdivididas em setores com aguada central. Testaram-se quatro níveis de suple-mentação em função do peso vivo: T00, T03, T06 e T09. Na fase de suplementação, houve efeito decrescente sobre o consumo da pastagem e da fibra em detergente neutro. Houve efeito linear crescente em função dos níveis de suplementação para os consumos de proteína bruta, extrato etéreo, carboidrato não-fibroso, nutrientes digestíveis totais, energia digestível e energia bruta. No período chuvoso, nenhuma variável foi alterada. O desempenho animal apresentou efeito linear crescente na fase de suplementação e manteve-se inalterado no período chuvoso. A conversão alimentar e a eficiência alimentar foram alteradas positivamente pela inclusão dos níveis de suplementação. Houve efeito linear crescente sobre os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, proteína bruta e carboidratos não-fibrosos. A digestibilidade da fibra em detergente neutro apresentou efeito quadrático enquanto a do extrato etéreo não foi alterada. No período chuvoso, nenhuma das variáveis foi alterada.

Palavras chave: Bovinocultura de corte. Produção animal.


SUMMARY

The objective of this work was to study the effects of different supplementation levels on forage intake, animal performance and nutrients digestibility in Nellore steers finished in Bahia Southwest pastures. The experiment was done in an area of 52.0 ha, divided into eight sectors of approximately 6.5 ha each, with a watering point at center of field. There were studied four levels of supplementation according to the body weight which were T00= mineral, T03= 0.3%, T06= 0.6% and T09= 0.9% of the animal live weight. During the supplementation phase it was a decreasing effect on pasture and in neutral detergent fiber intake. Also it was a linear effect, with increasing the supplementation levels, on intake of crude protein, ether extract, non fibrous carbohydrates, total nutrients digestibility, digestibility energy and me-tabolizable energy. During the rainy season none of variables was affected. The animal performance presented a linear effect during supplementation and remained unchanged in rainy season. The feed conversion and feed efficiency were positively affected by supplementation levels. There was an increasing linear effect on digestibility coefficients of dry matter, crude protein and non fibrous carbohydrates. The digestibility of neutral detergent fiber presented a quadratic effect while the ether extract was not affected. During the rainy season, none of the variables was affected.

Key words: Beef cattle. Animal production.


 

Introdução

A pecuária de corte brasileira está transformando os sistemas tradicionais de produção em sistemas empresariais com o objetivo de aumentar a produtividade e a rentabilidade econômica do setor (Santos et al., 2002).

O consumo de nutrientes é um dos principais fatores, associado ao desempenho animal, pois é determinante no atendimento das exigências de mantença e produção de ruminantes. Existem vários fatores relacionados ao consumo de alimento pelos bovinos, podendo este ser limitado pelo alimento, animal ou pelas condições de alimentação. Desta forma, além do conhecimento do consumo e da composição bromatológica dos alimentos é importante obter informações sobre a utilização dos nutrientes pelo animal, por meio de estudos da digestão. Consequen-temente, devem ser estabelecidas estratégias de fornecimento de nutrientes que viabilizem os padrões de crescimento pretendidos no sistema de produção. Neste contexto, o fornecimento de nutrientes via suplementação pode possibilitar desempenho diferenciado aos animais, desde a simples manutenção de peso, passando por ganhos moderados de 200 a 300 g/dia, até ganhos de 500 a 600 g/dia (Paulino, 2001).

Euclides et al. (1998) trabalhando com Brachiaria decumbens, constataram que a associação entre o valor nutritivo do alimento e a maturidade da pastagem resulta em uma média do GMD ao longo do ano considerada baixa, normalmente não ultrapassando a casa dos 380 g/dia, indicando, portanto que, somente a gramínea não fornece os nutrientes necessários para a produção máxima ao longo do ano. No período, quando a forragem é de melhor qualidade (outubro e novembro), conseguiu-se ganhos de até 800 g/dia. Contudo, no período seco do ano, este valor não ultrapassa os 235 g/dia. Entretanto, em estudo recente, avaliaram-se diferentes fontes proteicas na composição de suplementos para terminação de bovinos em pastejo, encontrando-se níveis satisfatórios de ganho, superando 1,0 kg/ animal/dia, em pastagem de Brachiaria decumbens (Paulino et al., 2002).

Objetivou-se com este estudo verificar os efeitos de diferentes níveis de suplementação em pastagens sobre o consumo de forragem, o desempenho animal e a digestibilidade dos nutrientes em novilhos Nelore na fase de terminação no Sudoeste da Bahia.

 

Material e métodos

O experimento foi desenvolvido na Fazenda Boa Vista, localizada no município de Macarani, Estado da Bahia, entre os meses de agosto de 2006 a fevereiro de 2007. A parte de campo foi implantada numa área de 52 ha, dividida em oito piquetes de aproximadamente 6,5 ha cada, formada de Brachiaria brizantha cultivar Marandu subdivididas em setores com aguada central. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Tecnologia Rural e Animal da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB.

Foram utilizados 40 novilhos da raça Nelore com peso inicial médio de 373,70 ± 14,0 kg e 26 meses de idade distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e dez repetições: T00= sal mineral; T03= 0,3% de suplementação energética e protéica em função do peso corporal; T06= 0,6% de suplementação energética e protéica em função do peso corporal e T09= 0,9% de suplementação energética e protéica em função do peso corporal. As dietas foram balanceadas para atender as exigências nutricionais que permitissem aos animais obterem os seguintes ganhos médios diários (GMD) T03= 350 gramas/dia, T06= 650 gramas/dia e T09= 900 gramas/dia.

O período experimental total foi de 198 dias sendo 14 deles para adaptação dos animais. O período seco foi de 12 de agosto a 18 de novembro de 2006. A partir de 18 de novembro até 26 de fevereiro de 2007 (período chuvoso), os animais foram mantidos no mesmo regime alimentar, recebendo apenas sal mineral à vontade.

A pastagem foi avaliada a cada 28 dias. Para estimar a disponibilidade de MS de cada piquete, foram tomadas 12 amostras cortadas ao nível do solo com um quadrado de 0,25 m2, conforme metodologia descrita por McMeniman (1997). Foi adotado o método de lotação contínua com mesma carga animal. Foram utilizados oito piquetes, diferidos no início de maio. Para reduzir a influência da variação de biomassa entre piquetes, os novilhos permaneceram em cada piquete por sete dias e, após esse período, foram transferidos para outro, em um sentido pré-estabelecido de forma aleatória.

As estimativas de biomassa residual diária (BRD) de matéria seca foram realizadas nos quatro piquetes, conforme o método da dupla amostragem (Wilm et al., 1994). Antes do corte, foi estimada visualmente a matéria seca da biomassa da amostra. Utili-zando-se os valores das amostras cortadas e estimadas visualmente, foi calculada a biomassa de forragem expressa em kg/ha pela equação proposta por Gardner (1986).

A estimativa da taxa de acúmulo diário de MS (TAD) foi realizada por meio da equação proposta por Campbell (1966):

Os quatro piquetes que permaneciam vedados por 28 dias funcionaram como gaiolas de exclusão. O acúmulo de MS (A), nos diferentes períodos experimentais, foi calculado multiplicando-se o valor de TAD pelo número de dias do período.

A taxa de lotação (TL) foi calculada considerando a unidade animal (UA) como sendo 450 kg de PV, utilizando-se a seguinte fórmula:

A oferta de forragem (OF) foi calculada de acordo com a seguinte fórmula:

Os animais foram pesados no início e no final do experimento e, foram feitas também, pesagens intermediárias, a cada 28 dias, para avaliação do ganho médio diário (GMD) e ajuste do fornecimento do suplemento. As pesagens foram precedidas por jejum alimentar de 12 h.

A suplementação foi fornecida diariamente em cochos plásticos sem cobertura. O suplemento foi oferecido uma única vez ao dia e sempre no mesmo horário (10 h). As compo-sições dos suplementos e do sal mineral (SMR) encontram-se expostos na tabela I.

 

Para estimar a produção fecal, utilizou-se o óxido crômico como indicador externo, fornecido diariamente às 9 h em dose única de 10,0 g durante 12 dias, sendo sete dias para adaptação e regulação do fluxo de excreção do marcador e cinco dias para coleta das fezes. As fezes foram coletadas uma vez ao dia no momento da administração do indicador, diretamente da ampola retal, e armazenadas em câmara fria a -10o C. As amostras de fezes foram analisadas por espectrofotometria de absorção atômica (EAA) para dosagem de cromo, conforme Williams et al. (1962).

Para determinação do indicador interno, fibra em detergente ácido indigestível (FDAi), as amostras da forragem, das fezes e dos concentrados foram incubados no rúmen de quatro animais fistulados por 144 h, tendo o resíduo sido assumido como indigestível.

A digestibilidade aparente parcial e total, e o consumo de matéria seca (CMS) foram estimados a partir da produção fecal, verificada com auxílio de óxido crômico (Cr2O3) como indicador externo e da fibra em detergente ácido indigestível (FDAi) como indicador interno.

O desempenho animal foi determinado pela diferença entre o peso vivo inicial (PVI) e o peso vivo final (PVF) dividido pelo período experimental em dias. A conversão alimentar (CA) foi determinada em função do consumo e do desempenho animal.

A eficiência alimentar (EFAL) é a quantidade de gramas de carne produzidas com o consumo de 1 kg de MS de alimento.

O resultado das análises químicas dos suplementos, forragem e da dieta total foi determinado, conforme metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002) e encontram-se na tabela II juntamente com dos dados da avaliação da forragem.

 

Os carboidratos totais (CHOT) foram obtidos por intermédio da equação:

Enquanto os carboidratos não-fibrosos (CNF), pela diferença entre CHOT e FDN. Os teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e energia metabolizável foram obtidos pela equação:

Para a energia metabolizável, considerou-se que 1,0 kg de NDT equivale 4,409 Mcal de energia digestível e para a transformação em energia metabolizável, utilizou-se o valor de 82% de eficiência de utilização de energia digestível (NRC, 1996).

Os dados climatológicos coletados pela estação meteorológica Wireless Weather Station de 433 MHz encontram-se na tabela III.

 

Os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises de variância e regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas, SAEG (UFV, 2000). Os critérios adotados para escolha do modelo foram o coeficiente de determinação, calculado como a relação entre a soma de quadrados da regressão e a soma de quadrados de tratamentos, e a significância observada dos coeficientes de regressão, conforme o modelo:

 

Resultados e discussão

Encontra-se, na tabela IV, o consumo de matéria seca total (CMST), da pastagem (CMSP), consumo de fibra em detergente neutro total (CFDNT) e de pastagem (CFDNP), consumo de proteína bruta (CPB), exigência em proteína bruta (EPB) consumo de extrato etéreo (CEE), consumo de carboidratos não-fibrosos (CCNF), consumo de cinzas (CCIZ), nutriente digestíveis totais (NDT), consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT) consumo de energia digestível (CED) e de energia metabolizável (CEM), exigência em energia metabolizável (EEM) nos períodos seco e chuvoso com suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação (r2).

Não houve efeito (p>0,15) dos trata-mentos sobre o consumo total de matéria seca tanto em kg por dia como em percentual do peso vivo nos dois períodos estudados. O consumo de 2,00% do peso vivo em ambas as fases estudadas é considerado normal. No entanto, a manutenção desse consumo total de matéria seca no período seco, ocorreu em função de uma substituição da forragem pelo concentrado, fato este, evidenciado pela redução linear (p<0,001) do consumo da matéria seca oriunda da pastagem no período de suplementação. Com a redução no consumo de forragem, houve redução linear (p<0,01) do consumo de fibra em detergente neutro (FDN) uma vez que os concentrados apresentam baixos teores da mesma. No período chuvoso, não houve (p>0,15) variação no consumo de FDN. Tanto no período seco como no período chuvoso o consumo de sal mineral foi de 38 g/dia.

De acordo com Horn e McCollum (1987), o consumo de até 0,70% do peso vivo (PV) em concentrado não causa efeito negativo sobre o consumo de forragem. Entretanto, neste experimento, com 0,60% de suple-mentação, houve a redução 26,64% do consumo de FDN da forragem em função do aumento do nível de suplementação caindo de 6,42 kg em T03 para 4,71 kg em T06 (Moore et al., 1999). No entanto, como houve aumento linear do ganho de peso (tabela IV) é provável que tenha ocorrido os dois efeitos simultaneamente: tanto o aditivo quanto o substitutivo, conforme descrito por Euclides et al. (1998). Isto acontece quando os animais têm a disposição forragem ad libitum e quantidade limitada de concentrado, ocasionando aumento do ganho de peso e da elevação na capacidade suporte dos pastos, o que indica redução do consumo de forragem.

Segundo Van Soest (1994), o teor de FDN do alimento é inversamente relacionado com o consumo. Entretanto, neste estudo, apesar da redução do FDN da dieta de 84,30 para 54,08% de T00 para T09, o consumo total de MS permaneceu inalterado. Mertens (1992) relatou que o limite para a regulação do consumo de ruminantes seria 1,20% do peso vivo em FDN. Os resultados encontrados divergem desta teoria, pois, tanto na fase de suplementação quanto no período chuvoso, existiram grupos de animais que consumiram valores próximos de 1,61% do peso vivo em FDN, 34,17% acima do limite proposto por Mertens (1992). Neste caso, pode-se inferir que os relatos de Mertens (1992) têm sua validade limitada às condições de produção baseadas em forrageiras de clima temperado, com animais Bos taurus taurus, não podendo, portanto, serem extrapoladas para as condições tropicais em que a maioria das forrageiras possui elevados teores de FDN.

No que tange à disponibilidade de forragem, o valor de 26,60 kg de MS para 100 kg do peso vivo é mais que o dobro dos 12 kg recomendados por Hodgson (1990) para um máximo desempenho individual de animais em pastejo. Segundo Silva e Pedreira (1997), o inconveniente da disponibilidade de forragem constatada no presente estudo é a possibilidade de subutilização em função da elevada oferta, gerando perdas excessivas e diminuindo a produtividade do sistema de produção como um todo. Entretanto, contrariando este prognóstico, Canesin et al. (2007) relataram consumo de 2,39% do PV em pastagens de Brachiaria brizantha, no período chuvoso para uma dieta com 59,33% de NDT e com 6.990 kg de forragem por ha.

Os aumentos lineares (p<0,01) de consumo verificados para proteína bruta, extrato etéreo, carboidratos não-fibrosos, nutrientes digestíveis totais, energia digestível e energia metabolizável podem ser atribuídos ao aumento no consumo de suplemento e da maior concentração destes nutrientes nas dietas com maiores teores de concentrado, principalmente, em virtude da maior ingestão de CNF e outros nutrientes mais digestíveis, em detrimento do consumo de FDN. No período chuvoso, nenhuma das variáveis relacionadas foi alterada, uma vez que os animais de todos os tratamentos foram submetidos a uma mesma dieta. Segundo o NRC (1996), algumas diferenças nas respostas sobre o consumo podem estar associadas ao teor proteico da forragem e a quantidade do suplemento fornecido. Neste sentido, em pastagens com baixo nível de proteína, o consumo será incrementado quando uma pequena quantidade de suplemento proteico for fornecido. Este incremento não foi verificado possivelmente pelo uso em todos os tratamentos de valores superiores a 1,00 kg de concentrado. A resposta à suplementação para ganho de peso é maior quando a suplementação proporciona consumo de proteína bruta maior do que 0,05% do peso vivo, e quando este for maior que 0,10% PV, a resposta é positiva (Moore et al., 1999). No presente estudo, a PB, em seu menor nível no período para o tratamento T00, foi de 0,11% do PV, atendendo, portanto, ao pressuposto sugerido. No período chuvoso, a PB corres-pondeu a 0,14% do peso vivo.

Os consumos de energia digestível e energia metabolizável apresentaram cresci-mento linear (p<0,01) em função dos níveis de suplementação. Esse fato é explicado pelo aumento do teor de CNF na dieta o que aumentou o NDT e por consequência a energia disponível para utilização pelo animal.

Encontram-se na tabela V o peso vivo inicial (PVI), peso vivo final (PVF), ganho médio diário (GMD), conversão alimentar (CA), eficiência alimentar (EA) nos períodos seco e chuvoso com suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação (r2).

No início do experimento, os animais de todos tratamentos apresentavam peso vivo médio inicial de 373,70 ±14,0 kg. O peso vivo final apresentou efeito linear crescente (p<0,02) em função dos níveis de suple-mentação. Esta elevação crescente verificada na pesagem final dos animais gerou ganho médio diário também crescente (p<0,01). Os ganhos obtidos pelo tratamento com sal mineral são reflexos do ano atípico de chuvas e da alta disponibilidade de forragem que possibilitou a seleção das folhas pelos animais. Para T03, o resultado também foi satisfatório, apresentando desempenho superior ao esperado, inclusive sem que houvesse efeito substitutivo. Nos dois outros tratamentos, T06 e T09, o efeito da substituição da forragem pelo concentrado associada ao não-atendimento das exigências de PB e EM proporcionaram desempenho aquém do esperado.

Os resultados biológicos referentes ao ganho médio diário ao que tudo indica não são economicamente viáveis para T06 e T09, uma vez que ficaram abaixo do esperado e apresentaram incremento baixo no ganho. Neste sentido, aspecto interessante a ser considerado é a conversão de kg de concentrado em ganho de peso adicional. Quando esta variação for < 0,02 kg/dia, fica evidente o papel da forragem que contribui com quase todo o ganho animal. Quando esta variação é alta (>0,4 kg/dia), a parcela referente à suplementação torna-se mais destacada (Moore et al., 1999). A conversão encontrada entre kg de ração e kg de peso vivo produzido foi de 1:0,09; 1:0,06 e 1:0,07, respectivamente para T03, T06 e T09. O efeito associativo no ganho de peso quando se suplementa animais a pasto pode ser positivo ou negativo. Neste experimento como evidenciado na discussão do consumo, houve efeito associativo negativo, a partir do nível de 0,3% de suplementação do PV.

No início do período chuvoso, o peso vivo inicial apresentava efeito linear crescente oriundo da diferenciação promovida no peso vivo pelo efeito dos níveis crescentes de suplemento utilizados. Contudo, ao final do experimento, foi constatado efeito quadrático no peso vivo final com ponto de máxima estimando em 448,46 kg em nível de 0,58% de suplementação. Tal efeito pode ser explicado pelo fato de os animais com maiores níveis de suplemento, no caso principalmente T09, sofreram impacto muito grande para readaptação ao consumo apenas da pastagem. Isto ficou evidente porque os animais perderam peso no primeiro período de 28 dias e só depois conseguiram recuperar para terminar o período de 100 dias com desempenho semelhante aos demais.

No período chuvoso, os ganhos médios de 380,0 g obtidos são considerados baixos e podem ser explicados pelo não aten-dimento das exigências em PB, entretanto, é interessante ressaltar que devido ao manejo para determinação do consumo com o uso do óxido crômico, tanto no período seco como no período chuvoso, o desempenho pode ter sido comprometido.

A conversão alimentar e eficiência alimentar que são contrárias entre si apresen-taram efeitos inversos no período de suplementação. Enquanto a CA decresceu linearmente (p<0,01), por conseguinte a EA aumentou linearmente (p<0,01). Pelos resultados obtidos, houve redução no consumo de MS para produção de cada kg de peso vivo da ordem de 12,87%, 29,01% e 34,12%, respectivamente para T03, T06 e T09 em relação a T00. No período chuvoso, não houve efeito sobre nenhuma das duas variáveis. Entretanto, pelo menor desem-penho, na época das águas quando comparado com o desempenho do tratamento T00 no período seco, a CA piorou apresentando aumento de 28,77%.

O coeficiente de digestibilidade da matéria seca (CDMS), fibra em detergente neutro (CDFDN), proteína bruta (CDPB), extrato etéreo (CDEE) e dos carboidratos não-fibrosos (CDCNF), nos períodos seco e chuvoso com suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação (r2), estão na tabela VI.

No período chuvoso, não houve dife-rença (p>0,15) para nenhum dos coeficientes de digestibilidade estudados. No período seco, os coeficientes de digestibilidade da MS e da FDN apresentaram efeito linear crescente (p>0,01) em função do aumento do teor de carboidratos não-fibrosos e consequente redução do teor de FDN da dieta total consumida. Os CNF, normalmente, são degradados no rúmen ou digeridos ao longo do trato gastrintestinal dos ruminantes. Aumento linear para as diges-tibilidades aparentes totais da MS e FDN também foram descritos por Gonçalves et al. (1991), Araújo et al. (1998), Signoretti et al. (1998). Tibó et al. (2000) relataram coeficientes de digestibilidade da MS de 62,65%, 62,01%, 66,12%, 70,17% e 73,22% para níveis de concentrado de 25,0%, 37,5%, 50,0%, 62,5% e 75,0%, respectivamente. Segundo Cardoso et al. (2000), níveis mais elevados de concentrado podem não afetar a digestibilidade aparente da FDN, desde que o pH ruminal se mantenha dentro de limites fisiológicos, não havendo redução no número de bactérias celulolíticas, principais responsáveis pela digestão da fibra.

Houve efeito quadrático (p<0,05) em função dos níveis de suplementação com o ponto de mínima estimado em 66,73% em nível de 0,40% de suplementação no período seco. Esta redução estimada na digesti-bilidade aparente da PB pode ser explicada pelo maior aporte de nitrogênio não-protei-co existente no tratamento T03 que continha 5,00% de ureia na dieta, podendo ocorrer maior escape ruminal de N que, posteriormente, foi detectado nas fezes diminuindo o índice da digestibilidade aparente da PB. Entretanto, aumentos lineares, no consumo de PB com a elevação dos níveis de concentrado na dieta total, podem ter contribuído para possível redução da proporção do nitrogênio endógeno nos compostos nitrogenados fecais.

O coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo (EE) não foi alterado (p>0,15) pelos dos níveis de suplementação, mas manteve-se dentro dos patamares normais. O que pode ser explicado pelo baixo percentual de lipídios em todas as dietas. Resultado similar foi constatado por Silva et al. (2005) que relataram 88,0% de digesti-bilidade para o EE.

Houve efeito linear crescente (p<0,01) sobre o coeficiente de digestibilidade dos carboidratos não-fibrosos em função do aumento do nível de concentrado na dieta total. Esses resultados corroboram diversos estudos (Gonçalves et al., 1991; Berchielli, 1994; Araújo et al., 1998 ; Burger et al., 2000 ; Cardoso et al., 2000 e Dias et al., 2000) que utilizaram diferentes níveis de volumosos na dieta, à medida que o nível de volumoso diminuiu, as digestibilidades da MS aumentam, provavelmente em virtude do aumento na concentração de carboidra-tos não-estruturais, que são mais digestíveis em relação aos carboidratos estruturais. Entretanto, os resultados encontrados são inferiores aos coeficientes de digestibilidade apresentado por outros autores. Silva et al. (2005) relataram valores de 85,82%, 89,71%, 92,60% e 94,11% para 20,0%, 35,0%, 50,0% e 65% de concentrado na dieta, respectivamente.

 

Conclusões

Níveis crescentes de suplementação promovem alterações sobre o consumo de fibra e modifica o padrão de degradação da mesma. Ao aumentar a inclusão de concentrado e, consequentemente, a densidade energética da dieta, o maior aporte de nutrientes promove melhorias no desempenho animal. Contudo, a ocorrência do efeito associativo negativo pode comprometer a performance biológica, e consequentemente a econômica. A baixa conversão do suplemento em ganho de peso adicional à forma tradicional de terminação de bovinos a pasto é um dos indicativos da insustentabilidade de sistemas com carga animal moderada e elevados níveis de suplementação.

 

Agradecimentos

Banco do Nordeste do Brasil - FUNDECI e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.

 

Bibliografia

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Recibido: 1-2-08.
Aceptado: 5-3-09.

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