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Archivos de Zootecnia

versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.60 no.231 Córdoba sep. 2011

https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922011000300065 

 

Desempenho e características da carcaça de cordeiros alimentados com bagaço de caju

Performance in vivo and carcass characteristics of lambs fed with cashew apple bagasse

 

 

Silva, L.M.1*, Oliveira, C.H.A.1, Rodrigues, F.V.1, Rodrigues, M.R.C.1, Beserra, F.J.2, Silva, A.M.1, Lemos, J.C.1, Fernandes, A.A.O.1 e Rondina, D.1

1Faculdade de Veterinária. Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fortaleza. Ceará. Brasil. *lmsilvavet@gmail.com
2Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Fortaleza. Ceará. Brasil

Financiamento projeto no9911/06, Edita 03/06, Funcap-CE. Dr. Davide Rondina é bolsista de produtividade em pesquisa CNPQ/Brasil.

 

 


RESUMO

Com o objetivo de avaliar o desempenho e as características da carcaça, foram utilizados 14 cordeiros desmamados inteiros, alimentados com dietas contendo ração comercial e silagem de sorgo ou bagaço de caju desidratado (BCD), como fonte única de volumoso. Os animais apresentaram peso corporal inicial médio de 12 kg e foram abatidos quando atingiram peso médio de 25 kg. Utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado, com duas dietas e sete repetições. A conversão alimentar do grupo alimentado com BCD (8,08 ± 0,32) foi melhor (p<0,05) em relação ao grupo silagem de sorgo (15,62 ± 0,75). Não houve efeito significativo para as características do corpo in vivo e para as características qualitativas da carcaça dos cordeiros alimentados com os dois planos alimentares. Os cordeiros alimentados com BCD apresentaram um rendimento de carcaça fria superior (48,24 ± 0,73 vs. 44,05 ± 1,33; p<0,05) e uma maior deposição de gordura na região lombar. Conclui-se que o bagaço de caju desidratado é uma alternativa viável para a terminação de cordeiros mestiços, quando utilizado como fonte única de volumoso no nordeste.

Palavras chave: Esquartejamento da carcaça. Composição tecidual.


SUMMARY

In order to evaluate the performance and carcass characteristics were used 14 whole lambs, fed with diets containing concentrate and sorghum silage or dehydrated cashew apple bagasse (DCAP) as source of roughage. The animals had an average initial body weight of 12 kg and were slaughtered when they reached 25 kg of live weight. We used a completely randomized design with two diets and seven replicates. The feed conversion of the group fed with DCAP (8.08 ± 0.32) was better (p<0.05) compared to sorghum silage group (15.62 ± 0.75). There was no significant effect on the parameters of in vivo performance and on the quality characteristics of the carcass of lambs fed with the two feeding plans. The lambs fed with DCAP had a cold dressing percentage higher (48.24 ± 0.73 vs. 44.05 ± 1.33) and show a greater deposition of fat in the lumbar region. In conclusion, the dehydrated cashew apple bagasse is a viable source of feed for lambs fattening, in the northeast region of Brazil.

Key words: Carcass jointing. Tissue composition.


 

Introdução

Com a expansão da fruticultura na região Nordeste do Brasil nos últimos anos, impulsionada pelo aumento significativo do uso de irrigação localizada para culturas frutíferas, vem tornando a região uma das maiores produtoras e exportadoras de frutas do Brasil. Dentro desta nova visão do potencial agropecuário nordestino, houve também um aumento na quantidade de agroindústrias se instalando na região, e no volume de resíduos do processamento de frutas com potencial de uso na ração de ruminantes (Lousada Junior et al., 2005). O uso de alimentos alternativos, constituídos de resíduos ou subprodutos agrícolas, pode minimizar os efeitos negativos da época seca nos animais.

Dentre as muitas potencialidades desses recursos, os resíduos da indústria de beneficiamento de caju (Anacardium occidentale) ocupam lugar de destaque. O pseudofruto e seus subprodutos, resultante da extração do suco (bagaço), podem ser utilizados na alimentação animal, além disso, a safra de produção dessa fruta concentrase na época seca, período que se caracteriza pela baixa produção de volumoso e, ainda, concentrados comerciais com preços elevados. Desse modo, a utilização dos subprodutos de caju pode ser feita por meio da suplementação de animais em pastejo ou da formulação de rações para animais em confinamento (Dantas Filho et al., 2007). As pesquisas sobre a substituição ou inclusão de produtos e subprodutos alternativos na alimentação animal têm se destacado no âmbito da nutrição animal. Entre os alimentos alternativos mais viáveis, destacam-se a farinha de mandioca, o farelo de castanha de caju, a casca de mandioca e a polpa cítrica, entre outros (Aregheore, 2000; Rodrigues et al., 2003; Lakpini et al., 1997; Monteiro et al., 1998).

Alguns autores apontam a presença de elevadas concentrações de lignina (Lima, 2005) e de tanino (Agostini-Costa et al., 2003) no bagaço de caju como elementos prejudiciais no aproveitamento dos componentes nutritivos da dieta, bem como, do consumo. Ferreira et al. (2004), verificando a inclusão do bagaço de caju como aditivo à silagem de capim elefante, fornecida à ovinos SRD, indicaram que a inclusão de até 47,7% de bagaço de caju melhorava as características nutritivas da silagem. Igualmente, níveis de inclusão do pseudofruto do caju inferiores (Dantas Filho et al., 2007) ou iguais (Leite et al., 2005) a 50% da ração, mostraram ser viáveis na engorda de borregos em confinamento.

Este estudo teve como objetivo verificar o desempenho e as características da carcaça de cordeiros mestiços Morada Nova v. Branca x Santa Inês alimentados com bagaço de caju desidratado como única fonte de volumoso.

 

Materiais e métodos

O presente estudo foi conduzido na fazenda experimental Campo da Semente -Guaiúba - Ceará, pertencente à Universidade Estadual do Ceará (UECE), localizada à 4o02' 23'' leste e 38o30' 14" oeste, com 63,7 m de altitude, temperatura média anual de 26oa 28oC e precipitação média anual de 904,5 mm, no período de março a julho de 2009.

Foram utilizados 14 cordeiros inteiros, mestiços Morada Nova v. Branca x Santa Inês, tratados previamente contra ecto e endoparasitoses. Os cordeiros permaneceram com suas mães em sistema de creep feeding, com livre acesso a concentrado comercial (17% PB), água e sal mineral, até o desmame realizado 42 dias após o parto. Após o desmame, estes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos de sete animais cada, com peso (11,11 ± 2,87 kg) e idade (59 ± 6 dias) homogêneos (p>0,05). A duração do experimento foi definida pelo tempo necessário para que todos os animais, de cada tratamento, alcançassem peso médio de 25 kg, quando os animais foram abatidos.

Os animais permaneceram confinados em baias coletivas durante todo o estudo, onde foram alimentados com ração para engorda.

A dieta consistia em ração concentrada (tabela I), fornecida em quantidade de 2% do PV, e volumoso a vontade, silagem de sorgo (Sorghum bicolor) ou bagaço de caju desidratado (BCD). Os alimentos eram administrados em duas refeições (8 e 16 horas), e diariamente as sobras eram recolhidas para determinação do consumo dos animais, permitindo-se sobras mínimas de 10%, com reajuste a cada 15 dias.

 

 

Os animais foram pesados no início do experimento, ao final do período de adaptação (compreendido em 15 dias) e a cada 15 dias durante o período experimental. Também ocorreram pesagens intermediárias, quando o PV dos animais se aproximou do peso determinado para abate.

A avaliação do ganho de peso foi calculada como a diferença entre o peso vivo inicial e o peso vivo final; e a conversão alimentar, por meio da relação entre o consumo de MS e o ganho de peso.

As avaliações biométricas foram realizadas com auxílio de uma fita métrica e um bastão morfométrico, sendo avaliados os seguintes parâmetros: comprimento corporal (CC), distância entre a junção úmeroescapular e a tuberosidade isquiática; profundidade do tórax (PT), distância entre a região da cernelha e o esterno; largura do tórax (LT), distância entre as faces laterais das articulações escápulo-umerais; perímetro do tórax (PET), tomando-se como base o esterno e a cernelha, passando por trás da paleta.

Foram avaliadas por ultrassonografia modo B (Chisson D600 VET, Chisson Medical Imaging Co. Ltda., China) a área do olho de lombo (AOL), a espessura da gordura subcutânea (EGS) e a profundidade do músculo Longissimus dorsi (PLD).Para obter as medições, os animais foram imobilizados e na região a ser analisada foram realizadas tricotomia, limpeza e aplicação de gel para ultrassom para permitir uma boa transmissão e recepção das ondas ultrassonográficas. As avaliações foram realizadas com a utilização de um transdutor linear de 5,0 MHz, no lado esquerdo do animal. Para a mensuração da AOL, o transdutor foi disposto de maneira perpendicular ao comprimento do músculo Longissimus dorsi, entre a 12a e a 13a costela, ao passo que, para as mensurações da EGS e da PLD, o transdutor foi disposto de maneira longitudinal, entre a 3a e 4a vértebras lombares, de acordo com Teixeira et al. (2006). A mensuração da espessura da gordura subcutânea em borregos no intervalo de idade considerado neste trabalho é dificultada pela não distinção da interface entre esta camada e a pele, assim a EGS foi mensurada juntamente com a pele de acordo com Teixeira (2008). As imagens obtidas foram salvas e posteriormente avaliadas utilizando-se o programa Image J (Image J, National Institutes of Health, Millersville, USA).

Ao atingirem 25 kg de peso vivo, os animais foram abatidos após jejum de 16 horas de alimento sólido, segundo RIISPOA (1980). Decorrido o tempo de jejum, os animais foram novamente pesados para obtenção do peso vivo ao abate (PVA). Após a evisceração, a carcaça foi pesada para obtenção do peso da carcaça quente (PCQ) e o rendimento de carcaça quente (RCQ= PCQ/PVA x 100). As carcaças foram então refrigeradas a uma temperatura de 4oC por 24 horas. Após esse período, foram novamente pesadas para determinar o peso de carcaça fria (PCF) e o rendimento de carcaça fria (RCF= PCF/PA x 100).

Posteriormente as carcaças foram penduradas pelos tendões em ganchos apropriados para manutenção de distância de 17 cm entre as articulações tarsometatarsianas e realizadas as seguintes mensurações utilizando-se fita métrica e bastão morfométrico: comprimento externo da carcaça (CEC), distância entre a articulação cérvico-torácica e a base da cauda na primeira articulação intercoccígea; largura da garupa (LG), largura máxima entre os trocânteres de ambos os fêmures; perímetro do pernil (PP), tomando-se como referência os trocânteres de ambos os fêmures; comprimento do pernil (CP) distância entre o centro do períneo e a extremidade anterior da superfície articular tarsometatarsiana; profundidade do tórax (PT), distância entre a região da cernelha e o esterno; largura do tórax (LT), distância entre as faces laterais das articulações escápulo-umerais.

Em seguida, as carcaças foram seccionadas ao meio, efetuando-se os seguintes cortes comerciais na meia-carcaça esquerda: paleta, pernil, lombo, costelas e pescoço, segundo descrito por Cesar e Sousa (2007). A paleta foi obtida por secção da região axilar, através da incisão dos tecidos que unem a escápula e o úmero à região torácica formada pelas seis primeiras vértebras torácicas e a porção superior das seis primeiras costelas. O pernil foi separado da carcaça em sua extremidade superior por meio de um corte entre a sétima vértebra lombar e a primeira vértebra sacral, seccionando-o do flanco. A obtenção do lombo foi realizada através de dois cortes, o primeiro corte dado entre a décima terceira vértebra torácica e a primeira vértebra lombar, em sua porção superior, continuando entre o flanco e o costado, em sua porção média e o segundo corte separando a sétima vértebra lombar da primeira vértebra sacral, seccionando o flanco da perna. As costelas foram obtidas atraves de dois cortes, o primeiro corte oblíquo e paralelo à apófise espinhosa da primeira vértebra torácica e a primeira costela, efetuado entre a sétima vértebra cervical e a primeira torácica e o segundo, entre a décima terceira vértebra torácica e a primeira vértebra lombar, em sua porção superior, continuando entre o flanco e as costelas, em sua porção média. O pescoço foi obtido atraves de um corte oblíquo e paralelo à apófise espinhosa da primeira vértebra torácica e a primeira costela, efetuado entre a sétima vértebra cervical e a primeira torácica. Foram realizadas pesagem e avaliação do rendimento dos cortes comerciais.

O pernil e o lombo foram identificados e armazenados em sacos plásticos e congelados em freezer a -18oC, para posterior análise da composição tecidual. Para isto, os cortes foram descongelados em geladeira a 10oC por 20 horas dentro de sacos plásticos. Na dissecação foram separados os tecidos muscular, adiposo e ósseo, com auxílio de bisturi e faca. O tecido adiposo foi composto da gordura externa (localizada abaixo da pele) e intermuscular (localizada abaixo da fáscia profunda, associada aos músculos). O tecido muscular foi composto do total de músculos dissecados após a remoção completa de todas as gorduras subcutânea e intermuscular aderidas. O tecido ósseo foi obtido após a remoção completa de todos os músculos e gorduras subcutânea e intermuscular aderidas. Após a dissecação, foi realizada a pesagem de cada tipo tecidual.

Utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado, com duas dietas e sete repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) utilizando o procedimento GLM do programa estatístico SAS (2002). As equações de regressão na avaliação da relação entre as mensurações ultrassonográficas (y) com os dias de alimentação (x) foram testadas através do procedimento GLM até o terceiro grau. Foram escolhidos os modelos com coeficiente de regressão significativo para p<0,05. Os coeficientes de regressão relativos às equações nas duas dietas foram comparados através da opção CONTRAST do procedimento GLM.

Resultados e discussão

Observa-se na tabela II, que não houve efeito significativo (p>0,05) para peso vivo inicial, peso vivo final, ganho de peso médio total, ganho de peso médio diário, tempo de engorda e mensurações dos cordeiros in vivo alimentados com silagem de sorgo ou bagaço de caju. Já em relação ao consumo em g/dia, consumo em %PV e conversão alimentar ocorreram diferenças significativas (p<0,05) entre as dietas com os dois planos alimentares. Pode-se observar que tanto o consumo em g/dia como o consumo em %PV foram menores para os animais alimentados com BCD, o que pode ser atribuído a menor umidade encontrada no BCD (tabela I).

 

 

Em relação ao ganho de peso médio diário, Andrade et al. (2001) obtiveram resultados semelhantes aos encontrados neste trabalho, com valores de 91,74 a 127,68 g/animal/dia, ao trabalharem com cordeiros SRD recebendo resíduos agro-industriais de acerola, melão e abacaxi no nível de 30% da ração total em substituição ao capimelefante. Borges et al. (2001), no entanto, em pesquisa com ovelhas alimentadas com dietas formuladas com diferentes níveis de polpa seca de caju, obtiveram ganhos de pesos médios diários de 120,24 a 152,68 g/ dia, pouco superior ao observado neste trabalho. Rodrigueset al. (2003), registraram ganhos de pesos médios diários inferiores (média de 74,4 g/animal/dia) aos encontrados neste trabalho quando utilizaram farelo de castanha de caju para ovinos em confinamento.

O consumo alimentar do grupo BCD foi semelhante ao encontrado por Furusho et al. (1997) quando avaliaram a inclusão de 30% de pseudofruto seco do cajueiro associado ou não a levedura, cujos valores oscilaram de 968 a 1024 g/animal/dia. Rodrigues et al. (2003) obtiveram valores um pouco inferiores para o consumo (696,42 a 881,16 g/animal/dia) ao utilizarem farelo de castanha de caju nos níveis de 0 a 36% em substituição ao concentrado da ração.

Quanto à conversão alimentar (tabela II), o grupo alimentado com BCD foi inferior em relação ao grupo silagem de sorgo (8,08 ± 0,32vs. 15,62 ± 0,75; p<0,05). Dantas Filho et al. (2007) registraram resultados de conversão alimentar próximos ao encontrado para o grupo alimentado com BCD, com valores de 5,37 a 8,12, ao avaliarem a inclusão de polpa de caju desidratada na alimentação de ovinos. Borges et al. (2004) encontraram também resultados próximos (6,49 a 9,83) ao obtido neste estudo.

Verifica-se na tabela III que os cordeiros alimentados com BCD apresentaram um rendimento de carcaça superior (p<0,05), o que não foi observado quando comparados os cortes comerciais dos dois grupos alimentares. Entretanto, os cortes comerciais do grupo alimentado com BCD apresentaram valores superiores aos do grupo alimentado com silagem de sorgo, o que pode ter levado ao maior rendimento de carcaça do grupo BCD. Também é possível observar na tabela III que os parâmetros qualitativos da carcaça de cordeiros alimentados com silagem de sorgo ou BCD, não diferiram estatisticamente (p>0,05). A superioridade em termos de conversão alimentar e rendimento de carcaça no grupo alimentado com BCD podem ser devido a um maior aproveitamento ruminal e metabólico dos nutrientes encontrados no BCD, visto que o mesmo possui uma elevada concentração protéica e de fibra em detergente neutro (FDN). Além disso, a silagem de sorgo apresenta níveis de matéria seca inferior ao BCD (30,7% vs. 90,29% de MS respectivamente), fazendo com que os animais aumentem o consumo deste alimento para suprir suas exigências nutricionais a nível metabólico.

 

 

Nos animais do grupo alimentado com BCD, o peso de carcaça quente foi relativamente satisfatório quando comparados com o peso ideal de carcaça quente de cordeiros relatado por Siqueira e Fernandes (1999), pois segundo os autores supracitados, este deve estar entre 12 e 14 kg em relação a pesos vivos de 28 e 30 kg, respectivamente. A porcentagem do RCQ e do RCF dos animais do grupo alimentado com BCD foram superiores aos valores mínimos preconizados para a espécie ovina por Silva Sobrinho (2001) considerando uma caracterização de carcaças de boa qualidade com RCQ igual ou maior que 46% e RCF igual ou maior que 44,5%.

Clementino et al. (2007), obtiveram valores próximos para RCQ e RCF aos obtidos com o grupo alimentado com BCD deste trabalho, quando avaliaram a inclusão de 40% de resíduo de urucum, cujos valores foram de 48,39% e 47,72%, respectivamente. Urano et al. (2006), também encontraram resultados similares ao do grupo alimentado com BCD para RCQ e RCF, com valores de 48,9% e 47,7%, respectivamente, quando alimentaram cordeiros Santa Inês com níveis crescentes de grão de soja. A carcaça da espécie ovina pode representar de 40% a 50% ou mais do peso vivo, variando em função de fatores intrínsecos relacionados ao próprio animal: idade, sexo, base genética, morfologia, peso ao nascimento e peso ao abate; e também por fatores extrínsecos: alimentação, manejo, fidelidade e homogeneidade das pesagens e realização de jejum pré-abate. Fatores relacionados com a própria carcaça, como peso, comprimento, compacidade, conformação e acabamento, também influem no rendimento (Pérez e Carvalho, 2002).

Em relação a EGS, a análise de regressão evidenciou uma maior deposição de gordura nos animais alimentados com BCD durante o período experimental quando comparados aos animais alimentados com silagem de sorgo (tabela IV). No entanto, não foi observada diferença significativa entre os grupos alimentares (p>0,05) no que se refere a AOL e a PLD (tabela IV). A utilização da ultrassonografia tem se mostrado uma técnica eficiente para avalivar a gordura subcutânea in vivo, a deposição muscular; bem como estimar a qualidade e a composição da carcaça (Silvaet al., 2003); permitindo prever o momento ideal do abate (Teixeira et al., 2008). Estudos em caprinos (Teixeira et al., 2008), ovinos (Silvaet al., 2006, Teixeira et al., 2006), suínos (Dutra Jr. et al., 2001) e bovinos (Prado et al., 2004) têm demonstrado uma correlação altamente significativa entre as medidas realizadas por meio da ultrassonografia e as realizadas na carcaça, tornando-se uma técnica de elevada precisão para predizer a composição da carcaça.

 

 

Quanto à composição tecidual do lombo e do pernil (tabela V), não ocorreram diferenças significativas na porção muscular e óssea entre os grupos alimentares (p>0,05), entretanto foi observada uma maior quantidade de gordura nos animais alimentados com BCD (p<0,05). Estes resultados corroboram com os achados na avaliação por ultrassonografia da EGS, AOL e PLD.

 

 

Agradecimentos

Os autores agradecem a equipe técnica da Fazenda Experimental da Universidade Estadual do Ceará, Campo da Semente, pelo suporte técnico e auxílio no manejo dos animais.

 

Conclusão

A utilização do bagaço de caju como fonte alternativa de alimento volumoso para o período de seca da região do semi-árido Nordestino, é uma alternativa viável, causando uma melhor conversão alimentar, rendimento de carcaça e uma mais rápida deposição de gordura em cordeiros mestiços Morada Nova v. Branca x Santa Inês.

 

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Recibido: 26-10-09
Aceptado: 29-3-10

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