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Archivos de Zootecnia

versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.62 no.237 Córdoba mar. 2013

https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922013000100017 

NOTA BREVE

 

Difusão de boas práticas e caracterização de propriedades leiteiras

Dissemination of good production practices and characterization of dairy production

 

 

Battaglini, A.P.P.1*; Fagnani, R.1; Dunga, K.S.1 e Beloti, V.1

1Universidade Estadual de Londrina. CCA. DMVP. LIPOA. Londrina. Brasil. *anapaulabattaglini@gmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo foi caracterizar a produção leiteira na região central do Paraná, Brasil, e avaliar o programa de capacitação oferecido aos produtores para a melhoria da qualidade microbiológica do leite. As propriedades leiteiras da região são pequenas extensões de terra com animais de baixa produção e pouca tecnificação. As médias de CBT do leite foram comparadas antes e depois do treinamento, com queda (p<0,05) de aproximadamente 60 %. Quando as médias de CBT do leite dos produtores que receberam o treinamento foram comparadas com os que não receberam, também houve diferença (p<0,05).

Palavras chave: Extensão rural. Microbiología do leite. Paraná.


SUMMARY

The aim was to characterize the dairy production of Paraná state central region, Brazil, and also evaluate the good manufacturing practices training program to improve the microbiologic quality of milk. Small milk farms were the most common found, manual milking process and low level of technification. Milk's TBC averages were compared before and after the training program, with significant drop (p<0.05) of about 60 %. When milk's TBC averages of the farmers that received the training program were compared with the farmers that did not received it, a difference was also observed (p<0.05).

Key words: Milk microbiology. Parana. Rural extension.


 

Introdução

Com a Instrução Normativa 62 (BRASIL, 2011), que determina padrões de qualidade do leite no Brasil, os produtores tiveram que se adaptar às novas exigências. No entanto, observa-se que essas mudanças refletiram fortemente sobre os produtores rurais de pequeno porte. Muitos se colocaram como impossibilitados de atender aos padrões determinados. A caracterização das condições de produção possibilita um diagnóstico de potencialidades e necessidades de cada região auxiliando o desenvolvimento do setor lácteo.

O objetivo foi caracterizar a produção de leite em uma microrregião do Paraná e avaliar o programa de capacitação oferecido aos produtores para melhoria da qualidade microbiológica do leite.

 

Material e métodos

Foram selecionados cinco municípios da região central do Paraná, Brasil, e cadastradas 201 propriedades.

O programa educativo foi realizado em cinco etapas: diagnóstico geral, diagnóstico educativo, planejamento, execução e avaliação final.

As fases de diagnóstico geral e educativo objetivaram identificar as características técnicas dos produtores da região e a percepção sobre a qualidade do leite.

Na etapa de planejamento foi feito o levantamento dos conteúdos a serem abordados durante o programa por meio de grupos de discussão (Bogdan e Biklen, 1994).

Na fase de execução foram realizadas, durante os meses de maio e junho de 2008, reuniões didáticas e visitas técnicas individuais em 102 propriedades. As reuniões e visitas levaram ao conhecimento dos produtores assuntos relacionados a legislação e higiene de ordenha.

A contagem bacteriana total (CBT) por citometria de fluxo foi usada como parâmetro para a avaliação da qualidade do leite. Para verificar o impacto do trabalho de extensão na melhoria da qualidade do leite, foi selecionada uma comunidade de cada um dos cinco municípios. As CBT de todas as propriedades leiteiras destas cinco comunidades antes (abril 2008) e após (julho de 2008) os treinamentos técnicos foram convertidas em log10 e comparadas pelo teste t. Ainda, foram comparadas as médias da CBT dos produtores que receberam treinamento com as médias de produtores que não receberam, agrupados nas quatro estações do ano. Para normalizar a distribuição das variáveis, as contagens também foram convertidas em log10 e comparadas pelo teste t. A cada estação do ano foram sorteados aleatoriamente (20 produtores para a comparação de médias. Para as análises estatísticas, duas comunidades (A e B) foram unidas por proximidade e uniformidade.

 

Resultados e discussão

CARACTERÍSTICAS DAS PROPRIEDADES

Houve predomínio de propriedades de pequeno porte, com média de 18,64 animais por propriedade. O número de animais em lactação foi de 7,46 e a produtividade de leite diária foi de 6,04 litros por animal, o que é considerada baixa, porém acima da média do estado, que é de 5,35 litros por animal (EMBRAPA, 2007).

Animais de raça não definida e Girolanda foram os mais observados nas propriedades, com frequência de 50 e 16,67 %, respectivamente, seguidos por animais do cruzamento entre a raça Holandesa e Girolanda (6,86 %) e Girolanda e Jersey (4,90 %). A frequência da raça pura Holandesa foi observada em 4,90 % e da raça pura Jersey em 1,96 %. Todos os outros cruzamentos somaram 14,71 %.

A maioria das propriedades (72,56 %) utilizava o estábulo como local de ordenha, 24,51 % utilizava a mangueira e apenas 2,94 % possuíam sala de ordenha. A ordenha manual com bezerro ao pé foi observada em 88 propriedades (86,27 %). Outros manejos foram observados em menor frequência, com 4,9 % para ordenha manual sem bezerro e ordenha semi-fechada com bezerro. Apenas 3,9 % das propriedades ordenhavam pelo sistema semi-fechado sem bezerro.

Em relação à higiene de ordenha, a prática mais adotada era a lavagem dos tetos e posterior secagem com pano, observada em 35,29 % das propriedades. Beloti et al. (2007) não recomendam a lavagem dos tetos com água, pois pode ser veículo para a incorporação de bactérias no leite ordenhado. Nesses casos, apenas a prática de imersão dos tetos (pré-dipping) em água clorada (750 ppm) já é suficiente diminuindo 99,5 % da microbiota.

A maioria das propriedades (94,12 %) não utilizava pré-dipping para desinfecção dos tetos. A mamada do bezerro antes da ordenha foi observada em 42,16 % das propriedades. Quando executada em todos os tetos, a prática é equivalente ao desprezo dos três primeiros jatos. Após a ordenha, 19,61 % das propriedades não filtravam o leite, 38,24 % utilizava tecido de algodão como coador e o restante utilizava coadores sintéticos.

Quanto à refrigeração do leite na propriedade, 47 (46,08 %) não refrigeravam o leite e 29 (28,43 %) colocavam os latões diretamente no freezer e/ou geladeira doméstica. Duas propriedades (1,96 %) resfriavam o leite em tanque de expansão próprio, 12 (11,76 %) resfriavam em tanque de expansão comunitário e 12 (11,76 %) usavam tanques de imersão. Assim, 74,51 % das propriedades não refrigerava o leite conforme a legislação.

O TRABALHO DE EXTENSÃO E A MELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE

Antes do início dos treinamentos técnicos, a média total da CBT era aproximadamente 7,2 milhões UFC/mL (tabela I). Imediatamente após o término dos treina mentos, houve uma diferença significativa de quase 60 % na média geral da CBT. Outros autores também avaliaram a redução na contagem de CBT com a implantação de práticas de higiene na ordenha. Vallin et al. (2009) obtiveram redução média de 87,9 % comparando as médias antes e depois da implantação das práticas apenas de produtores que receberam o treinamento, o que pode explicar a maior redução encontrada por estes autores.

 

As médias da CBT dos grupos que não receberam treinamento foram maiores (p<0,05) quando comparadas com o grupo que recebeu treinamento, exceto no inverno, quando os treinamentos eram recentes, podendo ser considerado como um período de adaptação dos produtores (tabela II).

 

Apesar da CBT ainda estar acima do estabelecido pela legislação brasileira, a diminuição da contaminação bacteriana dos produtores que receberam treinamento foi significativa, conseguida em um curto período de tempo e mantidas em longo prazo. Mesmo os produtores não investindo em instalações e equipamentos, e a maioria do leite não ser refrigerado, essa redução foi possível e se mostrou viável apenas com a transferência de informações, ressaltando que o trabalho de extensão deve ser continuado e com resultados mais concretos se feito em longo prazo.

Com leite de melhor qualidade, os produtores adquirem maior poder de negociação, e conseguem preço melhor pelo produto. Foi o que aconteceu nos cinco municípios visitados. Dois anos após as visitas, dos 102 produtores que receberam o treinamento individual , apenas 37 (33,33 %) ainda entregam o leite no mesmo laticínio. Poucos abandonaram a atividade, a maioria passou a vender seu produto para uma grande indústria de laticínios da região, que procura por um produto de melhor qualidade e paga mais por ele.

 

Conclusão

As propriedades leiteiras estudadas são, na sua maioria, pequenas extensões de terra, de agricultura familiar, caracterizadas por animais de baixa produção, pouca tecnificação e mão de obra não qualificada.

Com a implantação das práticas de higiene de ordenha, houve melhoria rápida e significativa na qualidade do leite da região.

A informação sobre a importância da qualidade e procedimentos para atingi-la foi suficiente para obter melhoria significativa na qualidade microbiológica do leite.

 

Agradecimentos

À Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI) e ao colaborador Wanderlei Zurlo.

 

Bibliografia

1. Beloti, V.; Tamanini, R.; Cavalleti, L.C.S.; Battaglini, A.P.P.; Monteiro, A. A.; Dovidio, L.; Mattos, M.R.; Fagnani, R.; Fagan, E.P. e Pires, E.M.F. 2007. Práticas simples de ordenha que possibilitam a produção de leite com qualidade. III Congresso Latino-americano e IX Congresso Brasileiro de Higienistas de Alimentos. Anais... Revista Higiene Alimentar, Porto Seguro, BA. 21: 113-114.         [ Links ]

2. Bogdan, R.C. e Biklen, S.K. 1994. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora. Porto. Portugal. 336 pp.         [ Links ]

3. Brasil. 2011. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. DIPOA. Instrução Normativa No 62 (29/12/2011). Diário Oficial da União. Brasília (30/12/2011). Seção 1.         [ Links ]

4. EMBRAPA. 2007. Centro nacional de pesquisa em gado de leite (CNPGL). http://www.cnpgl.embrapa.br (04/12/2008).         [ Links ]

5. Vallin, V. M.; Beloti, V.; Battaglini, A.P.P.; Tamanini, R.; Fagnani, R.; D'angela, H.L. e Cavaletti, L.C.S. 2009. Melhoria da qualidade do leite a partir da implantação de boas práticas na ordenha de 19 municípios da região central do Paraná. Rev Semina Ciênc Agrária, 30: 142-147.         [ Links ]

 

 

Recibido: 19-7-12.
Aceptado: 12-9-12.

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