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Archivos de Zootecnia

versão On-line ISSN 1885-4494versão impressa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.63 no.244 Córdoba Dez. 2014

https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922014000400008 

 

 

Correlação entre digestibilidade dos nutrientes e o comportamento ingestivo de novilhos em pastejo

Correlation between nutrient digestibility and ingestive behavior in crossbred steers recreated at pastures

 

 

Dias, D.L.S.1; Silva, R.R.1; Silva, F.F.1; Carvalho, G.G.P.2; Brandão, R.K.C.1; Souza, S.O.1, Guimarães, J. de O.1; Pereira, M.M.S.1 e Costa, L.S1

1Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Campus de Itapetinga. Itapetinga. Bahia. Brasil. *dlsd_@hotmail.com 
2Universidade Federal da Bahia. UFBA. Salvador. Bahia. Brasil.

 

 


RESUMO

Objetivou-se com esse estudo avaliar as correlações existentes entre o consumo de nutrientes e o comportamiento ingestivo de novilhos mesticos ½ Holandês x Zebu na fase de recria em pastagem de Brachiaria brizantha 'Marandu', no período das águas. Foram utilizados 22 novilhos com média de sete meses de idade e peso corporal médio inicial de 164,09±12,13 kg, distribuidos em delineamento inteiramente casualizado, com dois tipos de suplemento e onze repetições por tipo de suplementação e manejados em pastejo rotacionado numa área de 6,5 ha. Efetuou-se a análise de correlação linear de Pearson entre as variáveis comportamentais estudadas e os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes encontrados. Os coeficientes de correlação foram testados por meio do teste t. O tempo de ruminação apresentou correlação positiva com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. O tempo de alimentação no cocho correlacionou positivamente com o coeficiente de digestibilidade da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE). Correlação positiva foi observada entre o tempo de mastigação total e o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. O número de períodos de ócio e ruminação apre-sentaram correlações positivas com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes e o numero de períodos de alimentação no cocho correlacionou positivamente com o coeficiente de digestibilidade da PB. A taxa de bocados e o número de bocados por dia correlacionaram-se positivamente com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. Correlação positiva foi observada entre o número de mastigações merícicas por dia e o coeficiente de digestibilidade da MS, MO e carboidratos totais (CT). Correlações positivas foram observadas entre as eficiências de alimentação e ruminação da matéria seca e da fibra em detergente neutro com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes estudados. A digestibilidade dos nutrientes exerce influência direta sobre as expressões comportamentais apresentadas pelos animais estudados.

Palavras chave: Digestão. Eficiencia de ruminação. Mastigação. Suplementação mineral.


SUMMARY

The objective of this study was to evaluate the correlations between nutrient intake and ingestive behavior of steers Holstein x Zebu in the rearing on Brachiaria brizantha 'Marandu', during the rainy season. We used 22 steers averaging seven months of age and mean initial body weight of 164,09±12,13 kg, distributed in a completely randomized design with two types of supplement and eleven repetitions per supplementation and managed in a rotational grazing area of 6,5 ha Pearson linear correlations between the behavioral variables and the digestibility of the nutrients were studied. The correlation coefficients were tested by the ttest. The rumination time was positively correlated with the digestibility of nutrients. Feeding time at the trough positively correlated with the digestibility of dry matter (DM), organic matter (ODM), crude protein (CP) and ether extract. Positive correlation was observed between total chewing time and digestibility of nutrients. The number of periods of idle and rumination showed positive correlations with the digestibility of nutrients and the number of feeding periods in the trough correlated positively with the digestibility coeficient of CP. Bite rate and the number of bites per day correlated positively with the digestibility of nutrients. Positive correlation was observed between the number of chews per day and digestibility of DM, OM and total carbohydrates (CT). Positive correlations were observed between the efficiencies of feeding and rumination of dry matter and neutral detergent fiber with digestibility coefficient of nutrients studied. The nutrient digestibility has a direct influence over the behavioral expressions of animals studied.

Key words: Digestion. Efficiency of rumination. Chewing. Mineral supplementation.


 

Introdução

Um dos principais fatores que associa-do ao desempenho animal é o consumo de nutrientes, porem além do conhecimento do consumo e da composição química dos alimentos, torna-se importante o conhecimento da utilização dos nutrientes pelo animal, que é obtido por meio de estudos de digestão, (Silva et al., 2010). Compreender a expressão dos fenômenos biológicos por meio do estudo do comportamento animal é um grande desafio para os pesquisadores da área de etologia. De acordo com Coelho da Silva e Leão (1979), a digestibilidade é característica do alimento e indica a porcentagem de cada nutriente de um alimento que o animal pode utilizar.

É sabido também que existe influência do animal na digestibilidade dos alimentos. Assim sendo, por ser uma característica influenciada tanto pelo animal como pelo alimento, fatores como o manejo da alimentação e o ambiente podem afetar a dige stibilidade de determinado alimento e essa influencia ser expressa em seu comportamento alimentar.

Há uma escassez de pesquisas que relatam as correlações existentes entre o consumo de nutrientes e o comportamento ingestivo de animais em pastejo, o que justificaría a intensificação e aprofundamento dos estudos nesta área do conhecimento que é tão importante e gera informações de extrema relêvancia para a produção de bovinos em pastejo.

Objetivou-se avaliar as correlações entre a digestibilidade dos nutrientes e o comportamento ingestivo em novilhos mesticos recriados em pastagens no período das águas.

 

Material e métodos

O experimento foi desenvolvido na fazen-da Princesa do Mateiro, municipio de Ribeirao do Largo, localizado na região sudoeste do estado da Bahia. Foram utilizados 22 novilhos mestiços não castrados ½ Holandes-Zebu, com média de sete meses de idade e peso corporal médio inicial de 164,09±12,13 kg. O período experimental compreendeu de 27 de novembro de 2011 a 04 de março de 2012, (98 dias), sendo 14 deles destinados a adaptação dos animais ao manejo e a dieta experimental.

Os animais foram mantidos em pastejo rotacionado de Brachiaria brizantha 'Marandú', em área total de 6,5 ha, sendo esta dividida em seis piquetes de áreas equivalentes.

Os animais foram identificados por meio de suas características morfológicas e brincos plásticos numerados, pesados e alocados ao tipo de suplementação por meio do delineamento inteiramente casualizado. Cada tipo de suplementação possuía 11 repetições e consistia em:

 

 

Suplementação proteico/energético -0,4 % do peso corporal em suplemento por dia, balanceado para suprir as exigências em nutrientes para ganho de 1 kg/dia (NRC, 2001). Suplementação mineral - suplemento mineral ad libitum. A suplementação foi fornecida diariamente às 10:00 horas, em cochos plásticos.

A estimativa da produção fecal, consumo e digestibilidade foram realizadas entre os dias 14 a 21 de janeiro de 2012, datas estas compreendidas na metade do período experimental total.

Para estimar a produção fecal utilizou-se o LIPE®, (lignina purificada e enriquecida), como indicador externo, fornecido diariamente às sete horas da manhã, uma cápsula em dose única por animal com 7 dias para adaptação e regulação do fluxo de excreção do marcador e cinco dias para coleta das fezes.

As fezes foram coletadas uma vez ao dia, durante cinco dias, no próprio piquete em cinco horários pré-estabelecidos. Posteriormente as fezes foram armazenadas em câmara fria a -10 oC. As amostras de fezes coletadas foram pré-secas e moídas em moinho de faca (peneira com crivos de 1 mm), para as posteriores análises em laboratòrio. A estimativa da produção fecal foi feita determinando o teor de LIPE® nas fezes, utilizando a metodologia proposto por (Saliba et al., 2003).

O consumo de MS de concentrado foi estimado com a utilização do indicador dióxido de titânio (TiO2), o qual foi fornecido na quantidade de 10g por animal, misturado ao concentrado, durante oito dias, utilizando procedimento descrito por Valadares Filho et al. (2006), seguindo o mesmo esquema de coleta de fezes descrito para estimar a producao fecal, através da equacao: CMSS= (EFxTiO fezes) / TiO suplemento, em que: TiO fezes e TiO suplemento referem-se à concentração de dióxido de titânio nas fezes e suplemento, respectivamente.

A determinação da concentração de titânio foi feito segundo metodologia de Detmann et al. (2012). O consumo individual de concentrado foi estimado dividindo-se a excreção total de TiO2 pela sua respectiva concentralo no concentrado.

Para estimativa do consumo voluntario de volumoso foi utilizado o indicador interno FDN indigestível (FDNi), obtido após incubação ruminal por 240 horas (Casali, 2006), de 0,5 g de amostras de alimentos, sobras e fezes em duplicata, utilizando sacos confeccionados com tecido não tecido (TNT) gramatura 100 (100 g.m2), 5x5 cm. O material remanescente da incubação foi submetido à extração com detergente neutro, para determinação da FDNi.

O consumo de MS foi calculado da seguirne forma:

    CMS total (kg/dia)= [(EFxCIF) - IS]+ CMSS / CIV,

em que:

EF= excreção fecal (kg/dia), obtida utilizando-se o dióxido de titânio,
CIF= concentração do indicador nas fezes (kg/kg),
CIV= concentração do indicador no volumoso (kg/ kg),
IS= quantidade do indicador presente no concentrado,
CMSS= consumo de MS do concentrado.

As amostras da forragem do pastejo simulado foram obtidas através do consumo observado dos animais experimentais, conforme Johnson (1978), identificando-se o tipo de material consumido e coletando-se uma amostra semelhante ao alimento ingerido.

As amostras de concentrado, forragem e fezes, após a pré-secagem foram moídas em moinho tipo Willey a 1 mm para a realização das análises químicas.

Os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente ácido (FDA) e cinza, que foram obtidas conforme metodologias descritas por AOAC (1990). O teor de FDN, corrigido para cinzas e proteínas, foi realizado segundo recomendações de Mertens (2002), tabela II.

 

 

Os carboidratos não fibrosos corrigidos para cinzas e proteína (CNFcp) foram obtidos por meio da equação (Hall, 2003):

    CNFcp= 100 - [(%PB - %PB da ureia + % ureia) + FDNcp + %EE + %Cinzas].

Os carboidratos totais (CT), por meio da equacao (Sniffen et al., 1992):

    100 - (%PB + %EE + %Cinzas).

Os nutrientes digestíveis totais (NDT), pela equação de Weiss (1999), mas utilizando a FDN corrigida paro para cinzas e proteína:

    NDT= %PB digestível + %FDNcp digestível + %CNF digestível + (2,25 * %EE digestível).

As avaliações do comportamento ingestivo foram realizadas no 34o e 41o dia de experimento, no mês de Janeiro de 2012, sendo realizadas observações a cada 5 minutos, conforme metodologia de Silva et al. (2006), por um período de 24 horas.

Os animais foram avaliados visualmente, por dois observadores treinados para cada tipo de suplemento com auxílio de binóculos, sendo os mesmos, posicionados estrategicamente de forma a não influenciar o comportamento animal. Para obter o tempo gasto em cada atividade, foram utilizados relógios digitais e para o periodo de avaliação noturna os observadores utilizaram lanternas para o auxilio na coleta dos dados.

As variáveis comportamentais observadas compreenderam ao tempo de pastejo, tempo de ruminação, tempo de ócio e tempo de alimentação no cocho. A partir dos dados coletados, efetuou-se a tabulação e os çãlculos, sendo que os tempos de alimentação e ruminação ainda foram calculados em função do consumo de MS e FDN (min/kg MS ou FDN).

O tempo de alimentação total (TAT) e de mastigação total (TMT) foi determinado pelas equaçôes:

TAT= tempo de pastejo + tempo de alimentação no cocho;

TMT= tempo de pastejo + tempo de ruminação + tempo de alimentação no cocho.

Foi colocado um observador treinado especificamente para a obtenção do número de mastigações mericicas e do tempo despendido na ruminação de cada bolo ruminal, para cada animal, feitas através das observações de três bolos ruminais em três períodos diferentes do dia (09-12, 15-18 e 19-21 horas), segundo (Burger et al., 2000). Para obtenção do número de bolos diários, procedeu-se à divisão do tempo total de ruminação pelo tempo mèdio gasto na ruminação de cada bolo, descrito anteriormente.

A discretização das séries temporais foi feita diretamente nas planilhas de coleta de dados, com a contagem dos periodos discretos de pastejo, ruminação, ócio e alimentação no cocho. A duração média de cada um dos periodos discretos foi obtida pela divisão dos tempos diários de cada uma das atividades pelo número de periodos discretos da mesma atividade, conforme descrito por Silva et al. (2006).

As MS e FDN/refeição foram obtidas dividindo-se o consumo médio individual de cada fração pelo número de períodos de alimentação por dia (em 24 horas). A eficiência de alimentação e ruminação, expressa em g MS/hora e g FDN/hora, foi obtida pela divisão do consumo médio diário de MS e FDN pelo tempo total despendido em alimentação e/ou ruminação em 24 horas, respectivamente. As variáveis g de MS e FDN/bolo foram obtidas dividindo-se o consumo médio individual de cada fração pelo número de bolos ruminados por dia (em 24 horas).

A taxa de bocado (TxBOC) dos animais de cada tipo de suplementação foi estimada por meio do tempo gasto pelo animal para realizar 20 bocados (Hodgson, 1982). Para o cálculo da massa de bocado (MasBOC), dividiu-se o consumo diário pelo total de bocados diários (Jamieson e Hodgson, 1979). Os resultados das observações de bocados e deglutição foram registrados em seis ocasiões durante o dia, conforme Baggio et al. (2009), sendo três avaliações durante a manhã e três à tarde, e usados também para determinar o número de bocados por dia (BOCDIA), que é o produto entre taxa de bocado e tempo de pastejo.

Os dados de digestibilidade dos nutrientes e comportamento foram correlacionados utilizando-se a correlação Lienar de Pearson. Os coeficientes de correlação foram testados por meio do teste t e processadas pelo Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas - SAEG (2001), sendo consideradas significativas quando p<0,05. Utilizaram-se os seguintes parâmetros: digestibilidade dos nutrientes e comportamento ingestivo, tabelas III e IV, respectivamente.

 

 

Os coeficientes de correlação não significativos não foram apresentados nas tabelas.

 

Resultados e discussão

Não foi verificado nenhum tipo de correlação entre o tempo de pastejo (PAS) e o tempo de alimentação total (TAT) com os coeficientes de digestibilidades estudados (p>0,05) (tabela V). Diferentemente dos resultados aqui obtidos, Santana Junior et al. (2012) observaram correlação positiva entre o tempo de pastejo e a digestibilidade da FDN, sendo justificado pelos autores pela taxa de passagem do volumoso onde o limitante é o efeito de enchimento provocado pela FDN em animais em pastagens tropicais, pois quanto maior a digestibilidade da FDN, menor tempo a mesma ficará no rumen, propiciando assim, maior oportunidade de pastejo do animal.

O tempo de ócio (ÓCIO) se correlacionou negativamente (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. Os animais que recebiam suplementação proteico/energética tiveram maior digestibilidade da MS assim como dos demais nutrientes o que está diretamente relacionado com a melhoria do ambiente ruminal devido ao maior aporte de nutrientes à população microbiana. Segundo Lazzarini et al. (2009) o fornecimento de suplementação mostra-se eficiente, pois oferece condições para que os microrganismos utilizem eficientemente os carboidratos fibrosos presentes na dieta basal, a forragem. Portanto, houve melhoria na digestibilidade do material ingerido, graças ao suprimento dos fatores nutricionais para os microrganismos ruminais.

O tempo de ruminação apresentou correlação positiva (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. O tempo de ruminação é altamente correlacionado (r= 0,96) com o consumo de FDN em bovinos (Mendonca et al., 2004). O processo de ruminação favorece o melhor aproveitamento dos constituintes da dieta por meio do tamponamento do rumen, bem como da redução do tamanho das partículas do alimento. Sendo assim, a digestibilidade é favorecida quando ocorre um aumento do tempo de ruminação. Durante a época das aguas, onde ocorre à melhoria do valor nutricional das pastagens, o fornecimento de suplemento aos animais melhora a utilização dos nutrientes no rumen, por possibilitar a sincronia entre proteína e energia (Souza et al. 2012), melhorando a digestibilidade dos nutrientes.

O tempo de alimentação no cocho correla-cionou positivamente (p<0,05) com o CDMS, CDMO, CDPB e CDEE. Vários relatos da literatura versaram indiretamente sobre o tema sem, no entanto quantificar por meio de algum teste as relações existentes entre a digestão dos nutrientes e a expressão dessas inter-relações via comportamento animal. Segundo Rode et al. (1985), os valores de digestibilidade da MS e MO elevaram-se à medida adiciona-se o concentrado na dieta em virtude da redução de carboidratos estruturais e do aumento no teor de carboidratos não-estruturais na dieta. O aumento nos consumos de PB e EE gracas ao aporte adicional destes nutrientes na dieta proporcionou aumento no coeficiente de digestibilidade dos mesmos. Neste prisma, o aporte adicional desses nutrientes via suplementação auxiliou na melhoria da digestibilidade, taxa de passagem e consequentemente o consumo desses nutrientes pelos animais.

A correlação positiva (p<0,05) existente entre o tempo de mastigação total e o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes, provavelmente, se deu por conta do tempo de ruminação que quando se eleva, proporciona melhorias na digestibilidade dos nutrientes.

O NPO e NPR apresentaram correlações positivas (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes (tabela VI). Para um melhor aproveitamento do material ingerido é necessário maior tempo de ruminação, pois segundo Van Soest (1994), a digestibilidade pode ser definida como um processo de conversão de macromoléculas dos nutrientes em compostos mais simples, que podem ser absorvidos no trato gastrintestinal. Ao consumirem alimentos mais concentrados e se saciarem em menor tempo de alimentação, os animais também necessitarli de menor tempo de ruminação. Assim sendo, ficam por mais períodos em ócio. A digestibilidade dos alimentos concentrados é superior à das forragens. O NPC correlacionou positivamente (p<0,05) com o CDPB. Como é de conhecimento geral, o aumento no consumo de determinado nutriente inserido em um suplemento concentrado leva a um aumento na digestibilidade do mesmo. Quando animais sáo suplementados em pastejo pode existir uma melhoria na condição ruminal para degradação dos nutrientes, visto que a maior disponibilidade de N pode propiciar o crescimento da microbiota ruminal e consequentemente favorecer a digestibilidade.

O TPR apresentou correlação negativa (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes estudados. Por ser fruto da di-visão do tempo total de ruminação pelo NPR, a correlação mostra-se coerente, pois, quanto maior for o numero de períodos, menor será o tempo por cada período. Sendo assim, em decorrência do comportamento apresentado pelo NPR refletiu no TPR, que apresentou correlação negativa (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes.

A taxa de bocados (TxBOC) e o número de bocados por dia (BOCDIA) correlacionaram-se positivamente (p<0,05) com o coeficiente de digestibilidade de todos os nutrientes estudados (tabela VII). Estas variáveis dependem de características inerentes à oferta de forragem, estrutura do dossel forrageiro podendo conduzir à uma maior facilidade ou dificuldade com que o animal apreende a forragem (Trevisan et al., 2004). Como no período em que esse estudo a forragem apresentava excelente estrutura comprovada pela relação folha: colmo encontrada (1,32 %), portanto os animais puderam pastejar quase que exclusivamente as folhas, que por serem mais nutritivas apresentam maior taxa de digestao quando comparado com as demais partes da planta. Como se tratava de material de qualidade, o aumento da TxBOC e do BOCDIA propiciaram maior consumo de um material que era de boa digestibilidade. Caso contrario, ocorreria uma limitação do consumo devido às limitações físicas impostas pela má qualidade da forragem.

Constatou-se correlação negativa (p<0,05) entre o tempo por bocado (TemBOC) e o CDEE. O número de bocados por deglutição (NumBOC) apresentou correlação positiva com o CDPB. Explicado pela alta disponibilidade de folhas (2516 kg/ha) e por ser este o componente mais nutritivo e mais palatável do pasto, há uma preferência do animal pelas lâminas foliares, portanto as decisões do animal pela procura de forragem estão baseadas, preferencialmente na busca por esse componente (Teixeira et al., 2010).

O número de bolos ruminados por dia (BOL/dia) apresentou correlação positiva (p<0,05) com todos os coeficientes de digestiblidade dos nutrientes estudados, exceto com o CDEE (tabela VIII). Conforme discutido anteriormente, quanto mais tempo o animal ruminar, melhor será o processo de redução de partículas dos alimentos ingeridos, e consequentemente, melhor também será o seu aproveitamento.

Observou-se correlação positiva (p<0,05) entre o número de mastigações merícicas por dia (MAS/dia) e o coeficiente de digestibilidade da MS, MO e CT. Como explicado anteriormente, quando os animais ingerem maiores teores de MS provenientes do pasto há necessidade de um maior tempo de ruminação devido a maior necessidade de processar a fibra, pois de acordo com Van Soest (1994), a atividade de mastigação tem um importante papel no consumo e digestão de forragens, influenciando a taxa de secreção salivar, solubilizando os nutrientes, quebrando e reduzindo o tamanho das partículas e expondo os nutrientes, para a colonização e aumentando a taxa de passagem da digesta.

Correlações positivas foram observadas (p<0,05) entre a eficiência de alimentação da matéria seca (EALMS) e da fibra em detergente neutro (EALFDN) com o coeficiente de digestibilidade dos nutrientes estudados (tabela IX). Com o fornecimento de suplemento proteico/energético, há melhoria da eficiência de alimentação da matéria seca e por consequencia dos demais nutrientes. O aumento da eficiencia de alimentação da FDN está diretamente relacionada ao consumo eficiente de forragem de qualidade, pois, esta disponibiliza maiores níveis de fibra na dieta total dos animais. O consumo desta forragem é eficiente devido não haver limitações na oferta.

Correlações positivas foram observadas (p<0,05) entre a eficiência de ruminação da matéria seca (ERUMS) e da fibra em detergente neutro (ERUFDN). Segundo Macedo Júnior et al. (2010) e Berchielli et al. (2011) a ingestão de MS está positivamente relacionada com a digestibilidade da FDN, portanto, com o fornecimento adicional de nutrientes via suplementação os animais se tornaram mais eficientes na alimentação da forragem disponível, graças a melhoria na digestibilidade da mesma, possível aumento da taxa de passagem e por consequência um maior consumo.

Podemos concluir, portanto que a digestibilidade dos nutrientes exerce influência direta sobre as expressões comportamentais apresentadas pelos animais estudados, principalmente no que diz respeito às atividades de ruminação. Os resultados discutidos no presente trabalho demonstram que são equivocados grande parte dos comentários feitos até então e que versavam contra a importáncia dos estudos de correlação. Espera-se no futuro com o aprofundamento de estudos desta natureza, a obtenção de respostas inerentes à digestão dos alimentos por meio do estudo das expressões comportamentais.

 

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Recibido: 2-8-13.
Aceptado: 31-7-14

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