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Dynamis

versión On-line ISSN 2340-7948versión impresa ISSN 0211-9536

Dynamis vol.37 no.1 Granada  2017

 

 

 

Hidroterapia e empreendedorismo médico: o "feitiço hídrico" de Ricardo Jorge

Hydrotherapy and medical entrepreneurship: the "water spell" of Ricardo Jorge

 

 

Rui Manuel Pinto Costa

orcid.org/0000-0001-7040-3487. Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra - CEIS20. UID/HIS/00460/2013. rcosta75@gmail.com

 

 


RESUMO

Entre 1886 e 1893, o médico e higienista Ricardo Jorge esteve ligado a um projeto de valorização comercial e terapêutica das águas do Gerês. Conhecidas desde há longos séculos e alvo de habituais peregrinações terapêuticas assentes numa tradição de base empírica, as propriedades curativas dessas águas passam a assumir um papel de maior destaque a partir da década de 80 do século XIX quando as análises químicas começam a servir propósitos de avaliação das suas qualidades mineromedicinais. Este artigo aborda detalhadamente o projeto médico-empresarial ricardiano em torno da hidroterapia, enquadrando-o no contexto da valorização económica e terapêutica das águas mineromedicinais, no reavivar do fenómeno do termalismo e na legitimação da hidrologia pelos progressos na avaliação química das águas. Apesar do insucesso comercial na exploração dos recursos hídricos, esta incursão ricardiana mostra as dificuldades do projecto e a complexidade do exercício profissional da medicina hidrológica, mas também o reforço da autoridade e prestígio de Ricardo Jorge no campo da hidroterapia.

Palavras chave: Ricardo Jorge, água, hidroterapia, termalismo, Gerês.


ABSTRACT

Between 1886 and 1893, the doctor and hygienist Ricardo Jorge was linked to a commercial and medical project on the waters of Gerês. Known for many centuries and used for therapeutic purposes, they were administered on an empirical basis. When new chemical analyses were first published, the empirical properties of these waters took on a new role in hydrotherapy based on their now proven mineral and medicinal qualities. The article discusses in detail Ricardo Jorge's business venture, framing it in the context of the economic collection and treatment potential of mineral waters and the revival of the phenomenon of hydrotherapy, legitimized by new developments in the chemical analysis of waters. The commercial failure to exploit the water resources highlights the difficulties of this project and the complexity of the professional practice of hydrological medicine, although it resulted in a strengthening of Ricardo's authority and prestige in the field of hydrotherapy.

Key words: Ricardo Jorge, water, hydrotherapy, spa, Gerês.


 

1. Ricardo Jorge e a hidroterapia (*)

As abordagens historiográficas em torno da hidroterapia e do termalismo no século XIX são bastante vastas no contexto europeu e têm-se debruçado sobre uma grande complexidade de prismas. Geralmente, as leituras historiográficas dedicadas às ciências biomédicas sublinham a institucionalização de áreas especializadas, como é o caso da hidrologia médica, a par das tensões em torno da promoção empresarial dos recursos hídricos mineromedicinais por parte de médicos1. Outras vão das práticas balneares ligadas às termas como locais de cura, passando pela construção da sociedade do lazer e do turismo social, fazendo sobressair a vertente lúdica2. Na verdade, todas estas abordagens são fundamentais e entrecruzam-se para explicar um fenómeno transversal a nível europeu.

Com algumas excepções3, tanto a extensa e clássica historiografia do termalismo português4 como as abordagens históricas, sociológicas e antropológicas mais recentes5 não se debruçam sobre o papel específico das figuras médicas enquanto elementos diretamente implicados no processo de empresarialização das águas termais e mineromedicinais de novecentos.

A figura do médico-empresário no decorrer do século XIX, resulta não só da afirmação da medicina científica de sabor positivista, mas também da capacidade de captação de investimentos em áreas de reconhecida eficácia, mesmo que empírica, como era o caso da emergente hidrologia médica. No caso particular da hidrologia e do uso clinicamente tutelado das águas mineromedicinais, assistiu-se um pouco por toda a Europa a um processo de institucionalização progressiva deste ramo do saber, assente nas novas análises químicas das águas minerais. A linha ténue entre os interesses científicos e comerciais levou a que não fosse assunto imune a controvérsias. Sendo um processo algo complexo e desigual, foi globalmente lato, se bem que permeado por particularidades e variantes locais6.

Alguns dos personagens que lhe estão associados, maioritariamente médicos, tornaram-se figuras paradigmáticas e desempenharam um papel de relevo na medicalização da actividade. Este processo passou pela valorização clínica da hidrologia, a que se aliou o reconhecimento internacional dos benefícios terapêuticos das águas minerais no tratamento de diversas doenças. Países como a Espanha, Inglaterra, França e Alemanha tiveram os seus próprios paladinos e respectivos caminhos de medicalização da actividade7. Em Portugal, este processo de valorização trilhou caminhos semelhantes, onde ressalta a figura de Ricardo de Almeida Jorge, tanto no papel de médico-empresário como no de promotor da hidrologia médica enquanto área cientificamente fundamentada.

Ricardo Jorge (1858-1939), homem de ciência e de cultura, continua a ser referência no universo médico e científico dos séculos XIX e XX. Reconhecido como personagem cimeiro da higiene pública e das ciências da saúde, ainda muito jovem tornou-se professor da Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1881. Aí leccionou antes de rumar a Lisboa em 1899, onde desenvolveu um amplo trabalho enquanto higienista, professor e director do Instituto Central de Higiene, destacando-se enquanto promotor e paladino do higienismo. Autor de uma extensa bibliografia, muito se escreveu sobre o seu papel e personalidade, sendo também objeto de particular atenção em diversos trabalhos de investigação8.

No caso particular da valorização das águas mineromedicinais do Gerês, legou-nos duas obras complementares, ainda hoje consideradas fundamentais para a História das águas do Gerês, mas também da hidrologia portuguesa: a primeira, intitulada o Gerês Termal. História, Hidrologia, Medicina (1888), seguida 3 anos depois por Caldas do Gerês. Guia termal (1891). Ambos textos são seminais para a compreensão do fenómeno terapêutico em torno das águas termais no último quartel de oitocentos. Constituem-se como as principais fontes onde é possível recolher a maior parte da informação acerca da participação de Ricardo Jorge no universo da hidrologia médica e do termalismo, numa fase charneira que precedeu imediatamente o que foi identificado por Claudino Ferreira9 como o período de ascendência do termalismo em Portugal, entre 1892 e 1930.

O Guia Termal de 1891 é um texto com claros objectivos propagandísticos e de promoção turística, apresentando algumas das características mais comuns dos guias termais coevos. Esta literatura turística despontara no século XVIII nas estações termais da Bélgica, Alemanha e França, tendo-se popularizado ao longo do século XIX e servido os propósitos dos estabelecimentos termais, vinculando fortemente o termalismo ao turismo10.

O interesse de Ricardo Jorge pela hidrologia médica começou no início da década de 80 do século XIX. Em 1886 era já um professor de prestígio firmado na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Apesar dos seus 27 anos, no rescaldo das conferências sobre higiene que realizou em 1884, tornara-se uma figura de relevo no contexto científico nacional. Não menos importante, era o facto de ser membro da Comissão de Estudo das Águas Mineromedicinais do País.

Numa altura em que a hidroterapia desenhava uma nova credibilidade que passava a ter na análise das águas termais um forte argumento científico, o mero ato de "ir a banhos" adquiria um novo apelo para a medicina científica de finais do século XIX. Nesta altura, a presença e o conselho médico eram vistas como fundamentais na hora de escolher entre as diversas águas e termas11. Colaborando com o médico brasileiro Miguel Couto dos Santos12, seu cunhado (irmão da sua mulher Leonor) e director do estabelecimento balnear de Pedras Salgadas, funda em fevereiro de 1881 o Instituto Hidroterápico e Electroterápico nas dependências do Grande Hotel do Porto. Com a morte precoce do cunhado, a partir de maio de 1882 este Instituto passa a ser dirigido por Ricardo Jorge em parceria com um dos seus colegas de docência: Augusto Henrique de Almeida Brandão. Este estabelecimento, mais comercial que terapêutico, pode incluir-se numa tendência coeva, tal como foi explicada por Juan Antonio Rodríguez-Sánchez, que se desenhou pela mesma altura em Espanha, e que corresponde à transformação e medicalização das correntes hidroterapêuticas empíricas da Europa central13.

É inserido nesta tendência que desde 1881 Ricardo Jorge começou a apostar nas potencialidades abertas pela nova área terapêutica. Publicitado como o único estabelecimento do seu género no país, o armamentário terapêutico incluía duches de pressões e temperaturas variáveis, banhos de estufa e de vapor, barros russos, massagens e electroterapia. Ao longo de 1882 a publicidade deste estabelecimento no periódico Folha Nova conferiu-lhe grande visibilidade, como é fácil de depreender dos constantes anúncios às várias hidroterapias disponibilizadas e onde ressaltava com claro destaque o nome de Ricardo Jorge.

 

2. A análise química das águas e a hidrologia médica

Ao longo do século XIX a vertente terapêutica das estâncias termais foi adquirindo um vigor progressivo em toda a Europa, impulsionada pelo movimento higienista a que se somava uma vertente claramente lúdica e turística. Na década de 70 do século XIX os "banhos de caldas e águas minerais" eram algo de bastante comum entre os estratos sociais economicamente mais desafogados14. As Caldas da Rainha, as termas das Taipas, Vidago, Pedras Salgadas, S. Pedro do Sul ou as Caldas de Vizela eram muito procuradas apesar das dificuldades de acesso de algumas delas15. Alguns estratos da sociedade reencontram-se de forma mais ou menos regular com as propriedades ditas curativas ou de bem-estar associadas às águas termais, às quais continuava a faltar uma confirmação científica que apenas era sobrepujado por um empirismo que assentava na longa prática do tempo.

Será precisamente a partir da década de 60 que começam a surgir alguns dos primeiros trabalhos de índole científica acerca das propriedades medicinais das águas, com o que se vão abrindo horizontes de legitimação às curas que até então não dispunham senão do discurso médico ou do empirismo para as legitimar. A análise química das águas vai-se tornando alvo de diferentes estudos, mais ou menos aprofundados. A comissão nomeada em 1866 e presidida por Tomaz de Carvalho, diretor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, deu à estampa um extenso e inédito relatório que compilava as análises efectuadas a numerosas águas minerais portuguesas16. Outros estudos foram entretanto publicados na década seguinte, entre eles os de Bernardino António Gomes e José Júlio Rodrigues17, bem como vários outros nomes ligados à Universidade de Coimbra, entre os quais Francisco Alves, Costa Simões e Joaquim dos Santos e Silva18.

Conferindo-lhe um cunho científico e servindo como base de trabalho à hidrologia médica19, a química analítica permitiu que o renovar desta disciplina médica: o termalismo passa a ser visto com outros olhos e o empirismo das "curas" termais começa a fazer sentir nos médicos a necessidade de o complementar com estudos de base clínica e de fisiologia experimental.

O uso e potencial terapêutico das águas medicinais imbricava-se com a questão do termalismo enquanto elemento tradicional de tratamento de diversas afecções crónicas. Por outro lado, a medicina hidrológica afirmava-se enquanto área do saber médico mas agora com um novo apelo, ao ser legitimada pelos avanços da química na análise dos componentes orgânicos e minerais presentes na água. O estudo hidro-analítico tornara-se elemento essencial à validação da qualidade da água, desde aquela destinada ao consumo público até à dedicada a fins terapêuticos ou com potencial mineromedicinal. A avaliação da qualidade passava pelo crivo fino da quantificação: doseamento de oligoelementos, compostos orgânicos e inorgânicos, temperatura e mineralização. Mas isto, por si só, não permitia emitir juízos de valor sobre a sua eficácia terapêutica.

A qualidade das análises, sobretudo se atentarmos à variabilidade de resultados quando os processos utilizados não eram uniformes, colocava a nu as bases frágeis em que ainda assentava uma "medicina termal" em busca de afirmação:

"A Medicina Termal pouco tem avançado durante o ultimo século; demonstra tal asserção, a deficiência das análises químicas, em que principalmente se baseia o seu estudo. Que ensinamentos podemos nós colher das análises químicas que até agora se nos tem apresentado? Poucos, que possam considerar-se como verdades científicas"20.

É por essa razão que a medicina começa a introduzir-lhe os estudos clínicos, tentando justificar a partir da evidência e da prática clínicas as melhores estratégias terapêuticas, sistematizando as patologias em que poderiam ser indicadas ou contra-indicadas. Talvez por isso nem sempre se assistiu à esperada relação simbiótica entre os resultados analíticos e a evidência proveniente da experiência:

"Alguns médicos, asseverando que o conhecimento dos elementos mineralizadores d'uma água não é suficiente para se poder predizer a sua eficácia medicamentosa, objectam às pretensões da química o facto de haverem águas cujos compostos predominantes, sendo na mesma quantidade, possuem uma acção diferente, os efeitos os mais diversos sobre certos doentes, atacados das mesmas afeções"21.

Numa altura em que as propriedades das águas minerais só agora começavam a obter confirmação científica, assistiam-se a exemplos de propaganda feita com recurso à sobrevalorização das análises químicas despojadas de qualquer avaliação clínica. A publicidade que decorria desta valorização química tinha apenas o intuito de capitalizar comercialmente a aura curativa em seu redor. Ricardo Jorge não deixou de o apontar e criticar em Agosto de 1891:

"(...) há um tempo para cá, que aguas medicinais se improvisam por processos fin-de-siécle. Qualquer agua que seja ou pareça mineral, se cabe em mãos providas, dá em panaceia por força. Aquilo é como nas fontes santas d'outros tempos, para o milagre é só benzer e pôr o santo. A benzedura, salvo seja, faz-se pela análise química; diga ela o que disser, agua analisada é grande droga de virtude. Para o santo despe-se a patologia inteira e todas as moléstias vão à estampa para não faltar romeiros"22.

Se bem que a as águas mineromedicinais formassem parte do arsenal terapêutico e fossem estudadas no contexto da Universidade de Coimbra pelo menos desde o último quartel do século XVIII23, era uma área ainda sujeita à polémica e ao contraditório, mas onde a medicina criava um novo espaço de afirmação quando o assunto ainda não dispunha de professores especializados nem cadeiras individualizadas nos currículos de medicina. Apesar de ter uma representação modesta quando comparada com outras áreas de maior apetência, é possível detectar o interesse em redor da hidrologia em todas as suas vertentes -hidroterapia, crenoterapia e talassoterapia- exposto nas teses inaugurais das escolas médico-cirúrgicas desde a década de 70, tema que passou a ser abordado numa base regular sobretudo nas décadas seguintes24.

Dos efeitos fisiológicos provenientes dos banhos pela imersão em água fria ou quente, ou sob a forma de duche aplicado em zonas anatómicas específicas, passando pelas inalações, pulverizações e ingestão de águas minerais, a hidroterapia era vista como panaceia quase universal. No entanto existia um quadro geral de recomendações que regulamentavam a duração de duches e banhos, a temperatura, e/ou a frequência e quantidade de água a ingerir. Todas as decisões terapêuticas dependiam do tipo de afeção a tratar bem como de outras condições inerentes a cada doente25. Dependendo da tipologia e características das águas, as indicações eram múltiplas: dos casos de doenças respiratórias às patologias gastrointestinais, cutâneas e febres, das afeções reumatismais às do foro psiquiátrico e até cardíaco, parecia quase certo que praticamente todos poderiam beneficiar de algum modo com a hidroterapia. Apesar dos benefícios unânimes que se lhe atribuíam, as recomendações passavam maioritariamente por um uso não exclusivo mas sim complementar, feito em parceria com outras modalidades de tratamento.

Apesar das orientações gerais, podemos dizer que o conhecimento hidrológico se encontrava descentralizado e exercido de forma pseudo-especializada: utilizado maioritariamente por médicos que laboravam nas estâncias termais, a sistematização dos tratamentos hídricos não existia ainda como prática cientifica universalmente regulamentada. Também não era incomum que o tipo de "banho" fosse recomendado em função de uma observação nem sempre considerada adequada, independentemente dos sinais ou sintomas. A grande quantidade de doentes a avaliar nas estâncias termais por médicos sem treino em hidrologia podiam ter esse tipo de efeito pernicioso, como se sublinha numa dissertação inaugural de 1890:

"(...) sendo trinta a cinquenta os consultantes a despachar em três a quatro horas, como periodicamente sucede, cumpre-nos declarar que o exame feito é as mais das vezes superficial. Se o paciente acusa dores nos ossos, sem mais preâmbulos -banho quente te valha será o recipe do clinico açodado. Se a sua epiderme oferece a existência d'algumas escamas, vesiculas, pápulas ou ainda tubérculos, dois olhares do facultativo lhe sugerem a diagnose d'um processo mórbido que ele enfaticamente significa ao doente pelo palavrão "dermatose", e banho fresco sulfuroso será o seu refúgio"26.

Assente nos resultados proporcionados pelo empirismo da evidência clínica mas ainda mal explicada ao nível da ação fisiológica, a hidroterapia era em meados da década de 80 definida como "(...) o conjunto dos meios de aplicação metódica da temperatura e pressão diversas, sobre a superfície cutânea, com um fim higiénico e terapêutico"27, o que significa que tanto se podia realizar com água corrente como com água mineromedicinal, uma vez que os efeitos terapêuticos advinham da pressão e da temperatura e não tanto da composição química.

Este empirismo não foi rejeitado por Ricardo Jorge, na medida em que os factos assentes na observação direta e na experiência eram elementos que confirmavam o valor terapêutico das águas do Gerês. Mesmo assim, instruiu-se em hidrologia tendo por base uma série de compêndios franceses que lhe serviram de referência.

Para além disso, também não parece ter enjeitado as prescrições de médicos mais experientes nas lides hidrológicas, como as que lhe foram fornecidas por Leonardo Torres. Este médico disponibilizou-lhe em 1884 um importante manuscrito com indicações precisas sobre o uso das águas medicinais do Gerês28. Comparando as prescrições contidas nesse documento com as preconizadas por Ricardo Jorge na sua clínica, verifica-se desde logo uma grande semelhança entre ambas.

 

3. Mergulhando no "feitiço hídrico do Gerês"

Foi no decorrer de um comentário às primeiras análises químicas das águas do Gerês que Ricardo Jorge se entusiasmou com seu o potencial terapêutico. Tendo conhecido em primeira mão o efeito benéfico que essas águas tiveram nas perturbações gastrohepáticas do seu colega e professor de medicina José de Andrade Gramaxo29, o interesse acentuou-se depois de ter comentado o valor científico das análises realizadas em 1885 pelo químico Adolfo de Sousa Reis. Francamente empolgado como os resultados, não lhe poupou encómios pelo:

"(...) trabalho porfiado durante longos meses com uma paciência germânica, onde as operações se sucederam provadas e contraprovadas com um requinte excepcional de precauções práticas e d'observância estrita às regras analíticas da química. Só raros predicados de habilidade e vontade, só muita paixão pela investigação curiosíssima, só um desejo intimo de firmar uma análise que fixasse de vez a composição das misteriosas águas, podiam conseguir o êxito brilhante do distinto químico"30.

As análises de Sousa Reis não foram as únicas a ter lugar nessa altura: também Emílio Dias as realizou, mas foram as primeiras que captaram o interesse de Ricardo Jorge31. A "hidromedicina geresiana" acabaria por apaixoná-lo quase de imediato: após comparar as análises de Sousa Reis com as de outras nascentes termais da Europa, concluiu que o Gerês possuía a água mais fluoretada da Europa, pensando desde logo em algumas aplicações terapêuticas específicas, mas também na sua imediata utilização comercial.

Com essa ideia em mente e sempre sob a alçada do experimentalismo, realizou desde 1886 uma série de trabalhos sobre fluoretos alcalinos; numa primeira fase injectando fluoreto de potássio em animais de laboratório (rãs, coelhos e um cão) e de seguida em doentes alienados a quem foram ministradas doses de 0,4 a 1,2 dg/dia, tendo registado as observações colhidas nestes doentes com o seu colega e amigo Magalhães Lemos. Posteriormente utilizou doses menos concentradas em alguns doentes do Hospital da Misericórdia do Porto com doenças hepáticas, biliares e do baço32. Os resultados permitiram-lhe concluir que:

"Todas as observações são contestes para demonstrar que o fluoreto é um medicamento altamente proveitoso (...). Afoitamente poderemos dizer que a alta característica mineral do Gerês é o seu flúor"33.

Para além do uso habitual em doentes com perturbações do sistema nervoso e com doenças reumáticas, aquilo que na análise de Ricardo Jorge parecia tornar as águas do Gerês únicas seria no tratamento da "Braditrofia" i.e., das doenças da alimentação -ou da lentidão do processo digestivo- que no entendimento médico da altura incluíam a obesidade, a litíase biliar e inclusive a diabetes. A regularização da fisiologia digestiva era o que as diferenciava positivamente relativamente a outras opções medicinais, e por isso mesmo oferecia um complemento às terapêuticas exclusivamente hidroterápicas que Ricardo Jorge realizava desde 1881 no Instituto Hidroterápico e Electroterápico do Porto.

Mergulhou então no "feitiço hídrico" do Gerês, e como já era seu apanágio traçou-lhe o percurso histórico, comentando os trabalhos dos principais geresistas e ressuscitando as descrições dos viajantes (Figura 1). O resultado foi o Gerês Termal, metade dele escrito no Verão de 1887 e publicado no ano seguinte. A obra teve impacto e foi entregue como parte da documentação aquando do concurso para a concessão:

 


Figura 1. Ricardo Jorge com traje regional dos pastores do Minho.
Caldas do Gerês: Fotografia Nacional de Francisco Gomes Marques (1890-1891).
Fonte: INSA, @ Biblioteca de Saúde do Instituto Ricardo Jorge (RJ 108).

 

"(...) documentando o seu requerimento com minuciosos anteprojectos das instalações termais, competentemente elaborados, e uma compendiosa memória histórica, hidrológica e médica sobre o Gerês termal, escrita com tão notável proficiência pelo segundo dos requerentes [Ricardo Jorge], que constitui o mais sumptuoso e perdurável monumento erguido à singular excelência daquelas águas, e ocupa, com incontestável e incontestado direito o primeiro lugar na bibliografia geresiana, e porventura e de toda a bibliografia hidrológica nacional"34.

 

4. Um projeto promissor e absorvente

Os muito propalados princípios da higiene associada à hidroterapia, fossem no contexto das caldas ou até dos banhos de mar, tornavam o assunto fortemente apelativo, justificando o investimento num projeto empresarial. Aproveitando o facto do Ministro do Reino José Luciano de Castro ter retirado à Câmara de Terras do Bouro a superintendência termal do Gerês e ter aberto concurso para a adjudicação das águas medicinais, Ricardo Jorge associou-se com outros investidores nesse intento. Apesar do potencial terapêutico das águas, o processo de concessão e exploração mostrou-se lento e pejado de problemas, nunca atingindo os objectivos esperados, principalmente a construção do estabelecimento termal.

Celestino Maia, que mais tarde lhe sucedeu na direção clínica das Caldas do Gerês descreveu este processo sob o seu ponto de vista35. Ricardo Jorge associou-se a três outros personagens: Paulo Marcelino Dias, também ele médico e professor da EMCP mas amigo de José Luciano de Castro; Adolfo de Sousa Reis, químico que apresentara os resultados das primeiras análises da água, e ainda o capitalista bracarense Manuel Joaquim Gomes. Deram entrada com um requerimento no Ministério de Obras Públicas, Comércio e Indústria em 20 de Junho de 1887, com o objectivo de obter a concessão das águas medicinais das Caldas do Gerês. Transformado em concurso público, foi publicado no Diário do Governo a 14 de Agosto de 1888. De acordo com as condições desse programa, os concorrentes eram obrigados a documentar os seus requerimentos com anteprojectos das edificações termais, análise da principal nascente e estado medicinal das águas. A adjudicação far-se-ia mediante um conjunto de contrapartidas e obrigações estipuladas entre o estado e o concessionário36. Fechado o concurso ao fim de 90 dias, apresentou-se como único candidato uma empresa formada por Paulo Marcelino Dias e Ricardo Jorge. A adjudicação foi feita a 7 de dezembro de 1888 por contrato provisório a essa empresa pelo prazo de 50 anos, sendo de seguida apresentado às Cortes a 30 de janeiro de 1889, cuja aprovação era necessária para que o contrato se efectivasse. Seguiu-se um arrastado processo que demorou quase 9 meses a concluir: nos debates que tiveram lugar nas Cortes foram invocados alguns receios de uma posição dominante da Companhia na venda das águas, mas apesar disso, o contrato final foi assinado com algumas emendas a 16 de Setembro de 1889. Mesmo assim, as condições exigidas aos concessionários foram reconhecidas como algo duras, sendo:

"(...) talvez de mais o que se exige aos concessionários que esteja pronto no fim do primeiro dos dois anos marcados para a conclusão de todas as instalações, pois a pressa exagerada no andamento das obras pode ser prejudicial à sua qualidade"37.

Ricardo Jorge assumiu o lugar de director clínico, tendo-lhe naturalmente recaído "(...) sobre os ombros as responsabilidades profissionais deste sanatório hidriátrico"38. Em paralelo, acumulava também as funções de Director-Gerente.

A vontade racionalizadora e normalizadora que impôs ao tratamento aquífero obedeciam a uma reconfiguração higiénica do local, abandonando-se o uso público das vetustas fontes termais (Figura 2). A prioridade foi dada ao tratamento pelos banhos, para o que se criou uma instalação provisória no piso baixo do Hotel Universal, canalizando a água que brotava de uma das 11 fontes (Figura 3).

 


Figura 2. Planta das fontes e nascentes das Caldas do Gerês. Fonte: Jorge, Ricardo.
Caldas do Gerês. Guia termal. Porto: Tip. da Casa editora Alcino Aranha; 1891, [s.p].

 


Figura 3. Aspecto das Caldas do Gerês em 1891. Fonte: Jorge, Ricardo.
Caldas do Gerês. Guia termal. Porto: Tip. da Casa editora Alcino Aranha; 1891, [s.p].

 

"A nossa cruzada pelo Gerês teve principalmente por intuito a erecção de termas, dignas da qualidade excelsa das águas, e, logo que medicamente podemos interferir na terapêutica geresiana, lançamos mão do banho, como arma secundaria e por vezes principal, no tratamento das moléstias que o Gerês recruta. A repugnância dos velhos cubículos venceu-se com uma instalação provisoria, modesta mas suficiente, realizada nos baixos do Grande Hotel Universal (sucursal), para cujas banheiras corre o farto e cálido manancial do Forte"39.

No ano seguinte, Paulo Marcelino Dias afasta-se do projecto e a 10 de Março de 1890 a concessão foi vendida a uma sociedade anónima denominada Companhia das Caldas do Gerês, tendo como sócios fundadores Ricardo Jorge e Manuel Joaquim Gomes. Iniciou-se então a subscrição de acções da companhia com um capital social de 70 000 reis. Nessas acções encontrava-se impressa a alçada frontal de um amplo edifício termal a construir, acompanhada no canto superior esquerdo da gravura do Hotel Universal onde decorriam nessa altura os tratamentos aquíferos40. O projecto assim o determinava, mas apesar de se encontrar traçado no papel ao tempo em que Ricardo Jorge o ajudou a projectar, não chegaria a ser construído durante a vigência da Companhia.

No mês seguinte, em Abril de 1890, o relatório apresentado pelo Inspector de Obras Públicas de Braga mostrava a ausência dos melhoramentos impostos pelo contrato assinado no ano anterior41, e em 1893, a situação não parecia ter mudado.

Não se conhecem todas as razões que terão levado ao abandono do projecto, tanto mais que parecia uma aposta sólida. Se atentarmos aos seus comentários em 1891 não existiam razões para duvidar que o investimento se viesse a concretizar. O traçado da planta foi entregue a especialistas considerados experientes em engenharia de estabelecimentos termais: Joaquim Ferreira dos Santos e Terra Viana, onde a influência do edifício Trinkhalle de Baden-Baden saltava à vista no discurso ricardiano em torno do projecto42.

Por outro lado, também a preparação em termos teóricos e em aperfeiçoamento da prática terapêutica era já longa. Claramente inspirado pelos exemplos termais centro-europeus, sobretudo das estâncias alemãs, austríacas, suíças e francesas, Ricardo Jorge bebeu destas influências e acompanhou as mesmas tendências não só em termos arquitectónicos e organizativos, mas também no tocante às prescrições e metodologias de uso terapêutico. Por alguma razão se referia com tanta insistência a Karlsbad quando a usava como paralelo do Gerês, sem descurar as alusões constantes às vantagens do seu centro termal quando comparado com outros nomes igualmente afamados. No entanto, apesar de tentar reproduzir no Gerês o ambiente florescente vivido noutras paragens termais europeias, parece que as principais resistências a que o projecto se viu sujeito eram do foro burocrático e provinham do poder central:

"Combatidos os penosos embaraços, que entre nós tolhem a iniciativa individual quando ela carece de cooperação particular e oficial, quando ela só visa ao engrandecimento e à utilidade pública, está já em execução o domum thermalis do Gerês. Doze anos de prática ininterrompida, o conhecimento teórico e prático das necessidades balneares, e a visita dos melhores estabelecimentos estrangeiros, guiaram-me na escolha e pormenorização das instalações"43.

Chegados a 1891 parece que pouco se chegou a fazer para além de canalizar água para o primeiro pavimento do Hotel Universal onde tinham lugar os banhos. Nesse ano, o engarrafamento da água continuava a realizar-se directamente na rua. Em meados de 1891 quando finalizava a redação do percurso histórico das Caldas, era o próprio Ricardo Jorge quem admitia o arrastar penoso de um processo que se mostrou de concretização mais demorada do que inicialmente previsto, pois "D'esta novíssima fase, apenas iniciada através dos mais espinhosos obstáculos, perante os quais só não soçobra uma força excepcional de vontade, não nos compete a nós sermos cronistas"44.

A direção imposta por Ricardo Jorge, cujo nome já na altura conferia prestígio, conferiu ao local laivos de qualidade e não parece que faltassem clientes apesar de não se ter edificado o estabelecimento termal. Em 1892 destacava-se o tratamento geresiano como sendo um:

"(...) dos mais bem afamados de Portugal, e nele, devido à excelente direcção do ilustre médico o Sr. Ricardo Jorge, se respeitam cuidadosamente todos os preceitos de higiene. Possuem aparelhos para se aplicarem duches e todos os outros processos da moderna hidroterapia, e é bastante concorrido durante os meses de verão por numerosos enfermos que ali muitas vezes encontram alívios a seus males"45.

Apesar disso, um ano mais tarde, em 17 de Junho de 1893 a Companhia das Caldas do Gerês abria falência, sendo rescindido o contrato por incumprimento das regras de concessão a 31 de Março de 189446. O facto do concurso de adjudicação das Caldas ter como cláusula a edificação de termas condignas, que nunca se chegaram a realizar, levou a um demorado processo judicial que terminou em Maio de 1905 no Supremo Tribunal de Justiça, mas com repercussões bem posteriores a esta data47. Em 26 de Junho de 1911 foi acusado no jornal O Mundo de ter agido com dolo e má-fé na gestão no incumprimento das regras de concessão, o que o motivou a uma defesa imediata. Na missiva dirigida em 26 de Junho de 1911 ao seu solicitador, Fernando Botto Machado, pode ler-se:

"Rogo a V. Exa, na qualidade de meu solicitador na causa do Gerês, a fineza de mandar tirar as certidões dos acórdãos das deliberações do Supremo Tribunal, pelas quais ficou definitivamente julgado por unanimidade que eu e os que comigo são parte no processo, nem praticamos nenhuma simulação nem procedemos com dolo e má-fé. Por que hoje nas colunas do jornal O Mundo se afirma que essa acusação foi consagrada pelos tribunais, e só por isso, vou promover a reparação judicial a que a lei me faculta"48.

A questão alongou-se ainda mais no tempo e serviu como arma de arremesso por alguns daqueles com quem Ricardo Jorge travou polémica anos mais tarde e em contextos bem distintos, como o que teve lugar em 1916 com Teófilo Braga.

 

5. Um projeto falhado?

Aparentemente, o falhanço deveu-se a uma imprevista falta de verbas; o suficiente para fazer soçobrar todo o trabalho desenvolvido até então, como se referiu sinteticamente na altura49. No entanto, há outros factores de ordem legislativa que não devem ser menosprezados. Em 1892 foi introduzida legislação que veio regulamentar a exploração das águas mineromedicinais: o Decreto n.o 16, de 30 de Setembro de 1892 alterou profundamente o negócio das águas minerais. Os proprietários ficaram obrigados à apresentação de requerimento e sujeitos a inspecção pela Junta Consultiva de Saúde Pública. O mesmo decreto permitiu ao Governo expropriar as nascentes termais, passando-as ao regime de concessão. Apesar da Companhia das Caldas do Gerês já se encontrar num regime de exploração semelhante, a incapacidade de cumprimento contratual ditou o seu fim.

Por outro lado, a concorrência foi-se instalando. Desde a década de 80 banalizou-se a publicidade a várias águas minerais. Só na Folha Nova, e apenas para nos referirmos a um dos muitos periódicos onde esta publicidade foi surgindo, Vidago e Pedras Salgadas surgem já como nomes consagrados. A valorização das águas medicinais e a regulamentação de 1892 levou a um investimento considerável na preparação das condições hoteleiras dos diferentes estabelecimentos termais que entretanto nasciam e nas vias de comunicação que lhes davam acesso. As "digressões hidrológicas" tornaram-se comuns e o número de estâncias hidroterápicas aumentou rapidamente em poucos anos. Das mais pequenas às maiores, bastava que as águas fossem de algum modo imbuídas de algum cunho de cientificidade para serem apodadas de mineromedicinais pelos empresários do ramo, que para isso custeavam as análises encomendadas à Universidade de Coimbra, à Academia Politécnica de Lisboa ou ao Laboratório Químico Municipal do Porto.

Algumas das análises dessas águas passaram a ser publicadas na imprensa médica, atestando essas propriedades. Entre 1895 e 1898, o periódico A Medicina Moderna publicou as análises do químico Ferreira da Silva às águas de São Gemil, Marco de Canaveses, Caldas da Saúde, Almeida, Rapoula do Côa, Ramalhoso, Monção e Vidago50, publicitando indirectamente os trabalhos que realizava no laboratório químico municipal51. Por razões óbvias, a publicidade às qualidades das diferentes águas medicinais e aos estabelecimentos hidroterápicos abundavam na imprensa médica. Sem falarmos nos periódicos generalistas como o Comércio do Porto ou até da já referida Folha Nova, as gazetas médicas portuenses como era o caso de A Medicina Moderna ou do Porto Médico, apenas para citarmos duas, também inseriam habitualmente publicidade dessa natureza.

Sobre o desaire geresiano, o novo director clínico das Caldas do Gerês Celestino Maia referiu muitos anos mais tarde que "Ricardo Jorge triunfou em toda a linha e com brilho invulgar nas múltiplas actividades de médico, de escritor e de cientista; mas, como administrador e gerente da única empresa industrial que cremos tenha gerido na sua vida, ficou longe de mostrar os mesmos talentos"52.

No entanto, esta visão algo pessimista acerca de um Ricardo Jorge enquanto médico-gestor, não mostra outros aspectos cuja análise está longe de se medir pela bitola do sucesso comercial, em particular os resultados terapêuticos e a promoção da região do Gerês.

 

6. Os anos de clínica hidrológica

Ao fim de pouco tempo de prática no Gerês, Ricardo Jorge começou a coligir as muitas observações que realizara em 94 casos de litíase biliar (e também os próprios cálculos), publicando-as de seguida, por entender que "(...) os capítulos dos tratadistas correntes estavam longe de servir de guia ao clinico para a interpretação, tanto doutrinal como prática, da colelitíase"53. Estas observações serviram-lhe de base documental em 1894 quando apresentou uma comunicação na Sociedade União Médica relativa à petrografia dos cálculos hepáticos. Durante o tempo em que foi director clínico deu corpo a um trabalho sistemático sobre a terapêutica pelas águas, compilando centenas de observações clínicas, sistematizando tratamentos, comparando resultados. Depreende-se que importava conferir credibilidade científica ao empreendimento termal, quando tudo fazia prever -ou como ele próprio profetizava- que o Gerês tivesse como objectivo rivalizar e

"(...) excelir como estância hidrotermal e centro hidroterápico; será, já lho profetizámos, entre as termas do país, como Dax, perante as estações sulfúreas dos Pirenéus, e Gastein ou Ragatz, perante as cloretadas sódicas da Alemanha"54.

O Guia Termal publicado em 1891 é em larga medida o resultado desses anos passados em redor da clínica termal, autêntico "sintagma doutrinal e pratico da medicação geresiana deduzido da terapêutica clinica"55, mostrando as especificidades das águas do Gerês no tratamento das doenças crónicas do foro hepático, gástrico e metabólico.

Seria este o corolário de uma obra iniciada em 1886 mas que pudesse servir de manual indicativo aos médicos, onde apesar dos propósitos marcadamente científicos não faltava uma ponta de publicismo mal contida. O local prestava-se a comparações alpestres: "(...) estamos nas Caldas -a estação das águas milagrosas para o enfermo- centro d'excursões para o touriste, a Chamonix d'este retalho alpino"56.

E a envolvência do higienismo também lá está e de forma bem saliente; mais do que a capacidade para debelar um conjunto de afeções, a cura termal de Ricardo Jorge pertence a uma tríade complementar que se acomoda às condições higiénicas e de salubridade local, valorizando-se o clima, a dieta alimentar e a ação especial das águas.

"A cura termal é um sistema de diversas ordens de fatores: -os elementos climatéricos da estância, vale apertado entre montanhas arborizadas- mudanças de vida, pautadas durante a estação segundo normas sanitárias especiais, entre as quais avultam a dieta e o exercício -enfim a água termal com as suas condições físico-químicas peculiares, utilizada pelos vários processos da técnica hidriátrica"57.

Se o clima de montanha se mostrava único pelas condicionantes geográficas do local, a dieta prescrita fazia jus ao que na altura se considerava uma alimentação, toda ela, higiénica. As refeições decorriam em horários e com intervalos pré-determinados; excluíam-se as bebidas alcoólicas, o café, os produtos de pastelaria, as gorduras, o azeite, o vinagre, a cebola e as especiarias. Os vegetais, as frutas, saladas e laticínios também se encontravam no rol das proibições. O uso de pão restringia-se a um pequeno naco, por se considerar de fraco valor alimentar e até nocivo. Preferia-se a carne cozida ou assada: vaca, vitela e galinha, arroz, ovos quentes ou escalfados, batatas em puré e fruta de compota. Esporadicamente podia-se comer peixe "de carne branca" mas sem molhos. Para além da água, só o chá preto era permitido. Passível de ser alterado com algumas nuances resultantes dos doentes ou das doenças a tratar, era este o regime alimentar estabelecido por Ricardo Jorge, tal como se encontra plasmado nos seus textos58.

O uso complementar das águas era apenas a parte mais visível desta conjugação de fatores terapêuticos e ao mesmo tempo o mais importante. A ingestão da água da Bica também era controlada, sendo recomendada em doses pautadas e restritas, encarada como se de medicamento se tratasse:

"Concluindo. Na cura geresiana jogam uma série de radicais fisiológicos, todos conducentes à medicação das moléstias de cunho desnutritivo e especialmente às manifestações viscerohepáticas de sede hepática, gástrica e esplénica. Os elementos higiénicos -o ar, a água, o alimento- actuam sobre a respiração, a circulação, a digestão e a nutrição. Os agentes hidrotermais -a água mineral pela sua temperatura e composição- vão influir directamente no funcionamento visceral do tubo digestivo e glândula hepática"59.

 

7. Considerações finais

O empenho clínico e empresarial de Ricardo Jorge no projeto geresiano inscreve-se num contexto de valorização económica e terapêutica das águas mineromedicinais, inserido por sua vez no reavivar do fenómeno do termalismo, visto sob o duplo prisma da terapêutica hidrológica e da difusão coeva dos princípios do higienismo. Mas não só: insere-se igualmente num contexto em que o exercício profissional da medicina liberal se afirmava através de projectos empresariais de exploração dos recursos hidromedicinais. Nesse aspeto, Ricardo Jorge não foi caso único, e não se distingue de outros projetos existentes um pouco por toda a europa. A promoção que faz do Gerês enquanto espaço salutogénico aliado ao turismo e ao lazer é semelhante ao que se assistiu na demais Europa no decorrer de todo o século XIX.

O facto de ressalvar sobejamente a mineralização única das águas geresianas, fez parte de uma estratégia usada não só em Portugal mas em vários países europeus como forma de criar um mercado interno e externo. Para países periféricos, como Portugal ou Espanha, o modelo francês e centro-europeu de turismo termal internacional de pendor aristocrático eram uma referência às quais não se podiam comparar, sobretudo em termos de instalações, pelo que importava sublinhar os atractivos únicos que possuíam, especialmente a singularidade das características químicas.

Apesar de não ser inovador no uso terapêutico do precioso líquido, desempenhou um importante papel na valorização das águas mineromedicinais do Gerês, na enunciação do seu perfil químico, na definição e clarificação do quadro terapêutico em que deveriam ser usadas. Associou os dados da análise química da água à experimentação animal e à observação clínica, publicando os resultados do trabalho que realizou, antes e durante o tempo em que foi o director clínico nas Caldas, cargo que exerceu entre 1889 e 1892. Terá sido a época da sua vida em que se dedicou de forma mais intensa à actividade clínica.

Afastando-se das distintas e desarmónicas classificações que na altura qualificavam taxonomicamente os diferentes tipos de águas -fosse com base nos elementos químicos presentes, fosse com base nas propriedades medicinais- criou um novo sistema de classificação das águas minerais. Rejeitando o que denominava por "má hidrotaxia" adoptou um novo sistema de categorização hidromineral assente em 3 tipos de mineralização quantitativa, tomando para base de classificação a quota salina.

Passando rapidamente a deter um estatuto de especialista em hidrologia, começou a ser citado como autoridade por vários médicos que também apostavam nos benefícios terapêuticos das águas termais, bem como em várias dissertações inaugurais da Escola Médico-Cirúrgica do Porto dedicadas ao tema. Muitos anos mais tarde, em 1935, Cerqueira Magro ainda o citava na qualidade de especialista em hidrologia, aludindo aos seus trabalhos no Gerês60. Por seu turno, a nomenclatura do sistema de classificação que propôs passou a ser utilizada pela maior parte dos hidrologistas portugueses.

Findo o projecto, mas no rescaldo da sua proposta de classificação das águas minerais exposta no Guia Termal de 1891, ainda chegou a participar em 1893 no Congresso de Besançon promovido pela Association Française pour l'avancement des sciences onde propôs uma nova classificação das águas minerais: Une nouvelle classification des eaux minérales61, e a publicar em 1896 um artigo no Centralblatt für Bakteriologie sobre um vibrião encontrado na água, tendo diagnosticado e confirmado laboratorialmente a existência do vibrião para-colérico ou para-hemolítico, responsável da cólera frustre62.

Fruto do prestígio que granjeara na abordagem científica das enfermidades passíveis de tratamento hidrológico, mas já numa fase final da sua vida, acabaria por manter contacto com alguns dos personagens centrais do revivalismo termal do segundo quartel do século XX. Um deles, Armando Narciso, que dinamizou a hidrologia e conheceu bem Ricardo Jorge, convidou-o em 1935 a escrever com assiduidade para a nova revista Clínica, Higiene e Hidrologia da qual era director. Ao recordar a incursão ricardiana pelas Caldas, não teria problemas em afirmar que "(...) com a exploração do Gerês, Ricardo Jorge empobreceu, enquanto ia enriquecendo a bibliografia hidrológica portuguesa com trabalhos do mais alto valor científico"63.

 


(*) Este artigo serviu de base à comunicação: Hidroterapia e empreendedorismo médico - o "feitiço hídrico" de Ricardo Jorge, apresentada no IV Encontro do CITCEM "Cruzar Fronteiras: Ligar as Margens da História Ambiental", organizado pelo CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória), que decorreu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto de 5 a 7 de novembro de 2015.

 

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12. Não confundir com o tio materno de Ricardo Jorge, pai e homónimo de Miguel Couto dos Santos.

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19. Há que distinguir aqui a hidrologia da hidrologia médica. A hidrologia é a ciência que estuda as águas em geral, em todas as suas formas e manifestações na superfície da Terra, seja na atmosfera, nas nuvens, nos mares, nos rios, nos subsolos ou nas fontes, ao passo que a hidrologia médica deve ser entendida como a disciplina que estuda as águas minerais, e que se refere ao tratamento feito por meio das águas em geral, apresentando três divisões: hidroterapia, crenoterapia e talassoterapia. No decorrer deste trabalho sempre que nos referimos à hidrologia apontamos sempre para a hidrologia médica. Weisz, n. 1, p. 137-158.

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23. Veja-se o caso de Francisco Tavares (1750-1812), fundador dos estudos científicos da hidrologia em Portugal, que lecionava o uso das águas mineromedicinais inseridas na disciplina de Matéria Médica.

24. Veja-se Costa, Rui Manuel Pinto; Vieira, Ismael Cerqueira. O trabalho académico como fonte histórica: as teses inaugurais da Escola Médico-Cirúrgica do Porto (1827-1910). CEM. Cultura, Espaço & Memória. 2012; (3): 251-260.         [ Links ]

25. Para uma sinopse destas indicações, veja-se Duarte, n. 20, p. 66-81.

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31. Em 1891 Ricardo Jorge colocou em comparação os resultados obtidos por ambos em Jorge, n. 22, p. 31, 34.

32. Jorge, Ricardo. Trabalhos experimentais sobre os fluoretos alcalinos. A Medicina Contemporânea. 1886; 5 (31): 259-260,         [ Links ] também publicado como apêndice intitulado "Trabalhos Experimentais e Clínicos sobre os Fluoretos Alcalinos" em Jorge, n. 30, p. 161-163.

33. Jorge, n. 30, p. 163.

34. Diário da Câmara dos Senhores Deputados. Legislatura 26. Sessão 3. No 83 (22-06-1889), p. 1334.         [ Links ]

35. Celestino Maia foi médico e director clínico das Caldas do Gerês a partir de 1893, precisamente no ano em que a Companhia das Caldas do Gerês detida em parte por Ricardo Jorge abriu falência. Maia, Celestino. No centenário de Ricardo Jorge. Ricardo Jorge Geresista. Porto: (s.n); 1959.

36. Diário da Câmara dos Senhores Deputados. Legislatura 26. Sessão 3. N.o 83 (22-06-1889), p. 1334.

37. Diário da Câmara dos Senhores Deputados. Legislatura 26. Sessão 3. No 93 (05-07-1889), p. 1549.         [ Links ]

38. Jorge, n. 22, p. v.

39. Jorge, n. 22, p. 187-188.

40. Maia, n. 35, p. 20.

41. "Não foi alterado, nem sofreu o mais insignificante melhoramento (...) Os concessionários limitaram-se a canalizar a água da Fonte para o primeiro pavimento do Hotel Universal (...). Os banhos são dados em nove banheiras de zinco, havendo um único aparelho de duche (...) o engarrafamento da água para exportação, continua a ser feito na rua". Cit. in Acciaiuoli, Luís de Meneses. Águas de Portugal. Minerais e de Mesa. História e Bibliografia. Vol. III. Lisboa: Ministério da Economia. Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos; Soc. Tipográfica; 1944, p. 134.         [ Links ]

42. Veja-se a descrição do edifício projectado em Jorge, n. 22, p. 200-201.

43. Jorge, n. 22, p. 199-200.

44. Jorge, n. 22, p. 18.

45. Lopes, Alfredo Luis. Águas minero-medicinais de Portugal. Lisboa: Tip. da Academia Real das Ciências; 1892, p. 259.         [ Links ]

46. Matos, António Perestrelo de. Ricardo Jorge e a sua incursão na medicina hidrológica. In: Amaral, Isabel, et al. coord. Percursos da Saúde Pública nos séculos XIX e XX-a propósito de Ricardo Jorge. Lisboa: CELOM; 2010, p. 76.         [ Links ]

47. Jorge, Ricardo. Em verdade. Cartas publicadas no jornal "Republica" de 21 de Junho a 1 de Julho. Lisboa: Tip. Adolfo de Mendonça; 1911.

48. Jorge, n. 47, p. 48-50.

49. "Não pôde essa Companhia com os encargos a que se tinha comprometido, em virtude de dificuldades monetárias, até que em 1896 se fundou a actual Empresa, que pôs a estância à altura das suas congéneres de primeira ordem". Santos, Fernando. Subsídios para o estudo das águas termais e potáveis do Gerês. A sílica e o fluor das águas minerais. Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto: Oficinas do "Comércio do Porto"; 1903, p. 45.         [ Links ]

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Fecha de recepción: 25 de marzo de 2016
Fecha de aceptación: 21 de septiembre de 2016

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