SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número16Evaluación nutricional y soporte nutricional por via enteral: nivel de conocimientos de enfermeros de unidades de terapia intensiva adultos de los hospitales de la Ciudad Autónoma de Buenos AiresPreparación de materiales en salas de depósito instrumental y de material residual: una reflexión sobre esta práctica índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Links relacionados

  • En proceso de indezaciónCitado por Google
  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO
  • En proceso de indezaciónSimilares en Google

Compartir


Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob.  no.16 Murcia jun. 2009

 

ADMINISTRACIÓN – GESTIÓN - CALIDAD

 

Formando empreendedores na enfermagem: promovendo competências e aptidões sóciopolíticas

Formación de emprendedores en enfermería: promover capacidades y aptitudes sociopolíticas

 

 

*Erdmann, A.L., Stein Backes, D., Alves, A., Albino, A.T., Farias, F., Guerini, I.C., Abe, K.L., Cordeiro, P.K.S., Pudell, R.T.A.

*Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil.

 

 


RESUMO

Trata-se de um relato de experiências construído com alunos da graduação de enfermagem, no transcorrer da disciplina - "Mercado de Trabalho em Enfermagem e novas modalidades de prestação de serviço”, desenvolvida no segundo semestre de 2007. O estudo propôs-se a alcançar um duplo objetivo. Primeiro, analisar e discutir conceitos e características relacionadas ao empreendedorismo, a partir de visitas de observação realizadas a empresas de caráter social e privadas, apontando idéias e/ou novas possibilidades para o seu desenvolvimento na área de enfermagem. E, como segundo objetivo, construir o relato de experiências, com base nos levantamentos e discussões que emergiram nas oficinas de idéias, a fim de estimular o processo de pesquisa e divulgação do conhecimento. A experiência mostrou, em síntese, que o exercício da docência focado em metodologias ativas, pode ser um importante caminho para o fomento de novas possibilidades empreendedoras para a área da enfermagem/saúde.

Palavras-chave: Educação em Enfermagem; Formação de Conceito; Mercado de Trabalho.


RESUMEN

Este relato se refiere a una experiencia hecha con los alumnos de la graduación de Enfermería en el transcurso de las clases de "Mercado de trabajo en Enfermería y las nuevas maneras de prestación de servicio”, desarrollada en el segundo semestre de 2007. La propuesta era alcanzar un objetivo doble. Primero, analizar y discutir conceptos y características relacionadas con empresas con carácter social y privadas, mostrando ideas y/o nuevas posibilidades para su desarrollo en el área de enfermería. Y, como segundo objetivo, construir un relato de experiencias, con base en pesquisas y discusiones que surgieron en los "workshops” de ideas, con la finalidad de estimular el proceso de pesquisa y divulgación de conocimiento. La experiencia mostró en síntesis que el ejercicio de la enseñaza apuntada en metodologías activas puede ser un importante camino para la sustentación de nuevas posibilidades emprendedoras para el área de la enfermería /salud.

Palabras Clave: Educación en Enfermería; Formación de Concepto; Mercado de Trabajo.


ABSTRACT

This article is built around the experiences of nursing graduate students throughout the course "Labor Market in Nursing and New Ways of Providing Service”, developed through the second semester of 2007. Our proposal was to reach a double goal. First, to analyze and discuss concepts and characteristics related to private and social companies, showing ideas and/or new possibilities for their development in the area of nursing. And, as a second goal, to build a report of experiences based on the discussions that emerged through the "workshops” ideas, in order to stimulate the process of research and promoting of knowledge. This experiment showed that the exercise of teaching focused on active methodologies can be an important way to stimulate new possibilities for the nursing/health care area.


 

Introdução

Formar pensadores e lideranças geradoras de novas idéias empreendedoras deve ser considerado, entre outros aspectos, um dos grandes desafios dos educadores do novo século.

O exercício da docência, longe de ser um processo centrado na figura do professor, compreende, cada vez mais, o desenvolvimento de metodologias participativas e a criação de espaços capazes de estimular a criatividade, a iniciativa e a autodireção para a prática do empreendedorismo. Com esse pensar, as metodologias ativas ganham espaço para as práticas tradicionais, caracterizadas por uma seqüência de ações padronizadas cujo foco estava centrado na disseminação de informações e no cumprimento de conteúdos programáticos (1-2).

Com os crescentes avanços sociais, principalmente, no campo do conhecimento, é preciso superar os moldes tradicionais de ensino e dar centralidade às metodologias questionadoras e instigadoras de novas possibilidades. Na lógica competitiva do mercado, o estudante precisa estar sendo preparado para atuar nos diferentes espaços, com estimulo à capacidade criativa, arrojada e empreendedora para buscar, de forma inovadora, os seus próprios referenciais de sustentabilidade. Não se pretende, com esse pensar, desmerecer a importância do conteúdo programático.

O que se pretende, de outro modo, é elevar o grau de interesse do aluno para o fomento de novas possibilidades nos diferentes espaços de atuação do enfermeiro e promover competências e aptidões sócio-políticas por meio do processo de ensinar e aprender de modo criativo e construtivo.

No campo da enfermagem, os avanços e práticas empreendedoras já são consideráveis, porém, acompanhados de novos e crescentes desafios. Em meio aos múltiplos espaços e possibilidades de atuação do enfermeiro, destacam-se: Na esfera da promoção da saúde - os consultórios as clínicas e serviços que visam à promoção e o melhor-viver da população; Na esfera da recuperação da saúde - os serviços hospitalares e domiciliares, o atendimento pré e pós-hospitalar, além das práticas voltadas para o cuidado individual de crianças, adolescentes, adultos, idosos e mulheres; O terceiro setor - mesmo que considerado promissor se mostra como um espaço sensível para a promoção da cidadania e a inclusão social por meio da promoção e educação para a saúde; Nos serviços de consultoria, assessoria e atividades organizacionais - é possibilitado ao enfermeiro uma atuação autônoma e empreendedora no campo da gestão de serviços de saúde e outros; nas atividades de ensino e pesquisa - o estimulo à inserção dos alunos e profissionais nos grupos de pesquisa, projetos de extensão e uma interação aluno-comunidade mais intensa e otimizada.

Apesar dos avanços e práticas empreendedoras já conquistadas, novas possibilidades ainda podem e devem ser desveladas, visto que "cada indivíduo contém em si galáxias de sonhos e de fantasias, de ímpetos insatisfeitos de desejos” (3:44). Nessa direção, o processo formador ocupa importante espaço na instrumentalização de novos empreendedores. Além da incorporação de novos conhecimentos e um acumulado de informações é preciso, portanto, que o processo formativo resulte em

inovações geradoras de novos serviços e/ou novos produtos, mudanças comportamentais, novos processos de atendimento às necessidades dos clientes, novas formas de organização, novos mercados, qualidade diferenciada de processos e produtos segundo as expectativas do cliente, exploração de novas estratégias para empreendimentos. No desencadeamento de uma inovação, alavancam-se sucessivas mudanças num processo contínuo de busca de qualidade para o alcance das necessidades emergentes (4:185).

Com o desejo de evoluir e acrescentar novas idéias à formação do enfermeiro, é que se deu início, no segundo semestre de 2007, à disciplina optativa – "Mercado de Trabalho em Enfermagem e novas modalidades de prestação de serviço”, com especial enfoque para o empreendedorismo na enfermagem. Além de levantar as possibilidades de mercado de trabalho da enfermagem/saúde e discutir os aspectos legais e organizacionais subjacentes a estas possibilidades, a ementa da disciplina objetivou, também, discutir novas modalidades de organização e cooperação dos serviços de enfermagem/saúde (5).

As competências, centradas na formação ética, política e técnico-científica, buscaram reconhecer as formas de organização social, suas transformações e expressões; a política de saúde no contexto das macro políticas; a organização do trabalho e seus impactos na saúde e na qualidade dos cuidados prestados; o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho multiprofissional e interdisciplinar em saúde; a utilização consciente e critica das novas tecnológicas; os serviços de assessoria às empresas, instituições públicas e privadas e organizações sociais, através dos projetos de saúde; a atuação social do enfermeiro e outros (5).

A escola, portanto, não pode mais se ocupar no sentido de, apenas, preparar o aluno para o trabalho. Para além dessa missão, a escola precisa, como já fora dito anteriormente, incentivar o aluno a buscar novas alternativas, como escolher novos espaços de trabalho, descobrir novas formas de ocupar o seu espaço, compreender a arte de criar o seu próprio empreendimento, entre outros. É importante que a escola, enquanto espaço formador por excelência, seja gerador de novas idéias e indutor de novas possibilidades para os problemas sociais emergentes, como empreendedor social.

 

Objetivos

O presente trabalho, que se constitui de um relato de experiências construído com alunos da graduação de enfermagem, propôs-se a alcançar um duplo objetivo. Primeiro, analisar e discutir conceitos e características relacionadas ao empreendedorismo, a partir de visitas de observação realizadas a empresas de caráter social e privadas, apontando idéias e/ou novas possibilidades para o seu desenvolvimento na área de enfermagem. E, como segundo objetivo, construir o relato de experiências, com base nos levantamentos e discussões que emergiram nas oficinas de idéias, a fim de estimular o processo de pesquisa e divulgação do conhecimento.

 

Metodologia

O estudo se caracteriza como "relato de experiências” construído no transcorrer da disciplina optativa, do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - "Mercado de Trabalho em Enfermagem e novas modalidades de prestação de serviço”, realizada por meio de encontros semanais, ao longo do segundo semestre de 2007. A metodologia adotada para o desenvolvimento da disciplina, constituiu-se de oficinas de idéias e discussões coletivas, desencadeadas pelas visitas de observação realizadas a empresas de caráter social e privadas da Grande Florianópolis - SC e por meio de artigos encontrados na base de dados LILACS - 5 e SCIELO - 2, com os descritores - empreendedorismo social e/ou privado -. As visitas de observação, no total de quatro, foram previamente agendadas com os responsáveis pelas empresas. Dentre as empresas visitadas, uma caracterizou-se de cunho social, centrada na formação de jovens, ex-usuários de drogas, para o mercado de trabalho e as demais se intitularam como empresas privadas, regidas por enfermeiros e colaboradores.

A oficina de idéias pode ser entendida como uma experiência de construção coletiva do conhecimento, nesse caso, para apreender as principais idéias acerca do empreendedorismo na enfermagem/saúde (6). Com base nos conceitos e características do termo empreendedorismo, esclarecimentos acerca de sua estrutura técnica e política e suas peculiaridades e estratégias propostas pela literatura, os alunos foram estimulados a refletir sobre as possíveis aplicações do conhecimento na prática cotidiana da enfermagem. O conhecimento pertinente é o que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto, ou seja, o conhecimento progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas pela capacidade de contextualizar e englobar (3). Nessa perspectiva, as visitas de observação bem como as discussões efetuadas posteriormente, enriquecidas com novas idéias e possibilidades para o campo da enfermagem, permitiram a construção do conhecimento de forma processual, criativa e participativa. Nessa, o professor e o aluno assumiram posições diferenciadas, mas ocupam o mesmo nível na produção do conhecimento. O professor, na posição de facilitador, além de criar condições favoráveis para o desenvolvimento da criatividade, buscou, também potencializar as qualidades do aluno, encorajando-o a escolher seus próprios interesses.

A partir dos elementos observados, contextualizados e socializados nas oficinas de idéias, buscou-se fazer uma análise dos conceitos e características relevantes, criando categorias nucleadoras, caracterizadas por um conjunto de idéias, a fim de facilitar a compreensão (7).

Para manter a originalidade de algumas idéias que emergiram durante as oficinas, serão utilizados, no corpo do texto, alguns fragmentos da fala dos participantes na integra. As falas não serão nomeadas e numeradas, pelo fato de os sujeitos serem também autores do trabalho.

 

Análise e discussão das idéias e possibilidades empreendedoras

A palavra empreendedorismo foi introduzida na literatura, em torno dos anos 1950 pelo economista Joseph Schumpeter, considerado para muitos, um visionário criativo e com capacidade para fazer sucesso por meio de suas constantes inovações. Outros autores sustentam, ainda, que o conceito sobre o empreendedor está associado à economia, como fator impulsionador do desenvolvimento e crescimento econômico (8).

O termo, todavia, foi aprimorado e recebeu novos atributos com os estudos de Kinight 1967 e Drucker em 1970. O empreendedor para ter sucesso, sob esse novo enfoque, precisa ter disposição para assumir as incertezas e os riscos subjacentes a qualquer negócio (9).

No Brasil, o empreendedorismo começou a ganhar destaque a partir da década de 1990, sendo que até os dias atuais, já podem ser destacados exemplos de impacto nacional e internacional como é o caso do Comitê de Democratização da Informática, de Rodrigo Baggio, do Rio de Janeiro e outros, talvez, muito próximos de nós, mas que ainda não possuem o reconhecimento merecido (10).

O conceito sobre empreendedorismo mais aceito contemporaneamente, parece ser o do pensador Robert Hirsch. Para o autor, o empreendedorismo traduz a capacidade de criar algo diferente e com valor, por meio da dedicação, esforço pessoal e coletivo e por meio da capacidade de assumir os riscos correspondentes e receber as recompensas da satisfação econômica e pessoal (10).

Com base nos conceitos delineados, os alunos foram estimulados a criarem os seus próprios conceitos a partir das leituras, discussões e visitas de observação realizadas às empresas de caráter social e privadas. O quadro, a seguir, com as principais idéias sintetizadas pelos alunos, traça um paralelo entre o empreendedorismo social e o empreendedorismo privado.

 

Empreendedorismo de caráter social X Empreendedorismo de caráter privado

Fonte: Elaboração primária a partir idéias sintetizadas pelos alunos

As discussões e observações entre os alunos convergiram no sentindo de que o empreendedorismo de caráter social e privado possui grande similaridade, principalmente, no que diz respeito às características para o seu desenvolvimento. O que parece diferenciar, no entender dos alunos, é o resultado final do processo. Enquanto que o empreendedor social tem como objetivo a inserção social do indivíduo, o empreendedor privado tem como foco de seus interesses o resultado econômico para garantir o impacto mercadológico. Em ambos os conceitos, no entanto, parece haver um denominador comum que está relacionado à busca por atender uma necessidade social e/ou preencher uma lacuna social emergente. Ambos se apóiam e complementam, nessa direção, quando o social oferece o seu serviço e o privado os recursos necessários para o seu desenvolvimento, tendo como meta o fortalecimento da rede de colaboração solidária. Para exemplificar o exposto, basta retomar a idéia do relato de um dos responsáveis por um empreendimento social visitado, quando menciona que o trabalho formador dos jovens, excluídos da sociedade, somente será plenamente atingido quando as empresas privadas concederem uma possibilidade de emprego para estes jovens. Logo, é um processo que precisa estar integrado e articulado com diferentes forças, para que haja uma interatividade cooperante e solidária para ampliar e alcançar o êxito desejado.E no cenário da saúde, mais especificamente na área da enfermagem, o que significa empreender – empreendedorimo? De que forma a enfermagem pode estar inserida na rede de cooperação solidária?

O empreendedorismo do enfermeiro

Para além do campo da economia, da administração e de outros setores, o empreendedorismo já é uma constatação também na área da enfermagem, sustentado pelas múltiplas possibilidades e interfaces que estabelece com os diferentes serviços da área da saúde, principalmente, pelo enfrentamento das dificuldades cotidianas e as interações que estabelece com os pacientes, familiares e equipe de saúde. Nas constatações e discussões dos alunos, o enfermeiro é um empreendedor, por excelência, pelo fato de o seu cotidiano estar permeado por pequenos e ou grandes eventos que traduzem o seu potencial estratégico, criativo e articulador, como refletem fragmentos das falas a seguir.

O ser empreendedor está no cotidiano de um enfermeiro, pois ele cria estratégias para enfrentar as muitas dificuldades que a profissão lhe condiciona, momentos estes com sua equipe de trabalho, falta de materiais, interação com o paciente e seus familiares, na administração do lar e no cuidado de sua própria família e também não podemos esquecer-nos de citar que o enfermeiro em sua maioria tem o seu próprio empreendimento ou uma segunda jornada de trabalho.

O ser empreendedor está inserido no cotidiano na enfermagem, pois se há dificuldades o enfermeiro sempre cria uma nova vertente para poder executar a sua criação e prosseguir na mesma. O enfermeiro tem diversas habilidades, destacando-se a de administrador capaz, aberto e flexível às necessidades sociais.

Ser empreendedor é ser inovador, criador, é saber trabalhar em equipe, lidar com as diferenças sociais, culturais e religiosas e estas virtudes o enfermeiro tem de sobra em seu instinto profissional.

Para os alunos, portanto, o empreendedorismo realizado pelo enfermeiro é um fato inquestionável. Com as visitas de observação no cotidiano empresarial da enfermagem, esta compreensão ficou ainda mais clara, ao constatarem a organização da empresa, a satisfação dos colaboradores internos, a estética do ambiente, a capacidade de liderança do enfermeiro e, principalmente, ao constatarem que o enfermeiro empreende tendo como foco o Ser Humano integral seja ele usuário, familiar ou colaborador. Com o avançar das discussões, os alunos, sem muito esforço, compreenderam que o enfermeiro, além de ser empreendedor, é um empreendedor diferente pela capacidade de considerar o outro como SER único e não como alvo de um produto, como reflete a fala a seguir.

O que faz do enfermeiro um empreendedor diferente é a sua capacidade, adquirida ao longo de sua formação, em observar o outro como SER único e não somente como alvo de um produto. A esse aspecto, se alia à postura, a compreensão, a empatia perante o individuo com problemas e, principalmente, o entusiasmo em buscar soluções para promover o bem-estar do cliente.

O enfermeiro como um empreendedor diferente

Para os alunos, o enfermeiro é, também, um empreendedor diferente pela sua habilidade de promover o cuidado humano e integral com base em princípios éticos.

O empreendedorismo do enfermeiro está voltado para a criação, gestão e busca de alternativas de mercado que visam o cuidado humano, alicerçado na criatividade e inovação, em uma relação de ganho para ambas as partes (cuidador e SER cuidado), de forma a priorizar as necessidades do cliente, enxergando-o sempre de forma singular.

No campo do empreendedorismo, o enfermeiro não é aguçado somente pela criação ou pela oportunidade de lucratividade em seu empreendimento, também com o cuidado humanizado, seguindo princípios éticos profissionais.

O empreendedorismo de enfermagem busca empreender inovações no que se refere ao cuidado integral do ser humano, de maneira a atender as necessidades do mercado e atingir a auto-realização.

O empreendedorismo do enfermeiro se diferencia fundamentalmente, pela capacidade de compreender e cuidar do Ser Humano como um ser integral e integrador, independente das condições sociais, políticas ou econômicas. Além da formação humanística, o enfermeiro tem, por instinto, uma forte inclinação para o gerenciamento dos diferentes movimentos que compõem o processo saúde-doença. De acordo com as reflexões dos alunos, o enfermeiro persegue e alcança um cotidiano empreendedor, seja no hospital liderando a equipe de enfermagem/saúde, seja superando situações adversas, seja pela defesa do paciente, seja no cuidado interativo, entre outros. Os diferentes movimentos cotidianos, no entender dos alunos, aquecem e enriquecem o espírito empreendedor do enfermeiro e possibilitam, pelo seu instinto perspicaz e ousado, adentrar novos espaços sociais para manter e fortalecer a bandeira da vida.

As visitas em campo possibilitaram aos formandos, a observação de elementos significativos, os quais permitiram uma reflexão e ampliação do campo de visão acerca das possibilidades empreendedoras. Após algumas oficinas de idéias e discussões, todos compreenderam que o emprendedorimo privado visa como resultado final o lucro e o empreendedorimo social a inserção do individuo na sociedade. Mas, como caracterizar esse fenômeno no cotidiano do enfermeiro? Será que o enfermeiro é um empreendedor social ou privado? Será que o enfermeiro consegue ser somente empreendedor privado considerando que o seu foco de atenção é o cuidado ao ser humano como um todo? Será que o enfermeiro consegue se auto-realizar somente por meio do empreendedorismo privado? Mas, como poderá ser tanto empreendedor social como privado? Foi pensando nestas e outras questões, que surgiu a idéia figurativa da balança para ilustrar o empreendedorismo do enfermeiro. Todos compreenderam a importância do equilíbrio ilustrado pela balança, não no sentido de manter a ordem e o equilíbrio no sentido reducionista, mas pela capacidade de integração e interação entre ambas as partes envolvidas no sentido de promover o reconhecimento do caráter empreendedor nas políticas públicas e sociais.

Empreendedorismo da Enfermagem

O diagrama ilustrativo, em forma de balança, representa, nesse contexto, a capacidade do enfermeiro de integrar as características empreendedoras consideradas, tanto de caráter social como as de caráter privado, no sentido de promover o melhor-viver social do cidadão nas diferentes situações em que se encontra. Contudo, não se entende, aqui, uma espécie de equilíbrio, de ordem, entre ambas as abordagens, mas no sentido de promover uma integração, visto que a balança pode pender tanto para um como para o outro lado, dependendo dos impulsos, movimentos e direções provocadas pela sociedade em contínua evolução e transformação.

Para os alunos, o enfermeiro é um profissional flexível e sensível ás mudanças sociais. Em outras palavras, é um profissional que consegue pender tanto para um como para o outro lado no sentido de promover e/ou recuperar a vida. Um profissional, que não se limita ao espaço tempo e, nem tampouco, a um determinado contexto. Para os alunos, o enfermeiro centra a sua atenção e potencialidades naquele que é o foco de seu ser e fazer enfermagem – que é o cliente, independente de qualquer benefício individual e/ou coletivo.

Enfim, em um país onde 56,20% dos empreendedores iniciais são jovens, entre 18 a 34 anos é de fundamental importância, em suma, além de estimular novas possibilidades de mercado, conhecer o comportamento destes novos empreendedores para a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as necessidades emergentes (11).

 

Considerações finais

O enfermeiro vem adquirindo competências e aptidões cada vez maiores dentro dos serviços de saúde, conseqüentemente, a sua prática precisa estar embasada em novas ferramentas metodológicas voltadas para a participação popular, as políticas públicas, as cooperativas em saúde e as diferentes modalidades de organização e prestação de serviço. Nessa perspectiva, as oficinas de idéias se constituíram num importante espaço para a reflexão e o estímulo de novas possibilidades empreendedoras para o campo da enfermagem.

As oficinas de idéias e discussões dos conceitos e características relacionados ao empreendedorismo, a partir das visitas de observação realizadas às empresas de caráter social e privado, contribuíram significativamente para a ampliação do campo de visão dos estudantes, como também na reorganização das idéias, na valorização de determinados espaços latentes, no despertar de novas possibilidades e, particularmente, no modo de ver e compreender as necessidades sociais emergentes.

A construção do relato de experiências como resultado da prática de ensino, em questão, possibilitou o exercício da leitura, o acesso ao banco de dados eletrônico, a busca de artigos online, a capacidade de síntese, a compreensão da forma de estruturação do artigo científico, além da satisfação pessoal em ver o produto materializado e com a possibilidade de ser amplamente divulgado.

A experiência mostrou, que o exercício da docência focado em metodologias ativas, pode ser um importante caminho para o fomento de novas possibilidades empreendedoras, seja no campo da promoção e/ou recuperação da saúde, seja no terceiro setor e/ou serviços autônomos por meio de novas conquistas, seja no campo do ensino, pesquisa, extensão. Não importa, nesse momento, o espaço de atuação. Interessa, de outro modo, a capacidade de ser e fazer a diferença em meio às diferenças sociais, em meio ao comum, ao simples, ao banal ou incerto e ao mesmo tempo, reconhecendo a necessidade de promover a inclusão social.

 

Referências

Torezan MT. Processo ensino-aprendizagem: concepções reveladas por professores de 1° grau na discussão de problemas educacionais. Psicologia: teoria e pesquisa 1994; 10(3):383-91.        [ Links ]

Backes DS, Erdamnn AL, Silva MA, Prado M. The practice of teaching and learning about nursing management based on Freire’s methodology. Online Braz. J. Nurs. [online] 2007; 6 (1). Available: www.uff.br/nepae/objn303santosetal.htm        [ Links ]

Morin E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 3ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2001.        [ Links ]

Mendes IAC, Marziale MHP. O Caminho Inovador e Empreendedor da Revista Latino- Americana de Enfermagem e a Adoção de Política de Internacionalização. Rev Latino-am Enfermagem 2007; 15(2):185-6.        [ Links ]

Erdmann AL. Mercado de Trabalho em Enfermagem e novas modalidades de prestação de serviço. Disciplina: NFR 5169 do Programa de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC; 2007.        [ Links ]

Almeida MHM, Beger MLM, Watanabe HAW. Oficina de memória para idosos: estratégia para promoção da saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação 2007; 11(22):31-9.        [ Links ]

Bardin L. Análise de conteúdos. 2ªed. Lisboa: Edições 70; 1979.        [ Links ]

Stacciarini JMR, Esperidião E. Repensando estratégias de ensino no processo de aprendizagem. Rev. Latino-am Enfermagem 1999; 7(5):59-66.        [ Links ]

Degen R. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. 8ªed. São Paulo: Makron Boocks; 1989.        [ Links ]

Oliveira EM. Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias. Rev. FAE 2004; 7(2):9-18.        [ Links ]

Zouain DM, Oliveira FB; Barone FM. Construindo o perfil do jovem empreendedor brasileiro: relevância para a formulação e implementação de políticas de estímulo ao empreendedorismo. Rev. Adm. Pública 2007; 41(4):87-99.        [ Links ]

Creative Commons License Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons