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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob.  n.18 Murcia Feb. 2010

 

DOCENCIA Y FORMACIÓN

 

O significado da formação profissional para o graduando de enfermagem da UFF frente ao seu futuro profissional

El significado de la formación profesional para el graduando de enfermería de la UFF frente a su futuro profesional

 

 

Fonseca da Silva, G.*; Marinho Chrizostimo, M.**; Machado Tinoco Feitosa Rosas, A.M.***

*Enfermera Graduada.
**Enfermera Docente. Mestre en Educación.
***Doctora en Enfermería.
Miembros do NUPESENF da EAN da UFRJ. Brasil.

 

 


RESUMO

O Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense tende propiciar atender o anseio pessoal e profissional do graduando, enquanto profissional e na prestação da assistência ao cliente de forma humanizada e qualificada. O presente estudo tem como objeto de estudo o significado do Curso de Graduação para o graduando de enfermagem quanto à sua expectativa e o seu futuro profissional. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem fenomenológica em que, os sujeitos foram 16 discentes do nono período da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Contudo, foi possível evidenciar, que a relação entre o docente, o discente e o conteúdo técninco-cientifico ministrado, desvela forte influência sobre esses discentes na área de atuação, associada com exigência do mercado de trabalho. Já que o docente, neste contexto, interage com o discente na estruturalização do aprendizado, tendendo suprir as perspectivas geradas, por estes sujeitos, durante seu percurso acadêmico visando formar um profissional capacitado. Portanto, o objetivo proposto foi alcançado, visto ter sido possível compreender o significado da ação intencional do graduando do Curso de Enfermagem, com relação à expectativa do seu futuro profissional.

Palavras chave: Educação em Enfermagem. Educação Superior. Enfermagem.


RESUMEN

El Curso de Graduación de Enfermería de la Universidad Federal Fluminense tiende a propiciar atender el deseo personal y profesional del graduando, en cuanto profesional y en la prestación de la asistencia al cliente de forma humanizada y cualificada. El presente estudio tiene como objeto de estudio el significado del Curso de Graduación para el graduando de enfermería en cuanto a su expectativa y a su futuro profesional. Se trata de una pesquisa cualitativa, con abordaje fenomenológico en que los sujetos fueron 16 discentes del noveno período de la Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Fue posible evidenciar, que la relación entre el docente, el discente y el contenido técnico-científico impartido, desvela fuerte influencia sobre esos discentes en el área de actuación, asociada con exigencia del mercado de trabajo. Ya que el docente, en este contexto, interactúa con el discente en la estructuración del aprendizaje, tendiendo a suplir las perspectivas generadas, por estos sujetos, durante su curso académico mirando a formar un profesional capacitado. Por lo tanto, el objetivo propuesto fue alcanzado, al haber sido posible comprender el significado de la acción intencional del graduando del Curso de Enfermería, con relación a la expectativa de su futuro profesional.

Palabras clave: Educación en Enfermería. Educación Superior. Enfermería.


Key words: Education in Nursing, Higher Education, Nursing.


 

Introdução

A situação problema emerge da precisão de compreender a perspectiva do Graduando de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, frente à formação e seu futuro profissional. Essa busca se deu a partir das observações identificadas pelos graduandos durante o percurso acadêmico. Sendo estas aspirações aumentadas na proporção da proximidade com o término do curso de Enfermagem, quando ao assumir novo ambiente e nova posição, afloram sentimentos reais ou imaginários influentes no agir do homem em si. Isto é uma ação inerente do ser humano mediante um processo de mudança, no qual se é permissivo em todas as fases do seu desenvolvimento evolutivo, ratificado no citado adiante.

Mudança é o processo de transformação de um ser, de um ambiente ou de uma situação num novo ser, novo ambiente ou nova situação, em razão de alterações qualitativas e/ou quantitativas, que visa à melhoria, ao aperfeiçoamento e ao desenvolvimento. É um processo porque se trata da ação do movimento de transformação no tempo e no espaço, para dar uma nova forma, feição, caráter ou direção a alguma coisa, tornando-a diferente do que era1.

O modo como cada um lida com as suas situações vivenciadas é o resultante da influência que recebeu ao longo de sua vida, através de seu processo educativo na construção dos valores. Os valores na educação visam formar a pessoa humana em sua unidade, no qual os aspectos cognitivos, afetivos, práticos e espirituais não estão dissociados ou com o funcionamento separadamente. Mas, os valores estão ligados à experiência e ao sentimento como estado afetivo, enquanto que emoção é toda manifestação complexa e organizada da vida afetiva. Eles se encontram num envolvimento pelo qual está comprometida a pessoa humana em sua totalidade2-3.

Por conseqüência, esta é um dos fatores também atuante no crescimento do indivíduo e na determinação profissional, pode-se afirmar que um preparo educacional edifica o sujeito, no aspecto escolar, o que acarreta seguridade para sua aplicação prática como também para todo contexto de vivência que se insere.

Assim sendo, o objeto de estudo é o significado do Curso de Graduação para o graduando de enfermagem quanto à sua expectativa sobre o seu futuro profissional. Portanto, este estudo tem como objetivo: Compreender o significado da ação intencional, do graduando do Curso de Enfermagem, com relação à expectativa do seu futuro profissional.

Tem como questão norteadora o seguinte questionamento: Será que o estudante identifica o Curso de Graduação em Enfermagem como uma possibilidade de alcance do futuro profissional?.

A relevância do estudo está na reflexão e discussão com o docente e discente sobre a área de atuação associada com a visão do mercado de trabalho, o que gera influência mútua entre a formação do acadêmico e o contexto do trabalho. No qual, o educador interage na sua estruturalização, que vem a contribuir para a reflexão e discussão entre os graduandos e docentes sobre este processo e o desenvolvimento acadêmico do discente.

De tal modo, o aluno durante sua graduação almeja o "saber" em benefício de sua carreira profissional, assim apresenta-se o problema deste estudo que consiste na ação intencional do aluno enquanto seu saber técnico-científico e inclusão na área de atuação. Contudo este conhecimento poderá não atender com eficácia suas necessidades para ingressar no campo da ocupação pretensa.

Neste contexto, o estudante para alcançar seu objetivo, primariamente precisa estar comprometido consigo e com o mundo em que ele vive ser capaz de atuar, ausentar-se do âmbito teórico e refletir sobre a realidade vivida e no trabalho a ser desenvolvido por ele.

 

Material e método

A opção pelo referencial fenomenológico

O primeiro contato com a teoria fenomenológica se deu no terceiro período, com a disciplina obrigatória curricular do Curso de Graduação de Enfermagem, em Metodologia da Pesquisa. Neste momento fui apresentada às três principais correntes Filosóficas - Positivismo, Fenomenologia e Marxismo.

Iniciado a construção do presente estudo, em forma de anteprojeto, já no sétimo período, em 2007, emergiu a necessidade de alicerçá-lo numa dessas ciências, dentre as quais remeti a fenomenologia. Sendo esta um método investigativo do fenômeno ocorrido, centrado na exposição do ser humano, o que descreve a exortação de pré-supostos e explicações. Capta o íntimo da ação, a essência emitida de imediato, ao lidar com a subjetividade dos sujeitos abordados que são atores da sua própria existência.

A fenomenologia procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta de modo que não o parcializa ou explica a partir de conceitos prévios, de crenças ou afirmações sobre o mesmo, enfim, de um referencial teórico. Mas ela tem a intenção de abordá-lo diretamente, interrogando-o, tentando descrevê-lo e procurando captar a essência3

É dentro das ciências sociais que a fundamentação metodológica da fenomenologia é tratada e discutida pelo filósofo alemão Edmund Husserl no término do século XIX e início do século XX, com o propósito de cientificá-la. Este, através das influências de Weber, argumenta que "os atos sociais envolvem uma prioridade que não está presente nos outros setores do universo, abarcados pelas ciências naturais: o significado". A fenomenologia é a doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento 4-6.

A fenomenologia defende a idéia de que a realidade social é alicerçada nos significados e por eles, só podem desvelar a partir do momento que se integra na linguagem expressiva da interação social, ou seja, a relação humana. Comunicação competente é um processo interpessoal que deve atingir o objetivo dos comunicadores; pressupõe conhecimentos básicos de comunicação; que os envolvidos tenham consciência do verbal e do não-verbal nas interações; exige clareza e objetividade; promove o autoconhecimento e possibilita uma vida mais autêntica7.

Aspectos da etapa de campo

A pesquisa foi realizada na Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, da Universidade Federal Fluminense, localizada no município de Niterói. O período da realização das entrevistas se deu no 1o semestre de 2008. A pesquisa é constituída de abordagem qualitativa baseada em teoria fenomenológica já anteriormente descrita.

A Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, atualmente, composta de uma biblioteca; laboratório de informática, (recentemente inaugurado); salas de aulas de diferentes dimensões; sala de acolhimento para os alunos, espaço acadêmico de enfermagem Edézio A. de Souza e Vivian R. Gomes; Diretório acadêmico com instalações próprias para as refeições e demais dependências para o funcionamento adequado ao curso de graduação e laboratório para o aperfeiçoamento técnico das disciplinas práticas. Possui equipamentos de recursos áudio-visual para ministrar aulas teóricas.

No setor técnico-administrativo, a equipe é formada por pessoal administrativo, funcionários de limpeza e equipe de segurança 24 horas, divididos em turnos. Estruturalmente, possui seis andares para execução de aulas e serviços. Em cada andar é distribuído por um departamento correspondente e seus coordenadores para a graduação e pós-graduação. No térreo se encontra um auditório que se denomina Profa Dra Rosalda Paim onde se realizam inúmeros eventos.

A Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense-UFF adota o sistema Nightingle desde sua gênese, assim como a maioria das demais Escolas de Enfermagem no Brasil. No Parecer do Conselho Federal de Educação - CFE de no 163/72 o currículo mínimo expresso foi realizado em três anos letivos, após dois anos foi estendido para mais um ano pelo Conselho de Ensino de Pesquisa da Universidade Federal Fluminense - UFF. A enfermagem da Universidade Federal Fluminense tem como característica generalista, que forma profissional preparado para ingressar tanto na rede hospitalar quanto na rede básica de saúde. No capítulo adiante serão pormenorizados a gênese e o funcionamento da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - EEAAC.

A referida pesquisa obteve autorização (anexo-1) do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina/ Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense. Esta foi gravada em aparelho digital de captura de áudio e digitada em seguida na íntegra, na tentativa de não perder nenhum dado da pesquisa. Os sujeitos deste estudo são os alunos do Curso de Graduação em Enfermagem do nono período. A escolha deste grupo está na íntima ligação com o término do Curso, com as perspectivas perante a sua formação e seu ingresso profissional.

 

A construção do conhecimento teórico

A contextualização do ensino superior e a enfermagem no Brasil

Na abordagem da contextualização do ensino superior no Brasil é fundamental ter o olhar para a educação brasileira e sua influência na formação do homem que conforme, a educação é o alicerce da formação do desenvolvimento humano na vertente tanto intelectual quanto moral, ou seja, compreende fatores hereditários e adaptações biológicos dependentes diretamente da evolução do sistema nervoso e mecanismos psíquicos elementares e das interações sociais, que somados constroem progressivamente ao longo da vida o seu caráter comportamental e mental8.

Nesse contexto todo indivíduo tem direito à educação. Logo, falar desse direito é admitir o papel imprescindível dos fatores sociais na formação do ser humano. Como também, os direitos e deveres do cidadão estão inclusos na Constituição do Brasil, chamada de Carta Magna, é assim a base da organização brasileira em todos os aspectos. Esta constituição promulgada em 1988 estabelece no art. 205 que: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, o que visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o ensino da cidadania e sua qualificação para o trabalho8-9.

O ensino superior

Nos dias atuais se discute a cerca da quantidade e qualidade de cursos de nível superior no Brasil. Entretanto - no Brasil - até final do séc. XIX existiam apenas 24 estabelecimentos de ensino superior, com cerca de 10.000 estudantes10.

Em 1808, inicia o ensino superior no Brasil com a vinda da família real portuguesa ao país. Contudo, a iniciativa privada e a "expansão" do ensino superior somente aconteceram muito tempo depois com a Constituição da República de 1891 que descentralizou a oferta de ensino superior, o que permitiu que os governos estaduais e a iniciativa privada criassem seu próprio estabelecimento11.

Na década de 30, as primeiras estatísticas sobre a educação contavam com 64,4% de instituições na iniciativa privada, sendo relativamente constante por trinta anos seguidos. A demanda não absorvida pelo estado abriu espaço à iniciativa privada. Deste período até a atualidade - o ensino superior no Brasil, contou com significativas mudanças tanto no funcionamento quanto em sua configuração, tais como, titulação dos docentes, institucionalização da pesquisa e da produção intelectual, qualidade da formação oferecida, diversidade de oferta de cursos, dentre outros11.

Na década de 1990 através de um estudo - a proporção de estudantes oriundos de famílias com renda acima de 10 salários mínimos ultrapassava os 60% tanto no setor público quanto no privado, observou-se que o acesso ao ensino superior é maior entre a classe social mais elevada o que discerne da "crença" de que os menos favorecidos é que freqüentam o ensino privado. Tal fato se dá, ao contrário do que se imagina, não por falta de vagas. O que ocorre é uma deficiência no ensino fundamental e ainda problemas sociais. O fato é que, expressivas e significativas mudanças acompanham os dias atuais e da mesma forma - independente da classe social - o ensino superior. Inobstante o crescimento e demanda por cursos em nível superior, a diversidade se faz uma constante.

No ensino superior brasileiro as discussões foram intensas com: o Ministério de Educação na formulação das Leis de Diretrizes Básicas da Educação (LDB) Nacional; a Associação Brasileira de Enfermagem na promoção dos Seminários Nacionais de Diretrizes para a Educação em Enfermagem no Brasil; as Escolas de Enfermagem com as reformulações dos Projetos Político Pedagógico (PPP), nas diretrizes curriculares e efetivamente nos currículos.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Universidade Federal Fluminense, parte de uma visão de totalidade sobre a formação do profissional [...]. O grande desafio será superar a visão fragmentada-fragmentadora e compartimentalizadora dos binômios saúde-doença, aluno-professor, integração vertical-horizontal, relação teoria-prática, advindos dos modelos que predominam historicamente na formação do enfermeiro12.

A enfermagen no Brasil

Falar de enfermagem técnico-científico, não se pode deixar de mencionar a pioneira deste estudo epistemológico, Florence Nightingale, um mito da gênese da categoria, precursora da enfermagem profissional e marco da Enfermagem moderna, voltada para o treinamento prático e formar moralmente o enfermeiro13.

Florence nasceu em 20 de maio de 1820, em Florença, Itália. Pertencente da alta casta da sociedade inglesa foi educada por preceptores para assumir funções que a sociedade determinava ás mulheres - o casamento. Ao desafiar as interpretações sociais e culturais da sua época, tornou-se ícone de mulher como força de trabalho e ganho no espaço público. Renunciou ser submetida à vida de esposa para voltar-se no que acreditava e percorrer um caminho árduo para realização de seu sonho de ser nurse. Com a Guerra da Criméia, Florence vê uma oportunidade de prosseguir com seus ideais e concretizá-los e instituiu pós-guerra uma escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas que desde então passou a ser um referencial para demais escolas14.

A enfermagem emerge agora não como uma prática empírica, mas como uma ocupação assalariada que vem atender á necessidade de mão de obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e específica. Para Florence, o foco principal era o doente e não a enfermidade, na qual as ações de saúde voltavam para auxiliar a ação da força da natureza perante a criação de condições que favorecessem o processo de cura15.

Dessa forma Florence traz segundo suas concepções os seguintes conceitos: o ser humano, o meio ambiente que este se encontra, a saúde e a enfermagem. Estes convergem num mesmo objetivo e no que hoje se identifica como bases humanísticas da Enfermagem, que reflete assim, na filosófica teoria da Enfermagem holística, que preconiza o cuidar do ser num todo.

No Brasil a enfermagem foi consagrada sob a instauração, na década de 20, do Sistema Nightingale por Carlos Chagas, diretor do Departamento Nacional Saúde Pública-DNSP. Neste período o Brasil passava por uma recessão econômica advinda do pós-guerra, onde a população estava submetida às péssimas condições de vida e as epidemias proliferavam na cidade16.

Assim, houve a necessidade de recrutar enfermeiras habilitadas para atuar na reforma sanitarista, apoiado pela Fundação Rockefeler, que enviou uma enfermeira Ethel Parson implantando a Missão Técnica de Cooperação de Desenvolvimento de Enfermagem no Brasil, e criando escolas para habilitar a enfermeiras brasileiras para o trabalho adjunto aos problemas de saúde pública e estarem aptas para substituírem as enfermeiras estrangeiras da Missão17. Essa Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional Saúde Pública-DNSP é hoje a Escola de Enfermagem Anna Nery. Embora a consagração da Enfermagem tenha sido a partir de 1920, cabe retomar um pouco a história e fazer um breve apanhado de sua constituição no Brasil.

A gênese da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - EEAAC

A Escola de Enfermagem surgiu em abril de 1944, como Universidade Federal Estadual do Rio de Janeiro18. Nessa época o Brasil encontrava sob a ditadura de Vargas, sem questionar o regime vigente cabe ressaltar que, este, beneficiou alguns Estados para a ascensão técnica e administrativa, entre estes o Estado do Rio de Janeiro. A ideação de fundar uma Escola de Enfermagem surgiu devido a um vasto programa sanitário que foi criado para atender o Estado do Rio, sob interventoria de Amaral Peixoto. Sendo um projeto de grandes dimensões, seria preciso para atender seu objetivo a necessidade de profissionais de alto padrão para atender os serviços assistenciais e também nos Centros de Saúde, criados nesse mesmo período.

Em 1943, cogitou-se a realização dessa obra em Campos, ao considerar que esta região é privilegiada por sua localização, um corpo docente de qualidade, rede hospitalar em ascensão, por ter um amplo campo de estágio entre outros fatores, que embora considerados, foi a capital do Estado - Niterói, que alcançou êxito para ser eleita a sede da nova Universidade.

Assim, considera-se que em homenagem ao presidente Getúlio Vargas, em 19 de abril de 1944, na Assembléia legislativa do Estado do Rio de Janeiro, estavam reunidos os membros da Comissão Administrativa, liderada pelo comandante Ernani do Amaral Peixoto e outras autoridades, os quais assinaram o Decreto - lei no 1130, o que dá como território de Niterói o aval para a gênese da Escola de Enfermagem do Estado do Rio18.

A turma pioneira tinha em suma maioria discente da região norte do país. O programa didático ministrado baseava-se nas entidades oficiais precedentes. Em comemoração a um ano de funcionamento, realizava-se a primeira cerimônia de recepção de Touca Simbólica, em homenagem à Dama da Lâmpada.

 

O enfermeiro e os fatores que interferem no ensino-aprendizagem

O ser enfermeiro

O enfermeiro busca respeitar a vida e a dignidade da pessoa humana, segundo o Código de Ética dos profissionais de enfermagem.

O profissional da enfermagem respeita a vida a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo seu ciclo vital, a discriminação de qualquer natureza, assegura ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, cumpre e faz cumprir os preceitos éticos e legais da profissão, exercendo a enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade19-20.

A lei do exercício profissional desvela que a enfermagem é livre em todo território nacional, o que admite que suas atividades sejam realizadas por indivíduos legalmente habilitados de acordo com o disposto na jurisdição e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem. A lei do exercício profissional dispõe sobre o exercício da profissão de enfermagem, diz que o Enfermeiro é aquele que obtém titulação, diplomado Enfermeiro e/ou Enfermeiro Obstetriz que lhe é conferido pela instituição nos termos coerentes à lei 21.

Fatores influentes no processo ensino-aprendizagem:

Pode-se proferir que hoje a educação geral e a educação profissional começaram a ser aceita como inter-relacionadas, principalmente, por dois processos: a globalização, que traz uma multiplicidade de mudanças surgidas a partir de 1970, que instituiu novas relações em âmbito internacional nos planos econômico, social, cultural, político e tecnológico e a emergência de um sistema de produção sustentado na automação flexível. Atualmente, dentro do contexto biopsicosocial e econômico-cultural, tem-se considerado a complexidade do homem e o meio em que vive, o que viabiliza recursos para a formação de profissionais competentes para lidar com os desafios do século XXI.

Ao trazer para o campo da enfermagem, esta categoria apresenta os sentimentos vivenciados pelos estudantes durante o curso, os quais manifestam de forma diversificada, que se modifica e se alterna desde a euforia pela passagem no vestibular, realização, alegria, curiosidade, interesse em crescer, orgulho por fazer enfermagem, até sentimentos de angústia, tristeza, medo, terror, fracasso, solidão, sensação de desamparo, inferioridade, incapacidade, decepção, vontade de desistir, raiva, revolta, insegurança, pena, sofrimento e dor. A convicção de que o profissional de saúde, ao trabalhar com pessoas e lida com suas emoções e sentimentos, não consegue colocar a sua própria pessoa à margem desse processo, de modo que, o contato estabelecido pelo profissional no momento do cuidado, pode suscitar a mobilização de seus próprios sentimentos.

Os acadêmicos deixam explícitos sentimentos, como insegurança e medo, quando percebem que terão que agir junto ao paciente com a postura de um profissional. Esses sentimentos justificam-se pela dificuldade na interação e na compreensão da comunicação paciente-aluno, cuja preocupação maior é a sensação de prejuízo que pode ser causado ao paciente, por suas inabilidades e conhecimentos ainda limitados 22.

 

Os resultados do estudo

A vivência com abordagem teórico-metodológica

Ao considerar a vivência com a abordagem teórico-metodológica cabe ressaltar como a pesquisa foi elaborada. Dessa forma, remete-se ao estudo qualitativo com abordagem fenomenológica da sociologia compreensiva de Alfred Schütz23, que diante o objeto de estudo que é o significado do curso de graduação para o graduando de enfermagem quanto à sua expectativa e o seu futuro profissional, objetiva compreender o significado da ação intencional, do graduando do Curso de Enfermagem, com relação à expectativa do seu futuro profissional.

Assim sendo, desvelam-se os sujeitos da pesquisa que foram os graduandos de enfermagem do último período da Universidade Federal Fluminense. O cenário foi a Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, onde foram realizadas algumas entrevistas e outras se deram no Hospital Universitário Antônio Pedro, com horário e local agendado. A diferenciação de local se deu devido à divisão da turma em subgrupos, tendo em vista que as disciplinas possuem ementas apropriadas ao conteúdo programático e necessitam de campo de estágio diferentes para cada subgrupo.

O mecanismo de identificação dos estudantes para manter seu anonimato foi a nomeação que cada sujeito emitiu para resumir o curso de graduação em uma única palavra, esta transcrita no término dos relatos. Dentre os 16 sujeitos entrevistados apontam-se o perfil dos discentes. A maioria eram solteiros, sem filhos, moradores e dependentes financeiramente de pais/familiares, naturais do estado do Rio de Janeiro.

Observa-se que ínfima parte que possui renda própria e que são atuantes no mercado de trabalho. E ainda, os participantes da pesquisa são do sexo feminino com faixa etária variante entre 21 a 36 anos, sendo está dentro da população economicamente ativa. Segundo dados do IBGE de novembro de 2006, a distribuição da população economicamente ativa por faixa etária apontou que: 0,3% estavam na faixa de 10 a 14 anos de idade; 2,4%, de 15 a 17 anos; 18,1%, de 18 a 24 anos; 61,4%, de 25 a 49 anos e 17,8%, de 50 anos ou mais.

Dentro do grupo dos entrevistados, revelou-se a predominância do gênero feminino, já compreendido pela história natural das Escolas de Enfermagem. Identificou também uma ampla participação desses discentes em atividades complementares oferecidas e regulamentadas pelo Colegiado de Curso. De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso são atividades que possibilitam a permanente e contextualizada atualização profissional através da prática de estudos independentes, transversais, opcionais, podendo incluir atividades de Ensino, Pesquisa, Extensão e Acadêmico-Administrativas. Vale ressaltar que foram cumpridas as exigências da lei 196/9624 do que dispõe sobre os preceitos éticos para pesquisa com seres humanos.

 

Discussão

O desvelar da análise compreensiva: o graduando frente à formação

O curso de graduação conduz para a instrumentalização dos alunos para formação de futuros profissionais na área da saúde. E que o docente deve estar voltado ao processo do ensino-aprendizagem que é o seu próprio papel no contexto da educação dos discentes, na prática profissional e no relacionamento interpessoal. Assim, a forma coerente de transmitir ao aluno todo o arcabouço teórico e prático desvela o curso de graduação de enfermagem, para capacitá-lo no âmbito da saúde.

Ao analisar as falas, percebe-se que somente o diálogo implica num pensar crítico, e é capaz também de gerá-lo, sem este não há comunicação e sem este não há verdadeira educação25. É pertinente também atentar para nomeação que cada sujeito emitiu para resumir o curso de graduação em uma única palavra, esta transcrita no término dos relatos, a qual foi utilizada como mecanismo de identificação dos estudantes para manter seu anonimato. São nelas que estão contidos de forma sucinta o que o curso de graduação significou, no olhar de cada indivíduo, durante seu vivido frente à formação.

Dentre diversas questões que emergiram das falas dos sujeitos, foi retratada a divergência de suas expectativas enquanto futuros profissionais de saúde, ao relacionar a sua formação geral, a formação profissional e as experiências de trabalho.

O curso poderia ter sido melhor [... ] e atuação mesmo, do enfermeiro ser enfermeiro isso eu tive que buscar muito por conta própria [...] Razoável

É não atende as... é ... as minhas, pelo menos as minhas expectativas é quanto ao mercado de trabalho [...] algumas disciplinas na escola de enfermagem como atividade interdisciplinar é.. , Saúde, Sociedade e Enfermagem essas disciplinas aí são totalmente dispensáveis porque o professor fingia de dar aula e a gente fingia que aprendia [... ] Então eu particularmente chamava de disciplinas de aumentar coeficiente de rendimento (CR) e só. Frustração

Então a minha expectativa quando eu entrei era é ... sair um... formar um profissional é capacitado, é treinado, entendeu [...] que assim, que tivesse, que desse um suporte para que a gente saísse pelo menos com um pouquinho mais de ... de confiança, de domínio da profissão [... ] Despreparo

Sendo a primeira categoria: formar o graduando de enfermagem com articulação entre a formação geral, profissional e as experiências de trabalho para atender as necesssidades da sociedade e do profissional Enfermeiro.

A gente não tem uma base pelo menos dentro da faculdade pra isso a gente tem que buscar fora através de cursos ou próprio estudo individual.[...] Frustração

O curso de graduação não fica devendo em nada, ah na minha vida profissional porque..eu acho que ele foi completo[...] Confiança

Com relação à expectativa profissional é... Olha eu acho que preparar, preparar ... não prepara totalmente, eu acho que agente é... a gente tem que ir buscar outros lados pra gente pode tá tendo mais experiência [...] Aprimoramento

A segunda categoria: possibilitar ao graduando de Enfermagem a superar a fragmentação do processo do ensino teórico e o da prática através da educação continuada do profissional Enfermeiro.

Tem muita parte... muita parte científica, parte ... de metodologia, agora prática não tem e é de muita importância a prática pra gente também[...] Medo (b)

Até você dizer que o trabalho técnico que o enfermeiro tem que saber e a faculdade ela não prepara você pra isso, ela prepara você mais para é ... pra liderar, pra gerenciar, pra pesquisa, pro mestrado, derrepente, um doutorado, se você continuar seus estudos [... ] Insegurança

Entrei na enfermagem por aças, mas em relação ao mercado de trabalho eu venho me adaptando bem a [... ] a faculdade e já to empregada [... ] Sucesso

O curso de graduação condiz para a instrumentalização dos alunos para formação de futuros profissionais na área da saúde. O docente deve estar voltado ao processo do ensino-aprendizagem que é o seu próprio papel no contexto da educação dos discentes, na prática profissional e no relacionamento interpessoal.

 

Conclusão

Desde a gênese da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras no Brasil, a partir de 1890, que são discutidas a forma de qualificar os profissionais para enfermagem a fim de suprir devidamente seus objetivos. Mediante dificuldades apresentadas, conseqüente crises econômicas e políticas, surgiram ao longo desse período, a necessidade de reorganizar estruturalmente o ensino, que veio suscitar, de uma forma ampla, o crescimento intelectual e uma conseqüente busca da especialização da força de trabalho. E até os dias atuais tais semelhanças são ainda vigentes em nossa realidade.

Nesse contexto compreender o significado da ação intencional, do graduando do Curso de Enfermagem, com relação à expectativa do seu futuro profissional se deu através de duas categorias formar o graduando de Enfermagem com articulação entre a formação geral, profissional e as experiências de trabalho para atender as necessidades da sociedade e do profissional enfermeiro e possibilitar ao graduando de Enfermagem a superar a fragmentação do processo do ensino teórico e o da prática através da educação continuada do profissional Enfermeiro.

Para possibilitar o estímulo e motivação aos discentes que visam através da formação a sua qualificação, o educador deve perceber-se não meramente como dominador do saber, onde os deposita nos educandos sendo estes passíveis de um falso saber. Este método não promove a essência da educação libertadora, que para tal necessita do diálogo. Assim apenas o diálogo, provoca o pensar crítico, sem o diálogo não há comunicação e sem o pensamento crítico é inexistente a verdadeira educação.

Certamente, esse trabalho veio contribuir para que o sistema instrumentador responsável pela capacitação profissional seja analisado de forma coerente e significativa.

 

Referências

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