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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob.  no.19 Murcia jun. 2010

 

REVISIONES

 

As especialidades e os nexos com a formação continua do enfermeiro: repercussões para a atuação no municipio do Rio de Janeiro

Las especialidades y los vínculos con la formación continua del enfermero: repercusiones para la actuación en el municipio de Rio de Janeiro

 

 

Cavalcanti Valente, GS.*; Viana, L de O.**; Garcia Neves, I.***

* Doutora em Enfermagem . Professora Adjunto do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração da Universidade Federal Fluminense - UFF
** Professora titular do Departamento de Metodologia da Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery
*** Graduada em Enfermagem. Brasil.

 

 


RESUMO

Este estudo objetivou captar como está sendo construído o processo de formação continua do enfermeiro através das especialidades, bem como as repercussões que a especialização traz para a formação e atuação do enfermeiro na assistência de Enfermagem. Trabalhamos com material bibliográfico resultante de pesquisas cientificas de Enfermagem publicadas nos últimos dez anos, sendo utilizada a análise de conteúdo para tratamento dos dados encontrados. Destacou-se como dado resultante que a especialização compõe um instrumento necessário à formação continua do enfermeiro para que desenvolva as competências para atuar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.

Palavras chave: Formação contínua, Especialidades, Enfermagem.


RESUMEN

Este estudio objetivó captar cómo se está construyendo el proceso de formación continua de la enfermera a través de las especialidades, así como las repercusiones que la especialización trae para la formación y el funcionamiento de la enfermera en la asistencia de Enfermería. Trabajamos con el material bibliográfico resultante de la investigación científica publicada en los últimos diez años, siendo utilizado el análisis del contenido para el tratamiento de los datos encontrados. Destacó como dato relevante que la especialización compone un instrumento necesario en la la formación continua de la enfermera para que desarrolle las competencias para actuar en un mercado de trabajo cada vez más exigente y competitivo.

Palabras clave: Formación continua., Especialidades. Enfermería.


 

I - Considerações iniciais

Atualmente, a introdução de novas tecnologias no mercado de trabalho da saúde tem imposto algumas modificações na força de trabalho do setor, onde há a necessidade de contratação de profissionais cada vez mais qualificados, que estejam capacitados a utilizar as inovações dos meios diagnósticos e terapêuticos. Estendemos esse fenômeno ao campo da Enfermagem, já que um número cada vez maior de enfermeiros vem buscando o constante aperfeiçoamento através de cursos de pós-graduação.

A especialização em Enfermagem vem praticamente tornando-se uma exigência para a complementação e a sedimentação do aprendizado obtido no curso de graduação, oferecendo instrumentos necessários para o exercício profissional. Não há mais como permanecer apenas com os conhecimentos adquiridos na graduação. Isto coloca o ensino de pós-graduação (lato sensu) como uma das possibilidades que temos atualmente para qualificar enfermeiros para a prática profissional e, nesta perspectiva, contribuir para a ampliação e a transformação da Enfermagem brasileira.

Dentro de um contexto de mundo globalizado, deparamos com a necessidade de formação e atualização continuada de recursos humanos para o trabalho em saúde. O enfermeiro tem que enfrentar problemas relativos à saúde da clientela, sem prejuízo da qualidade.Toda esta problemática pode ser apoiada nas afirmações de autores pesquisados quando ressaltam que com o aumento da esperança de vida, conseqüentemente o aumento da esperança de vida produtiva, mais e mais enfrentamos mudanças de paradigmas, de processos tecnológicos e de gestão do trabalho. (1)

A pós-graduação passa a ser, então, a mais duradoura e diversificada estratégia de educação continuada. Além disso, a intersetorialidade e interdisciplinaridade estarão reformulando e criando espaços de atuação, como nunca se viu na história anterior da humanidade, daí ser necessário buscar, a cada momento, na pós-graduação, o conhecimento não agregado na cada vez mais remota formação básica.

A Especialização é um processo de ensino que procura ampliar os conhecimentos e concepções da área, preparando os profissionais para intervir e transformar a prática. O especialista se dedica a um ramo de sua profissão, optando por uma especialidade conforme sua habilidade ou interesse particular. A escolha de uma especialidade profissional caracteriza-se como importante momento de transformação pessoal e social, impregnada de simbolismos e significações individuais e coletivas, não constituindo, portanto uma opção simples e fácil como pode parecer. (1)

Na saúde, conforme as autoras supracitadas, as profissões também caminham, dia-adia, para a especialização do saber e do cuidar, à medida que novos conceitos e tecnologias são desenvolvidos, abrindo-se, como conseqüência, novos campos de atuação e pesquisa.No contexto das profissões da saúde, a Enfermagem ocupa posição impar, pois é numericamente significativa dentro das instituições, quase que exclusivamente feminina, assalariada e hospitalar, desenvolvendo atividades centradas no cuidado em saúde das pessoas.

Na década de 70, houve um indiscutível incremento científico-tecnológico que provocou um grande avanço na área da saúde e, por conseguinte, exigiu dos profissionais uma intensa necessidade de estudar, em busca de acompanhar tal crescimento. (2)

Por outro lado, a especialização em Enfermagem ainda é um assunto polêmico para a categoria, principalmente no que se refere à absorção dos enfermeiros pelo mercado, uma vez que os postos de trabalho raramente são oferecidos a partir da especialização realizada.

Verifica-se uma clara contradição: na Enfermagem, os postos de trabalho raramente surgem a partir de uma especialização. Assim sendo, os enfermeiros tendem a se inserir aleatoriamente no mercado de trabalho, pautando-se apenas na demanda oferecida. (3)

Objeto de estudo: o ensino de pós-graduação "lato sensu", em enfermagem, no Município do Rio de Janeiro, como um fator coadjuvante para a formação continua do enfermeiro.

Tomamos como ponto de referência, as seguintes questões norteadoras:

1- Como vem se desenvolvendo o processo de especialização em Enfermagem no Município do Rio de Janeiro?

2- Que repercussões a especialização traz para a formação e para a prática profissional da Enfermagem?

Mediante a problemática apresentada, traçamos os seguintes objetivos:

1- Apresentar um panorama da especialização em Enfermagem no Município do Rio de Janeiro.

2- Identificar as repercussões trazidas pela formação para a prática profissional do Enfermeiro.

Sempre estivemos preocupadas com as questões referentes à formação oferecida aos profissionais de Enfermagem lançados no mercado de trabalho, o que nos leva a atentar para o fato de que o curso de graduação oferece uma visão generalizada da assistência de Enfermagem, e a pós-graduação (lato sensu) é quem traz a visão de uma Enfermagem especialista, para atender à necessidade de aprofundamento e atualização tanto no que se refere a conquista da autonomia profissional, quanto para uma melhor inserção no mercado de trabalho, altamente sofisticado e tecnológico. (4)

Nesta ótica, consideramos ser a especialização uma etapa da formação que irá contribuir para o aprender a aprender, estimulando assim a capacidade de entender como se produz o saber nas diversas áreas, criando condições para uma educação permanente, que leve o enfermeiro a ser cada vez mais compromissado com a sociedade e com seus problemas de saúde, tornando-o competente para enfrentar os desafios do Século XXI, construindo uma consciência critica a respeito do contexto no qual está inserido.

 

II Metodologia

Este estudo está inserido na linha de pesquisa e área temática Educação em Enfermagem, na modalidade bibliográfica, que pode ser definido como:

Toda pesquisa realizada em documentos ou fontes secundárias, e abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisa, monografias teses, material cartográfica, e outros, até meios de comunicação orais, como rádio, gravações em fita magnética, e audiovisuais, como filmes, televisão, internet. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.(5)

Para buscar formar um bojo de informações que pudesse auxiliar no entendimento do processo de especialização da Enfermagem, foi efetuado um levantamento de dados de artigos científicos referentes à especialização em Enfermagem produzidos e publicados entre os anos de 2000 e 2009. No entanto, nos deparamos durante a pesquisa com uma pequena lista de possibilidades, pois o assunto é, ainda, pouco explorado e conta com poucas publicações científicas recentes. Sendo assim, como os resultados obtidos não se mostravam suficientes, também buscamos uma investigação sobre a produção científica de Enfermagem especialista, publicada em outros períodos.

Recorremos a meios eletrônicos como a Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), cujas bases de dados pesquisadas foram: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Base de dados de Enfermagem (BDEN) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).Foram utilizados os sites de busca Google, Uol e Cadê? E também as bibliotecas das escolas/faculdades de enfermagem públicas e privadas do Município do Rio de Janeiro.

Como o tema está diretamente ligado a área de ensino, realizamos pesquisa em sites de interesse como CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do nível Superior), MEC (Ministério da Educação); INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais); IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); CBO (Classificação Brasileira de Ocupações); e de entidades de classe (ABEN, COFEN, COREN); entre outras. Empregamos no processo de levantamento de dados, palavras-chave como: especialização, especialidades, pós-graduação, Enfermagem, enfermeiro.

A análise do material pesquisado, baseou-se no método denominado Análise de Conteúdo, que pode ser definida como a um conjunto de instrumentos metodológicos que se presta ao estudo das comunicações. E, assim sendo, pode ser utilizada na análise de quaisquer comunicações que ocorram entre emissor e receptor, sejam eles indivíduos ou grupos. (6)

Após a escolha do material, o passo seguinte foi a realização de uma leitura flutuante, quando surgiram impressões e orientações para a análise. A partir desta atividade, fizemos a estruturação de índices e a elaboração de indicadores. Este foi um trabalho preparatório da análise. Por fim, realizamos o tratamento dos resultados obtidos e o trabalho de inferência e interpretação. Assim, ao fim da análise, procuramos obter a elaboração de um elo entre os dados do texto e os objetivos previstos.

 

III -Revisão bibliográfica

ENSINO DA ENFERMAGEM NO BRASIL E AS ESPECIALIDADES

Há uma forte e estreita relação entre a história da Enfermagem no Brasil e as transformações gerais da estrutura social brasileira, portanto é fundamental que se utilize o longo trajeto percorrido pela Enfermagem no país, como fonte dos fatos que irão possibilitar o entendimento sobre as questões relativas ao processo de transição experimentado pela categoria no que tange a sua especialização.

A Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi um fórum de grandes decisões políticas e intelectuais por cinco décadas, iniciando suas atividades no ano de 1923. Dela saíram líderes que construíram o terreno sólido de desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da assistência de Enfermagem no Brasil.(7)

Entre as décadas de 40 e 60, houve uma grande expansão numérica de hospitais e escolas de Enfermagem no Brasil, o que redundou na necessidade de criação de instrumentos capazes de normatizar e estruturar os cursos de graduação em Enfermagem, o que levou e permitiu o início das discussões sobre cursos de pós-graduação, com o nome de especialização.

A tendência à formação especializada na Enfermagem brasileira teve seu início em função de demandas derivadas de problemas sócio-econômicos e de saúde dos seguimentos particularmente marginalizados da população, especialmente dos que viviam em centros urbanos. Na década de 70, após a reforma universitária, implementada pela Lei 5540/68, o ensino da Enfermagem no Brasil passa por um processo de padronização, onde através do Parecer no 163/72, os currículos passam a ser definidos e orientados por normas comuns a todas as instituições de nível superior.(8)

Através deste parecer o curso de Enfermagem passa a abranger as ciências básicas, as disciplinas profissionais e a parte das habilitações específicas, a saber: Enfermagem de Saúde Pública, Enfermagem Obstétrica e Enfermagem Médico-Cirúrgica e é neste momento que se dá um importante passo em direção às especializações em Enfermagem, que ganham maior impulso e aceitação no meio acadêmico, tendo em vista o entendimento de que estas habilitações funcionariam como pré-especializações.

Apesar da existência dos cursos de Pós-Graduação em Enfermagem Stricto Sensu (mestrado e doutorado) desde a década de 40, foi somente a partir de 1974, que eles adquiriram força e especial atenção por parte dos enfermeiros. Esta modificação deveu-se principalmente ao incremento da demanda por professores preparados para o ensino superior, que necessitava contar com um corpo docente capacitado. (8)

A especialização na Enfermagem tem íntima relação com o contexto das políticas de saúde no Brasil e com a evolução do processo de reforma sanitária, desde a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS - 1966) até a sua conclusão, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS - 1990), que impôs demandas e ofertas específicas. Esta relação se dá mais intensamente quando associamos a ela o fato da privatização do setor saúde, que ofereceu a possibilidade de convênios e formação de grupos de seguros de saúde, promovendo a necessidade de oferta de profissionais em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades do mercado de trabalho. (9)

O crescimento da indústria hospitalar e farmacêutica forçou a absorção de tecnologias no campo hospitalar e direcionou os agentes de saúde para o manuseio e consumo desses materiais, criando novas necessidades. Assim, o desenvolvimento das especialidades em Enfermagem, caracteriza-se dentro de um contexto do próprio crescimento da profissão, a qual, inicialmente, voltada para a Saúde Pública, passa a atender um mercado hospitalar crescente. (8)

Dados sobre os cursos de pós-graduação lato sensu, presenciais e a distância, indicam que houve expansão do setor no que se refere ao número de instituições que oferecem tais cursos. O cruzamento dos dados permite inferir que praticamente a metade das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras oferecem cursos de pós-graduação lato sensu, não estando a oferta deste nível de ensino restrito às universidades, ou aos Centros Universitários e Faculdades Integradas. (9)

É importante destacar ainda que, quando se considera o número de matrículas nos cursos oferecidos, observa-se que 50% do total de matrículas do país em cursos de pós-graduação lato sensu, presenciais e a distância, localizam-se nas instituições da região sudeste. Comparando instituições públicas e privadas, observa-se que cursos de graduação presenciais, isto é, em termos globais, as instituições privadas apresentam um maior número de cursos.

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, os enfermeiros, apresentam doze classes ou ocupações: Enfermeiro; Enfermeiro auditor; Enfermeiro de bordo; Enfermeiro de centro cirúrgico (instrumentador cirúrgico - enfermeiro); Enfermeiro de terapia intensiva (enfermeiro intensivista); Enfermeiro do trabalho; Enfermeiro nefrologista; Enfermeiro neonatologista (enfermeiro de berçário); Enfermeiro obstétrico (enfermeira parteira); Enfermeiro psiquiátrico; Enfermeiro puericultor e pediátrico; Enfermeiro sanitarista (enfermeiro de saúde pública) (BRASIL - Ministério do Trabalho e Emprego).

A Residência em Enfermagem, criada no Brasil na década de 1960, passou por momentos de grandes desafios para se consolidar como um programa de ensino/aprendizagem/trabalho. Em sua trajetória realizou movimentos sociais reivindicatórios e lutas importantes para a conquista de espaço nas instituições de saúde. Enfrentando desafios e distorções em relação às suas concepções filosóficas e éticas, os programas de uma maneira geral têm buscado caminhos que levam em consideração não apenas a utilização da força de trabalho dos enfermeiros residentes, mas a estruturação de um modelo pedagógico que corresponda às exigências da formação especialista dos profissionais. (10)

Nesta busca, os programas têm avançado para desenvolver um canal teórico que sustente a demanda do conhecimento cotidiano, além de estruturas de ensino que valorizem a pesquisa e a extensão universitárias. Atualmente alguns programas vêm sendo criados com inserção nas instituições de ensino superior, o que lhes garante o título de especialização. A residência em Enfermagem é uma especialização com 80% das atividades voltadas à prática e 20% à teoria, com o oferecimento da bolsa-auxílio para os profissionais que optam pela realização da mesma. A carga horária total anual varia entre 2.880 e 3.520 horas. (4)

A Residência em Enfermagem foi reconhecida como modalidade de ensino Pós-Graduação Lato Sensu, voltada para a educação em serviço e destinadas às categorias profissionais que integram a área da saúde, segundo a Lei no 11.129. de 30/06/2005; publicada no Diário Oficial de 01//07/2005. (4)

 

Cursos de especialização em enfermagem no Rio de Janeiro


AS ESPECIALIDADES

 

Hoje nos deparamos com o aumento do número de escolas de Enfermagem e conseqüentemente, de vagas oferecidas pelos cursos de especialização. Deve-se ressaltar que todos estes cursos respeitam a acatam as normas da Resolução no. 1 CNE/CES (Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação),de 3 de abril de 2001, pois nenhum deles apresenta uma carga horária inferior ao que está determinado na resolução, cujo mínimo é 360 horas.

 

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DO MATERIAL

1. O Mercado de Trabalho Requer um Profissional Especializado

A divisão do trabalho em tarefas parciais, vivenciada também no setor saúde principalmente nas últimas quatro décadas acompanhou a evolução da sociedade ao longo deste tempo, estando voltada para o atendimento das exigências de aumento da produtividade. Acompanhar estes novos tempos requer a compreensão das transformações intensas e rápidas que ocorrem no mundo, na educação, na vida.

A saúde constitui um importante setor no mercado de trabalho do país. Como os demais serviços de consumo coletivo, encontra-se vinculada a um conjunto de determinantes políticos e econômicos que permeiam o mercado de trabalho em geral. Pode-se dizer que o dinamismo e as características dos seus empregos foram influenciados pelo crescimento do sistema produtor de serviços e pela reforma do setor, os quais provocaram mudanças significativas na estrutura ocupacional, no perfil quantitativo e qualitativo da força de trabalho em saúde. (9)

De forma natural e adequada o ensino da Enfermagem necessita adaptar-se às mudanças impostas, no sentido de atender, principalmente, às necessidades e demandas do mercado de trabalho, que foi ao longo dos tempos tornando-se cada vez mais claro e sofisticado.

A crescente automatização nos processos de produção vem transformando o perfil da população economicamente ativa, na medida em que busca mão-de-obra cada vez mais especializada e pronta para enfrentar os avanços propostos pela reengenharia.(3)

Esta realidade impõe a um desafio no sentido de cobrir uma demanda em expansão, com competência técnica e conhecimentos específicos, a fim de garantir uma assistência capaz de contribuir com a sobre vida e redução de seqüelas. Uma questão importante, merecedora de destaque é que a quantidade de enfermeiros lançados no mercado de trabalho semestralmente é muito maior do que no mesmo período há uma década atrás, influenciando diretamente no mercado, que se torna muito seletivo. O enfermeiro não se encontra imune a todas as transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho.

A receptividade dos enfermeiros à especialização é atribuída ao constante desenvolvimento técnico-científico, que apresenta demandas e reflexos na prática profissional, resultando na necessidade de atualização dos conhecimentos, do reforço ou aquisição de novas habilidades, a fim de assegurar um desempenho profissional com qualidade e segurança.(8)

De fato, o trabalho nos grandes hospitais especializados exige profissionais com preparo compatível. É preciso reconhecer que existem forças convergentes muito grandes que levam ao caminho da especialização, pelo ao menos nos centros urbanos.

O que seria dos dirigentes e autoridades do governo se não houvesse os centros de excelência como os que existem em São Paulo ou Rio de Janeiro? Esses grandes centros precisam de especialistas altamente qualificados", não apenas em cursos de especialização ou aprimoramento ou em cursos seqüenciais específicos, mas também até mesmo de mestrado e doutorado.(9)

Acreditamos que os profissionais que trabalham nesses centros têm obrigação de especializar-se em todas as mais sofisticadas tecnologias assim como em cuidados específicos de Enfermagem, como as que existem em transplantes de órgãos, quimioterapias, cirurgias cardiovasculares, terapias intensivas e outras. Sendo assim, a Enfermagem tem que se preocupar, no momento atual, em acompanhar os avanços e as mudanças tecnológicas, sociais e as exigências crescentes da sociedade a fim de oferecer uma assistência melhor. O mercado de trabalho para o enfermeiro segue as transformações da globalização. Portanto a inserção do enfermeiro no mundo do trabalho encontra-se diretamente influenciada pela qualificação profissional. Assim a disputa está voltada para quem possui melhor preparo e conhecimento técnico-científico.

2. A Enfermagem em processo de especialização:

A Enfermagem em resposta ao ritmo imposto pelo mundo do trabalho, foi evoluindo, passando por diversas fases e transformações, sendo incorporada ao nível superior e posteriormente ao nível de pós-graduação, com os cursos de mestrado e doutorado e outros de especialização.

A pós-graduação brasileira surgiu no seio de uma concepção política de promoção do desenvolvimento econômico do país, para o que se fazia necessária uma política de formação de recursos humanos qualificados, a qual pretendia atender duas demandas principais:" a necessidade futura de mão-de-obra especializada para preencher os novos empregos criados pelo desenvolvimento econômico previsto e a necessidade de cientistas, pesquisadores e técnicos, aptos a desenvolver a pesquisa, indispensável à mudança.(10)

A formação de profissionais de Enfermagem caracteriza-se por ser fortemente generalista, porém, a existência de cursos de pós-graduação permitem ao profissional especializar-se na área em que encontrou mais afinidade durante o curso de graduação.

Percebe-se que existe um descompasso entre o idealizado na universidade e a realidade da prática, o que tem trazido uma série de dificuldades para os recém-formados, insatisfações aos empregadores e ausência de impacto de suas ações na área da saúde. A desarmonia entre o ensino acadêmico e as expectativas no campo de trabalho tem sido denunciada nos meios acadêmicos pelos recém-formados.(11)

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no 9394 de 1996 (LDB), está claro que os enfermeiros, em nível de graduação, devem preparar-se adequadamente, seja através de cursos de especialização, aperfeiçoamento, extensão e até de mestrado e doutorado, para o mercado de trabalho cada vez mais exigente. Embora existam grupos preocupados com a visão holística do homem para a prestação da assistência de Enfermagem, cada vez mais os enfermeiros se especializam, assim como vem ocorrendo com outras profissões da saúde.

Os programas de Residência em Enfermagem são procurados por grande parte dos enfermeiros, como uma excelente experiência profissional. Principalmente os recém formados, que se propõe a adiar o ingresso no mercado de trabalho em busca de melhor qualificação. Sabemos que o tempo de um simples curso de especialização, bem como os fatores de relacionados ao fortalecimento da prática, podem ser infinitamente menores que o tempo e as oportunidades de uma residência.

 

Considerações finais

A partir deste estudo, foi possível apreciar mais profundamente algumas características da especialização em Enfermagem, pois a introdução de novas tecnologias tem produzido e acelerado o processo de transformação do mundo do trabalho, que busca profissionais cada vez melhores preparados, aprimorados e especializados, criando as muitas especialidades, inclusive na Enfermagem.

A especialização tem efetivamente contribuído para a prática do enfermeiro à medida que possibilita a sua formação em diferentes áreas do conhecimento. No que tange à assistência, sem sombra de dúvida a sua contribuição é imensurável, pois possibilita que as pessoas sejam assistidas com competência. Portanto disponibiliza à sociedade enfermeiros interessados, experientes e habilitados às necessidades humanas segundo a realidade e capazes de superar as dificuldades práticas de saúde junto à população com conhecimento e sensibilidade. Para melhoria da qualidade da assistência de Enfermagem prestada nos serviços de saúde.

Desta forma, os enfermeiros, enquanto profissionais inseridos no setor saúde, buscam um maior aperfeiçoamento, através dos cursos de especialização (pós-graduação lato sensu), oferecidos atualmente. Uma das características encontradas deriva-se de um panorama extremamente dinâmico das especializações e das Sociedades de Especialistas, que aponta para reflexões e preocupações do mundo do trabalho voltadas para o aperfeiçoamento técnico e a inserção diferenciada no mercado de trabalho, numa tentativa de se auto-afirmar neste mercado, que vem ficando cada vez mais específico.

O perfil requerido pelo mundo do trabalho de hoje, precisa de pessoas que tomem iniciativas, assumam responsabilidades, tenham capacidade de utilizar instrumentos e equipamentos sofisticados e inteligentes, além de estarem familiarizados com eles; estejam preparados para o trabalho em equipe, possam liderar esta equipe e que tenham capacidade de planejar e executar projetos complexos. Finalmente que tenham a capacidade de aprender novos conhecimentos e adquirir atitudes de maneira rápida e efetiva; que estejam abertos às continuas transformações e diferentes formas de organização do trabalho e que sejam capazes de identificar problemas e encontrar soluções para estes problemas.

Assim, concluímos que na área da saúde, faz-se necessário pensar numa formação capaz de instrumentalizar o profissional para cuidar do ser humano com competência, capaz de lidar com a vida e com tudo o que a ela se relaciona, de forma ética e compromissada. Os dados apontam para a necessidade de se repensar a formação em nível universitário, não só com o objetivo de se atender às necessidades de mercado, mas principalmente de avançar em busca de uma formação capaz de agir sobre essa realidade, principalmente no que tange a informar o futuro profissional com relação às possibilidades de formação contínua.

 

Referências

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