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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.16 n.46 Murcia Apr. 2017  Epub Apr 01, 2017

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.16.2.245451 

Originales

Fatores associados ao uso do preservativo entre jovens homens que fazem sexo com homens

Vinícius Rodrigues Fernandes da da Fonte1  , Carina D’Onofrio Prince Pinheiro2  , Nathália de Souza Barcelos3  , Cristiane Maria Amorim Costa4  , Francisco Marcio Tadeu Ribeiro5  , Thelma Spindola6 

1Enfermeiro. Especialista em sexualidade humana. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

2Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Universidade Veiga de Almeida.

3Enfermeira. Universidade Veiga de Almeida.

4Doutora em Bioética. Enfermeira. Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da UERJ e do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro.

5Doutor em Saúde Coletiva. Enfermeiro. Professor Associado da Faculdade de Enfermagem da UERJ e Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro.

6Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da UERJ. Rio de Janeiro. Brasil.

RESUMO

Introdução

O aumento das infecções pelo HIV no Brasil entre Homens que fazem Sexo com Homens, na faixa etária de 15 a 24 anos, tem como um dos fatores a baixa utilização do preservativo.

Objetivo

Descrever os fatores que estão associados ou não a utilização do preservativo entre jovens HSH.

Metodologia

Estudo descritivo, de natureza quantitativa, com emprego de amostra por conveniência. O cenário foram seis boates direcionadas para o público de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Município do Rio de Janeiro - Brasil, selecionadas por meio de um guia de boates gay. Os participantes foram homens que fazem sexo com homens na faixa etária entre 18 a 24 anos. A coleta de dados ocorreu durante o mês de outubro de 2012. Foram entrevistados 220 jovens com auxílio de um instrumento de coleta de dados. A análise dos dados foi realizada utilizando o programa EpiInfo.

Resultados

O uso do preservativo está associado à prevenção de doenças. A falta de uso do preservativo no sexo oral, na primeira e última relação sexual, foi justificada pelo incômodo que causa, falta de experiência/conhecimento e a confiança no parceiro, respectivamente.

Conclusão

O estudo sinaliza que os entrevistados apresentam suscetibilidade à infecção pelo HIV quando abandonam ou não utilizam o preservativo pela confiança no parceiro, falta de conhecimento e/ou experiência. Ações de orientação e esclarecimento com material informativo são relevantes, considerando a vulnerabilidade desse grupo às infecções sexualmente transmissíveis.

Palavras chave Preservativos; comportamento sexual; homossexualidade masculina

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objeto os fatores associados ao uso do preservativo entre homens que fazem sexo com homens (HSH), na faixa etária de adultos jovens.

A pandemia causada pelo Human Immunodeficiency Vírus (HIV) se configura como um importante desafio para a saúde pública brasileira e mundial, devido a sua magnitude e extensão dos danos causados às populações. Sua transmissão ocorre por meio de relações sexuais desprotegidas, sangue contaminado e transmissão vertical, e sua ocorrência está relacionada aos contextos individuais, coletivos e sociais1.

No Brasil, a epidemia surgiu no início da década de 1980, estando associada aos homo/bissexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo2. A suposta seletividade de determinados grupos à infecção suscitou o uso da terminologia “grupo de risco”, de modo que esta denominação marcou a construção histórica e social da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (sida), popularmente conhecida pela sua sigla derivada do inglês, aids3.

A denominação de grupos de risco, para englobar os grupos populacionais mais acometidos pela infecção, provocou uma resposta social, caracterizada por estigma e discriminação, associando este grupo a transgressores de normas sociais, como promíscuos, imorais e viciados. No Brasil, as populações não enquadradas nesse conjunto de indivíduos consideravam-se “imunes” à infecção, não adotando medidas de prevenção, o que levou a uma mudança no perfil epidemiológico, atualmente caracterizado pela feminização, pauperização, heterossexualização e interiorização. Dessa forma, a compreensão de que a enfermidade restringia-se aos considerados “grupos de risco” deixou de ter aderência à realidade, uma vez que todos os indivíduos, por hipótese, passaram a estar vulneráveis a ela3.

Durante a década de 1990, o conceito de vulnerabilidade foi proposto a fim de reforçar a resposta à pandemia do HIV. Nessa perspectiva todo e qualquer indivíduo está exposto e suscetível à infecção pelo HIV, estando englobados, além dos fatores epidemiológicos, os fatores biológicos, culturais, sociais, políticos e comportamentais4.

O processo de disseminação da epidemia tem diferentes impactos nas populações, identificar e reconhecer suas diferenças e especificidades tornaram-se ações imprescindíveis na construção de políticas direcionadas aos grupos mais vulneráveis.

O comportamento está inserido no conceito de vulnerabilidade individual, estando à conduta sexual diretamente associada à vulnerabilidade de infecção pelo HIV5. A prática de relações sexuais seguras é aquela que adota, entre outras medidas, o uso do preservativo, sendo esta a mais eficaz e preconizada para o controle da infecção por via sexual. Estudos revelam que o uso infrequente do preservativo é a principal variável associada à presença de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)5)(6.

Dados epidemiológicos do Departamento Nacional de DST/aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde - Brasil, demonstram que a população de jovens gays apresenta vulnerabilidade. Segundo pesquisa, a prevalência de infecção pelo HIV entre jovens HSH de 17 a 22 anos aumentou entre 2002 e 2007, passando de 0,56% para 1,2%. Em relação à categoria de exposição dos casos de aids, a faixa etária de HSH entre 15 a 24 anos passou de 31,8% em 1998 para 46,4% em 2010. Ao comparar esse grupo com os jovens em geral, a chance de um jovem gay estar infectado é aproximadamente 13 vezes maior2.

Estudo de revisão sistemática da literatura nacional e internacional identificou que práticas sexuais vulneráveis para as IST são comuns entre a população homossexual. O não uso do preservativo encontra seu alicerce no medo da perda do prazer e da virilidade, a crença na fidelidade do parceiro fixo e nos significados atribuídos ao seu uso em diferentes culturas. Os contextos sociais de poder financeiro, etário e de gênero, e veiculação da mídia pornográfica de relações sexuais desprotegidas e associadas a orgasmos foram, também, abordados como fatores que influenciam no abandono do uso do preservativo7.

Devido à representatividade da epidemia do HIV na população de jovens gays nos Estados Unidos, estudo qualitativo objetivou explorar fatores que poderiam estar associados ao diagnóstico recente do HIV nesta população e suas perspectivas e concepções sobre a eficácia dos programas de prevenção. A análise dos dados evidenciou que quatro temas principais de vulnerabilidade a infecção são recorrentes nessa população: riscos pessoais, falta de educação qualificada, grande acesso à internet e a necessidade de profissionais qualificados para introduzir intervenções educativas específicas para a idade e desenvolvimento deste grupo populacional8.

A vulnerabilidade às IST foi discutida em outros estudos, sendo evidenciado que os HSH mantêm comportamentos que incluem maior número de relações sexuais com parceiros casuais, múltiplos parceiros e o uso de drogas7)(8)(9. Quanto ao conhecimento, estudo que investigou 36 mil jovens do sexo masculino, com idades entre 12 e 22 anos, identificou que 97% sabem que o uso do preservativo é a melhor maneira de se evitar a infecção pelo HIV. Contudo, sua aderência nas relações sexuais não condiz com o nível de conhecimento desta população2.

Neste contexto, delimitou-se como problema a ser estudado: quais são os fatores que interferem na utilização do preservativo entre os jovens HSH? O estudo tem o objetivo de descrever os fatores que estão associados com a utilização do preservativo entre os jovens HSH.

A relevância deste estudo se sustenta em razão da vulnerabilidade e impacto da epidemia do HIV/aids na população homossexual. A carência de estudos, ações e políticas voltadas a este grupo que socialmente sofrem pela ação do preconceito, discriminação e invisibilidade social, também é uma realidade10. A pesquisa pretende contribuir para a discussão acerca da vulnerabilidade de jovens HSH à epidemia e para as ações de prevenção das IST/HIV/aids de maneira equânime.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de natureza quantitativa e amostragem por conveniência. O cenário do estudo foram as Boates destinadas ao público de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) do município do Rio de Janeiro, por se tratar de um espaço de socialização dos jovens HSH, onde as pessoas tendem a não esconderem sua sexualidade e estariam mais aptas a este tipo de abordagem.

Os sujeitos selecionados para compor o estudo foram os HSH, terminologia que abrange uma variedade de identidades sexuais, inclusive aquelas pessoas que não se identificam sexualmente como gays ou homossexuais11. Os jovens desse grupo populacional apresentam maiores índices de infecção quando comparados à população em geral. Desse modo delimitamos a faixa etária a ser estudada entre 18 a 24 anos, considerando que devido a aspectos legais é proibida a entrada de menores de 18 anos em boates no Brasil. Somente foram selecionados para compor o estudo aqueles que afirmaram ter se relacionado sexualmente com homens (relação sexual anal penetrativa) e que respondessem, minimamente, todas as questões fechadas do instrumento de coleta de dados. Os critérios de inelegibilidades adotados foram: estar consumindo bebida alcoólica e drogas ilícitas durante a abordagem e pessoas analfabetas ou com deficiência intelectual e física (visual).

Para coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado com questões abertas e fechadas, abordando as variáveis socioeconômicas e o uso do preservativo. O instrumento foi elaborado tendo como referência a pesquisa da Associação Brasileira Interdisciplinar de aids (ABIA), que realizou em 2007 um estudo sobre as necessidades de prevenção ao HIV/aids na população homossexual do Rio de Janeiro12. Posteriormente este instrumento foi testado, verificando a sua aplicabilidade, considerando que o ambiente de investigação é dinâmico.

A coleta ocorreu no mês de outubro de 2012, seguindo a agenda de festas das casas noturnas mais frequentadas pelo público LGBT. Foram selecionadas seis casas noturnas conforme um roteiro de diversão para o público gay. Houve a participação de 338 pessoas, sendo excluídos 118 questionários por não adequação aos critérios de elegibilidade, perfazendo um total de 220 jovens HSH selecionados. A justificativa para o elevado número de questionários descartados ocorreu devido à abordagem utilizada, onde se teve a participação de pessoas que frequentam as boates e nunca tiveram relações sexuais com homens e o número elevado de participantes que ultrapassavam a faixa etária delimitada.

Os aspectos éticos e legais de pesquisa envolvendo seres humanos foram respeitados, seguindo a resolução em vigor por ocasião da submissão da pesquisa, ou seja, 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, por meio do parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Veiga de Almeida sob o número 101.053. Somente após a leitura, esclarecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o questionário era entregue aos participantes.

Os dados foram analisados em frequência simples e percentual total, com auxílio do software Epiinfo.

RESULTADOS

As características socioeconômicas dos participantes da investigação são apresentadas na Tabela 1. Os dados evidenciam que a maioria dos entrevistados têm 20 anos de idade (21,4%); consideravam-se gays (38,7%); católicos (31,8%); trabalhavam (70%); possuíam renda familiar entre 3 a 5 salários mínimos (31,4%); cursavam ensino superior (50,9%) e não estavam em um relacionamento estável (71,8%).

Tabela 1 Aspectos socioeconômicos de HSH frequentadores de boates LGBT. Rio de Janeiro, 2012. (N=220) 

No que tange ao uso do preservativo, 135 (61,4%) dos entrevistados relataram utilizar sempre, 80 (36,4%) utilizam às vezes e 5 (2,3%) nunca usam. No sexo oral o uso do preservativo é inverso, 175 (79,6 %) não utilizam, 32 (14,5%) às vezes fazem uso e apenas 13 (5,9%) entrevistados utilizam sempre. A primeira relação sexual (sexarca) ocorreu em média aos 15,74 anos, tendo mediana de 15,5, moda de 16 e desvio-padrão de 2,35. O preservativo foi utilizado na primeira relação sexual por 144 (65,5%) entrevistados, enquanto que 76 (34,5%) não fizeram uso desse método de prevenção. Na última relação sexual 162 (73,6%) usaram o preservativo e 58 (26,4%) não usaram. Em relação aos parceiros sexuais, 86 (39,1%) relataram que alguma vez na vida tiveram parceiros que se recusaram a utilizar o preservativo. Indagados sobre uma situação hipotética de atração sexual por uma pessoa, mas que não tivesse preservativo no momento, a atitude relatada por 188 (85,8%) entrevistados seria de recusar a se relacionar sexualmente.

Na Tabela 2, é possível observar que ocorreu associação significativa entre o uso do preservativo na última relação sexual com o fato de possuir relacionamento estável. Enquanto que o uso do preservativo na última relação sexual não teve associação significativa quando comparado com a coitarca.

Tabela 2 Associação entre o uso do preservativo na última relação sexual de jovens homens que fazem sexo com homens em relação à sexarca e relacionamentos estáveis. Rio de Janeiro, 2012. (n: 220) 

Em relação aos fatores associados ao uso ou não do preservativo entre os participantes desta investigação, os resultados estão apresentados na Tabela 3 e descritos a seguir.

Tabela 3 Fatores associados à utilização (ou não) do preservativo nas relações sexuais entre adultos jovens HSH. Rio de Janeiro, 2012. (N=220) 

Fatores que estão associados ao não uso do preservativo:

O principal fator associado ao não uso do preservativo, ou uso infrequente, no sexo oral é o incômodo, seguido pela diminuição do prazer, sabor do preservativo, confiança no parceiro e a não percepção de risco. Na primeira relação sexual os fatores relatados para a não utilização do preservativo foram à falta de experiência e/ou conhecimento, a questão do momento da relação sexual, esquecimento/não ter e a confiança no parceiro. Indagados sobre a última relação sexual os principais motivos para o abandono foram confiança no parceiro, momento, preferência pessoal e esquecimento/ausência do preservativo.

Fatores que estão associados ao uso do preservativo:

Os fatores associados ao uso do preservativo no sexo oral citados foram a prevenção de IST/aids, seguido pelo prazer. Entre os fatores relacionados ao uso do preservativo durante a primeira relação sexual destacam-se a prevenção de IST/aids, a falta de confiança e a imposição do parceiro. Ao serem questionados sobre o motivo da sua utilização durante a ultima relação sexual foram citados a prevenção de IST/aids e a falta de confiança no parceiro, porém alguns dos entrevistados não souberam explicitar porque utilizaram o preservativo.

DISCUSSÃO

Os participantes desse estudo foram jovens homens que tiveram relações sexuais com outros homens. No entanto, o questionário permitia que os próprios sujeitos definissem sua identidade sexual, conferindo uma liberdade de assumirem a forma de como gostariam de serem reconhecidos. Estudos apontam que, de acordo com a cultura local e pessoal, determinadas terminologias conferem sentido pejorativo devido ao estigma e preconceitos incutidos. Nesse estudo, a maioria dos entrevistados utilizou as terminologias homossexual e gay para definição da sua identidade sexual, apesar de serem considerados sinônimos na literatura13)(14.

A característica socioeconômica da amostra condiz com a realidade dos brasileiros. A religião católica é predominante no país e, apesar da posição do Vaticano desfavorável ao uso da camisinha e das relações homossexuais, sabe-se que no Brasil a Igreja Católica promoveu importantes contribuições na prevenção da epidemia e tratamento aos portadores de HIV/aids. Pesquisa etnográfica realizada em 2006 na região Metropolitana do Recife, Brasil, aponta que sacerdotes brasileiros buscam propor respostas à epidemia com base na comunidade que estão inseridos, aliando as diretrizes da Igreja com suas concepções morais, onde consideram o uso do preservativo como um “mal menor” frente ao “mal maior” da morte. E, no que se refere à visão de sexualidade, os jovens católicos afirmam que os dogmas da Igreja não são mais os únicos princípios para orientar suas condutas15.

No entanto, estudo conduzido pela ABIA com homossexuais do Rio de Janeiro em 2007, identificou que a maioria dos jovens afirmou não pertencer a nenhuma religião e que esse dado poderia estar atrelado à exclusão dos homossexuais em virtude dos dogmas religiosos12. Sabe-se que a religião exerce um forte papel de poder e força moral, onde seus fundamentos normatizam e normalizam a estrutura social, interferindo de maneira decisiva no comportamento de seus seguidores. No que tange a homossexualidade, ainda prevalece à violação de direitos e a restrição da cidadania a população LGBT, perpetuando a homofobia individual, social e institucional que poderia estar refletida na resposta dos participantes dessa pesquisa16.

Na época da coleta de dados do estudo, o Brasil vivia um período de ascensão econômica com um mercado de trabalho aquecido e diminuição da desigualdade de renda, proporcionando o aumento da classe média. Percebe-se que a maioria dos participantes trabalhava e estudava, divergindo de uma realidade em ascensão na população jovem, denominada de geração “nem-nem”, nem estuda e nem trabalha17. No que se refere às variações de renda e escolaridade, inquérito brasileiro, realizado em 2008 com 8000 indivíduos, constatou que quanto maior a renda e o nível escolar maiores são as oportunidades para adoção de práticas sexuais seguras18.

Estudo em São Paulo, Brasil, com 500 frequentadores de espaços de sociabilidade homossexual, identificou que características sociais estavam implicadas na utilização do preservativo. Pessoas negras, de baixa escolaridade e pobres possuíam menor conhecimento sobre prevenção, acesso a realização de exames diagnósticos e ao uso do preservativo19.

A maioria dos entrevistados afirma não estar em um relacionamento estável, podendo ser justificado pelos locais onde a pesquisa foi realizada. Estudo revela que os HSH preferem encontros nesse tipo de boates por já apresentarem seu público especifico e por terem a presença de “dark-rooms”, que são ambientes com pouca ou nenhuma luz, que propiciam práticas sexuais, que podem ser com parceiros fixos ou casuais, muitas vezes, conhecidos naquela mesma noite12. A busca por parceiros sexuais casuais e o uso de drogas, que podem ocorrer nesses espaços, se caracterizam como fatores de risco para o aumento da vulnerabilidade à infecção por HIV. Estudos revelam que os gays e HSH mantêm esses tipos de comportamentos, o que pode implicar no abandono do uso do preservativo, principalmente, quando se trata de fatores como momento ou esquecimento19)(20)(21.

Embora pesquisas22)(23 apresentem divergências sobre a utilização do preservativo entre HSH quando comparados aos heterossexuais, nesta investigação não foi possível realizar tal comparação devido as características da amostra investigada. Contudo, é possível observar que a maioria dos entrevistados utilizou o preservativo na primeira e última relação. Mesmo assim existe uma parcela considerável que não utilizou, expondo-se a uma situação de vulnerabilidade, conforme evidenciado em estudo realizado com jovens gays no Rio de Janeiro, Brasil, no qual identificou que 65,5% dos correspondentes já fizeram penetração no ânus de um homem sem usar preservativo alguma vez em suas vidas12.

Apesar do uso do preservativo no grupo populacional jovem ser maior do que em qualquer outra faixa etária, características socioculturais dos jovens ainda dificultam a decisão pelo uso do preservativo, como a crença na invulnerabilidade; a imprevisibilidade de relações; os discursos moralistas entre profissionais de saúde/educação quando se referem à sexualidade dos jovens; nível de conhecimento sobre o uso do preservativo; dependência emocional e financeira; tempo de relacionamento; uso de álcool e outras drogas; dificuldades de negociação; confiança estabelecida em relacionamentos afetivos; crença na diminuição do prazer; entre outras. Enquanto que, no sexo oral a não utilização do preservativo está vinculada ao gosto ruim (devido ao lubrificante), a diminuição da sensibilidade e a “quebra do clima”9)(12)(24.

O uso do preservativo na primeira relação sexual é uma questão que deve ser trabalhada, considerando que dados nacionais corroboram com este estudo ao indicar que a sexarca é em média aos 15 anos25. A adolescência é um período de grandes transformações e descobertas, acompanhada pela busca da identidade própria e pelo despertar do erotismo. Conduzir apoio e orientação quanto às varias dimensões da sexualidade nesta fase ainda é um desafio, por tratar-se de um campo obscuro, reprimido e renegado a sociedade durante anos. A primeira relação envolve medo, insegurança e desconhecimento, fatores que podem estar vinculados à falta de conhecimento ou experiência para a não utilização do preservativo conforme os resultados da presente pesquisa aponta26.

A enfermagem enquanto ciência que zela pelo corpo e cuidado humano se depara com as múltiplas facetas do cuidar de grupos populacionais, como a dos adolescentes e jovens gays que ainda carecem de reconhecimento na prática assistencial, principalmente nas atividades educativas e de orientação específicas para a sua idade e desenvolvimento, no que tange a sexualidade8. Com a criação, em 2010, da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, fica evidente para o cenário brasileiro a importância do cuidado que atenda as demandas e as especificidades desse grupo, além de convocar os profissionais de saúde, gestores e sociedade civil a trabalharem juntos na perspectiva da visibilidade e acesso dessa população ao cuidado integral27.

Cabe, também, aos profissionais de enfermagem promover um diálogo sobre a homossexualidade na esfera social, como na família e escolas, que em geral, pela estrutura sociocultural vigente, ainda legitimam a heteronormatividade ao estabelecer condições simbólicas de dominação e estigmatização. Pela qual se perpetua uma estrutura social insensível às demandas da população LGBT e prevalece um ciclo vulnerabilidades sustentado pelos sentimentos de exclusão e desprezo social7.

No que tange a outros fatores relatados para o abandono do preservativo, a confiança no parceiro é um dos principais motivos, sendo inclusive abordada em outras investigações. A confiança provoca um sentimento de segurança, que pode advir de um relacionamento estável e sexual perene, como una envoltura emocional en el momento del acto sexual. Este sentimento estabelecido ao parceiro pode ser visto como um método de prevenção as IST/HIV e que propor sua utilização gera desconfiança no casal12.

Estudo, com pessoas que frequentam espaços de sociabilidade homossexual, identificou que após algum tempo de relacionamento 25% dos entrevistados interromperam o uso do preservativo com seus parceiros sexuais, sendo os principais motivos à confiança e a realização do teste de HIV. Esse dado reforça uma concepção de percepção de risco e redução de danos por parte dos entrevistados, ao buscarem estratégias de abdicação do uso da proteção diante da crença na fidelidade e de infecção por doenças sexualmente transmissíveis19.

Quanto ao abandono do preservativo, em virtude do momento da relação sexual, alguns estudos apresentam dados que corroboram com esta situação. Acredita-se que a necessidade de prazer inerente do ser humano e o impulso provocado pelo desejo momentâneo podem estar atrelados à prática sexual desprotegida20)(24)(28. O desejo impulsivo, muitas vezes conta com o incentivo de amigos ou de situações específicas como festas e encontros, algumas vezes estimulados pelo uso de bebidas alcoólicas e drogas, esse conjunto de fatores propicia uma situação de vulnerabilidade à infecção29.

Há também os fatores relacionados ao cenário da relação sexual, que também podem estar implicados no abandono do uso preservativo pela situação do momento. Estudo identificou que em cenários de imprevisibilidade sexual e/ou que apresentavam estrutura dificultante proporcionava um risco maior de abandono do uso do preservativo, como no darkroom, na rua, na praça, no parque ou no banheiro público19.

O abandono no uso do preservativo nas relações sexuais também pode ser uma escolha consciente e desejada, conforme alguns participantes mencionaram, mesmo sabendo dos riscos envolvidos de IST. Estudos sobre práticas sexuais barebacking (sexo anal desprotegido entre homens que fazem sexo com homens de forma intencional) evidenciam que seus praticantes fazem referencia aos prazeres obtidos no sexo desprotegido devido a maior estimulação física, intimidade e ao sentimento de estar emocionalmente mais próximo ou conectado ao parceiro. Sendo a internet apontada como uma grande facilitadora para o encontro de pessoas que preferem práticas barebacking30)(31. Outro estudo evidenciou que a perda do prazer associada ao uso do preservativo foi considerada um fator fundamental para seu abandono28.

O uso do preservativo nas relações é um desafio para a prática sexual, pois perpassa o comportamento individual e atinge o coletivo e toda a gama de contextos histórico-culturais em que o casal ou indivíduos estão envolvidos. Nessa investigação foi possível observar que os parceiros agiram de forma positiva ao incentivar o uso do preservativo e não foram relatadas situações de abandono do uso do preservativo por imposição. Contudo, a influência do parceiro no uso ou não do preservativo já vem sendo discutido em outros estudos podendo ser um desejo incisivo ou velado, permeado por relações afetivas e de poder.

As relações de poder entre parceiros sexuais foram evidenciados em relacionamentos de HSH. As características da faixa etária, socioeconômica, preferência sexual e gênero constituem fatores de vulnerabilidade nas relações entre HSH. As dependências, desigualdades, opressões e hierarquias submetidas, nesses contextos, expõem a situações vulneráveis os que se encontram em circunstâncias “inferiores”7)(12. Os HSH possuem dificuldade em negociar o preservativo com parceiros fixos, principalmente quando se assume o papel sexual passivo, ou quando são mais pobres, feminilizados, mais velhos e ou negros19.

Em pesquisa, realizada no México, sobre fatores associados ao uso inconsistente do preservativo com HSH, foi possível constatar que as relações de poder e o uso de substâncias psicoativas são obstáculos para o emprego do preservativo. Foi evidenciado através da análise de regressão logística multivariada que os indivíduos mais jovens, com renda média e atitudes negativas quanto ao uso do preservativo, que consumiam álcool e drogas, e declaravam-se publicamente como homossexuais foram os mais propensos ao abandono32. Cabe salientar que apesar de estudos retratarem a associação de substâncias psicoativas com o não uso do preservativo, nessa investigação os jovens não verbalizaram essa situação, o que nos impede de verificar essa associação entre os jovens investigados.

CONCLUSÃO

Os achados indicam que o uso do preservativo é comum nas relações sexuais do público pesquisado, com exceção do sexo oral. Na primeira relação sexual, o principal fator apontado para o abandono do uso do preservativo é a falta de experiência/conhecimento e, na última relação sexual, a confiança no parceiro.

Esse estudo condiz com outras investigações ao identificar que os jovens HSH abandonam o uso do preservativo por diversos fatores individuais, sociais e programáticos. No entanto, algumas limitações dessa pesquisa devem ser sinalizadas, como: 1) O instrumento eleito para a coleta de dados não favoreceu a captação de aspectos subjetivos sobre os fatores associados ao uso do preservativo nas relações sexuais. 2) O cenário do estudo, por se tratar de um ambiente dinâmico, dificultava a utilização de um instrumento objetivo que favorecesse a participação dos sujeitos e não prejudicasse o fluxo de entrada nas casas noturnas.

Conclui-se que são necessárias estratégias para incentivar o uso do preservativo e comparecimento às unidades de saúde para realização de exames para o diagnóstico precoce de IST/HIV ou profilaxia pós-exposição, sendo consideradas importantes ferramentas para minimizar a propagação de novas infecções. No entanto, as ações voltadas para a população homossexual ainda são tímidas, corroborando com a vulnerabilidade deste grupo.

A assistência de enfermagem no cuidado integral a população de adolescentes e jovens deve estar pautada nos novos arranjos sociais e nas especificidades de indivíduos e grupos. Cabe a enfermagem enquanto profissão atuar no planejamento, execução e avaliação de planos assistenciais e educativos de saúde que promova a prevenção das IST/HIV/aids, com ênfase nos grupos mais vulneráveis. Sendo assim, é necessária intensificar ações de prevenção com distribuição de preservativos, alocação de banners e materiais informativos, minimamente, nos espaços de socialização deste grupo populacional; utilização da internet e aplicativos telefônicos como recursos tecnológicos para a promoção da saúde; efetivação de políticas de saúde nas escolas; acessibilidade e humanização dos serviços no que tange aos jovens gays, homossexuais e HSH; proporcionar visibilidade a população LGBT no cenário social, nas políticas e instituições de saúde.

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Recebido: 04 de Dezembro de 2015; Aceito: 14 de Maio de 2016

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