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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 n.51 Murcia Jul. 2018  Epub July 01, 2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.3.302351 

Originais

Problemas de saúde entre profissionais de enfermagem e fatores relacionados

Maiara Bordignon1  , Maria Inês Monteiro2 

1 Enfermera. Alumna de Doctorado en el Programa de Posgraduación en Enfermería de la Universidad Estadual de Campinas. Campinas. São Paulo. Brasil. bordignonmaiara@gmail.com

2 Doctora en Enfermería. Docente en el Programa de Posgraduación en Enfermería de la Universidad Estadual de Campinas. Coordinadora del Grupo de Estudios e Investigaciones en Salud y Trabajo. Campinas. São Paulo. Brasil.

RESUMO:

Objetivo:

conhecer os problemas de saúde que acometem profissionais de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar pública e fatores relacionados.

Método:

estudo transversal com 86 profissionais de enfermagem de uma unidade de emergência hospitalar do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Os dados coletados a partir de questionários foram analisados utilizando a estatística descritiva e inferencial.

Resultados:

61,2% dos profissionais reportaram ao menos uma lesão ou doença com diagnóstico médico, e 59,6% dos profissionais possuíam dois ou mais problemas de sáude, sendo 2,8 a média de lesões ou doenças (IC95% 2,1-3,5). Os grupos ‘lesões por acidente’ e ‘doenças do sistema musculoesquelético’ foram predominantes, no entanto, as lesões nas costas, gastrite ou irritação duodenal e hipertensão arterial foram as doenças com maior número de relatos. Os auxiliares ou técnicos de enfermagem apresentaram, em média, maior número de lesões ou doenças que os enfermeiros, assim como os profissionais com outro emprego, cansados e/ou desanimados após o trabalho e que sofreram violência ocupacional. Diferenças estatisticamente significantes foram observadas entre os grupos com ou sem lesão ou doença em relação às medianas da idade do trabalhador (p=0,0075) e idade de início em uma atividade laboral (p=0,0188). Foi identificada relação com significância estatística entre ter lesão ou doença e uso de medicamento (p=0,0304).

Conclusão:

é importante que a instituição propicie ao trabalhador condições de trabalho e organizacionais que possibilitem a manutenção da sua saúde, potencial e habilidades pelo maior tempo possível.

Palavras chave: Doenças; enfermagem; equipe de enfermagem; serviço hospitalar de emergência; pronto-socorro

INTRODUÇÃO

Os profissionais de enfermagem constituem geralmente a maior parte da força de trabalho na área da saúde, sendo essenciais aos centros de saúde, clínicas, hospitais e outras companhias1)(2. Apesar desta participação relevante na composição do quadro de pessoal da saúde, o estado de saúde destes profissionais necessita ser explorado1. Este contexto assume cada vez mais importância diante da escassez global de enfermeiros e do envelhecimento desta força de trabalho1.

A literatura destaca que os profissionais da área de enfermagem enfrentam vários estressores, muitos dos quais já considerados inerentes à profissão, como a longa jornada de trabalho, atuação em meio a dor, perda e sofrimento, cuidado de pacientes em condições de saúde opostas a vida e apoio aos familiares3. O atendimento a indivíduos sob estresse extremo e a assistência a situações críticas fazem parte das unidades de emergência, avaliadas como uma configuração de trabalho com alto estresse ocupacional4. Estes estressores em conjunto com o modo como as atividades são desenvolvidas no cotidiano do trabalho, aspectos individuais e recursos de apoio intra ou extrainstitucionais disponíveis expressam a vulnerabilidade dos profissionais de enfermagem para o desenvolvimento de determinados problemas de saúde.

A presença de alguns problemas de saúde pode levar a lapsos de atenção que aumentam o risco de erros de medicação e podem implicar no reconhecimento de características que ameaçam a vida e outros aspectos relacionados à segurança do paciente3. Os profissionais de enfermagem trabalham com situações difíceis para as quais muitas vezes necessitam tomar decisões precisas e que afetam a vida de pessoas3. Sem dúvida, a habilidade dos profissionais de enfermagem em responder de modo adequado e oportuno as demandas que advém do cotidiano da assistência em saúde também está relacionada às condições de saúde destes profissionais.

Neste contexto, destaca-se a relação entre os problemas de saúde e presenteísmo (diminuição da produtividade por problemas de saúde)5. O presenteísmo está relacionado à segurança do paciente; com maior queda de pacientes e erros de medicação que geram custos estimados em aproximadamente dois bilhões por ano aos Estados Unidos5. Além disso, a literatura identifica o absenteísmo (ausências ao trabalho) como um problema global6)(7 e reconhece que o absenteísmo por doença promove a sobrecarga de trabalho, afeta o funcionamento do local de trabalho, a equipe e os usuários, comprometendo a qualidade e segurança da assistência de enfermagem e a eficiência dos serviços6)(8)(9.

Neste momento em que é necessário explorar todas as possibilidades para melhorar a qualidade e diminuir custos relacionados aos cuidados5 a saúde dos profissionais de enfermagem deve receber cuidado adequado. A saúde desta força de trabalho deve receber maior atenção para influenciar de modo positivo o cuidado ao paciente e controlar custos5.

Considerando que os profissionais de enfermagem participam do processo de cuidado ao paciente, família e comunidade, contribuindo para a existência da rede de atenção à saúde no país, e que problemas de saúde nesta categoria podem gerar grandes consequências, o objetivo deste estudo foi conhecer os problemas de saúde que acometem profissionais de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar pública e fatores relacionados.

MÉTODO

Estudo transversal realizado com 86 profissionais de enfermagem que trabalhavam em uma unidade de emergência hospitalar pública localizada no interior do Estado de São Paulo, Brasil. Os profissionais de enfermagem que compuseram a amostra eram enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem com atuação por tempo igual ou superior a três meses na unidade de emergência, de qualquer turno de trabalho, idade ou sexo. Os profissionais que não atenderam a estes critérios e que estavam em afastamento do trabalho não foram incluídos no estudo.

Os dados foram coletados no segundo semestre de 2016 a partir de um conjunto de instrumentos. O Questionário sobre Dados Sociodemográficos, Estilo de Vida, Aspectos de Saúde e Trabalho10, com uso anterior em estudos da área da saúde11)(12, foi utilizado para reunir dados relacionados à função, sexo do trabalhador, turno de trabalho, idade, tempo de trabalho na unidade e na instituição, idade de início em uma atividade laboral, hábito do fumo, uso de medicamento, cansaço e/ou desânimo após o trabalho, ter outro emprego, fazer hora extra, dormir bem após o trabalho e nível de estresse. Este nível foi avaliado a partir de uma escala com os extremos zero (estou totalmente estressado) e dez (não estou estressado).

O Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), questionário finlandês validado para uso no Brasil13)(14, permitiu acessar as doenças atuais com diagnóstico médico autorrelatadas pelos profissionais. No presente estudo, o Alpha de Cronbach para este instrumento foi de 0,7 indicando boa consistência interna15.

Um questionário submetido à avaliação de especialistas foi utilizado para acessar informações sobre experiências dos profissionais de enfermagem em serem vítimas de abuso verbal, assédio sexual e/ou violência física no ambiente de trabalho nos 12 meses que antecederam o estudo16.

Os dados foram analisados com uso do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)®, versão 20.0. Estatística descritiva foi aplicada às variáveis numéricas (média, desvio-padrão, mediana, mínimo e máximo) e às variáveis categóricas (proporção). Testes estatísticos foram utilizados para avaliar a associação entre variáveis (teste qui-quadrado (χ2)) ou comparação entre grupos (teste de Mann-Whitney), sendo o nível de significância adotado de p-valor<0,05. O teste de Mann-Whitney foi utilizado considerando a inexistência de evidências sobre as variáveis numéricas apresentarem distribuição normal.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e respeitou os critérios éticos previstos pela Resolução nº 466/2012.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 86 profissionais de enfermagem (23 enfermeiros e 63 técnicos ou auxiliares de enfermagem), sendo 68 (79,1%) do sexo feminino. A maioria dos profissionais trabalhava no turno noturno (31-38,8%), seguido pela tarde (24-30,0%), manhã (23-28,7%) e comercial (2-2,5%). Seis participantes não forneceram informação sobre o turno de trabalho.

Cinquenta e dois profissionais (61,2%) reportaram possuir alguma lesão ou doença diagnosticada pelo médico, dos quais 14 (26,9%) eram enfermeiros e 38 (73,1%) técnicos ou auxiliares de enfermagem. Os profissionais com alguma lesão ou doença relataram em maior proporção o hábito do fumo (15,4% versus 9,1%), uso de medicamento (44,2% versus 21,2%), ter outro emprego (36,0% versus 27,3%) e fazer hora extra (23,1% versus 18,2%), e em menor proporção dormir bem após o trabalho (73,1% versus 87,9%), quando comparado com o grupo de profissionais que não possuíam lesão ou doença. Significância estatística foi observada a partir do teste qui-quadrado entre a variável ‘ter ou não lesão ou doença com diagnóstico médico’ e ‘uso de medicamento’ (p=0,0304). Trinta e três profissionais (38,8%) afirmaram não possuir lesão ou doença com diagnóstico médico e um profissional não forneceu informação para este item (n=85).

Os profissionais com lesão ou doença diagnosticada pelo médico possuíam maior idade, mais tempo de trabalho na unidade e na instituição, maior nível de estresse e menor idade de início em uma atividade laboral quando analisadas as médias deste grupo em comparação aos trabalhadores sem lesão ou doença. Foi identificada diferença estatisticamente significante entre os grupos (com ou sem lesão/doença) em relação às medianas de idade e idade de início em uma atividade laboral (Tabela 1).

Tabela 1 Idade, estresse, tempo de trabalho na unidade e na instituição, e idade de início em uma atividade laboral entre os profissionais de enfermagem com ou sem lesão ou doença. Estado de São Paulo, Brasil, 2016. (n=85). 

Entre os profissionais que autorrelataram ao menos uma lesão ou doença com diagnóstico médico, a média para o número destas lesões ou doenças foi de 2,8 (DP 2,6; IC95% 2,1-3,5), variando de 1,0 a 11,0. Embora sem diferenças estatisticamente significantes, as médias relacionadas ao número de lesões ou doenças com diagnóstico médico foram consideravelmente maiores entre os auxiliares ou técnicos de enfermagem, profissionais que tinham outro emprego e que relataram sentir cansaço ou desânimo após o trabalho quando comparadas ao grupo correspondente (Tabela 2). É importante destacar que, 59,6% (31/52) declararam possuir mais que uma lesão ou doença.

Os profissionais de enfermagem que foram vítimas de violência no trabalho - abuso verbal, assédio sexual e/ou violência física - nos 12 meses anteriores ao estudo apresentaram média e mediana maiores no número de lesões ou doenças em relação aos que não sofreram, e configurou análise com diferença estatisticamente significante. A significância estatística não se manteve quando realizadas análises específicas por violência sofrida (violência física; abuso verbal; assédio sexual), no entanto, as vítimas apresentaram média e mediana maiores no que se refere ao número de lesões ou doenças com diagnóstico médico (Tabela 2).

Tabela 2 Número de lesões ou doenças com diagnóstico médico segundo função, sexo, ter outro emprego, sentir cansaço ou desânimo após o trabalho e ser vítima de violência no trabalho. Estado de São Paulo, Brasil, 2016. (n=52). 

A análise por grupo de lesões ou doenças considerando o número de relatos indicou que as lesões por acidente e as doenças do sistema musculoesquelético foram as predominantes. Os grupos de lesões ou doenças autorreferidas pelos profissionais de enfermagem são especificados na tabela 3 juntamente com características relacionadas à idade, tempo de trabalho na unidade e função.

Tabela 3 Grupos de lesões ou doenças com diagnóstico médico autorrelatadas pelos profissionais de enfermagem, idade, tempo de trabalho na unidade e função para cada grupo. Estado de São Paulo, Brasil, 2016. (n=85). 

A análise específica por lesão ou doença demonstrou que as lesões nas costas (13-9,0% dos relatos | 15,3% dos trabalhadores), gastrite ou irritação duodenal (10-6,9% | 11,8%) e hipertensão arterial (10-6,9% | 11,8%) foram os problemas de saúde com maior número de relatos. Em seguida, a alergia e/ou eczema (9-6,3% | 10,6%), lesão nos braços e/ou mãos (7-4,9% | 8,2%), distúrbio emocional leve (7-4,9% | 8,2%), dor nas costas que se irradia à perna (6-4,2% | 7,1%), doença na parte inferior das costas com dores frequentes (5-3,5% | 5,9%), doença musculoesquelética que afeta membros e com dores frequentes (5-3,5% | 5,9%), infecção das vias urinárias (5-3,5% | 5,9%), sinusite crônica (5-3,5% | 5,9%), doença neurológica (5-3,5% | 5,9%), infecções repetidas do sistema respiratório (5-3,5% | 5,9%), obesidade (5-3,5% | 5,9%) e anemia (4-2,8% | 4,7%). Em menor frequência, com três relatos cada (3-2,1% | 3,5%) estiveram a lesão nas pernas e/ou pés, doença na parte superior das costas ou região do pescoço com dores frequentes, outra doença musculoesquelética, doença nos genitais e aparelho reprodutor, asma, diabetes e outra doença endócrina e/ou metabólica. O distúrbio emocional severo, outra doença da pele, pedras ou doença da vesícula biliar, outra doença digestiva, doença dos rins, doença coronariana e/ou angina pectoris, outra doença respiratória e bócio ou outra doença da tireoide apresentaram dois (1,4% | 2,4%) relatos cada. Um (0,7% | 1,2%) relato cada foi identificado na colite ou irritação do cólon, outra doença cardiovascular, bronquite crônica, problema ou diminuição da audição, doença ou lesão da visão e tumor benigno.

DISCUSSÃO

No presente estudo a maioria dos profissionais reportou possuir ao menos uma lesão ou doença com diagnóstico médico, e entre estes mais da metade declarou possuir dois ou mais problemas de saúde. Em estudo realizado na Austrália, autores analisaram as condições de longo prazo entre enfermeiros e parteiras e identificaram número significativo de profissionais que apresentava pelo menos uma condição, e muitos relataram múltiplas condições1 de forma similar a este estudo. Além disso, em estudo brasileiro que analisou o absenteísmo-doença em profissionais de enfermagem, o pronto-socorro esteve entre os ambientes que apresentaram maior frequência de atestados médicos8.

As condições musculoesqueléticas entre profissionais de enfermagem é questão recorrente nos estudos, incluindo as dores nas costas1)(4)(8. O presente estudo confirmou a predominância das lesões por acidente e doenças do sistema musculoesquelético em profissionais de enfermagem de uma unidade de emergência, revelando a lesão nas costas como condição mais frequente. Há resultados indicando que a equipe de enfermagem da emergência enfrenta demandas físicas e pressão de tempo maiores do que enfermeiros gerais hospitalares17 o que pode contribuir para estes valores. Estes resultados preocupam já que os distúrbios musculoesqueléticos na equipe de enfermagem de hospitais estão entre as principais causas de incapacidade destes profissionais18.

No entanto, é importante destacar a frequência considerável observada para os grupos de doenças do sistema respiratório, digestório, cardiovascular, endócrino e/ou metabólico, seguidas por outras condições que foram identificadas em menor número no presente estudo. A gastrite ou irritação duodenal e hipertensão arterial compuseram a segunda e a terceira condição mais frequente, respectivamente. Estes resultados podem refletir um conjunto de fatores entre os quais o estresse ocupacional, que no presente estudo se revelou maior entre os profissionais com lesão ou doença a partir da análise das médias.

Os enfermeiros estão vulneráveis à essas consequências considerando a exposição contínua a estressores do trabalho, especialmente os enfermeiros do contexto da emergência que estão expostos a situações estressantes, agitadas, dificilmente previsíveis e em constante mudança que contribuem para elevado estresse ocupacional nesta área de atuação e tornam esta especialidade diferente das demais4)(17. O estresse na profissão de enfermagem tem sido cada vez mais considerado um fator de risco para resultados adversos à saúde7. Os resultados relacionados ao estresse e saúde têm como importantes preditores as características relacionadas ao trabalho e o ambiente em que os enfermeiros desenvolvem suas atividades laborais17.

Os dados do presente estudo indicaram que os profissionais com lesão ou doença apresentaram maior média quanto ao tempo de trabalho na unidade e na instituição hospitalar.

Pesquisa que avaliou os problemas de saúde ocupacional entre enfermeiros que trabalhavam em emergência na Turquia identificou que os enfermeiros com atuação de um a três anos nas unidades experimentaram (com significância estatística) mais problemas relacionados à hérnia discal4. Os autores concluem que os enfermeiros de unidades de emergência experimentaram problemas de saúde que possuíam relação com os fatores e riscos ocupacionais que estes profissionais enfrentaram4.

Esta perspectiva pode também contribuir com os resultados do presente estudo que indicaram maior proporção de profissionais que fazem hora extra entre os com problemas de saúde e maior média no número de lesões ou doenças entre os profissionais com outro emprego e que iniciaram em uma atividade laboral mais cedo.

A exposição por tempo maior a determinados aspectos ocupacionais e/ou a exposição cumulativa que inclui desde as condições de inserção no primeiro emprego e a idade em que houve esta inserção em termos de estrutura física e mental podem estar relacionados com o desenvolvimento de problemas de saúde ao longo do tempo. Neste sentido, a literatura menciona que a prevenção do esgotamento dos recursos pode é importante e “pode ser prevenido evitando a exposição contínua às demandas e permitindo tempo suficiente para recuperação física e emocional após confronto com eventos estressantes”17):1326. O alcance destes aspectos é mais difícil quando o profissional acumula dois ou mais empregos.

Quando analisado o número de lesões ou doenças foi identificado no estudo atual que os técnicos ou auxiliares de enfermagem possuíam número médio maior de problemas de saúde do que os enfermeiros, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significante. Esta categoria foi também a que mais apresentou atestados médicos em estudo que avaliou o absenteísmo-doença entre os profissionais de enfermagem8. Além disso, os profissionais que se sentiam cansados e/ou desanimados após o trabalho apresentaram, em média, maior número de lesões ou doenças, indicando possíveis implicações dos problemas de saúde nas dimensões externas ao ambiente de trabalho e no ânimo destes profissionais.

Prevalências de violência no trabalho em direção aos profissionais de enfermagem de ambientes de emergência também são frequentemente registradas na literatura4)(19)(20, assim como o impacto destes eventos à saúde dos trabalhadores que foram vítimas21. O estudo atual fortalece a relação entre violência no trabalho e aspectos de saúde do trabalhador ao identificar que as vítimas apresentavam número médio maior de problemas de saúde do que as não vítimas.

Estes resultados representam indicadores de fragilidades relacionados ao ‘mundo do trabalho’ que podem auxiliar no estabelecimento de ações preocupadas em prevenir ou reduzir agravos relacionados com o absenteísmo8 e presenteísmo, bem como, contribuir para novas estratégias diante dos desafios inerentes ao processo de trabalho8.

As unidades de emergência precisam passar por rastreamento regular em termos de características do trabalho para identificar fatores que determinam resultados relacionados ao estresse e saúde para os quais as ações preventivas podem ser direcionadas17. No entanto, pesquisas adicionais amplas e contínuas com profissionais de enfermagem e saúde são necessárias para o desenvolvimento de propostas políticas e de intervenções com maior abrangência. Nestas pesquisas, é importante considerar a diversidade de condições de saúde para que os problemas de saúde e seus fatores associados sejam identificados de uma forma geral e não restrita a alguns.

Com relação às limitações, este estudo apresentou dados sobre problemas de saúde autorrelatados pelos profissionais de enfermagem circunscritos a uma instituição hospitalar de um município do interior do Estado de São Paulo. Por isso, pode possuir características muito particulares que não se estendem a outras instituições e regiões do país, embora os dados muitas vezes concordem com o que está disponível na literatura científica e que retrata realidades nacionais e internacionais. Além disso, a existência de grupos de comparação com número pequeno de profissionais requer precaução na interpretação dos dados e estudos posteriores para fortalecer a evidência. O fato de ser um estudo transversal é um empecilho para estabelecer relações de causa e efeito, no entanto, foi possível identificar fatores que estão relacionados ao objeto de estudo que neste caso foram os problemas de saúde.

CONCLUSÃO

O estudo revela a importância e necessidade de implementação no ambiente de trabalho de ações para diminuir o número de lesões ou doenças entre os profissionais de enfermagem, considerando que a identificação de determinadas lesões ou doenças entre estes profissionais, como as doenças musculoesqueléticas, não é recente e tem permanecido. O fato de a maioria dos profissionais relatar duas ou mais lesões ou doenças no estudo atual apoia a necessidade de intervenção, que se fortalece quando identificado que os profissionais com lesão ou doença de modo geral possuíam média maior no tempo de trabalho na unidade e na instituição, e que as vítimas de violência no trabalho apresentaram maior número de lesões e doenças em média. Além disso, é necessário considerar e agir, quando possível, sobre os motivos que fazem os profissionais assumirem dois ou mais empregos, pois pode talvez refletir em problemas de saúde. É importante que a instituição propicie ao trabalhador condições de trabalho que possibilite a manutenção da sua saúde, potencial e habilidades pelo maior tempo possível, o que promove tanto sua qualidade de vida a curto e longo prazo, quanto a qualidade do cuidado prestado.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos pelo atual apoio: processo nº 2016/06128-7, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Agradecemos, também, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (processo: 162825/2014-5) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (processo: 01-P-3481/2014) pelo apoio anterior por meio de bolsa concedida a Maiara Bordignon.

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Recebido: 16 de Agosto de 2017; Aceito: 13 de Outubro de 2017

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