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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 no.52 Murcia oct. 2018  Epub 01-Oct-2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.4.301021 

Originais

Acidentes de trânsito e sua associação com o consumo de bebidas alcoólicas

Danuza de Oliveira Silva1  , Maysa Arlany Oliveira1  , Flávia Emília Cavalcante Valença Fernandes1  , Rachel Mola1 

1Universidad de Pernambuco Campus Petrolina-PE, Brasil. danuza_oliveira@hotmail.com

RESUMO:

Introdução:

Os acidentes de trânsito constituem-se como grave problema de saúde pública no Brasil, e seus principais fatores de risco são: consumo de álcool, condução sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e uso de drogas ilícitas ou medicamentos.

Objetivo:

Avaliar os acidentes de trânsito em nível pré-hospitalar e fatores associados ao consumo de bebidas alcoólicas.

Materiais e Métodos:

Estudo descritivo, analítico de natureza quantitativa, com dados secundários, coletados a partir das fichas de atendimento pré-hospitalar. Analisaram-se os registros 1.264 de acidentes de trânsito. Utilizou-se a Regressão logística binária com resultado expresso pelo odds ratio. O estudo assumiu o nível de confiança de 95% e significância de 5%. Os intervalos e confiança para proporção assumiram a distribuição binomial. Utilizou-se o programa Stata 12.0.

Resultados:

Observou-se que os acidentes de trânsito tiveram maior incidência em indivíduos do sexo masculino, que possuíam em média 31,2 anos de idade, sendo a maioria condutora dos veículos envolvidos, com maior ocorrência na zona urbana, em período noturno e nos finais de semana. As chances de envolvimento em acidentes elevaram-se quando a vítima estava sob efeito do álcool no momento da ocorrência.

Considerações Finais:

Os resultados citados podem subsidiar novas discussões e orientar ações e condutas sobre o atendimento pré-hospitalar, afim de implementar boas práticas no trânsito, execução de políticas públicas e conscientização da população, visando reduzir as consequências resultantes dos acidentes.

Palavras chave: Acidentes de Trânsito; Fatores de risco; Bebedeira

INTRODUÇÃO

Os acidentes de trânsito são responsáveis por cerca de 1,24 milhões de mortes todos os anos nas estradas, sendo responsáveis pela oitava maior causa de morte em nível mundial. No entanto, a ausência de leis referentes aos fatores de risco como velocidade, condução, capacetes, cintos de segurança, e sistema de retenção para crianças é uma realidade onde apenas 7% da população mundial possui uma legislação específica, correspondendo a 28 países 1 .

No Brasil, aproximadamente 44.098 mil pessoas morreram por acidentes de trânsito em 2014 2), com custos indiretos estimados em R$ 40,0 bilhões por ano nas rodovias e R$ 10 bilhões nas áreas urbanas, gerando queda na renda familiar seguida de aumento dos custos hospitalares 3).

Ainda em 2014 a região Nordeste Brasileira apresentou o segundo maior índice de mortalidade por acidente de trânsito 4), e o estado de Pernambuco, o 14º colocado em taxa de mortalidade neste quesito em 2010 5 . Em Petrolina, interior do estado, em 2013 o número de óbitos por acidente de trânsito foi de 105 mortes classificando-se em primeiro lugar dentro da categoria causas externas de morbidade e mortalidade 6 . Além disso, no período de março de 2015 a março de 2016 foram notificadas 625 internações hospitalares por acidentes de transportes 7 .

Frente a relevância social e impactos sobre a morbimortalidade, foi criada a Política Nacional de Atenção às Urgências instituindo o componente pré-hospitalar móvel por meio da implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) 8 . Sua função é prestar atendimento bem como transporte da vítima a um serviço de saúde especializado e vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) 9 .

A equipe de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) deve ser formada por profissionais especializados e ágeis dada a criticidade do intervalo entre a ocorrência da lesão, transporte e tratamento, sendo determinante no prognóstico das vítimas. Além disso, parte dessas vítimas morre no trajeto entre o local do evento e o hospital, ou nas primeiras horas do acidente 9 .

Como auxílio na atenção às urgências, conta-se também com o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE), que realiza atividades específicas de bombeiro militar e atua como serviço de APH quando acionado ou necessário 10 .

Dentre os principais fatores para a ocorrência de acidentes de trânsito estão: consumo de álcool, condução sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH), uso de drogas ilícitas ou medicamentos. Além disso a maioria das publicações destacam o álcool, como sendo o maior determinante para ocorrência de acidentes de trânsito 11 . Tal substância define-se como uma droga psicoativa atuando na depressão do Sistema Nervoso Central (SNC), resultando na redução da atenção e modificação de percepções e comportamentos 12 .

Dada a importância da área de urgência e emergência no contexto de redução de morbimortalidade, muitos estudos discutem sobre a ocorrência de óbitos por acidentes de trânsito. No entanto, são poucas as pesquisas que incluam vítimas não fatais, sendo ressaltada por alguns autores a importância da necessidade de se realizar abordagem científica nesse sentido 13 .

Diante do exposto e visando a melhoria do processo de conhecimento e implementação de práticas, este estudo teve como objetivo avaliar os acidentes de trânsito em nível pré-hospitalar e fatores associados ao consumo de bebidas alcoólicas.

MATERIAL E MÉTODO

Estudo descritivo, analítico de natureza quantitativa e documental. As informações obtidas foram provenientes das fichas de atendimento pré-hospitalares do SAMU e CBMPE do município de Petrolina, Pernambuco. O município possui população estimada de 326.017 habitantes e área territorial de 4.561.872 Km2(14 e integra a VIII Região de Saúde do estado segundo o Plano Diretor de Regionalização 15 . Este estudo integra a pesquisa intitulada “Trajetória das Vítimas de Acidente de Trânsito”.

A coleta dos dados ocorreu no período de outubro de 2016 a janeiro de 2017 nas bases de funcionamento do SAMU e CBMPE; foram analisadas 1.264 fichas de atendimento de acidentes ocorridos no período de junho a dezembro de 2015. As variáveis de interesse foram: 1) sociodemográficas (sexo e idade); 2) características clínicas e comportamentais: Escala de Coma de Glasgow (ECG), ingestão de bebida alcoólica, uso de dispositivos de segurança (capacete ou cinto) e condição da vítima (condutor ou passageiro) e 3) relacionadas ao evento: tempo entre o chamado e o APH e entre o APH e entrada no hospital; unidade-móvel solicitada para atendimento (SAMU ou CBMPE); local de ocorrência (zona urbana ou rural); tipo de veículo terrestre (bicicleta, motocicleta, carro, outros) utilizado pela vítima e/ou pela outra parte envolvida (pedestre, bicicleta, motocicleta, carro, outros); ocorrência do acidente em fim de semana (sexta, sábado e domingo / sim ou não) e turno da ocorrência (diurno e noturno / manhã, tarde, noite ou madrugada).

As variáveis foram analisadas por meio de distribuição de frequência em seus valores absolutos e relativos, para as variáveis categóricas, com intervalos de confiança de 95% para proporção, assumindo distribuição binomial. Medidas de tendência central e dispersão foram calculadas para as variáveis numéricas.

Para avaliação dos fatores associados com a ocorrência de acidentes de trânsito em vítimas que fizeram uso de bebida alcoólica, foi aplicada a regressão logística binária. O odds ratio (OR) bruto expressou a análise bivariada tendo sido incluídas no modelo multivariado as variáveis cujos valores de p foram menores que 0,20. O OR ajustado foi exibido a partir da análise multivariada, sendo considerado fator associado, as variáveis cujos valores de p foram menores que 0,05. Os dados foram tabulados através do Microsoft Office Excel 2013 e tratados no programa estatístico Stata 12.0.

A pesquisa respeitou os termos estabelecidos pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco - UPE sob Parecer nº 1.680.141.

RESULTADOS

Entre as fichas analisadas, as vítimas possuíam em média idade de 31.2 anos (DP=12.4; IC95%= 30.5-31.9) e média de pontuação do ECG de 14.8 (DP=1.4; IC95%=14.6-14.9). A maioria era do sexo masculino (IC95%=69.4-74.4) e o uso de álcool teve incidência de 11.4% (IC95%=9.6-13.1) entre os envolvidos. Das 558 fichas que traziam informações sobre o uso de dispositivos de segurança, 82,6% faziam uso dos mesmos (IC95%=79.5-85.8); e, das 525 traziam informações sobe a condição da vítima, onde 76.8% era condutora do veículo no momento do acidente (IC95%=79.5-85.8). (Tabela 1 ).

Tabela 1 Características sociodemográficas, clínicas e comportamentais de vítimas de acidentes de trânsito atendidas em nível pré-hospitalar. Petrolina, 2015. 

*Intervalo de confiança de 95% para a média

**Intervalo de confiança de 95% para a proporção assumindo a distribuição binomial.

O tempo de espera entre a solicitação do APH e sua chegada no local de ocorrência foi de 16.2 minutos (DP=15.2; IC95%= 15.3-17.1), e entre o atendimento pré-hospitalar e a admissão no hospital totalizou 43,1 minutos (DP=28.1; IC95%=41.4-44.7). A maioria das solicitações foi direcionada ao SAMU, sendo a zona urbana de maior ocorrência dos eventos (76.1%). A motocicleta foi o principal veículo utilizado pelas vítimas (83.6%), sendo a outra parte envolvida o carro (49.0%). O período de maior ocorrência foi nos finais de semana (52.3%), e no período noturno (35.9%) (Tabela 2 ).

Tabela 2 Características de atendimento, temporais e espaciais de vítimas de acidentes de trânsito atendidas em nível pré-hospitalar. Petrolina, 2015. 

*Intervalo de confiança de 95% para a média

**Intervalo de confiança de 95% para a proporção assumindo a distribuição binomial.

Na análise multivariada os fatores que mantiveram associação com a ocorrência de acidente de trânsito e uso de bebida alcoólica foram sexo, idade, período da semana, turno e zona de ocorrência.

Os homens apresentaram duas vezes mais chance de sofrer acidente tendo consumido bebida alcoólica (OR ajustado=2.45; p-valor= 0.001; IC95%= 1.46-4.11); para a idade, a cada ano aumentou em uma vez a possibilidade de envolvimento em acidente com a ingestão de álcool (OR ajustado=1.02; p-valor= 0.001; IC95%= 1.01-1.03); para o período da semana, as chances de ocorrência foram duas vezes maior nos fins de semana (OR ajustado=2.53; p-valor= 0.000; IC95%=1.67-3.83); para o turno, o período noturno aumentou em duas vezes a probabilidade (OR ajustado=2.08; p-valor= 0.000; IC95%=1.42-3.06); e para a zona do evento, a urbana apresentou menor chance de ocorrência de acidentes de trânsito com ingestão de bebida alcoólica (OR ajustado=0.65; p-valor= 0.044; IC95%=0.43-0.99).

Tabela 3 Análise bivariada e multivariada da associação dos acidentes de trânsito em vítimas que ingeriram bebida alcoólica. Petrolina, 2015. 

OR - Oddsratio.

DISCUSSÃO

Os acidentes de trânsito são apontados como eventos multíplices e apresentam três causas primárias para sua ocorrência: as ligadas às falhas humanas, sendo a ingestão de bebida alcoólica mais prevalente, defeitos do próprio veículo e fatores ambientais. Os mesmos correspondem a uma elevada incidência de morbimortalidade, podendo gerar em suas vítimas danos irreversíveis, além dos altos custos à economia e aos serviços de saúde 16)(17)(18)(12 .

Geralmente, tais ocorrências envolvem indivíduos com faixa etária entre 18 a 29 anos, havendo relação diretamente proporcional do aumento da idade com a diminuição das chances de ocorrência de acidentes 12)(19)(20 .

Esta pesquisa foi representada em sua maioria por adultos jovens, corroborando com resultados de outros estudos 17)(18 , incluindo uma pesquisa regional onde a idade entre 20 a 39 anos foi prevalente entre os envolvidos 5 .

O sexo masculino foi prevalente entre as vítimas registradas, dado comumente observado na literatura atual 12)(16)(17)(20 . Os homens estão sujeitos a maiores riscos provavelmente por questões socioculturais relacionadas ao gênero como velocidade excessiva, manobras arriscadas, e consumo de bebida alcoólica16)(17)(19 .

Com relação à gravidade das ocorrências envolvendo o sistema neurológico, predominaram as vítimas classificadas como trauma leve, semelhante a outras pesquisas 16)(19 . O uso de capacete ou cinto de segurança pode ter contribuído para a menor gravidade neurológica da amostra analisada. Por meio do registro de uma avaliação eficiente pelo profissional, através da ECG, com escore que varia de 3 a 15 pontos, é possível identificar o padrão neurológico e estimar o seu prognóstico 16)(21 .

Um dos principais motivos da ocorrência de acidentes de trânsito no Brasil é a ingestão de álcool associada à condução do veículo 12)(16)(18 . Os resultados desta pesquisa corroboraram com tais evidências, onde o número de vítimas que haviam ingerido bebida alcoólica foi significante. Como medida preventiva de acidentes desta natureza, em 2008 foi sancionada a Lei Nº 11.705, conhecida como “Lei Seca”, estabelecendo limite zero de ingestão de álcool para condutores 12)(22 .

Dispositivos de segurança (cinto de segurança e capacete) são itens de uso obrigatório conforme o Código de Trânsito Brasileiro - CTB 23 , visando maior proteção aos que fazem uso de veículos para locomoção. Este estudo evidenciou que a maioria das vítimas fazia uso destes itens no momento do acidente, semelhante à pesquisas que reafirmam sua importância na redução das chances de lesões graves e/ou mortes 18)(24 . Um dado adicional desta pesquisa se refere à condição da vítima no momento da ocorrência, cuja maioria era condutora do veículo, bem como resultados de outros estudos 12)(13)(20 .

O tempo entre a chegada do resgate após a comunicação da ocorrência é denominado tempo-resposta, representa um fator essencial no atendimento pré-hospitalar e um dos principais indicadores da eficiência desse serviço, pois cada minuto antecipado no atendimento, reduz o risco de sequelas e dos gastos hospitalares na continuidade do tratamento do paciente ferido 20 .

Embora não haja dados atuais na literatura referentes ao parâmetro ideal de tempo médio entre o chamado e o APH, esta pesquisa revelou um tempo médio de 16,2 minutos, não sendo possível classificar como tempo ideal, visto que no Brasil não há legislação que determine o tempo limite de resposta. Em contrapartida o regimento americano que estabelece um tempo máximo de 10 minutos para zonas urbanas e 30 para rurais; em Londres e Montreal preconizam atendimentos realizados em até 14 e 10 minutos respectivamente 25 .

O atendimento pré-hospitalar é realizado por meio da parceria entre SAMU e o Corpo de Bombeiros, cuja atuação difere quanto ao tipo e complexidade das ocorrências. Ao SAMU, cabe o tipo de assistência clínica às vítimas, enquanto aos Bombeiros a assistência a traumas 26 . Semelhante a estudos realizados em outras regiões, o APH mais solicitado para prestação do atendimento nesta pesquisa foi o SAMU 18 .

Referente à zona das ocorrências terem sido predominantemente zona urbana, tal prevalência pode ter relação com o fato do sistema viário (condição das vias, sinalização e iluminação pública) e planejamento urbano não acompanharem o crescimento da frota de veículos, aumentando a vulnerabilidade das pessoas a sofrerem acidente de trânsito 27)(28 .

Com relação ao tipo de veículo utilizado pelas vítimas de acidentes de trânsito, as motocicletas representam a forma mais perigosa de veículo a motor pela maior vulnerabilidade de seus ocupantes 18 . A moto, assim como em outras pesquisas, foi o transporte mais utilizado pelas vítimas 17)(18)(26 . Este fato pode estar relacionado ao baixo custo para aquisição e consumo de combustível, sendo comumente utilizado como veículo de transporte familiar e de trabalho 13 . No que diz respeito à outra parte envolvida, os automóveis lideraram o número de ocorrências, dado presente em outras pesquisas 18)(26 .

Sendo o fim de semana o período de maior número de acidentes de trânsito nesta pesquisa, pode haver relação com menor fiscalização nas vias, maior ocorrência de eventos festivos e maior consumo de bebida alcoólica, contribuindo não só para a ocorrência dos acidentes, mas também para o agravamento dos mesmos 13)(16)(19)(18)(20 .

Em relação ao turno de ocorrência, os acidentes aconteceram predominantemente no período noturno. Tal circunstancia pode ser explicada pela visibilidade limitada ao alcance dos faróis associada a pouca iluminação das vias, uso de vestimentas escuras pelos pedestres, estresse e cansaço físico acumulados ao longo do dia, maior uso de álcool ou outras drogas, desrespeito a sinalização e menor fiscalização 13)(18)(19 , refletindo a necessidade de estratégias de supervisão que estejam além dos horários comerciais 20 .

O uso de álcool é o terceiro fator de risco mais importante para sequelas incapacitantes e mortes em indivíduos com idade produtiva no mundo 29 .As chances de envolvimento em acidentes de trânsito são potencializadas pela ingestão de álcool 11)(12 . Esta associação somada às características dos condutores tem despertado estudos em diversos países 29 .

O fato de esta pesquisa ter evidenciado que a ocorrência de acidente de trânsito sobre o efeito do álcool foi maior com vítimas do sexo masculino pode ser explicada por questões socioculturais que levam à violação das leis de trânsito como dirigir em alta velocidade 17)(16)(29)(30 .

A idade representa outro fator relevante na associação da ingestão de álcool e condução de veículos 12)(16)(19)(20)(24)(29)(30 , onde há prevalência de indivíduos considerados jovens. Porém, há escassez de informações na literatura sobre esta associação com a ocorrência de acidentes de trânsito. Este estudo revelou que o envolvimento em acidentes foi prevalente entre indivíduos com média de idade de 31,2 anos. Geralmente jovens condutores apresentam comportamento impulsivo característico dessa fase da vida, subestimando suas habilidades e os riscos de uma condução perigosa, principalmente sob influência de bebidas alcoólicas 16)(19)(20)(30 .

As chances de ocorrência de acidentes de trânsito sob influência de álcool foi maior para as vítimas que trafegavam nos finais de semana e no período noturno, fato registrado predominantemente em pesquisas atuais, sugerindo uma relação entre o trânsito livre, baixa fiscalização e deslocamento para atividades de lazer. Supõe-se que os fatores que predispõem a maior ingestão de álcool e sua relação com acidentes de trânsito também sejam contribuintes para as ocorrências predominantes nas vias rurais 13)(16)(19)(20)(30 .

Referente à associação multivariada do tipo de veículo utilizado pela vítima com a ocorrência do acidente de trânsito sob influência de álcool, não houve significância estatística inferindo que a ocorrência de acidentes sob influência alcoólica independe do tipo de veículo envolvido.

O uso de bancos de dados secundários com preenchimento inadequado ou insuficientes de algumas variáveis limitou a análise de aspectos importantes desta pesquisa como: condição da vítima no momento da ocorrência (se condutor ou passageiro); informações sobre o uso de equipamentos de segurança pelas vítimas envolvidas nos acidentes, e sobre a ingestão de bebida alcoólica pelo condutor dos veículos envolvidos. Além disso, não foi possível coletar informações sobre o nível de consciência das vítimas na ficha de atendimento do CBMPE visto que a mesma não continha o item para registro do ECG no momento do APH.

CONCLUSÃO

Os acidentes de trânsito são apontados como eventos multíplices e complexos, de grande repercussão e consequências, sendo necessário o uso de métodos de prevenção voltados para as ações educativas, de fiscalização e melhoria das condições de segurança das vias urbanas e rodovias, sendo essa a maneira mais eficiente disponível para minimizar a incidência desse fenômeno.

Esta pesquisa revelou um perfil das vítimas com predominância para o sexo masculino, com média de idade de 31,2 anos, sendo a maioria condutora dos veículos envolvidos. Nos registros das ocorrências predominaram avaliações do nível de consciência de baixa gravidade e uso de dispositivos de segurança. A maioria dos acidentes ocorreu em zona urbana, nos fins de semana e no período noturno. Os fatores associados aos acidentes de trânsito em vítimas alcoolizadas foram idade, sexo, zona rural, fins de semana e turno noturno.

Os resultados citados podem subsidiar novas discussões e orientar ações e condutas sobre o atendimento pré-hospitalar, tanto para os profissionais envolvidos sobre a importância do correto preenchimento das fichas, quanto para fins de implementação de boas práticas no trânsito, execução de políticas públicas e conscientização da população, visando reduzir as consequências resultantes dos acidentes.

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Recebido: 26 de Julho de 2017; Aceito: 07 de Outubro de 2017

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