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Enfermería Global

versão On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.20 no.64 Murcia Out. 2021  Epub 25-Out-2021

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.462631 

Originais

Percepções dos adolescentes sobre o uso das redes sociais e sua influência na saúde mental

Rodrigo Jácob Moreira de Freitas1  , Thaisa Natália Carvalho Oliveira1  , Juce Ally Lopes de Melo1  , Jennifer do Vale e Silva2  , Kísia Cristina de Oliveira e Melo2  , Samara Fontes Fernandes3 

1 .Universidad del Estado de Rio Grande do Norte - UERN. Departamento de Enfermería, campus Pau dos Ferros, RN, Brasil. rodrigojmf@gmail.com

2. Universidad Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA. Departamento de Ciencias de la Salud, campus Mossoró, RN, Brasil.

3. Facultad Evolução Alto Oeste Potiguar - FACEP. Curso de Enfermería, Pau dos Ferros, RN, Brasil.

RESUMO:

Objetivo:

Objetiva-se identificar a percepção dos adolescentes sobre o uso das redes sociais e a influência na saúde mental.

Método:

Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória com abordagem quanti-qualitativa, realizada com adolescentes de idade entre dez e dezenove anos que são usuários das redes sociais. A amostra consistiu em 71 participantes coletados a partir da técnica bola de neve. O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados foi o questionário online, elaborado pelos pesquisadores e desenvolvido através da ferramenta Google Forms, e divulgado através das redes sociais, sendo posteriormente tabulados e apresentados em gráficos e Tabelas, através de uma estatística simples e discussão com base na literatura científica.

Resultados:

Acerca do uso das redes sociais 100% dos pesquisados responderam utiliza-las com frequência, 27% afirmaram fazer parte de 3 redes sociais, sendo o WhatsApp e Instagram os mais utilizados, com um total de 27% cada uma. Acerca dos riscos do seu uso, 34% dos participantes afirmaram ser a divulgação de dados pessoais. O principal sentimento sentido por eles nas redes foi o de constrangimento (27%); as contribuições das redes sociais são estudos/atualizações (29,5%); e as consequências para a saúde mental decorrente do uso foram invasão de privacidade/divulgação de dados (20,5%) e vício (19,3%).

Conclusão:

O uso das redes é crescente e faz surgir novas formas de adoecimento, principalmente de ordem mental, necessitando que o profissional de saúde se aproxime dessa problemática para intervirem de forma efetiva.

Palavras-chave: Adolescente; Rede social; Saúde Mental; Enfermagem

INTRODUÇÃO

A adolescência é uma etapa da vida dos indivíduos em que ocorre intensas mudanças fisiológicas, psíquicas e relacionais, que compreende entre dez a dezenove anos de idade1. Neste período de intensas transformações, as mesmas podem ser entendidas como fatores estressantes para esses sujeitos, as quais influenciam na construção da identidade dos mesmos, podendo influenciar na construção de uma fase de conflitos, que induzem a comportamentos de risco e autolesivos2.

Portanto, para que o desenvolvimento cognitivo, emocional, sexual e psicológico aconteçam de maneira saudável é necessário que o jovem transite em ambientes confortáveis, que transmitam segurança, apoio e proteção1, possibilitando o autodescobrimento de maneira segura, pelo aumento da autonomia e por um foco crescente no desenvolvimento da identidade e na socialização3, a qual ocorre, atualmente através de grupos de amigos e pelas redes sociais.

As redes sociais já fazem parte da vida de qualquer adolescente de forma intensa, por ser um poderoso novo meio de relacionar-se com o outro. Os jovens de hoje nasceram na “era digital” e, portanto, são familiarizados com a internet e todas suas possibilidades, devido ao seu crescimento rodeado de aparelhos tecnológicos e acesso a Internet4.

Dessa forma, o uso das redes sociais fica cada dia mais frequente no seu cotidiano, usando esse recurso para se comunicar, o que acaba influenciando a interação social entre os adolescentes, podendo se tornar prejudicial e até mesmo viciante3.

Ainda nessa direção, os adolescentes estão facilmente expostos a questões relacionadas como o cyberbullying, que ocorre no espaço virtual, através de ligações nos celulares, por meio de mensagens nas redes sociais; a exposição exagerada e inapropriada, o que pode levar a uma falsa realidade exposta nas redes que não condiz com sua realidade fora da internet; o compartilhamento de fotos que expõe demais as intimidades, assim como informações pessoais; o compartilhamento de conteúdo erótico; a construção da autoimagem e a insatisfação com o corpo; a dificuldade de lidar com o diferente5.

Assim, a preocupação não é somente com o bem-estar físico, mas também com o psicológico desses adolescentes. Problemas antes desconhecidos, ganharam maior visibilidade, principalmente o que estão ligados aos transtornos mentais. Exemplos deles são a série “13 Reasons Why” e o jogo “Baleia Azul”, que estão fortemente ligados a questões do bem estar emocional e saúde psicológica, direcionados principalmente ao público adolescente6. Ambos discutem sobre a depressão, a prática do bullying, automutilação e suicídio, agravos que vem contribuindo significativamente para o aumento de morbimortalidade entre os adolescentes1.

A internet e as redes sociais também permitem transformações nos vínculos pessoais e sociais, favorecendo o surgimento de novas amizades, com espaços para fazer novos amigos, conectar-se a vários meios de comunicação simultaneamente, sendo fonte de novas informações e notícias, pesquisas, além de permitir não só o acesso à informação, mas também a capacidade de produzi-la7, bem como o compartilhamento de vivências, ideias, percepções e sentimentos com facilidade e rapidez.

Dessa forma, considerando todos os fatores abordados, questiona-se: Como os adolescentes percebem o uso das redes sociais e sua relação com a saúde mental? A relevância deste trabalho está em abordar um tema de grande preocupação social, em que os adolescentes passam muito tempo online, esquecendo da vida offline, causando um desequilíbrio social, e sendo expostos aos lados negativos dessa nova forma de se relacionar e de compartilhar informações. Irá proporcionar a produção de conhecimentos acerca da realidade desses adolescentes em relação ao uso desse universo online, permitindo uma problematização, encarando-a como uma nova necessidade social de saúde desta população e portanto, auxiliando na construção do conhecimento que embasa a assistência em saúde e o processo de trabalho da enfermagem/saúde.

Assim, objetiva-se identificar a percepção dos adolescentes sobre o uso das redes sociais e a influência na saúde mental.

MÉTODOS

Esse estudo trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória com abordagem quanti-qualitativa.8 A pesquisa foi realizada por meio das redes sociais, ou seja, o meio digital online. Os participantes desta pesquisa foram os adolescentes brasileiros com idade entre dez e dezenove anos, de acordo com o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Foi utilizado amostragem não probabilística através da estratégia bola de neve. Foi selecionado algumas pessoas com o perfil necessário para a pesquisa para iniciar a coleta, sendo possível iniciar os contatos a serem pesquisados. Em seguida, solicitou-se que as pessoas que foram escolhidas indicassem novos contatos com as características necessárias para a pesquisa, a partir da própria rede social, e assim, sucessivamente, aumentando o quadro de amostragem a cada questionário respondido. Dessa forma, esse método mostrou-se como um processo de permanente coleta de informações9.

Considerou-se os critérios de inclusão: a) ter idade entre dez e dezenove anos; b) usar alguma rede social e; d) ter acesso a internet. Excluindo aqueles que: a) não tem disponibilidade para responder a pesquisa; b) enviar o questionário respondido parcialmente, sem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou sem o TCLE assinado.

O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados desta pesquisa foi o questionário online, elaborado pelos pesquisadores e desenvolvido através da ferramenta Google Forms, e divulgado através das redes sociais (WhatsApp, Facebook e Instagram), permitindo assim, mais conveniência para ser respondido e compartilhado juntamente com os indivíduos a serem pesquisados. Esse questionário foi composto por perguntas fechadas (de múltipla escolha, onde poderia ser respondido mais de uma opção), e perguntas abertas, sobre o perfil de uso das redes e quais motivações, sentimentos elas causavam nos usuários.

A coleta dos dados foi realizada durante o mês de março de 2019, sendo estipulado um período de oito dias para o recebimento das respostas. Foi obtido um total 71 questionários respondidos, os quais receberam uma cópia do TCLE e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) virtuais para crianças e adolescentes, composto por uma página de esclarecimento sobre a pesquisa, como os objetivos, os riscos e benefícios, além da solicitação de autorização para o uso dos dados.

Inicialmente, os resultados das perguntas fechadas (múltipla escolha) foram tabulados e apresentados em gráficos, por meio de estatística simples, apresentando uma distribuição de frequências. As questões abertas (discursivas), depois de organizadas e descritas, permitiram estabelecer categorias de análise, as quais foram discutidas sob a óptica do referencial teórico pertinente.

A pesquisa atendeu todas as questões éticas conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 466/12 e nº 510/16 e, foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em 15 de março de 2019 com Parecer de n°: 3.202.624 e o CAAE de nº: 06892818.6.0000.5294.

RESULTADOS

Dentre os 71 adolescentes que participaram da pesquisa, 61% (n=43) eram do sexo feminino e 39% (n=28) do sexo masculino. Em sua maioria, 44% (n=31) tinham idade de 12 a 14 anos, 42% (n=30) entre 15 e 17 anos, e 14% (n=10), tinham idade acima de 18 anos. Com relação ao nível escolar, 11% (n=8) estavam cursando o 8º ano do Ensino Fundamental, 39% (n= 28) no 9º ano do Ensino Fundamental, 14% (n=10) no 1º ano do Ensino Médio, 9% (n=6) no 2º ano do Ensino Médio, e 27% (n=19) no 3º ano do Ensino Médio.

Sobre a renda mensal do responsável pela casa, 42% (n= 30) responderam ser 1 salário-mínimo, 40% (n= 28) responderam ser 2 salários e apenas 1% (n= 1) afirmou ter renda acima de 5 salários-mínimos. A principal cidade de residência foi o município de Pau dos Ferros-RN, 38% (n=38) dos adolescentes, seguido de Natal-RN, 5%, (n=5).

Acerca do uso das redes sociais 100% dos pesquisados responderam utilizá-las com frequência, sendo que 93% (n=66) afirmaram acessar por mais de 5 dias, por um tempo diário maior que 8 horas (35%, n=25) e apenas 5% (n=4) relataram acessar por até 1 hora diária.

Já em relação a quantidade de redes sociais, 27% (n=19) afirmaram fazer parte de 3 redes sociais e apenas 3% (n=2) afirmaram ter apenas uma rede social. Sendo o WhatsApp e Instagram os mais utilizados, como demonstra o Gráfico 1.

Gráfico 1:  Qual rede social você mais usa? Pau dos Ferros, RN, Brasil. 2019.  

Sobre os meios de acesso as redes sociais 52% (n=58) afirmaram usá-la através dos aparelhos móveis e 29% (n=32) de computadores. Mas com relação a finalidade de seu uso, 37% (n=56) dos participantes relataram ser para lazer/entretenimento, 32% (n=49) para comunicação, 24% (n=36) para trabalhos escolares, e 7% (n=11) responderam “outros”. Em relação a formar relacionamentos através da internet, 69% (n=49) dos participantes responderam que é possível, como se observa no Gráfico 2.

Gráfico 2:  Você acredita que relacionamentos podem ser formados através das redes sociais? Pau dos Ferros, RN, Brasil. 2019. 

Na questão referente as vantagens de ter um perfil em uma rede social segundo os participantes é a troca de informações fácil e rápida, com 47% (n=51), seguido de novas amizades (24%, n=26), acompanhamento de atualizações (22%, n=24), e ainda 6% (n=6) dos participantes afirmaram ser outras, como o uso de contas para jogos online, para estudos e trabalhos escolares, e acompanhar notícias de artistas. Nessa, os participantes também puderam escolher mais de uma opção. Já em relação aos riscos da utilização das redes sociais, os participantes afirmaram ser a divulgação de dados pessoais e invasão de privacidade, conforme demonstrado no Gráfico 3.

Gráfico 3:  Qual você acredita ser o maior risco da utilização de redes sociais? Pau dos Ferros, RN, Brasil. 2019 

Ao ser questionado sobre algumas situações que já aconteceram nas redes sociais, os participantes afirmaram terem recebido mensagens com conteúdo inapropriados, como pode ser observado no Gráfico 4.

Gráfico 4:  Alguma dessas situações já aconteceu com você? Pau dos Ferros, RN, Brasil. 2019. 

Foi questionado ainda se os participantes achavam importante ter um aparelho celular, obtendo 97% de resposta afirmativa. E quando questionados sobre sua finalidade: afirmaram gostar de acessar as redes sociais e conversar com os amigos, 34% (n=62) cada, e apenas 6% (n=10) afirmaram que seria outro assunto, como notícias, assuntos de medicina, jogos, memes, DIY (em inglês:Do it Yourself, ou Faça Você Mesmo), vídeos e músicas, e estudos.

Das respostas obtidas das questões abertas, foram extraídas cinquenta e quatro expressões chaves, que foram agrupadas em vinte e nove ideias centrais, cujas representações foram divididas em três categorias, sendo estas: (1) Sentimentos dos adolescentes sobre as situações vividas nas redes sociais. O principal sentimento registrado foi o de “Constrangimento” (27%) e “Insegurança de Desconforto” (25%); (2) Influência e contribuições das redes sociais na vida dos adolescentes. As influências e contribuições detectadas foram “Estudos/Atualizações” (29,5%), “Comunicação/Novas amizades” (26,7%), e “Vida enfadonha, tediosa, chata e ruim sem a internet” (18%); (3) As consequências das redes sociais para a saúde mental dos adolescentes. As principais consequências para a saúde mental decorrente do uso das redes sociais, foram “Invasão de privacidade/Divulgação de dados” (20,5%), “Vício” (19,3%) e “Confusões/Brigas/Cyberbullying” (17,8%).

DISCUSSÃO

Os resultados do estudo corroboraram com a Pesquisa Brasileira de Mídias (PBM), que constatou que a maioria dos adolescentes utilizam a internet por setes dias na semana, já que a grande maioria dos jovens possuem acesso a internet em casa, utilizando de celulares e computadores10.

Esses aparelhos oferecem ainda uma forma de entretenimento e estímulo social, conferindo também uma “integração” entre as pessoas. De um modo geral, os celulares têm se tornado companheiros constantes dos adolescentes, servindo, em contexto social, para incluir e excluir amigos, organizar, aprimorar e reviver experiências, e para redefinir o espaço social3.

O uso da internet é múltiplo e está diretamente relacionado ao interesse dos jovens ao navegar por este espaço, haja vista que, embora a comunicação apareça como uma importante atividade exercida, a pesquisa e o lazer também se destacam11, além de ser um ambiente utilizado para fazer novas amizades e buscar relacionamentos amorosos12.

Na atualidade, as redes sociais ocupam um espaço importante da vida dos jovens e influencia na construção das suas identidades e comportamentos, visto que a sociedade contemporânea assumiu uma dinâmica de realização de atividades de maneira solitária, dificultando a interação social e comprometendo o estabelecimento de relações amorosas construídas socialmente e off-line.13 Induzindo assim, o aumento da procura por relacionamentos online construídos e despertados a partir de aplicativos de namoro, os quais também aumentam os comportamentos de risco sexual, como sexo desprotegido, múltiplos parceiros e violência sexual, desenvolvidos, em sua maioria, por jovens12,14.

O desenvolvimento de relacionamentos virtuais, embora seja bastante procurado não possui credibilidade por 69% dos participantes da pesquisa que acreditam que esses relacionamentos online são mais fracos e superficiais. Estudos15,16) constatam a propensão dos sujeitos, principalmente, homens a procura por sexo casual e não por relacionamentos sérios, causando alto grau de frustração nas pessoas por expectativas não alcançadas e divergências de intenções.

Os adolescentes estão cada vez mais imersos no universo tecnológico fazendo desse um ambiente primordial de relacionamentos via redes sociais e, portanto, considerando-as como ferramenta indispensável à vida moderna11. Eles são também, importantes consumidores de tendências, entre elas, usam intensamente as mídias sociais como modo de comunicação e novas informações, e estas, por sua vez, parecem exercer importante influência em diversos aspectos de sua vida5, além de utilizarem para fins educacionais.

Isso se torna importante durante esse período, pois o pertencimento a grupos de pessoas não apenas oferece o apoio, mas também auxilia na construção da identidade. A presença no mundo virtual tem se tornado essencial para que os indivíduos sejam incluídos socialmente17. Porém, têm aumentado a necessidade de atendimento aos padrões de beleza e de vida impostas pela sociedade, causando intensa insatisfação com a sua imagem corporal, reforçando padrões de comportamentos narcisistas e consumismo5.

O uso excessivo e desgovernado das mídias sociais pode desenvolver dependências e uma alta necessidade de aceitação por parte dos jovens, dificultando o autoconhecimento e a construção de práticas sociais saudáveis18, podendo causar conflitos familiares, dificuldades de aprendizagem, na interação social e no diálogo, transtornos de ansiedade e déficit de atenção19).

O uso contínuo e intenso das atualidades tecnológicas e redes sociais, pode acarretar vício e dependência por parte dos seus usuários, já que os jovens afirmam usar as redes sociais em casa, na escola e nos variados locais, para interagir virtualmente, distanciando-se do contexto a sua volta, refletindo em problemas no âmbito social, pessoal e educativo, interferindo também no rendimento do aprendizado do aluno, bem como outros aspectos do dia a dia11.

Além de desenvolverem alguns riscos, como o cyberbullying, depressão, suicídio, alterações de humor e comportamento, vulnerabilidade afetiva, entre outros diversos problemas emocionais e mentais; favorecem o surgimento de problemas psicológicos, como: timidez, pânico, fobia social, isolamento social e transtorno afetivo, pois nessa etapa se inicia o processo de relacionamentos afetivos, os quais estão sempre passando por mudanças, tornando os adolescentes inseguros20).

O cyberbullying favorece o surgimento de distúrbios, como os problemas acadêmicos e psicossociais, depressão, baixa autoestima e hostilidade exteriorizada, entre outros. Os tipos de cyberbullying relacionados a episódios em que o agressor era adulto, publicação de uma foto da criança ou adolescente, e episódios acompanhados de contatos agressivos off-line, como receber um telefonema ou quando o agressor foi até a casa da vítima, estão relacionados a um risco três vezes maior de sofrimento emocional. Relatando que cerca de 68,5% dos adolescentes experimentaram algumas emoções negativas, como raiva, transtorno, preocupação, estresse, medo e "sentimentos depressivos", enquanto 24,5% dos adolescentes não se preocupam com os incidentes4.

O estudo21 mostrou que a probabilidade de tentativa de suicídio era até duas vezes maior entre vítimas e agressores, em comparação com aqueles que não estavam envolvidos em cyberbullying. Isso se dá ao estresse emocional e ao surgimento das emoções negativas, como a raiva, medo, depressão por estresse e ansiedade social, que podem acarretar ao uso de drogas e sintomas depressivos. Ressaltando que situações que acarretam mal-estar psicológico podem induzir a pensamentos suicidas e até mesmo a efetivação do suicídio2.

Participantes relataram que conhecem pessoas que tiveram sua imagem exposta e que vários problemas ocorreram posteriormente, como também, afirmaram que muitos colegas usam as redes sociais para provocar pessoas que não gostam, sendo possível, assim, mostrar que as redes sociais podem promover situações de constrangimento para os participantes, bem como outras reações e conflitos sociais, como o desconforto e a insegurança, entre outros22).

No Brasil, os crimes virtuais estão se tornando rotineiros, sendo os mais comuns de calúnia, insultos, difamação, revelar segredos de terceiros, divulgação de material íntimo, como fotos e documentos, atos obscenos, apologia ao crime, preconceitos/racismo e pedofilia. Os usuários da internet e das redes sociais muitas vezes divulgam dados pessoais nessas redes, tornando acessíveis informações confidenciais que podem ser usadas indevidamente, por exemplo, por ladrões de identidade e outros mal-intencionados23).

Diante disso, pode-se perceber que o uso das redes sociais traz consequências para a saúde mental desses adolescentes, como por exemplo, o uso compulsivo, em que há dificuldades em controlar seu uso, extrema dependência, problemas de ordem psíquica, social e biológica, tais como: alienação, ansiedade, intolerância, isolamento, individualismo, depressão, e em casos mais extremos o suicídio, causando dificuldades de concentração e agressividade.

Entretanto, há muitos benefícios envolvidos no uso ideal das redes sociais como o aumento do número de informações, para utilização no meio escolar e em grupos de amigos, favorece o contato indireto com pessoas com assuntos de seu interesse24).

Nas redes sociais, principalmente através das fotos, os jovens buscam se expressar de modo a construir uma imagem de si para os demais. Assim, é bastante comum que divulguem/postem fotos com diferentes conteúdos, realizando experimentos de identidade em seus perfis, enfatizando ou escondendo alguma característica sua. Lembrando que os tímidos saem ganhando também com as redes sociais, já que podem melhorar a sociabilidade com o auxílio da rede.24,25.

Como há uma grande concentração de pessoas nas redes sociais, estas formas de comunicação precisaram se adaptar para as novas demandas que surgem a cada dia. Assim, as redes sociais se tornaram plataformas em que divulgam seus conteúdos, e desta forma, é possível se manter informado sobre os mais diversos assuntos, como notícias diversas, questões educacionais, etc.

Uma comunicação mediada por um computador oferece certo anonimato, pois ela permite que as pessoas se sintam menos inibidas e se expressem de um modo que pessoalmente não se sentiriam confortáveis pessoalmente, seja por causa da timidez, pela aparência, sexualidade e idade3). Assim, esses adolescentes podem desenvolver uma relação mais “aberta”. Essa desinibição online permite uma redução da presença social, pois permite que os integrantes escolham o quanto querem ser identificados, e expressem apenas as suas características mais desejáveis, e dessa forma, eles conseguem se sentir confortáveis o suficiente para revelarem detalhes pessoais que normalmente não revelariam em uma conversa cara a cara.

É preciso fazer com que o jovem busque entender a extensão dos danos que causam a si mesmos e o quanto é importante à interação real com o outro. Vale ressaltar a função da Atenção Primária a Saúde (APS) em ser um meio transformador e estimulador de novas práticas sociais, além de ser o nível de assistência que atua com a prevenção de práticas viciosas e comportamentos suicidas2. Enfatizando a atuação do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) no fortalecimento na saúde mental de adolescentes através de trabalhos grupais impulsionados pelos psicólogos, seja nas unidades de saúde, nas comunidades ou escolas11).

Fazer com que o adolescente veja o problema e tente solucioná-lo pode trazer uma melhoria de autoestima e consequentemente, a busca de soluções. Daí a importâncias dos profissionais de saúde, realizando a escuta terapêutica, criando um clima de confiança, uma melhor compreensão, permitindo uma boa conexão entre as pessoas, e dessa forma, intervindo nas queixas desses adolescentes de forma mais eficaz.

O Enfermeiro como membro e coordenador de equipe multiprofissional assume papel importante na assistência à saúde mental de adolescentes, para que a mesma ocorra de forma holística e em todos os espaços de atenção à saúde, contribuindo na redução de casos de adoecimento mental por jovens2.

Tem-se como limitação do estudo o tempo e estratégia de coleta de dados que foi reduzido, não permitindo dessa forma, obter um panorama geral do país, apenas de algumas localidades, visto que os dados obtidos poderiam ter mostrado outra realidade. É preciso estratégias para obter maior participação em pesquisas online. Além disso, a realidade socioeconômica, cultural, precisa ser analisada, visto que as vivências da adolescência são diversas e influenciadas por outros determinantes sociais de saúde não apresentados nesse estudo.

Esse estudo contribui para o processo de trabalho da enfermagem e da saúde, pois conhecendo as principais características e hábitos desses adolescentes, possibilitará novas formas de intervir nas necessidades de saúde. Com isso, há a necessidade de um trabalho educativo, interdisciplinar e intersetorial, visto que a problemática das redes sociais e sua influência na saúde perpassa por outras questões econômicas, sociais, políticas e sanitárias. Torna-se imprescindível a implementação de políticas públicas que tenham caráter de promoção à saúde voltados aos interesses das crianças e adolescentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos da pesquisa foram atingidos, pois identificou-se a percepção dos adolescentes sobre o uso das redes sociais e a influência na saúde mental. Os participantes utilizam com frequência, fazendo parte de três redes sociais, sendo o WhatsApp e Instagram os mais utilizados. Como maior risco do uso para a saúde mental é apontado a divulgação de dados pessoais/invasão de privacidade e vício, sendo o constrangimento, o principal sentimento envolvido.

Sugere-se que novos estudos sejam realizados para melhor esclarecimento de como a internet e as redes sociais afetam a vida dos adolescentes e da sociedade em geral, visto que o uso das redes é crescente e têm acarretado novas formas de adoecimento, bem como a realização de estudos que avaliem programas efetivos de intervenção, considerando a escola, os serviços de saúde e outros setores da comunidade.

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Recebido: 08 de Janeiro de 2021; Aceito: 10 de Julho de 2021

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