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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.22 no.69 Murcia ene. 2023  Epub 20-Mar-2023

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.503081 

Revisões

Assistência de enfermagem a adolescentes em situação de vulnerabilidade ao Vírus da Imunodeficiência Adquirida

Klebia Karoline dos Santos-Neco1  , Luciane Paula Batista-Araújo-de Oliveira2  , Rejane Maria Paiva-de Menezes3  , Soraya Maria de Medeiros3  , Alexsandra Rodrigues-Feijão3 

1Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Norte, Brasil. klebia.enfermagem@hotmail.com

2Docente Adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (campus Santa Cruz/RN), Rio Grande do Norte, Brasil

3Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Norte, Brasil

RESUMO:

Introdução:

Nos últimos anos o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV) tornou-se um grande desafio para a sociedade pela magnitude e extensão dos danos causados às populações, em especial aos adolescentes.

Objetivo:

Analisar os aspectos contextuais da assistência de enfermagem aos adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV.

Método:

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura com busca realizada nas bases de dados Elsevier SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e Google Scholar, no período de 20 de dezembro de 2020 a 20 de janeiro de 2021. O material foi analisado em acordo com o aporte teórico proposto por Hinds, Chaves e Cypress, que indica quatro camadas de relações contextuais inter-relacionadas que melhor compreendem o fenômeno: imediata, específica, geral e metacontextual.

Resultados:

Foram selecionados oito estudos categorizados em subtemas seguindo cada contexto: adolescente em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids (contexto imediato); a inserção do adolescente vulnerável ao HIV/Aids na Atenção Primária à Saúde (contexto específico); assistência de enfermagem a adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids na Atenção Primária à Saúde (contexto geral); e políticas públicas voltadas para adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids (metacontexto).

Conclusão:

Pode-se concluir que compreender os fenômenos permite uma maior reflexão sobre a realidade estudada com o intuito de melhorar a assistência de enfermagem diante dos problemas encontrados.

Palavras-chave: HIV; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; Adolescente; Vulnerabilidade em Saúde

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), além de ter se constituído como doença crônica, tornou-se um grande desafio para a sociedade pela amplitude dos danos causados às populações (1.

Na fase da adolescência existe um processo intenso de transformações biopsicossociais, estigmas e preconceitos, carência de insumos necessários e dificuldade no acesso aos serviços de saúde, o que expõem esse publico à vulnerabilidade ao HIV/Aids 2,3.

Isso pode ser observado pelo aumento no número de adolescentes com HIV/Aids, que em 2015, era 4,1 milhões na faixa etária dos 15 aos 24 anos de idade, representando 11,1% do total da população acometida pelo HIV/Aids em todo o mundo 4. No Brasil, em 2010 foram notificados 587 casos de HIV/Aids em pessoas com idade de 15 a 19 anos, e, quando comparado ao ano de 2020, foi evidenciado um crescimento de 12,9% 5.

Na tentativa de modificar esse quadro, o Ministério da Saúde (MS), vem buscando implementar estratégias de intervenções como a “Prevenção Combinada” que têm impacto relevante no que tange à prevenção da epidemia, a fim de evitar a infecção pelo HIV e, consequentemente, a Aids 6.

Entretanto, mesmo com todas essas estratégias no âmbito da saúde pública, vivencia-se na atualidade uma transição epidemiológica marcada pela vulnerabilidade ao HIV, em que se destaca o acentuado aumento de adolescentes que adquirem o vírus nessa fase de vida 7.

Nesse sentido, a assistência de enfermagem voltada para adolescentes acompanhados pela Atenção Primária à Saúde (APS) passa a ser desafiadora, uma vez que o profissional de enfermagem deve buscar entender todo o contexto biopsicossocioespiritual de vulnerabilidade do adolescente e jovem, e traçar estratégias aplicáveis, multiprofissionais, transversais que contribuam para minimizar os riscos de adoecimento desse grupo 8.

Assim, a importância deste estudo consiste na possibilidade de oferecer subsídios teóricos aos profissionais de enfermagem, de modo a contribuir para a melhoria da atenção à saúde de adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids.

Portanto, essa pesquisa pretende responder a seguinte pergunta norteadora: quais aspectos contextuais influenciam na assistência de enfermagem aos adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV? Logo, o referido estudo tem como objetivo analisar os aspectos contextuais da assistência de enfermagem aos adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV.

MATERIAL E MÉTODO

O presente estudo consiste em uma revisão narrativa de literatura que analisa à luz do modelo Contextual de Hinds, Chaves e Cypress 9 os aspectos contextuais da assistência de enfermagem a adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids. Para isso, inicialmente foi realizada uma busca nas bases de dados para verificar a existência de análises de contexto voltadas à temática do estudo e constatou-se que não há estudos publicados. Essa pesquisa ocorreu no início do mês de dezembro de 2020.

Após isso, foi construído um instrumento de coleta de dados, no qual constava: título; objetivo; pergunta de pesquisa; critérios de inclusão e exclusão; estratégia de busca; bases de dados, extração dos dados (sumarizados em temas de acordo com os quatro níveis interativos de contexto - imediato, específico, geral e metacontexto).

Como estratégia de busca foi utilizado os seguintes descritores controlados da lista dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): “HIV” OR “Acquired Immunodeficiency Syndrome”, “Adolecent” e “Health Vulnerability”. Utilizou-se o operador booleano "AND" no processo de cruzamento dos descritores supracitados, e o operador booleano “OR” apenas para os descritores “HIV” e “Acquired Immunodeficiency Syndrome”.

A busca foi realizada no período de 20 de dezembro de 2020 a 20 de janeiro de 2021 nas bases de dados: Elsevier SciVerse Scopus (Scopus), Scientific Electronic Library On-line (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Sholar.

Foram considerados como critérios de inclusão: artigos oriundos de estudos disponíveis na íntegra, sem limite temporal, em idioma português, espanhol e/ou inglês e que respondessem à pergunta de pesquisa. Foram excluídos: relatos de experiência, editoriais e resumos publicados em anais de eventos científicos.

Para a análise do material coletado considerou-se o modelo de Análise Contextual de Hinds, Chaves e Cypress 9, que é explicado pela existência de quatro níveis interativos de contexto que facilitam a compreensão do fenômeno: o imediato, que envolve aspectos relevantes do presente e imediatamente em que o fenômeno ocorre; o específico, que tem como característica englobar o passado imediato e os fatores relevantes do fenômeno no momento em que está ocorrendo; o geral, o qual passa a considerar a compreensão de vida que foi gerada com base nas interações passadas e atuais; e o metacontexto, que incorpora passado e futuro na formação de um conhecimento socialmente compartilhado.

Vale ressaltar que esses níveis contextuais se inter-relacionam de tal forma que facilitam a visualização de cada camada e a compreensão do contexto como um todo, com o intuito de alcançar o meio Gestalt do fenômeno.

RESULTADOS

A triagem inicial utilizando os descritores mencionados anteriormente resultou em um total de 214 artigos. Desse quantitativo, os que responderam aos critérios de elegibilidade e aos objetivos da pesquisa foram selecionados, sendo incluídos 08 artigos.

Os resultados encontrados foram categorizados em subtemas de acordo com a compreensão conceitual de cada camada de contexto. Essa categorização está apresentada conforme a Figura 1.

Figura 1: Demonstração dos quatro níveis de contextos e suas interações no que se refere aos aspectos contextuais da assistência de enfermagem a adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids, com base no modelo de Hinds, Chaves e Cypress. Natal, 2021. 

DISCUSSÃO

Adolescente em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids

A adolescência é a fase da vida em que ocorrem inúmeras transformações biopsicossociais, culturais e espirituais, nas quais os comportamentos de risco são frequentemente subestimados e refletem em outras fases da vida 8.

Isso acontece pelo somatório de diversos fatores como a inexperiência, instabilidade emocional, início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros, o não uso de preservativo nas relações sexuais, influências provenientes dos meios de comunicação e necessidade de aceitação em grupos, o que pode aumentar a vulnerabilidade ao HIV/Aids 2,10.

Além disso, as condições de vida, moradia, escolaridade, relações familiares e sociais fragilizadas são também potenciais influenciadores no desenvolvimento de situações de vulnerabilidade ao HIV/Aids 2.

Os adolescentes conseguem hoje ter um amplo acesso as fontes e estratégias de informações, bem como a políticas públicas de saúde sexual e reprodutiva em várias esferas do ciclo de vida, porém, mesmo com o conhecimento sobre o HIV/Aids, alguns se expõem ao risco por confiar no parceiro sexual, por não gostar de fazer uso do preservativo, por “achar” que o parceiro não tem HIV, persistindo a falsa ideia de invulnerabilidade às infecções transmitidas via sexual 8,11.

Nesse sentido, a vulnerabilidade à Aids se destaca por possuir um conceito complexo que abrange diversas dimensões que envolvem o estado de ser/estar em perigo ou exposto a potenciais danos associados às situações e contextos individuais, coletivos, subjetivos e adversos, particularidades e especificidades que variam de acordo com a população abordada 12.

Souza et al8 destacam, por exemplo, que a população feminina se torna mais vulnerável ao HIV/Aids, por existir ainda uma grande relação de desigualdade entre os sexos, permeadas pelas construções culturais estereotipadas de dominação, inferioridade e descaso, o que por sua vez, negam à mulher o direito de exercer sua sexualidade plena.

Além disso, essa exposição ao vírus acontece devido a alguns fatores como a precocidade na sexarca, facilidade de acesso ao uso/abuso de álcool e outras drogas, a baixa adesão ao preservativo, associados a uma maior liberdade sexual, instabilidade emocional, falta de informações, iniquidade de gênero, cultura predominante de masculinidade e machismo, violência de gênero e carência de definições de políticas públicas de saúde eficazes e que possuam aplicabilidade a realidade existente 8.

A inserção do adolescente vulnerável ao HIV/Aids na Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde possui um importante papel na identificação dos problemas existentes dentro da comunidade, na resolutividade, prevenção, promoção e reabilitação da saúde. Sendo, portanto, a principal porta de entrada para adolescentes vulneráveis ao HIV através da captação precoce, da visita domiciliar, consulta da equipe multiprofissional, do acompanhamento de rotina e atividades educativas 13.

A inserção do adolescente na APS se torna evidente por meio de ações educativas como oficinas de atividade lúdica, metodologias ativas, focando no esclarecimento da temática, formas de transmissão e prevenção. Para isso, a escola torna-se o lugar ideal para proporcionar oferta de conhecimentos e meios de aprendizagem que contribuem para melhorar a saúde e evitar doenças 13,14.

A identificação de problemas como prioridade para o acompanhamento e a flexibilização na forma de atuar com o adolescente podem ser consideradas um meio para consolida-lo na APS, tornando-o corresponsável quanto a prevenção do HIV/Aids. A diversidade de assuntos durante o atendimento também é necessária para propiciar o envolvimento com o adolescente, formar vínculo e identificar possíveis aspectos de vulnerabilidade 13.

Além disso, para facilitar a visita do cliente à unidade básica de saúde, outro meio encontrado é a utilização da caderneta de saúde do adolescente de forma a torná-lo participativo, não apenas cliente passivo na escuta 13. Essa caderneta implementada no território brasileiro pelos profissionais da APS, constitui um material educativo, atrativo e prático, que informa o adolescente sobre as principais descobertas e mudanças dessa fase da vida, abordando assuntos pertinentes que os tornam gradativamente responsáveis pela sua própria saúde 14.

Vale destacar que é frequente o relato de profissionais que esta clientela tem resistência em procurar a APS, o que corrobora para que a assistência fique limitada. Isso emerge na necessidade de fomentar-se junto aos adolescentes estratégias de ação-reflexão acerca de seu limiar de vulnerabilidade, empoderamento e corresponsabilidade, uma vez que indivíduos que não se sentem vulneráveis a determinado agravo não buscam aderir às medidas preventivas 13.

Sendo primordial que os agentes comunitários de saúde realizem a captação e orientação deste público, oferecendo uma atenção mais pormenorizada, e que, demais membros da equipe colaborem com o acolhimento, estabelecendo um diálogo mais aberto e próximo das necessidades dos adolescentes, seja de forma individualizada ou em grupos na comunidade ou escolas, por meio de educação por pares ou outras metodologias participativas, mantendo uma escuta sensível e livre de princípios discriminatórios 15.

Assistência de enfermagem ao adolescente em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids na Atenção Primária a Saúde

Na APS, o papel do enfermeiro se destaca na consulta de enfermagem, atendimentos domiciliares, ações educativas, atividades sobre sexual e reprodutivo, além de intermediar na prevenção de doenças e na promoção, recuperação e reabilitação da saúde. Essa atividade profissional complexa busca atingir os processos socioculturais, institucionais, familiares, subjetivos e comportamentais geradores de vulnerabilidades para enfrentamento dos problemas relacionados ao HIV/Aids 8.

No que se refere aos adolescentes em situação de vulnerabilidade, observa-se que o enfermeiro utiliza suas habilidades interpessoais para envolver esse público no serviço de saúde, incentivando o raciocínio crítico-reflexivo, bem como, tornando-os importantes protagonistas da sua saúde 8,16.

Nota-se que as atividades realizadas pelos enfermeiros são organizadas de acordo com as necessidades de atendimento a esse grupo, que acontece esporadicamente durante a visita do adolescente a unidade de saúde ou na visita às escolas pelos enfermeiros 13.

A consulta de enfermagem deve constituir uma oportunidade de captação de necessidades, estar voltada para a intervenção através de um olhar clínico e educativo, buscando-se evitar a prática tradicional, verticalizada e transmissora. Além de consistir em um meio de troca e crescimento mútuo para a construção de novos valores que dinamizem a assistência 13.

Vale ressaltar que nem todos os profissionais possuem habilidades para trabalhar com esse publico. Para que seja facilitador nesse processo, o enfermeiro necessita também de capacitação para a transmissão de conhecimento adequado, de tal modo a propiciar a efetiva captação dessa clientela 2,13.

Essa problemática não está apenas na receptividade da assistência do enfermeiro, pois durante a formação acadêmica não existe um ensino direcionado para essa abordagem ao adolescente, o que se torna um desafio para o profissional no que tange aos cuidados relacionados às vulnerabilidades 13.

A articulação entre a temática em questão e a assistência de enfermagem na atenção básica tem uma urgência de acontecer, pois isso permite superar a lógica da especialização e da fragmentação do cuidado através da responsabilização compartilhada, onde o usuário poderá ser assistido na sua comunidade e compreendido inserido na sua complexidade.

Politicas públicas voltadas para adolescentes em situação de vulnerabilidade ao HIV/Aids

Os cuidados à saúde dos adolescentes são considerados um processo complexo e multifatorial, uma vez que o contexto social influencia os padrões de comportamento e as condições de acesso à informação e à saúde. Pensando-se nesse sentido, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), buscou implementar estratégias de prevenção combinada como uma maneira de intervir de forma simultânea em diferentes abordagens de prevenção (biomédica, comportamental e estrutural), aplicada no indivíduo ou comunidade, de acordo com o contexto social ao qual está inserido 17.

Além disso, em 2007, foi instituído o Programa Saúde na Escola (PSE), que é uma estratégia de integração da saúde e educação para o desenvolvimento da cidadania e da qualificação das políticas públicas brasileiras 18. E em 2010, foram criadas as Diretrizes Nacionais de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes que monitoram e avaliam ações e programas, bem como contribuem para a sua consolidação enquanto política pública de saúde 19.

Associada a essas políticas, surge à importância de incorporação de outras politicas publicas de saúde para complementar e fornecer um atendimento ao adolescente vulnerável ao HIV/Aids de forma integral/holística, uma vez que o acolhimento, politicas sociais, de saúde sexual, reprodutiva e educacional representam alguns desses eixos.

Mesmo com a existência de políticas públicas e estratégias aplicáveis aos adolescentes, estas ainda se encontram em fase incipiente quando comparado às demais políticas públicas voltadas a outros ciclos vitais, como a saúde da criança, da mulher e do idoso 15.

Além disso, as condições precárias de vida e saúde de adolescentes denunciam sua vulnerabilidade, o que exige um olhar ampliado, integral e não verticalizado, de políticas publicas que efetivamente os cuidem e os protejam da infecção pelo HIV/Aids 13,15.

A população adolescente constitui um grupo com pouco investimento na saúde, não sendo ainda uma prioridade para a saúde publica brasileira. A falha já pode ser identificada na formação acadêmica de profissionais de saúde, onde há pouca ou inexistente qualificação para a atenção específica às necessidades dos adolescentes em situação de vulnerabilidade ao vírus da imunodeficiência adquirida 13.

Dessa forma, o Brasil precisa realizar mais investimentos em politicas de saúde que envolva o contexto da vulnerabilidade em adolescentes, com o intuito de resolver os principais problemas de saúde e sociais identificados, tendo em vista que inibindo essas lacunas reduz-se a vulnerabilidade, e consequentemente, o número de adolescentes infectados pelo HIV/Aids.

E o enfermeiro, enquanto membro da equipe de saúde responsável pela condução de politicas públicas e assistência a diversos serviços, torna-se peça fundamental para o direcionamento e controle do HIV, para intervir nos fatores que influenciam a vulnerabilidade, de forma a compreender a complexidade do adolescente portador do vírus.

Por se tratar de uma revisão narrativa de literatura o processo de seleção dos estudos pode apresentar um possível viés de seleção e de avaliação, uma vez que essa metodologia não exige um detalhamento dos dados, o que caracteriza um limitante desse estudo. Entretanto, esta pesquisa aborda uma temática extremamente relevante por envolver todos os aspectos contextuais do adolescente portador do vírus da imunodeficiência adquirida, cujas publicações cientificas ainda são escassas.

CONCLUSÕES

Os resultados evidenciaram que os adolescentes estão vulneráveis ao HIV/Aids devido a diversos fatores, como: início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros, facilidade de acesso ao uso/abuso de álcool e outras drogas, o não uso de preservativo nas relações sexuais por confiar no parceiro, por não gostar de fazer uso do preservativo ou mesmo por “achar” que o parceiro não tem HIV. Além disso, foi identificada dificuldade no acesso e inserção aos serviços de atenção primária à saúde, a existência de políticas públicas que ainda são incipientes diante da problemática e falta de capacitação e qualificação dos profissionais para um melhor atendimento e assistência de enfermagem.

Portanto, esse estudo foi relevante por analisar os aspectos contextuais que envolvem a vulnerabilidade do adolescente ao HIV/Aids no âmbito da atenção primária, bem como, compreender melhor o fenômeno e o contexto, permitindo uma maior reflexão sobre como a assistência de enfermagem pode contribuir para a resolutividade de problemas de saúde e para a transformação dos processos de trabalho, produção de novos saberes e formas de pensar e agir em saúde.

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Recebido: 01 de Dezembro de 2021; Aceito: 28 de Março de 2022

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