INTRODUÇÃO

Estomia pode ser definida como uma abertura cirúrgica que estabelece um canal entre o meio interno de um órgão com a superfície da pele. Estomias de eliminação, como o próprio nome explicita, apresentam como finalidade a eliminação, seja de fezes (colostomia ou ileostomia) ou urina (urostomia ou cistostomia). Sua nomenclatura depende de onde está confeccionada⁽¹⁾.

Após a construção da estomia, o indivíduo passa por uma série de mudanças nas suas atividades de vida diária, necessitando de adaptação. Esse processo pode desencadear momentos de depressão, tristeza, medo, afastamento das atividades que costumava fazer e isolamento social⁽²⁾.

A partir disso, o enfermeiro apresenta um papel essencial no processo de adaptação, pois é responsável por fornecer orientações sobre os cuidados com a estomia, apoio emocional e estimular o retorno para suas atividades de vida diária⁽²⁾. Além disso, o referido profissional propicia à pessoa com estomia ações de educação em saúde, promovendo a autonomia e o envolvimento da família nesse processo de cuidados.

E, para a efetivação da educação em saúde, dentre os recursos tecnológicos utilizados, os vídeos estão ganhando um espaço interessante. Destaca-se a categoria de vídeo de animação, que é considerada um grande recurso pedagógico pois apresenta a informação de forma lúdica, indireta, com leveza e sutileza, o que atrai o foco do espectador com naturalidade⁽³⁾.

Logo, torna-se necessário a criação e validação de tecnologias audiovisuais de educação em saúde em plataformas digitais que auxiliem a promoção do autocuidado de pessoas com estomias promovendo um conteúdo seguro e de qualidade⁽⁴⁾.

Diante disso, o estudo tem como questão de pesquisa: “quais as características dos vídeos de animação existentes na literatura e disponíveis no youtube® sobre estomias de eliminação?” e o objetivo foi identificar e caracterizar vídeos de animação sobre educação em saúde relacionada a estomias de eliminação.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo de natureza quantitativa do tipo descritivo com uma etapa de prospecção tecnológica. Para guiar a pesquisa, foi implementado um protocolo de pesquisa para organizar e padronizar a busca. Esse protocolo é composto por: título, registro, objetivo, questão norteadora, critérios de elegibilidade, coleta de dados e extração e apresentação dos dados.

A busca na literatura foi realizada em junho de 2022 nos periódicos disponíveis na plataforma CAPES, mediante acesso via Comunidade Acadêmica Federada (CAF). Foram consultadas as seguintes bases de dados: ColecionaSUS, Repositório institucional para troca de informações (POHO-Iris), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Base de Dados de Enfermagem Brasileira (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Também foram utilizadas as bases Web of science, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e SCOPUS.

Na literatura cinzenta, foi pesquisado nos seguintes locais: Biblioteca Digital Brasileira de teses e dissertações (BDTD), Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP), Theses Canada, DART-Europe E-Theses Portal, National ETD Portal e YouTube^br. O Youtube foi escolhido pois, atualmente ele é o site mais comum, popular e de fácil acesso para vídeos gratuitos com conteúdos diversos.

A busca dos vídeos foi realizada no dia 15 de junho de 2022 na plataforma de vídeos Youtube (youtube.com), escolhida por ser atualmente a maior plataforma gratuita de compartilhamentos de vídeos da internet. Os descritores utilizados para a busca foram: “animação estomias”, “animation ostomy” e “animacíon estomias”. Só foi utilizado o filtro de relevância na busca dos vídeos.

Para a busca dos arquivos, foram utilizados os DeSC/MeSH e os operadores booleanos com alguns cruzamentos descritos na Tabela 01 para melhor compreensão.

Tabela 01. Arquivos encontrados a partir dos cruzamentos dos DeSC/Mesh. Natal, RN.2022. 

Fonte: produzido pelos autores.

Como critérios de elegibilidade, foram definidos documentos disponíveis completos, em todos os idiomas, que abordem o tema de animação, respondendo ao objetivo do estudo e que contemplem pelo menos uma estomia de eliminação. Excluíram-se os arquivos que não atenderam aos objetivos da pesquisa, que abordavam outro tipo de estomia que não fosse as de eliminações, vídeos que apresentem apenas um momento de animação, que aborde outros tipos de estomia e vídeos de representantes comerciais com objetivo de divulgação dos produtos.

A seleção da amostra se deu pelo título e capa do vídeo, posteriormente a reprodução integral do vídeo. Não foi possível identificar a quantidade de vídeos na busca, pois a plataforma não nos dá o número exato de achados a partir da busca pelos descritores. Por isso, a busca ocorreu até que não pudesse ser encontrado nenhum vídeo que fosse relacionado ao tema. E

Após a busca, foram extraídos dos vídeos algumas informações como título, link, duração do vídeo, ano de postagem, visualizações, idioma, tipo de estomia e tema abordado. Essas informações foram organizadas em uma planilha do Microsoft® Office Excel e organizadas para a apresentação dos resultados.

RESULTADOS

Referente a pesquisa, foram identificados 346 artigos, destes apenas um foi selecionado pelo título e resumo e foi lido na íntegra, e o mesmo, não respondeu aos critérios de inclusão nem a questão de pesquisa e não foi adicionado na amostra, totalizando em zero publicações referentes ao tema. Também foram identificados 171 arquivos provenientes da literatura cinzenta. Desses, apenas 30 vídeos do Youtube foram analisados, e apenas 19 entraram na amostra final. Essa busca pode estar mais explicada na Tabela 02 a seguir.

Tabela 02. Fluxo das buscas na literatura e literatura cinzenta. Natal, RN. 2022. 

Fonte: produzido pelos autores.

Diante do resultado dos vídeos no Youtube, a amostra foi composta por 19 vídeos, que corresponde a 1h28min de vídeo, sendo o mais curto de 31 segundos e o mais longo 9min44seg. Além disso, destaca-se o número de visualizações dos vídeos, cujo total resultou em 3.025.706 visualizações. O vídeo mais visto tem 870.998. Referente ao ano da postagem, observa-se que o que apresentou mais vídeos foi 2021 com seis (31,6%) vídeos, seguido de 2014 com 5 (26,4%), 2019 e 2020 com dois (10,6%) vídeos cada ano, e 2018, 2014,2013 e 2012 apresentaram apenas um vídeo (5,5%) cada.

Com relação ao idioma, identificaram-se apenas dois idiomas nos vídeos com a predominância do inglês (94,7%) e espanhol com um (5,3%) vídeo. Além disso, observa-se que os tipos de estomias de eliminação abordadas nos vídeos são as colostomias, aparecendo em 15 vídeos (78,84%), e a ileostomia e urostomia, sendo abordadas nos vídeos 10 (52,63%) e 9 vezes (47,36%), respectivamente. O quadro 01 apresenta o resultado da pesquisa com título do vídeo, link e número de identificação.

Quadro 01. Resultado com nº do vídeo, link, título do vídeo, duração, nº de visualizações e ano de postagem. Natal, RN. 2022. 

Fonte: produzido pelos autores.

O quadro 02apresenta os temas abordados nos vídeos, seguidos pelo número do vídeo para identificação.

Quadro 02. Temas dos vídeos. Natal, RN. 2022. 

Fonte: Produzido pelos autores.

DISCUSSÃO

Apesar de não existirem ainda publicações acerca de produções de vídeos de animação para pessoas com estomia, já é possível encontrar algumas publicações na literatura utilizando a animação para educação em saúde abordando temas, como por exemplo, risco de queda em idosos hospitalizados, uso de drogas, ressuscitação cardiopulmonar para surdos e infecções sexualmente transmissíveis^(5,6,7).

Em um estudo sobre saúde digital, foi possível identificar a utilização de tecnologias utilizadas na educação em saúde e como apoio à consulta de enfermagem, dentre essas tecnologias os vídeos do youtube foram colocados como fáceis e de fácil abrangência, melhorando o processo do cuidado e promovendo maior qualidade de vida as pessoas⁽⁸⁾.

É interessante ressaltar que a maioria das animações encontradas no Youtube apresentam o idioma em inglês, e nenhuma em português. Esse fato pode revelar a escassez desse tipo de material para pessoas com estomias de eliminação no Brasil.

Foi observado que os dois temas mais abordados nos vídeos foram a definição e a confecção da colostomia. Esse fato deve-se a que, segundo os estudos que levantam o perfil das pessoas com estomia, das estomias de eliminação a colostomia apresenta o maior número nos levantamentos^(9,10,11,12).

Seguindo a mesma linha, as causas para a confecção da estomia podem estar relacionadas às neoplasias, doenças inflamatórias como a doença de Crohn, e traumas como ferimentos por arma branca ou arma de fogo, acidentes de carros, dentre outros. Entretanto, desses fatores, o que mais predomina para a construção da estomia são as neoplasias ⁽¹⁰⁾.

Um tema abordado em dois vídeos foram as complicações e outro tema que está relacionado com as complicações é a consulta com o enfermeiro estomaterapeuta, que aparece em apenas um vídeo. Sabe-se que a consulta com o estomaterapeuta aborda desde a prevenção até a reabilitação do indivíduo, e tem impacto direto na diminuição das taxas de complicações relacionadas a estomias de eliminação⁽¹³⁾.

Relacionado ao grupo de apoio, observa-se que dois vídeos demonstram isso. A rede de apoio é algo primordial para o processo de adaptação da pessoa com estomia, pois desempenha um papel de ajuda nos materiais e serviços, apoio emocional e companhia social, e dentre essas, a que mais destaca-se é a ajuda nos materiais e serviços, já que enquanto a pessoa estiver com a estomia, ela irá precisar de cuidados específicos com os dispositivos coletores⁽¹⁴⁾.

Outro tema importante que foi abordado em um único vídeo foram os cuidados com a estomia em tempo de pandemia. Vários serviços que atendem esse público tiveram que fazer adaptações nas suas rotinas para não deixar de assistir os pacientes nem colocar suas vidas em risco, sendo essas mudanças desde o uso de equipamentos de proteção individual, adequação da área física, mudanças de fluxos de atendimento, dentre outros⁽¹⁵⁾.

Relacionado aos cuidados com os dispositivos e a troca de bolsa, é visto que as principais atividades de autocuidado são a higienização e a troca da bolsa coletora. Além dessas práticas, os cuidados com a pele periestoma, hábitos alimentares e mudanças no modo de se vestir também estão presentes⁽¹⁶⁾.

Outro tema que está relacionado diretamente com a adaptação e melhora na qualidade de vida das pessoas com estomias é a irrigação da colostomia, que foi presente em um vídeo. Essa prática associada com o sistema oclusor impacta diretamente na autoestima e segurança da pessoa com estomia, uma vez que o seu uso torna possível o controle fecal⁽¹⁷⁾.

Relativo à atividade física, foi visto que um vídeo abordou esse assunto. Em um estudo sobre qualidade de vida relacionada a indicadores sociodemográficos, moradia, saneamento e estilo de vida, foi visto que em um número de participantes de 106 pessoas com estomias, apenas 67,92% não realizava atividades físicas, e não há relatos sobre rotina diária de atividade física, só semanal ou esporádica. Esse fato pode estar relacionado com os sentimentos de medo que acompanham a pessoa durante a sua jornada⁽¹⁸⁾.

Quando o assunto é reversão da colostomia ou ileostomia, é interessante que apenas um vídeo apresentou essa temática, mas não abordou as repercussões disso na vida da pessoa com estomia. Após a reversão da estomia, os pacientes relatam dificuldade com as mudanças corporais, restrições alimentares e alterações na continência fecal com as urgências evacuatórias. Entretanto, eles acabam referindo também a melhora da aparência, o uso de roupas mais justas, a melhora no convívio social, a perda do medo de movimentar-se, e até a voltar a frequentar a praia⁽¹⁹⁾.

Para a reversão da estomia também é necessário que o indivíduo se adapte novamente após o fechamento do óstio. Essa adaptação envolve o mecanismo fisiológico com o novo trânsito de eliminação e alimentação, mas também alcança aspectos psicossociais, como alterações na autoimagem, readaptação de roupas e lugares. A partir disso, é necessário que o enfermeiro aprofunde o seu conhecimento e apresente um olhar humanizado para a pessoa que passou por reversão, podendo até utilizar instrumentos como projetos terapêuticos singulares para auxiliar o indivíduo nesse novo processo de adaptação⁽¹⁹⁾.

As limitações encontradas para o desenvolvimento dessa pesquisa estão relacionadas à busca dos vídeos no youtube, pois a própria plataforma não disponibiliza o número total de vídeos encontrados referente aos descritores. Além disso, sõa disponibilizados poucos recursos de filtros para a pesquisa.

CONCLUSÃO

O presente artigo teve objetivo alcançado de maneira parcial, pois não foi identificado nenhum estudo sobre construção de vídeo de animação para pessoas com estomia, entretanto, foram identificados no youtube 19 vídeos de animação que abordam diversos temas referentes a estomia, dentre eles, a definição e confecção de colostomia e ileostomia.

Desta forma, pode-se inferir que há uma necessidade de construção e validação de vídeos de animação sobre estomias de eliminação para serem utilizados como ferramentas de educação em saúde e apoio para profissionais no pré e pós-operatório. Ademais, salienta-se a importância de haver mais estudos que discorrem a respeito deste tema a fim de contribuir para o conhecimento e futuras pesquisas.