Introdução

As discussões acerca da revitalização da Base de Dados Bibliográficas Especializada na área de Enfermagem (BDENF), vinculada à Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tiveram início em 1998. Contudo, foi em 2003, que o assunto tomou força mediante a proposta do Diretor do Centro Latino Americano e do Caribe em Ciências da Saúde-BIREME/OPAS, à época, Dr. Abel Packer, com liderança da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para a construção da Biblioteca Virtual de Saúde – Enfermagem (BVS-Enfermagem), em parcerias com outras instituições tais como Escolas de Enfermagem do país, Centro de Estudos e Pesquisa em Enfermagem, da Associação Brasileira de Enfermagem (CEPEN/ABEn) e Conselho Editorial de Revistas de Enfermagem, o que deu origem a sua criação em 2005.

Para a implementação da BVS-Enfermagem várias propostas de projetos emergiram, a saber: projeto para delineamento da situação atual da Base de dados BDENF - controle bibliográfico da literatura de enfermagem; criação do Portal REV@ENF com o objetivo de disponibilizar textos completos das revistas das áreas de enfermagem, utilizando a metodologia Scientific Electronic Library Online (SciELO); integração de currículos de pesquisadores e grupos de pesquisa; definição/adoção de vocabulário controlado em enfermagem; incorporação das teses e dissertações produzidas pelos programas de pós-graduação em enfermagem e organizado pelo CEPEN; diretório de sites e eventos; e estudo do impacto dos periódicos de enfermagem no Brasil.

O objetivo era de desenvolver a BVS-Enfermagem em conformidade com os padrões, metodologias, componentes, tecnologias de informação e comunicação utilizadas na BVS - modelo proposto e coordenado pela BIREME/OPAS, no sentido de contribuir com o desenvolvimento da enfermagem, acadêmica e assistencial. Isto, com efeito de promover o acesso aos produtos e serviços informacionais da área, constituir espaço de acesso equitativo ao conhecimento em enfermagem para a disseminação de informação científico-técnico e potencializar a disponibilidade e confiabilidade na operação das fontes de informação https://bvsenfermeria.bvsalud.org/wp-content/uploads/2019/11/PROJETOmsvr.pdf).¹

Os projetos foram conduzidos pelas instituições parceiras e a partir de 2009 a BVS Enfermagem inicia projetos na área de História da Enfermagem, sua inserção, como área temática na BVS-Enfermagem, vem para agregar e ampliar a valorização desse conhecimento.

Para colaborar nas discussões do Grupo de trabalho da Área Temática de História da Enfermagem (GTATHE) da BVS designado, no ano de 2018, realizou-se um levantamento da produção de pesquisa História da Enfermagem nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cumulative Index Nursing Allied Health Literature by EBSCO (CINAHL/EBSCO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Scopus (SCOPUS), considerando os seguintes intervalos temporais: 2014 a 2017 (1761 artigos localizados) e 2009 a 2013 (2702 artigos localizados). O intervalo de 2009 a 2013 foi pré-selecionado por constituir o intervalo de maior produção, com recorte para o ano de 2013, por ser o mais recente do intervalo. A análise aprofundada de um pequeno recorte temporal, possibilitou vislumbrar parte do estado da arte História da Enfermagem.

Entendemos a história da enfermagem no campo do ensino e pesquisa, em franco desenvolvimento, mesmo diante das limitações que os pesquisadores enfrentam, no que se refere aos estudos de natureza sócio-histórica, especialmente, nas investigações históricas, quando práticas e saberes articulam-se em prol da construção de narrativas, cada qual com a sua versão e interpretação, que deve ser valorizada e percebida, criando possibilidades de reinterpretação de saberes, constituintes dos contextos históricos e culturais, demonstrando a importância da perspectiva histórica para a enfermagem e contribuindo para divulgar este conhecimento para um público maior.²,³

O objetivo deste estudo foi analisar o processo de criação da Área Temática de História da Enfermagem, como parte da Biblioteca Virtual de Saúde – Enfermagem e o recorte da produção científica da área de história da enfermagem de 2013, utilizado para nortear os trabalhos da área temática.

Metodologia

O tipo de estudo trata-se de Relato de Experiência dos atores sociais envolvidos na criação da Área Temática de História da Enfermagem, articulado à Revisão Integrativa de Literatura Bibliométrica, que permite a síntese e agrupamento de múltiplos estudos publicados, de forma sistemática, levantando conclusões gerais e aprofundamento sobre determinada área de pesquisa. Para a Revisão, foram seguidas seis etapas: (1) Estabelecer a questão de pesquisa; (2) Levantamento nas bases de dados de pesquisa; (3) Classificação dos estudos; (4) Avaliação; (5) Interpretação dos resultados; (6) Síntese do conhecimento⁴, tendo como questão de pesquisa “Como se apresenta o estado da arte da pesquisa em História da Enfermagem, em 2013”?

Para alcance da segunda etapa utilizou-se a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cumulative Index Nursing Allied Health Literature by EBSCO (CINAHL/EBSCO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Scopus (SCOPUS). A Classificação dos estudos (etapa 3), deu-se pelos seguintes critérios de inclusão: artigos publicados na íntegra em espanhol, inglês ou português, tendo como descritor de assunto ou assunto principal o termo “História da Enfermagem”, com descrição clara da metodologia utilizada na pesquisa, estudos disponíveis on-line gratuitamente ou localizados a partir do acesso institucional da Universidade de São Paulo - USP, nas referidas bases de dados ou via Periódicos CAPES. Como critérios de exclusão: teses, dissertações, livros e monografias, editoriais, notícias (eventos, perfis, notas), cartas ao editor, artigos em outro idioma e duplicatas.

A avaliação (etapa 4) se deu pela microanálise, considerando o título e resumo, seguido de análise na íntegra do artigo. Estes, inicialmente identificados, foram inseridos na ferramenta de gerenciamento de referências bibliográficas desenvolvida pela Thomson Reuters “EndNote Web®” para eliminação de duplicatas e gestão dos resultados.

Foi aplicada uma matriz de análise composta dos seguintes itens: autores, instituição do primeiro autor, país, idioma, revista, ano da publicação, palavra-chave e categoria do artigo. Esta visou síntese do estado da arte da produção de História da Enfermagem em 2013, para mitigar a subjetividade no processo de organização dos dados em apreço.⁵ Os dados foram organizados em quadro e representações gráficas para discussão e em seguida o delineamento das considerações finais.

Resultados principais e discussão

Mediante as etapas cumpridas na metodologia, o resultado da Revisão Integrativa de Literatura Bibliométrica foi de 482 artigos, cuja análise é apresentada a seguir (Quadro 1, Figura 1). O Quadro n. 1 apresenta o resultado da sistemática aplicada ao estudo, o que apontou para os resultados obtidos.

Fonte: Elaborado a paritr de Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, The PRISMA Group (2009) Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. PLoS Med 6(7): e1000097. doi:10.1371journal.pmed.1000097.

Figura 1. Prisma Flow Diagram das etapas do estudo. Ribeirão Preto, 2022. 

O recurso do EndNote Web® foi fundamental para a agilidade da gestão dos dados e encontro de duplicatas, mas também se observa, que o sistema nem sempre apresenta na tela diretamente todos os dados. Alguns artigos aparecem sem o autor, o que demandou mais de duas buscas no sistema por título do trabalho e autores para eliminação de todas as duplicatas.

Em relação às bases de dados, nem sempre é possível filtrar os resultados por tipo de artigo, visto a eliminação de 60 artigos, que não configuraram resultados de pesquisa e 71 artigos da área de História da Enfermagem, devido à falta de detalhamento acerca do método utilizado. Para o presente estudo, foram incluídos apenas artigos com metodologia clara ao longo do texto.

Além disso, 86 artigos não se tratavam de estudos da área de História da Enfermagem, o que leva a crer, que mesmo utilizando os recursos de descritores e MesH na busca, o sistema ainda recuperou artigos onde a palavra “história” aparece aleatoriamente no título ou resumo. O ajuste das bases de dados teria eliminado tempo considerável de análise do estudo.

Ainda se destacam 39 artigos, (8,1%) dos artigos eliminados estavam indisponíveis na íntegra gratuitamente, o que inviabilizou a sua consulta. Grande parte desses, de revistas internacionais, de fora do Brasil, que apresentam custos inviáveis para estudos dessa natureza.

No total, foram incluídos 99 artigos no estudo, sendo 21 (21,2%) de artigos de Revisão de Literatura e 78 (78,8%) artigos científicos originais, que foram publicados em 3 idiomas: artigos em português exclusivamente (32.3%), artigos em português com versão traduzida para o inglês (20.2%), artigos em inglês (27.3%), artigos em espanhol (19.2%), artigos em português traduzidos para o inglês e espanhol (1%).

Destaca-se que 53 artigos (54%) do total de artigos selecionados possuem versão na língua portuguesa, fato que demonstra um investimento importante dos pesquisadores brasileiros na área.

Interessante destacar, que o Brasil, no gráfico 1, aparece com relevo (47,5% dos artigos), o que faz com que a pesquisa no campo da História da Enfermagem seja um dos potenciais no campo do saber da área. Por outro lado, nossa assertiva pode parecer frágil se comparada a outras áreas do saber, mas quando comparada à abrangência internacional, ela se faz relevante. A incidência de países localizados em menos de três (3) artigos foi incluída na categoria “outros” (13%).

Fonte: BVS, CINAHL com Full Text/EBSCO, SCOPUS e MEDLINE, 2013.

Gráfico 1. Distribuição do país do primeiro autor dos artigos de pesquisa em História da enfermagem selecionados, de 2013, segundo a frequência. Ribeirão Preto, 2022. 

Foram identificadas 376 incidências de palavras-chave (PC) nos artigos selecionados contabilizadas uma única vez, considerando as traduções. As PC, com incidência menor que 3, tiveram 229 ocorrências (60,9% das PC), demonstrando falta de uniformidade no uso das PC da área.

As palavras-chave que mais caracterizaram os estudos localizados foram “história da enfermagem” encontrada em 57% dos artigos (14,9% das PC). Houve sequência do ranking com a palavra-chave “Enfermagem”, localizada em 32% dos artigos (8,5% das PC), “História”, localizada em 18% dos artigos (4,8% das PC), “Cuidado de Enfermagem”, localizada em 7% dos artigos (1,9% das PC), “Pesquisa em enfermagem” e “Educação em Enfermagem” foram localizadas em 6% dos artigos cada uma (1,6% das PC cada), “Pesquisa Histórica” e “Enfermagem Psiquiátrica” foram localizadas em 5% dos artigos cada (1,3% das PC), “Cuidado”, “Ensino” e “Conhecimento” foram localizadas em 4% dos artigos cada, (1,1% das PC).

Dos 99 artigos incluídos na análise, identificou-se 52 revistas diferentes. Entretanto, dentre essas, trinta e cinco (35) revistas foram mencionadas apenas uma (1) vez e nove (9) revistas foram mencionadas apenas duas (2) vezes. As outras oito (8) revistas que apresentaram mais de duas incidências são identificadas no Gráfico 2. Como podemos observar, a variante outros se destaca pela variedade pulverizada das publicações.

Gráfico 2. Distribuição das Revistas de Publicação dos artigos de pesquisa em História da Enfermagem, de 2013, segundo a frequência. Ribeirão Preto, 2022. 

A revista brasileira História da Enfermagem: Revista Eletrônica (Qualis Capes 2013-2016 B4), liderou o ranking de publicações de artigos de História da Enfermagem, no ano de 2013 (10,1%), seguida da revista espanhola “Cultura de Los Cuidados” (Qualis Capes 2013-2016 B2), com 9,1%, da brasileira “Texto & Contexto -Enfermagem” (Fator de impacto 0.134 em 2012 e Qualis Capes 2013-2016 A2) com 7,1% e a “Revista Brasileira de Enfermagem” (Qualis Capes 2013-2016 A2), com 6,1%, a australiana “ Nursing Inquiry” (Fator de impacto 1.894 em 2019 e Qualis Capes 2013-2016 A1), com 5,1%, a portuguesa “Pensar Enfermagem” (Qualis Capes 2013-2016 B2), e as brasileiras “Escola Anna Nery Revista de Enfermagem” (Qualis Capes 2013-2016 B1) e “Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online” (Qualis Capes 2013-2016 B2), com 3% cada.

Na categoria “Outros”, foram publicados 53 artigos (53,53%), com destaque para as revistas com dois artigos cada: Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista de enfermagem UFPE on line, Revista Latino-Americana de Enfermagem, Revista Enfermagem (UERJ), Aquichan, Revista Eletrônica de Enfermagem, Contemporary Nurse, Historia, Ciencias, Saude - Manguinhos e Revista de Enfermagem da UFSM e 35 revistas com apenas 1 artigo localizado.

Vale destacar o avanço de revistas específicas da temática como a “História da Enfermagem: Revista Eletrônica”, que por sua especificidade, era esperado um bom posicionamento no ranking de artigos. No âmbito internacional, a revista “Nursing History Review” também apresenta essa especificidade, mas seu acesso exclusivo por pagamento inviabilizou a inclusão de artigos dessa revista. Oito (8) artigos dessa revista internacional foram eliminados do estudo, por sua indisponibilidade de acesso gratuito.

Um outro aspecto a ser destacado é a relação dos principais autores e instituições, produtoras do conhecimento em História da Enfermagem, no ano de 2013.

Dos 99 artigos analisados foram identificados 220 nomes de autores, dos quais 17 são mencionados apenas duas (2) vezes, e 190 autores são mencionados apenas uma (1) vez. A média foi de dois autores por artigo.

O Gráfico 3 representa a distribuição de autoria, para autores que apresentaram incidência em mais de dois (2) artigos, sendo que todos os 13 primeiros autores, com maior produção, são brasileiros. Além disso, observa-se que a maioria desses autores é participante ou líder de Grupos de Pesquisa em História da Enfermagem, cadastrados no CNPq, e vinculados a programas de pós-graduação de excelência no Brasil, demonstrando correlação entre as lideranças de pesquisa/grupos de pesquisa e a produção da área, com importante atuação de grupos de pesquisa da região sudeste, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo, e região sul (especialmente, Santa Catarina). Isso também pode estar atrelado à presença de linhas específicas de História da Enfermagem, nos programas de pós-graduação, onde esses autores estão vinculados.

Gráfico 3. Distribuição dos autores mais produtivos, nos artigos de pesquisa em História da Enfermagem, de 2013, segundo a frequência. Ribeirão Preto, 2022. 

Os resultados sobre a instituição do primeiro autor corroboram o resultado da incidência dos autores em si. Para o presente estudo foi considerada apenas a instituição do primeiro autor por “em teoria” ser a liderança do estudo, ou o autor mais importante.

Destaca-se que, em cinco artigos, não houve indicação da instituição dos autores. No total, 40 instituições são mencionadas apenas uma vez (1) e as demais tiveram a liderança da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (8%), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (7% cada), Universidade de São Paulo (5%), Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP (4%), Universidad Nacional Autónoma de México (3%), Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, University of Virginia, University of Pennsylvania, Monash University, Universidad Autónoma del Estado de México, Universidad de Castilla- La Mancha, Universidad de Murcia, Universidade Federal da Bahia - UFBA, Universidade Federal do Pará - UFPA e Université Le Havre com (2%) cada.

A área da História da Enfermagem, no Brasil, tem como primeiro vestígio, a primeira Tese de Cátedra da América Latina da Enfermagem, em 1963, defendida pela Enfermeira Profa. Dra. Glete de Alcântara, para a cadeira de História e Ética, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. Com o advento da pós-graduação em Enfermagem em nível mestrado e nível doutorado, nas décadas de 1970 e 1980, respectivamente, a referida área vem enfrentando dificuldades para ampliação de sua visibilidade e credibilidade diante das outras áreas do saber, inclusive na enfermagem. Embora desde o ano 2000, a área de enfermagem na CAPES ter proposto e incluído a história da enfermagem como área de conhecimento, o CNPq ainda adota o modelo tradicional de áreas de conhecimento da enfermagem, não reconhecendo a especificidade da História da Enfermagem, o que muitas vezes dificulta a avaliação dos trabalhos da área e aprovação de recursos para pesquisa.

A produção em História da Enfermagem tem maior avanço a partir da década de 1990, com a criação de grupos de pesquisa e linhas de pesquisa específicas em programas de pós-graduação em Enfermagem e em linhas de História das ciências da Saúde, mas a área ainda não é privilegiada por grande parte dos pesquisadores de enfermagem.

Em 2009, é proposta a criação do Portal de História da Enfermagem coordenado pela Escola de Enfermagem Anna Nery. Isto ocorreu mediante ao movimento pela importância da visibilidade no campo, por meio de história oral, história de vida, verbetes, vídeos, documentos e iconografia. Assim, dez anos depois o Portal foi lançado e está disponível no link https://bvsenfermeria.bvsalud.org/vitrinas/post_vitrines/historia-da-enfermagem/. Nele os pesquisadores e interessados na área são capazes de acessar informações para redimir dúvidas, problematizar seus objetos de estudos e conhecerem mais sobre a trajetória da profissão.

No corpo do projeto BVS-Enfermagem inclui-se a definição das áreas temáticas de enfermagem, assim como, organizar os conteúdos registados nas fontes de informação da BVS enfermagem. A estrutura temática consiste em estabelecer tópicos de assuntos para nortear todo o desenvolvimento da BVS buscando atender as necessidades de informação dos diversos usuários: acadêmicos, pesquisadores, profissionais e outros usuários do sistema de saúde. A implantação das áreas temáticas permite a realização de consulta a diversas bases de dados bibliográficas ao mesmo tempo, sem que o usuário precise elaborar estratégias de busca. As estratégias são pré-elaboradas por bibliotecários especialistas, considerando-se as diversas possibilidades de busca, de modo que o usuário tenha um resultado amplo do assunto pesquisado.¹

A estrutura da área temática da BVS-Enfermagem inicial traçada em 2005, foi constituída das áreas de conhecimento elaboradas pelo CNPq/CAPES/ABEn após consulta aos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem do país, contendo os temas prioritários para a pesquisa em Enfermagem. Porém, com o desenrolar do tempo, novas discussões aconteceram e apenas em 2016, viabilizou-se uma nova configuração, nas seguintes áreas: Saúde da Mulher; saúde da Criança e Adolescente; Saúde do Adulto e Idoso; Saúde Coletiva; Saúde Mental; Saúde do Trabalhador e Educação em Enfermagem.⁶

Na 14^a reunião do Conselho consultivo da BVS-Enfermagem em 2016, foram sugeridas e aprovadas a inclusão de duas novas áreas temáticas: História da Enfermagem; e Fundamentos Teóricos, Filosóficos, Conceituais e Metodológicos da Enfermagem.⁷

Para conduzir a criação e implementação da Área Temática de História da Enfermagem (ATHE), foi convidada a Dra. María Itayra Padilha (UFSC/SC), para coordenar o processo, e como parte da equipe de trabalho, a Dra. Luciana Barizon Luchesi (USP/SP); Dr. Fernando Porto (UNIRIO/RJ); e Dr. Alexandre Oliveira (UFRJ/RJ). O Grupo de trabalho (GTATHE) passou a construir a ementa específica e preencher a planilha já existente com os termos primários e secundários (transversais) para delimitar o escopo relativo à história da enfermagem. A análise do estado da arte da produção em História da Enfermagem, de 2013, ajudou na discussão e na escolha dos descritores para compor a Área Temática História da Enfermagem, além de destacar avanços e dificuldades da área.

A proposta criada pelo grupo foi submetida e apoiada pelo segmento de biblioteconomia com apoio da BIREME/OPAS/OMS, no sentido de construir a estratégia de busca específica para a área a partir dos termos primários, termos livres e termos secundários, tendo em vista a ementa proposta e o estudo realizado.

Ao final da construção da área, foi realizado o lançamento da área temática em História da Enfermagem durante o 5º Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem (CLAHEN), no 70^o Congresso Brasileiro de Enfermagem, na cidade de Curitiba/Paraná em novembro de 2018.

A partir daí o grupo organizador e a comunidade científica da enfermagem passaram a realizar a crítica e utilização da área temática, ampliando a participação das redes de enfermagem e grupos (ou membros de grupos) de pesquisa com abrangência nacional e internacional. Atualmente, a BVS–Enfermagem conta então com 11 áreas temáticas disponibilizadas na página (https://bvsenfermeria.bvsalud.org/pt/blog/vhl/temas-2/), e em desenvolvimento e avaliação constante pelos pares.

A revisão de literatura trouxe importantes contribuições para a reflexão do GTATHE, por exemplo, a alta eliminação de artigos sem metodologia clara. Isso leva à uma reflexão importante sobre os rumos da escrita da pesquisa em História da Enfermagem, uma vez que a exigência explícita da metodologia, garante maior visibilidade na área da Enfermagem, ou também refletir sobre uma escrita, que se aproxima da área da História, que muitas vezes considera a metodologia histórica embutida no processo e sem uso de explicação da metodologia.

Além disso, é imprescindível o uso de vocabulário controlado nas publicações, uma vez que as palavras-chave mais incidentes, exceto “Pesquisa Histórica”, são palavras-chave reconhecidas pelo sistema de “descritores de assunto” ou “MeSH terms”, fato que favorece a melhor localização dos artigos segundo o tema. Por outro lado, muitas das palavras com incidência menor que três (3) não eram descritores de assunto e muitas vezes, tinham significados semelhantes, prejudicando a quantificação adequada das palavras-chave por assunto e a localização de estudos sobre temas específicos.

Destaca-se também, a importância dos pesquisadores demarcarem sua área de conhecimento, uma vez que 43 artigos (43%) não apresentaram a palavra-chave “História da Enfermagem”, que também pode ter sido prejudicada pelo uso de palavras-chave similares como “História” e “Pesquisa Histórica”, sendo que a última não se trata de vocabulário controlado.

Observou-se a necessidade de investimentos em revistas específicas para fortalecimento da área, uma vez que, a revista com maior produção encontra-se no estrato Qualis Capes 2013-2016 B4 e a internacional, que teve sua última avaliação de fator de impacto em 2016 com classificação 0.105, não possui Qualis Capes na avaliação 2013-2016. Para a “História da Enfermagem: Revista Eletrônica”, entretanto, deve se levar em conta seu lançamento no ano de 2010, o que representa uma revista relativamente jovem, mas que já se destaca na produção mundial.

Por outro lado, o destaque brasileiro nas produções também pode ser vislumbrado pelo fato de que, das 8 revistas, que mais publicaram artigos de pesquisa de História da Enfermagem, em 2013, nas bases de dados selecionadas, cinco (5) são brasileiras, mostrando um espaço importante das revistas brasileiras para essa produção.

Além disso, das oito principais revistas científicas, que publicaram artigos de História da Enfermagem, 50% delas estão no estrato entre B1 e A1, e uma delas possui Fator de impacto na avaliação de 2019, características consideradas de excelência. Somando a produção, houve 21 artigos (21%) dentro dessas revistas. O que demonstra que a produção de História da Enfermagem se encontra ainda bem dispersa nas revistas.

Estudo realizado sobre a produção dos grupos de pesquisa de história da enfermagem registrados no sistema CNPq, de 1999-2009, identificou 34 grupos de pesquisa e 394 artigos publicados na área, sendo essa produção concentrada em cinco revistas: “Revista Brasileira de Enfermagem” (230), “Escola Anna Nery − Revista de Enfermagem” (143), “Revista da Escola de Enfermagem da USP” (127), “Texto e Contexto Enfermagem” (98) e “Ciência, Cuidado e Saúde” (95).⁸ Em comparação ao presente estudo, os resultados de 2013 parecem demonstrar continuidade de uma produção, que encontra espaço nessas revistas, com ascensão da “História da Enfermagem: Revista Eletrônica - HERE”, assim como da espanhola Revista “Cultura de Los Cuidados”.

Esses dados são importantes para os pesquisadores no momento de escolha do encaminhamento de sua produção, seja pelo fator de impacto/qualis, ou pela aceitação das revistas aos estudos de História da Enfermagem.

No presente estudo também se destacam os pesquisadores da Escola de Enfermagem Anna Nery, que foi o primeiro programa de pós-graduação com inserção de linha de pesquisa em História da Enfermagem, na década de 1990 e que representou impulso importante para desenvolvimento de pesquisas e criações futuras de outros grupos de pesquisas a partir de egressos desse programa.

Essas hipóteses encontram voz no estudo sobre a produção de teses e dissertações da área de história da Enfermagem de 1988-2011. Entre as dissertações/teses localizadas foram identificados 96 orientadores, onde apenas 10,4% desses, orientaram mais de quatro alunos. Fato que pode indicar que, apesar do tema parecer não estar entre os temas de estudo frequentes, já desponta um grupo mais sólido nessa temática e que tem reflexos no presente estudo. Por exemplo, dentre os principais orientadores de teses e dissertações de 1988-2011 destacam-se: Ieda de Alencar Barreira (11), Taka Oguisso e Suely de Souza Baptista (9 cada), Tânia Cristina Franco dos Santos e Wellington Mendonça Amorim (8 cada), María Itayra Coelho de Souza Padilha (7), Miriam Süsskind Borenstein, María da Luz Barbosa Gomes e Almerinda Moreira (6 cada) e Joséte Luzia Moreira Leite (5).⁹

Esse destaque pode estar relacionado aos avanços das linhas de pesquisa de História da Enfermagem na pós-graduação. Estudo no catálogo do Centro de Estudos e Pesquisas de Enfermagem (CEPEN), da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), que possui a produção de teses e dissertações de enfermagem, com recorte do período de 1988 e 2011, localizou 7.722 teses e dissertações. Nessa produção foram localizados 189 resumos de teses (66,1%) e dissertações (33,9%) na área de História da Enfermagem, representando 2,4% da produção total, com mais da metade dessa produção na década de 2000 e como as instituições mais produtivas a Escola de Enfermagem Anna Nery-UFRJ (34,8% da produção) e a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP (EERP-USP) (30,4% das produções). Na década anterior, a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto- UNIRIO (EEAP-UNIRIO) teve grande destaque, mas com menor produção na década de 1990. Entretanto, na década de 2000, a EEAP-UNIRIO retoma seu destaque com 14,1% das teses e dissertações, atrás da liderança da UFRJ com 36,3%, ascendendo também a Universidade Federal de Santa Catarina (13,1%) e diminuição da EERP-USP (6%). ⁹

Destaca-se ainda o custo de acesso para os estudos. Isso também coloca em xeque o atual cenário das publicações. Se por um lado um artigo para o leitor pode custar até $50 dólares ou mais, as revistas da área de Enfermagem, com Qualis A, no Brasil, exigem do pesquisador/autor, custos da ordem de mais de R$2.000,00 reais, por artigo. Isso também traz a reflexão sobre os custos para se manter as publicações, entre as mais produtivas do país, e a possibilidade de grupos de pesquisas manterem esses custos. Isso também aponta para a necessidade de fortalecimento dos grupos de pesquisa da área e os trabalhos em rede que podem amplificar a qualidade dos estudos, a visibilidade da área e suporte dos altos custos de publicação.

As limitações da revisão de literatura realizada, repousam na breve delimitação temporal utilizada para nortear discussões do GTATHE, apesar de muitos resultados encontrar eco em estudos realizados em outros períodos. Entretanto, o presente estudo pode ser base para estudos maiores posteriores utilizando a mesma metodologia.

Conclusão

O presente estudo propôs-se a discutir o processo de criação da área temática de história da enfermagem, como parte da Biblioteca Virtual de Saúde – Enfermagem, através do relato de experiências dos atores sociais envolvidos e realizar a análise do estado da arte da literatura em História da Enfermagem no período de 2013, como apoio para o trabalho do GTATHE. Os resultados da pesquisa de 2013, assim como os resultados de estudos anteriores ajudaram a nortear os trabalhos do GTATHE até a apresentação definitiva da Área Temática de História da Enfermagem na BVS-Enfermagem.

A produção brasileira teve grande destaque no cenário mundial, em 2013, com 54% do total de artigos publicados em língua portuguesa (traduzidos ou não para outros idiomas). A análise do uso de vocabulário controlado refletiu uma série de problemas da área. Se por um lado a palavra-chave “história da enfermagem” encontrada em 57% dos artigos foi a mais incidente, ela deixou de existir em 43% dos estudos. O uso de palavras-chave não pertencentes ao vocabulário controlado das bases de dados mostra uma dispersão importante no uso de palavras-chave, por vezes com significados idênticos, que prejudicam a localização dos estudos.

No Brasil, o ensino de História da Enfermagem resistiu a maioria das reformas curriculares, desde 1923, apesar de estar invisível na diretriz curricular de Enfermagem atual, de 2001. Entretanto, o cenário brasileiro do ensino de História da Enfermagem pode ser um fator facilitador para o recrutamento de pesquisadores e responder parcialmente aos resultados sobre a liderança brasileira.

O estudo do ano de 2013 também sinalizou a necessidade de investimentos em programas de gestão de referências bibliográficas e sua interface com as bases de dados em saúde. Assim como melhorias nas bases de dados em saúde, no que se refere a efetividade do uso de filtros nas pesquisas, uma vez que foram sinalizadas falhas em ambas as situações.

A criação da Área Temática de História da Enfermagem na BVS-Enfermagem também acontece no sentido de melhorar os trabalhos de busca dos pesquisadores, assim como sinalizar estratégias para a qualificação da produção dos estudos.