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Pharmacy Practice (Granada)

versión On-line ISSN 1886-3655versión impresa ISSN 1885-642X

Pharmacy Pract (Granada) vol.4 no.1 Redondela ene./mar. 2006

 

 

Investigação original

Demanda pelo serviço de atenção farmacêutica
em farmácia comunitária privada

Request of pharmaceutical care service in a private owned community pharmacy

Cristiane Ferreira PIRES; Mauricélia Maria COSTA; Daniela ANGONESI; Felipe Pasquotto BORGES.

RESUMO*

O farmacêutico além de produtor de medicamentos passou também a ser um co-responsável pela terapia medicamentosa e promotor do uso racional de medicamentos, adquirindo maior ênfase o seu papel. O surgimento de uma nova filosofia de prática profissional, a Atenção Farmacêutica, veio estruturar, complementar e permitir esse novo papel do farmacêutico na atenção à saúde.
Os objetivos desse trabalho foram determinar a existência e caracterizar a demanda, verificar o conhecimento, interesse, disposição ao pagamento pelo serviço de Atenção Farmacêutica em Farmácia Comunitária Privada.
Tendo sido realizado através de entrevista orientada por roteiro, como instrumento de coleta de dados, aplicado por entrevistadores.
Verificou-se que dos 236 clientes entrevistados, 88,1% não conheciam a expressão Atenção Farmacêutica, 67,2% afirmaram possuir interesse pelo serviço. Em relação à disposição ao pagamento, 39,9% disseram que dependia do valor e 10,1% afirmaram que pagariam pelo serviço.
O que nos permite concluir que existe demanda nesse estabelecimento, e sugerir a realização em outras populações; levando-nos a desenvolver um modelo de prática no Brasil, como no mundo, para assim, prestarmos a atenção primária à saúde que os usuários de medicamentos efetivamente necessitam.

Palavras chave: Atenção farmacêutica, Servicios de farmácia comunitária, Demanda.

ABSTRACT

Pharmacists, more than drug producer, is being a co-responsible for drug therapy and promoter of the rational use of medicines, enhancing their role. Appearance of a new philosophy, pharmaceutical care, came to organize, enhance and allowing this new role of the pharmacist in primary health care.
Objectives of the present study were to determine the existence and to characterize the request for pharmaceutical care services and to assess the wiliness to pay for these services in a privately owned community pharmacy.
An interview following a check-list was used by researchers to gather data.
In 236 interviewed customers, 88.1% did not know the term ‘pharmaceutical care’, 67.2% showed to be interested on the service. Regarding the wiliness to pay, 39.9% conditioned it to the amount, and 10.1% stated that they would pay for the service.
This allows us to conclude than in this setting, a demand existed, what allows repeating this survey in other settings, what lead us to the necessity of defining a standard of practice in Brazil, and in the rest of the world, to provide care to those who need it.

Key words: Pharmaceutical care. Community pharmacy services. Patient’s request.

 

 


*Cristiane Ferreira PIRES. Graduada em Farmácia. Farmacêutica comunitária em Belo Horizonte (Brasil).
Mauricélia Maria COSTA. Graduada em Farmácia. Farmacêutica comunitária em Belo Horizonte (Brasil).
Daniela ANGONESI. Especialista em Saúde Pública. Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte (Brasil).
Felipe Pasquotto BORGES. Mestre em Saúde Pública. Agência Nacional de Saúde Suplementar - Ministério da Saúde (Brasil).

 

INTRODUÇÃO

O profissional farmacêutico, além de produtor de medicamentos, passou também a ser um co-responsável pela terapia medicamentosa e promotor do uso racional de medicamentos, adquirindo maior ênfase o seu papel.1 O surgimento de uma nova filosofia de prática profissional, a Atenção Farmacêutica, veio estruturar, complementar e permitir esse novo papel do farmacêutico na atenção à saúde.

No âmbito internacional e nacional, têm sido produzidas discussões sobre essa prática profissional, na busca do melhor entendimento do seu significado, objetivando sua adaptação e integração aos modelos de saúde de cada país.

Diante desse contexto, o Ministério da Saúde do Brasil trouxe um importante marco para o Sistema Único de Saúde (SUS) do país, realizou a reorientação da Assistência Farmacêutica no SUS com a aprovação da Política Nacional de Medicamentos (PNM).2

No Brasil o processo de promoção da Atenção Farmacêutica iniciou-se em 2000 por meio de uma consulta de experiências e reflexões sobre Atenção Farmacêutica no site da OPAS/OMS, que deu origem à proposta de Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica. Nesse documento a Atenção farmacêutica foi incorporada a Assistência Farmacêutica e, com isso, tem-se levado em conta, para a promoção e formação de profissionais para essa prática, o modelo de atenção e os princípios do SUS conforme proposto na oficina de trabalho e nas reuniões complementares,3 que tem sido desenvolvida com a perspectiva de integralizar as ações de saúde.

A proposta de consenso foi amplamente divulgada e discutida nos eventos subseqüentes: oficina de trabalho, em 2001, duas reuniões complementares, em 2002, no I Fórum Nacional de Atenção Farmacêutica, em 2003, na I Conferência Nacional de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica, em 2003, e no II Fórum Nacional de Atenção Farmacêutica, em 2004, que contribuíram com a elaboração de diversas estratégias e definições de responsabilidades.3-6

A elevada morbi-mortalidade relacionada ao uso de medicamentos, a evidência da possibilidade de prevenção dessa morbi-mortalidade, a possibilidade de redução de custos com a saúde e melhor qualidade de vida para o paciente que recebe Atenção Farmacêutica demonstrada em estudos anteriores,7 motivou a realização do estudo da demanda pelo serviço de Atenção Farmacêutica.

Assim, pretende-se obter o conhecimento sobre o interesse de clientes de farmácia comunitária privada e a sua disposição ao pagamento pelo serviço, de modo a subsidiar a implantação deste serviço. Da mesma forma, espera-se que este trabalho contribua para a expansão desta prática para a população que tanto necessita desse cuidado farmacêutico.

MÉTODOS

Realizou-se um estudo descritivo, transversal, empregando o método de estimativa rápida, através de entrevista orientada por roteiro como instrumento de coleta de dados. Esse roteiro foi aplicado de acordo com a disponibilidade de tempo dos indivíduos, por entrevistadores treinados, em uma amostra de clientes de duas farmácias comunitárias privadas em Belo Horizonte/MG que se dirigissem ao balcão para a solicitação de algum produto farmacêutico.

Um estudo piloto foi realizado durante um dia para a avaliação da aceitação dos clientes e da necessidade de alteração no instrumento de coleta de dados e na metodologia. A coleta de dados foi realizada de segunda à sexta-feira, das 9 às 18 horas, no período de 17 de março de 2004 a 01 de abril de 2004.

De acordo com o instrumento de coleta de dados a entrevista seguiu a seguinte sistemática:

• Os clientes eram abordados e informados que estava sendo realizada uma pesquisa de opinião;
• O roteiro não foi entregue aos clientes; as perguntas foram realizadas pelos entrevistadores e foram apresentadas as alternativas em 4 das 10 questões;
• Quando questionado pelo entrevistado o não entendimento do que seria Atenção Farmacêutica, (a Atenção Farmacêutica visa prevenir, detectar e resolver problemas de saúde relacionados a medicamentos para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes), houve o esclarecimento de que seria realizado um acompanhamento em que o farmacêutico estaria orientando-o sobre seus problemas de saúde e seus medicamentos objetivando um controle de seu problema e melhora da sua qualidade de vida;
• Quando demonstradas, pelos entrevistados, dúvidas em relação às alternativas nas questões 6, 7 e 7.1 marcou-se ‘ns’ (correspondente a não sabe).

Para a compilação dos dados desenvolveu-se um banco de dados no programa Microsoft Excel 2000 e, a partir deste banco, foram realizadas análises descritivas com cálculos de médias e proporções no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 10.0.

RESULTADOS

No estudo realizado, 241 clientes aceitaram participar, e outros 49 clientes não aceitaram, sendo que 5 iniciaram a entrevista e desistiram antes do término. Dos 236 clientes que participaram integralmente da entrevista, 66,6% (150), apresentando uma média de idade de 50,6 anos, variando de 18 a 87 anos.

Quando os entrevistados foram questionados sobre o conhecimento da expressão “Atenção Farmacêutica”, verificou-se que 11,9% (n=28) o possuíam, e 88,1% (n=208) não possuíam conhecimento, esses últimos compreendem 55,1% (n=113) dos entrevistados que possuíam curso superior ou pós-graduação, seguido de 35,6% (n=73) dos entrevistados que possuíam 2° grau. Essas proporções não apresentaram diferença estatística significativa.

A partir do momento em que os entrevistados foram orientados a respeito do que seria Atenção Farmacêutica, 67,2% (n=158) dos entrevistados afirmaram que teriam interesse pelo serviço, seguido de 24,9% (n=60) que não demonstraram interesse e 7,1% (n=17) que não sabiam.

Analisando o interesse dos clientes pelo serviço de Atenção Farmacêutica em relação ao sexo dos entrevistados, das 149 mulheres, 73,2% (n=109) demonstraram interesse pelo serviço, enquanto a proporção de interessados entre os homens foi de 57,0% (n=49), conforme a tabela 1 (associação estatisticamente significativa, valor p= 0,031).

Das pessoas que afirmaram que teriam interesse pelo serviço após a explicação do mesmo (n=158), a metade dos entrevistados optou pelo não pagamento (50,0%, n=79), outra parte dependia do valor que seria cobrado (39,9%, n=63), não havendo uma diferença significativa entre eles (figura 1), embora 10,1% (n=16) do total de entrevistados certificarem que estavam dispostos a pagar.

Em relação a intenção em pagar pelo serviço de Atenção Farmacêutica as alternativas mais mencionadas foram até 5 reais e de 5 a 10 reais ambas com 31,2% (n=5). Aqueles que responderam que dependia do preço para pagar, 50,8% (n=32) disporiam de até 5 reais e 38,1% (n=24) de 5 a 10 reais, por visita no período de acompanhamento farmacoterapêutico (tabela 2).

DISCUSSÃO

Os estudos sobre opinião de clientes são de fundamental importância para o melhor desempenho de atividades em um estabelecimento e adequação das ofertas. Em se tratando de um estabelecimento de saúde, fala-se de satisfação em serviços sanitários, que visam à qualidade da dispensação, resolução de problemas, de solução das queixas e capacidade de satisfazer as necessidades do paciente.

A amplitude de idade entre os entrevistados variou de 18 a 87 anos, esse dado pode significar grande divergência de interesses de opiniões em saúde. O perfil de escolaridade dos entrevistados aponta uma limitação do trabalho, por não permitir comparações em torno desse dado, devido ao fato de a maioria dos entrevistados possuírem curso superior ou pós-graduação (53,4%, n=126), em decorrência de os bairros em que se deu o trabalho ser habitados em sua maior parte por pessoas de classe média e com elevado nível de escolaridade.8

Dos 28 entrevistados que mencionaram conhecer a expressão “Atenção Farmacêutica” um número não quantificado relatou saber e/ou participar desse serviço oferecido pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltando a grande importância desempenhada pelas atividades de atenção à saúde voltada à população nas universidades. A Atenção Farmacêutica pode manifestar-se em uma ampla variedade de cenários econômicos e organizativos – sendo privado, individual ou em grupo, até mesmo empregado em empresas, e desde a atenção ambulatorial até os cuidados intensivos. A principal meta dos principais órgãos de saúde é fazer com que a Atenção Farmacêutica seja promovida e que a população tenha acesso a esse serviço na atenção primária, possibilitando aumentar a demanda, agregando valor ao estabelecimento farmacêutico e ao profissional.1

Nesse estudo pôde-se observar que, ao orientá-los sobre o que seria Atenção Farmacêutica, a maioria mostrou-se interessada pelo serviço; em contrapartida, os entrevistados que afirmaram não se interessar, justificaram-no por estarem em acompanhamento com profissionais médicos e, por possuírem planos privados de saúde que possibilitava o fácil acesso a esses profissionais, assim não necessitariam de mais profissional para acompanhamento. Sendo possível verificar que o conceito adaptado de Atenção Farmacêutica/ Acompanhamento Farmacoterapêutico que visa prevenir, detectar e resolver problemas de saúde relacionados a medicamentos para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, estabelecido por Hepler e Strand,1 utilizado no roteiro de entrevista, não se encontra claro o suficiente para que seja compreendido pela população.

No contexto em que nos encontramos na prestação desse serviço, é necessário promover essa nova prática de forma diferente da empregada usualmente. A estratégia deve ser direcionada ao pagamento para a prevenção da morbidade relacionada com medicamentos. Assim, os usuários pagariam pelo serviço muito mais interessados em prevenir do que em resolver problemas decorrentes do uso de medicamentos, o que permitiria agregar maior reconhecimento ao serviço prestado.1

Uma evidência que aponta positivamente para a promoção da Atenção Farmacêutica no setor privado, é em relação aos entrevistados que se dispuseram a pagar pelo serviço, em que 50,0% (n=79) mostraram-se dispostos a pagar dependendo e independendo do valor a ser cobrado. Em países desenvolvidos, em que a prática da Atenção Farmacêutica encontra-se mais estruturada, como nos Estados Unidos da América.7 Autores relatam que pelo serviço de Atenção Farmacêutica é cobrado uma média de U$13,57 na visita inicial chegando a U$11,85 na última visita do acompanhamento, variando de acordo com a idade e complexidade do caso clínico. Ao longo do período de estudo, os autores observaram melhora no estado de saúde do paciente com a resolução dos Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM) e alcance dos objetivos terapêuticos; os tratamentos passaram a ser menos complexos, levando a uma redução geral nos custos diretos com a saúde do paciente. É relevante que o assunto seja levado à reflexão no setor público também, pois o investimento com a oferta do serviço pode ser compensado com esta diminuição nos dispêndios globais com saúde.

Dessa forma, pode-se considerar positiva a percepção da população em relação, tanto a se interessarem pelo acesso, quanto à intenção demonstrada em pagar por um serviço, mesmo que não tenham o conhecimento essencial desse. O que nos permite crer que, quando estruturada e bem difundida, pode-se avaliar a possibilidade de remuneração do profissional farmacêutico pelo serviço prestado, uma vez que traz melhoras significativas na qualidade de vida do usuário de medicamentos.

CONCLUSIONES

A prática da Atenção Farmacêutica veio estruturar, complementar e permitir um novo papel do farmacêutico na atenção primária à saúde, como co-responsável pela terapia medicamentosa e promotor do uso racional de medicamentos, e que essa efetivamente melhora a qualidade de vida e os resultados terapêuticos do usuário de medicamentos. Os esforços para sua implementação e organização no Brasil não devem ser medidos, mas sim incorporados à nossa determinação de fazê-la acontecer.

Diante do estudo realizado sobre a demanda pelo serviço de Atenção Farmacêutica, pode-se concluir que existe demanda nos estabelecimentos pesquisados, havendo possibilidade de sua realização em outras populações, mesmo que ainda estejamos em um quadro de evolução e desenvolvimento da filosofia da prática no Brasil e no mundo. É importante entender que há espaço para oferecer esse serviço, trabalhando-se uma necessidade dos usuários desconhecida por eles próprios e não satisfeita por nenhum outro profissional.

Nesse momento, resta compreender que o encargo profissional requer o entendimento de que a sociedade necessita dos farmacêuticos, permitindo que sejam reconhecidos como profissionais da saúde.

Referências

1. Hepler CD. Strand LM. Opportunities and responsibilities in Pharmaceutical Care. Am J Hosp Pharm 1990; 47: 533-43        [ Links ]

2. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 3.916, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. Diário oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 dez. 1998. Seção 1, p. 18.        [ Links ]

3. Organização Pan-Americana da Saúde; Organização Mundial da Saúde. Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica: proposta. Brasília, 2002b. Disponível em: http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/PropostaConsensoAtenfar.pdf(Acesso em: 14/03/2005)        [ Links ]

4. Organização Pan-Americana da Saúde; Organização Mundial da Saúde. Atenção Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos: Relatório 2001-2002. Brasília, 2002a. 28p. Disponível em: http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/RelatorioAtenfar20012002.pdf (Acesso em: 14/03/2005)        [ Links ]

5. II Fórum Nacional De Atenção Farmacêutica, 2004, Florianópolis. Relatório Final. Brasília: OPAS/OMS; 2004. Disponível em: http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/HSE_FAF_FPS_1204.pdf (Acesso em: 14/03/2005)        [ Links ]

6. Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica, 2003, Brasília. Relatório final preliminar. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. 67p.        [ Links ]

7 Cipolle RJ, Strand LM, Morley PC, Frakes M. Resultados del ejercicio de la Atención Farmacéutica. Pharmaceutical Care España, 2000. n. 2 p. 94-106        [ Links ]

8 Souza JB. Aspectos Demográficos e Sócio Econômicos. In: Perfil Histórico, Econômico e Estatístico da Regional Oeste. Belo Horizonte: Gabinete da Secretaria Municipal da Coordenação de Gestão Regional Oeste, 2004. cap 2. p.15        [ Links ]

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