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Revista Andaluza de Medicina del Deporte

On-line version ISSN 2172-5063Print version ISSN 1888-7546

Rev Andal Med Deporte vol.8 n.1 Sevilla Mar. 2015

https://dx.doi.org/10.1016/j.ramd.2014.06.001 

ORIGINAL

 

Máxima velocidade aeróbia calculada pelo custo da frequência cardíaca: relação com a performance

Velocidad aeróbica máxima calculada por el costo del ritmo cardíaco: relación con el rendimiento

Maximal aerobic speed calculated by heart rate cost: relationship with performance

 

 

D.F. da Silvaa, R.C. Soterob, H.G. Simõesb e F.A. Machadoa

aDepartamento de Educação Física, Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil
bDepartamento de Educação Física, Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

Objetivos: Comparar a máxima velocidade aeróbia (MVA) calculada pelo custo de oxigênio (vVO2max) e o custo da frequência cardíaca (vFCmax) com a medida direta da MVA (Vpico) e verificar a relação entre a vFCmax e a performance em provas de 10 e 15 km de corredores recreacionais de meia idade.
Método: Participaram 21 corredores (idade: 30-49 anos), subdivididos em 2 grupos a partir da idade (G1 e G2). Os participantes foram submetidos a um teste incremental contínuo máximo em laboratório para determinação do consumo máximo de oxigênio. A MVA foi determinada a partir das propostas apresentadas na literatura com base no vVO2max e no vFCmax. Além disso, foram realizadas 2 performances em pista de atletismo (10 e 15 km).
Resultados: A menor diferença entre as médias observada para a Vpico foi em relação à vFCmax de Lacour et al. (0,0 km h-1; p > 0,05). A maior diferença foi em relação à vFCmax de Di Prampero (1,55 km h-1; p < 0,05). O mesmo padrão de diferenças foi observado quando analisado o G1 e G2. A vFCmax determinada a partir de 2 diferentes métodos propostos na literatura se correlacionou com as provas de 10 e 15 km (0,55 ≤ r ≤ 0,82; p < 0,05).
Conclusões: A vFCmax em corredores recreacionais de meia idade tem elevada relação com as performances de 10 e 15 km e não foi diferente da Vpico (para vFCmax de Lacour et al.), apresentando resultados semelhantes aos observados pelos métodos baseados no custo de oxigênio.

Palavras chave: Frequência cardíaca. Consumo de oxigênio. Desempenho atlético.


RESUMEN

Objetivo: Comparar la velocidad aeróbica máxima (VAM), calculada a través del costo de oxígeno (vVO2max) y del costo de la frecuencia cardíaca (vFCmáx), con la medida directa de la VAM (Vpico) y verificar la relación entre la vFCmax y la performance de 10 e 15 km de corredores recreativos de mediana edad.
Método: Participaron 21 corredores recreativos (edades: 30-49 años) subdivididos en 2 grupos por edad (G1 y G2). Los participantes se sometieron a un test incremental continuo máximo en laboratorio para la determinación del consumo máximo de oxígeno. La MVA fue determinada a través de las propuestas presentadas en la literatura basada en el vVO2max y el vFCmáx. Además, se realizaron 2 pruebas en pista de atletismo (10 e 15 km).
Resultados: La menor diferencia entre las medias observadas para la Vpico fue en relación con la vFCmax de Lacour et al. (0,0 km h-1; p > 0,05). La mayor diferencia fue en relación con la vFCmax de Di Prampero (1,55 km h-1; p < 0,05). El mismo patrón de diferencias fue observado cuando se analizaron el G1 y G2. La vFCmáx determinada a través de 2 distintos métodos propuestos en la literatura se correlacionó con las pruebas de 10 y 15 km (0,55 ≤ r ≤ 0,82; p < 0,05).
Conclusiones: La vFCmáx, en corredores recreativos de mediana edad, tiene alta correlación con las pruebas de 10 y 15 km y no fue diferente de la Vpico (para vFCmáx de Lacour et al.), presentando resultados similares a los observados por los métodos basados en el costo de oxígeno.

Palabras clave: Ritmo cardíaco. Consumo de oxígeno. Rendimiento atlético.


ABSTRACT

Objectives: To compare maximal aerobic speed (MAS) calculated by oxygen cost (vVO2max) and heart rate cost (vHRmax) with the direct measurement of MAS (Vpeak) and to verify the relationship between vHRmax and 10- and 15-km performance in middle-age recreationally runners.
Method: Twenty one recreationally runners participated in this study (age: 30 to 49 years), allocated in two groups according to age (G1 and G2). Participants were submitted to an incremental continuous test of maximal effort in laboratory to determine maximal oxygen uptake. MAS was determined according to proposes presented in literature based on vVO2max and vHRmax. Besides, it was performed two performances in field track (10 and 15 km).
Results: The lowest difference between the mean values observed and Vpeak was in relation to vHRmax from Lacour et al. (0.0 km h-1; p > 0.05). The highest was in relation to vHRmax from di Prampero (1.55 km h-1; p < 0.05). The same pattern of differences was observed when G1 and G2 were analyzed. The vHRmax determined according to two different methods presented in literature showed to be correlated with 10 and 15 km performances (0.55 ≤ r ≤ 0.82; p < 0.05).
Conclusions: The vHRmax in middle-aged recreational runners has elevated correlation with 10 and 15 km performances and was not different from Vpeak (to vHRmax from Lacour et al.) showing similar results than the method based on oxygen cost.

Key words: Heart rate. Oxygen consumption. Athletic performance.


 

Introdução

A máxima velocidade aeróbia (MVA) é considerada uma importante variável correlacionada com a performance de corredores de endurance1-3, sendo utilizada para a prescrição e o controle do treinamento4-5. Esta variável reflete a integração entre o consumo máximo de oxigênio (VO2max) e a economia de corrida (EC)6-7.

Um termo bastante utilizado para definir a MVA é a vVO2max8-9, havendo diferentes métodos para estimá-la7,10-12. A vVO2max refere-se à velocidade de corrida correspondente ao VO2max13. Di Prampero7 sugeriu calculá-la dividindo o VO2max pelo custo energético de corrida em uma velocidade submáxima (CVO2). Lacour et al.11-12 ajustaram esse modelo subtraindo o consumo de oxigênio de repouso (VO2rep) do VO2 submáximo para o cálculo do CVO2 e do VO2max antes da divisão pelo CVO2. Independente do método, a vVO2max têm sido considerada o parâmetro mais eficaz para prescrição e monitoramento do treinamento, considerando sua relação com a performance14-15.

Apesar da sua eficácia, a determinação da vVO2max depende do uso de analisador de gases, que apresenta elevado custo financeiro. Objetivando tornar o método mais acessível e aplicável, Moreno16 propôs a estimativa da MVA a partir da proposta de Di Prampero7, porém, substituindo o consumo de oxigênio (VO2) pela frequência cardíaca (FC), assumindo a premissa de que o aumento no equivalente metabólico de oxigênio tem relação com o aumento da velocidade de corrida até que se atinja a MVA. Associado a isso, de intensidades aeróbias submáximas até a MVA, o débito cardíaco (débito cardíaco = volume sistólico x FC) é diretamente relacionado ao VO2, sendo que a FC é o fator que mais influencia os incrementos na velocidade até a MVA, em que se espera atingir também a FC máxima (FCmax)17-18. Assim, a obtenção da MVA também estaria associada à FCmax. Moreno16 verificou que este método que calcula a MVA a partir do custo da frequência cardíaca (CFC) apresentou concordância com e não foi diferente da medida direta da MVA. Para isso, os autores determinaram a MVA através do CFC por meio de um teste submáximo com velocidade constante baseado na percepção subjetiva de esforço (PSE) autorrelatada de sujeitos fisicamente ativos (Vpico: 13,2 ± 1,1 km h-1, VO2max: 50,5 ± 3,3 mL kg-1 min-1) e de corredores bem treinados (Vpico: 18,2 ± 1,6 km h-1, VO2max: 68,4 ± 8,3 mL kg-1 min-1) e aplicaram o método proposto por Di Prampero7 para determinação da vVO2max, porém, fazendo uso da FC. Entretanto, não há estudos que tenham demonstrado a relação desse método com a performance em provas de 10 e 15 km de corredores.

Assim, os objetivos do estudo foram comparar a MVA calculada pelo custo de oxigênio (vVO2max) e o custo da frequência cardíaca (vFCmax) com a medida direta da MVA (Vpico) e verificar a relação entre a vFCmax e a performance em provas de 10 e 15 km de corredores recreacionais de meia idade.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 21 corredores recreacionais, sendo 9 com idade entre 30-40 anos (G1) e 12 com idade entre 41-49 anos (G2). O cálculo do tamanho da amostra foi feito com base na correlação de 0,7719 obtida entre a vVO2max determinada por meio do método proposto por Di Prampero7 e a performance de corredores. Os cálculos foram feitos com base em um poder de 80% e um alfa de 5%. Todos os corredores possuíam experiência em provas de 5-15 km com tempo de prática variando entre 1,5-15 anos para o G1 e 2-37 anos para o G2. Suas características gerais estão descritas na tabela 1. Antes do início dos procedimentos, todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o protocolo de pesquisa foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa local (#539/2011) em consoante à Declaração de Helsinki.

 

Tabela 1 Caracterização da amostra com todos os participantes, G1 e G2

G %: percentagem graxos; IMC: índice massa corporal; VO2max: consumo máximo de oxigênio.

 

Design experimental

Após o processo de familiarização com o ergômetro (esteira ergométrica automática multiprogramável INBRAMED Super ATL, Porto Alegre, Brasil) os participantes foram submetidos a um teste incremental contínuo de esforço máximo, com inclinação da esteira fixada em 1%, para a determinação da MVA. Os participantes foram instruídos a não se alimentarem nas 2 horas antecedentes aos testes, a se absterem do consumo de cafeína e álcool e não realizarem exercícios físicos extenuantes 48 horas antes de cada avaliação física. Além do teste laboratorial, os corredores foram randomicamente submetidos, em dias distintos, a 2 testes de pista para determinação da performance em provas de 10 e 15 km.

Determinação do consumo máximo de oxigênio

O teste incremental foi precedido de um aquecimento de 3 minutos a 7 km h-1 e iniciou a 9 km h-1 com incrementos de 1 km h-1 a cada 3 minutos. Os testes foram mantidos até exaustão voluntária e os participantes foram encorajados verbalmente a se manterem em esforço pelo maior tempo possível. Ao final de cada estágio foram monitoradas a FC por meio do monitor cardíaco (Polar RS800, Kempele, Finlândia) e a PSE pela escala de Borg de pontuação entre 6-2020. O teste incremental prosseguiu até a exaustão voluntária e foi considerado como critério de exaustão PSE maior que 18 na escala de Borg. A coleta de gases para a determinação do VO2max foi realizada por um sistema de espirometria de circuito aberto FitMate (COSMED®, Roma, Itália) que fornece informações sobre a ventilação e VO2 do participante a cada 15 segundos. Antes do início do teste incremental máximo, os participantes permaneceram em repouso por 15 minutos em pé com o equipamento devidamente acoplado para determinação do VO2rep21-23. Foi considerado como VO2max o maior valor registrado pelo equipamento ao final do teste.

Determinação direta da máxima velocidade aeróbia: velocidade de pico em esteira

A velocidade pico (Vpico) no protocolo incremental de determinação do VO2max foi calculada com base na velocidade do último estágio completado pelos participantes. Caso o participante não completasse o estágio seria aplicado o ajuste de Kuipers et al.24 para o cálculo da Vpico:

Kuipers et al.24:

Sendo, vcompleto = velocidade (km h-1) no último estágio completado; t = tempo (segundos) permanecido na velocidade do estágio incompleto; T = tempo total (segundos) estabelecido para o estágio completo; incremento de velocidade = taxa de aumento da velocidade em cada estágio (km h-1).

Determinação indireta da máxima velocidade aeróbia: velocidade de ocorrência do consumo máximo de oxigênio com base no custo energético de corrida

A partir da determinação do VO2max foram utilizadas as fórmulas propostas por Di Prampero7 e Lacour et al.11-12 para o cálculo da vVO2max dos participantes:

Di Prampero7:

Na qual o CVO2 é o custo energético de corrida (VO2) referente a uma velocidade submáxima específica, calculado pela fórmula:

Em que VO2vsub é o VO2 associado a uma velocidade submáxima referente a 75% do VO2max conforme previamente apresentado por Di Prampero7.

Lacour et al.11,12:

Em que VO2vsub é o VO2 associado a uma velocidade submáxima referente a 75% do VO2max conforme previamente apresentado por Di Prampero7.

Determinação indireta da máxima velocidade aeróbia: velocidade de ocorrência da frequência cardíaca máxima utilizando-se do custo da frequência cardíaca em corrida submáxima

A partir da determinação da FCmax foram utilizadas as mesmas fórmulas propostas por Di Prampero7 e Lacour et al.11,12, porém substituindo o VO2max pela FCmax, para o cálculo da vFCmax dos participantes:

Di Prampero7:

Em que CFC é o custo da frequência cardíaca referente a uma velocidade submáxima referente à 75% do VO2max, calculado pela fórmula:

Na qual FCvsub é a FC associada a uma velocidade submáxima referente a 75% do VO2max7, que correspondeu a 85,2 ± 3,9% da FCmax da amostra estudada.

Lacour et al.11,12:

Na qual FCvsub é a FC associada a uma velocidade submáxima referente a 75% do VO2max7, que correspondeu a 85,2 ± 3,9% da FCmax da amostra estudada.

Teste de campo: performances de 10 e 15 quilómetros

Foram realizados 2 testes de campo utilizados para verificação das velocidades médias de performance dos corredores em provas de 10 e 15 km. Foi respeitado um intervalo mínimo de 48 horas entre os testes em laboratório e as 2 performances.

As performances foram conduzidas em pista oficial de atletismo (400 m) após um período de 10 minutos de aquecimento, sendo computado o tempo de prova para o cálculo da velocidade média.

Análise estatística

As análises dos resultados foram realizadas para a amostra total e para os grupos divididos pela idade cronológica (G1 e G2). Os dados estão apresentados em média ± desvio padrão. Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para verificação da normalidade dos dados. A comparação entre o método direto, o método baseado no CVO2 e o método baseado no CFC foi feita a partir da ANOVA de medidas repetidas. Em caso de diferença na ANOVA, o post hoc de Bonferroni foi aplicado para identificar em quais comparações estavam as diferenças. Para a correlação entre as variáveis do estudo foi aplicado o coeficiente de correlação de Pearson, que foi classificado qualitativamente a partir dos seguintes pontos de corte: trivial (< 0,1); pequena (entre 0,1-0,29); moderada (entre 0,3-0,49); elevada (entre 0,5-0,69); muito elevada (entre 0,7-0,89); e quase perfeita (entre 0,9-1,0)25. As equações preditivas das performances de 10 e 15 km a partir dos diferentes métodos de determinação da MVA foram obtidas por meio de regressão linear simples. A análise de concordância entre os métodos baseados no VO2 e na FC com a Vpico foi feita a partir da análise de Bland-Altman26. Adotou-se para as análises nível de significância de p < 0,05.

 

Resultados

Quando considerada a amostra total, observamos que a duração média do teste incremental foi de 20,7 ± 4,1 minutos, sendo atingida FCmax de 183,7 ± 12,7 bpm e PSEmax de 19,3 ± 0,6. Para o G1, os resultados referentes à duração do teste, FCmax e PSEmax foram 20,8 ± 4,0 minutos, 191,6 ± 9,2 bpm e 19,6 ± 0,5, respectivamente; para G2 os valores destas mesmas variáveis foram 20,6 ± 4,3 minutos, FCmax = 177,7 ± 11,8 bpm e o PSEmax = 19,1 ± 0,8.

Na tabela 2 estão os resultados referentes à comparação entre a MVA obtida diretamente (Vpico), com o valor obtido com base no CR (vVO2max) e no CFC (vFCmax) a partir dos métodos de Di Prampero7 e Lacour et al.11,12 quando considerados todos os participantes do estudo, o G1 e o G2.

 

Tabela 2 Valores médios ± desvio padrão (DP) da MVA obtida diretamente (Vpico) e indiretamente
pelo CR (vVO2max) e o CFC (vFCmax) com base nos métodos de Di
Prampero7 e Lacour et al.11,12, para todos os participantes, G1 e G2



* - Diferença significante (p < 0,05) para a vVO2max proposta por Lacour et al.7.
† - Diferença significante (p < 0,05) para a vFCmax proposta por Moreno16 seguindo
o modelo proposto inicialmente por Di Prampero7 para a variável VO2.

 

Na comparação entre a determinação direta da MVA com os demais métodos de estimativa, observou-se apenas diferença estatisticamente significante para a vFCmax determinada a partir do método de Di Prampero7 que apresentou valores menores para todos os participantes analisados conjuntamente e divididos em grupos. Além disso, quando analisados todos os 21 participantes, a Vpico foi significativamente menor que a vVO2max determinada pela fórmula proposta por Lacour et al.11,12.

Quando considerados os 21 participantes, os resultados mostram que a vVO2max determinada pela fórmula proposta por Di Prampero7 foi significativamente menor que a vVO2max calculada a partir da fórmula de Lacour et al.11,12. Estas mesmas diferenças não foram observadas na análise da vFCmax utilizando-se o modelo proposto por Lacour, o qual não diferiu da Vpico. A comparação entre a vVO2max e a vFCmax para o método proposto por Di Prampero7 revelou que a vFCmax foi significativamente menor que a vVO2max. Esses resultados também foram observados para o G1 e G2.

Na tabela 3 estão apresentadas as correlações entre a MVA obtidas pelos diferentes métodos e o VO2max dos participantes, também apresentados de acordo com a faixa etária. A análise de regressão linear simples entre a MVA obtida pelos diferentes métodos e as performances nas provas de 10 e 15 km estão presentes na tabela 4.

 

Tabela 3 Correlações entre a MVA obtida pelos diferentes métodos e o
VO2max para todos os participantes (G1 e G2)



vFCmax: custo da frequência cardíaca; VO2max: consumo máximo de oxigênio;
Vpico: medida direta da MVA; vVO2max: custo de oxigênio.

 

Tabela 4 Correlações entre a MVA obtida pelos diferentes métodos e as
performances nas provas de 10 e 15 km para todos os participantes (G1 e G2)



vFCmax: custo da frequência cardíaca; VO2max:
consumo máximo de oxigênio; Vpico: medida direta da MVA; vVO2max: custo de oxigênio.

 

As correlações entre a Vpico e as performances de 10 e 15 km apresentaram valores entre 0,71-0,87, dependendo da faixa etária, sendo qualitativamente classificadas como "muito elevadas". Já as correlações entre a vVO2max determinada a partir do método de Di Prampero7 e as performances ficaram entre 0,65-0,81 (entre "elevadas" e "muito elevadas"), semelhante às correlações entre a vVO2max calculada a partir do método Lacour et al.11,12 e as performances que apresentaram valores entre 0,64-0,81 (entre "elevadas" e "muito elevadas"). Os 2 novos métodos baseados no CFC apresentaram também elevadas correlações com as performances, estando entre 0,66-0,82 (entre "elevadas" e "muito elevadas") para a vFCmax determinada com base no método de Di Prampero7 e entre 0,55-0,76 (entre "elevadas" e "muito elevadas") para a vFCmax calculada a partir do método de Lacour et al.11,12.

As figuras 1-3 mostram a análise de concordância de Bland-Altman entre os métodos de determinação da MVA (baseado no VO2 e na FC) e o método direto (Vpico) para todos os participantes, o G1 e o G2. Considerando todos os participantes, a menor diferença entre as médias observada foi para a vFCmax calculada a partir do método de Lacour et al.11,12. Por outro lado, a maior diferença observada foi para a vFCmax calculada a partir do método de Di Prampero7. O mesmo padrão de diferenças foi observado quando analisado o G1 e o G2.

 


Figura 1 Análise de concordância entre a MVA obtida diretamente (Vpico) e indiretamente
pelo custo de oxigênio (vVO2max) (a y c) e o custo da frequência cardíaca
(vFCmax) (b y d) com base nos métodos de Di Prampero7 (a y b)
e Lacour et al.11,12 (c y d), para todos os participantes.

 


Figura 2 Análise de concordância entre a MVA obtida diretamente (Vpico) (a y c)
e indiretamente pelo custo de oxigênio (vVO2max) e o custo da frequência cardíaca
(vFCmax) (b y d) com base nos métodos de Di Prampero7
(a y b) e Lacour et al.11,12 (c y d), para o G1.

 


Figura 3 Análise de concordância entre a MVA obtida diretamente (Vpico) e indiretamente
pelo custo de oxigênio (vVO2max) (a y c) e o custo da frequência cardíaca
(vFCmax) (b y d) com base nos métodos de Di Prampero7 (a y b) e Lacour
et al.11,12 (c y d), para o G2.

 

Discussão

Os objetivos do estudo foram comparar a MVA calculada pelo vVO2max e o vFCmax com a medida direta da MVA (Vpico) e verificar a relação entre a vFCmax e a performance em provas de 10 e 15 km de corredores recreacionais de meia idade. Os principais achados foram que a menor diferença entre as médias observada para a Vpico foi em relação à vFCmax de Lacour et al. (0,0 km h-1; p > 0,05). Por outro lado, a maior diferença foi em relação à vFCmax de Di Prampero (1,55 km h-1; p < 0,05). O mesmo padrão de diferenças foi observado quando analisado o G1 e o G2. Em relação às correlações com as performances de 10 e 15 km, a vFCmax determinada a partir de dos métodos propostos por Di Prampero7 e Lacour et al.11,12 apresentou correlações elevadas com essas provas (0,55 ≤ r ≤ 0,82; p < 0,05).

A vFCmax determinada a partir dos métodos propostos por Di Prampero7 e Lacour et al.11,12 apresentaram correlações elevadas com as provas de 10 e 15 km com valores entre 0,66-0,72 para os 21 participantes; entre 0,55-0,70 para o G1 e entre 0,75-0,82 para o G2. Essas correlações foram semelhantes às observadas entre desempenho e vVO2max, com valores entre 0,64-0,66 para os 21 participantes; entre 0,69-0,75 para o G1 e de 0,81 para o G2. As correlações entre a Vpico e as performances foram mais elevadas em comparação com as correlações entre a vVO2max e a vFCmax e as performances para todas as faixas etárias (correlações entre 0,64-0,87).

A MVA é uma importante variável correlacionada com a performance de corredores em provas que podem variar de 3 até 90 km1-3, sendo também utilizada para a prescrição e o controle do treinamento4,5. A vVO2max é um dos termos mais utilizados para sua definição, havendo na literatura diferentes métodos para sua determinação, entre eles o método baseado no custo energético de corrida para uma intensidade submáxima (CVO2), inicialmente proposto por Di Prampero7. Estudos já demonstraram que este método se correlacionou com a performance de corredores em provas de 3 km apresentando correlação de 0,7719. De forma semelhante, no presente estudo, a vVO2max calculada pelo método proposto por Di Prampero7 correlacionou-se com as performances de corredores; entretanto, para as distâncias de 10 (r entre 0,66-0,81 - dependendo da faixa etária) e 15 km (r entre 0,65-0,81).

Lacour et al.11,12 propuseram subtrair o VO2rep do valor do VO2vsub e do VO2max para a determinação do CR e da vVO2max, respectivamente, promovendo a superestimação do valor obtido pela fórmula original de Di Prampero7, como demonstrado por Hill e Rowell9 e também observado no presente estudo. O método proposto por Lacour et al.11,12 correlacionou-se com as performances de 1,5 (r = 0,62); 3 (r = 0,64) e 5 km (r = 0,86) de corredores, sendo que a vVO2max correspondeu à velocidade média mantida na prova de 3 km. No presente estudo, a vVO2max calculada pelo método proposto por Lacour et al.11,12 correlacionou-se com o desempenho nas provas de 10 (r entre 0,65-0,81 dependendo da faixa etária) e 15 km (r entre 0,64-0,81).

Moreno16 partiu do princípio que o VO2max e a FCmax são eventos fisiológicos relacionados à potência aeróbia máxima. Em seu estudo, o autor demonstrou que a MVA calculada a partir do CFC (vFCmax) apresentou concordância (plotagem de Bland-Altman) com a Vpico e não foi diferente (teste t dependente) desta variável em indivíduos fisicamente ativos e bem treinados em corrida (Vpico = 13,2 ± 1,1 km h-1 e 18,2 ± 1,6 km h-1, respectivamente). As respectivas médias das diferenças foram de 0,5 km h-1 e 0,0 km h-1, de modo semelhante à vVO2max determinada pelo método proposto por Di Prampero7 (média de diferença de -0,1 km h-1 para os 2 grupos avaliados). No presente estudo a vFCmax determinada pelo método proposto por Lacour et al.11,12 não apresentou diferença estatisticamente significante para a Vpico para todas as faixas etárias analisadas, com diferenças entre as médias variando entre -0,3 km h-1 e 0,2 km h-1. Por outro lado, a vFCmax determinada pelo método proposto por Di Prampero7 foi significativamente menor que a Vpico em todas as idades analisadas, com diferenças entre as médias variando entre -1,69 km h-1 e -1,45 km h-1, sugerindo o uso com cautela do método na população estudada.

A diferença entre a comparação da vFCmax determinada pelo método proposto por Di Prampero7 com a Vpico poderia estar relacionada ao protocolo de determinação da vFCmax utilizado nos 2 estudos. Enquanto que esse parâmetro foi determinado por Moreno16 através de um teste submáximo com velocidade constante baseado na PSE autorrelatada dos corredores, no presente estudo esta variável foi determinada em um teste incremental máximo, levando em consideração a intensidade submáxima referente à 75% do VO2max que correspondeu a 85,2 ± 3,9% da FCmax da amostra estudada. Outro fator que poderia explicar essas diferenças é a idade que influencia as respostas referentes à FCmax27,28, considerando que Moreno16 avaliou corredores jovens com média de idade abaixo de 30 anos, enquanto que a amostra deste estudo foi composta por corredores com idades entre 30-49 anos. Sobre esse ponto em específico, não era conhecido como a resposta cronotrópica fisiológica poderia afetar o cálculo da MVA. A partir dos dados do presente estudo, no entanto, a validade do CFC em estimar a MVA parece não ser afetada pela idade dos corredores.

A Vpico e as vFCmax determinadas pelos 2 diferentes métodos apresentaram correlações elevadas entre 0,88-0,93 para o método de Di Prampero7 e entre 0,75-0,87 para o método de Lacour et al.11,12. Mesmo que a vFCmax determinada pelo método proposto por Di Prampero7 tenha sido significativamente menor que a Vpico, seus valores se correlacionaram com as performances de 10 (r entre 0,70-0,82) e 15 km (r entre 0,66-0,81). Além disso, a vFCmax determinada pelo método de Lacour et al.11,12, a qual não diferiu da Vpico, também se correlacionou com a performance apresentando valores entre 0,55-0,76 para a distância de 10 km e entre 0,55-0,75 para a distância de 15 km para os grupos estudados. Como citado, a menor correlação observada no presente estudo entre as variáveis calculadas com base no custo da frequência cardíaca foi de 0,55 para os participantes do G1, que levou a um R2 ajustado de 0,20. Apesar de qualitativamente elevada, esse resultado sugere que outros fatores podem estar envolvidos nas correlações com a performance das provas analisadas. McLaughlin et al.10 estudaram as variáveis que melhor se correlacionaram com a performance a partir de parâmetros fisiológicos e verificaram outras importantes variáveis que também se relacionam com a performance. Essas variáveis seriam a EC, VO2max e limiar anaeróbio. Porém, a MVA parece ser o parâmetro mais adequado para o controle e monitoramento de treinamentos intervalados de alta intensidade, em que se treina em intensidades relacionadas à ocorrência do VO2max buscando melhorar a aptidão aeróbia de corredores14. Considerando os resultados do presente estudo, a vFCmax é um parâmetro de menor custo para determinação da MVA (comparada à vVO2max), associado à performance e que pode ser utilizado para o monitoramento de treinos com essa característica.

Diante desses achados, concluímos que a MVA calculada a partir do CFC, que é um método de menor custo, tem elevada relação com a Vpico e com as performances de 10 e 15 km, apresentando resultados semelhantes aos observados pelos métodos baseados no CVO2. Esses resultados apresentam importantes implicações práticas, principalmente para corredores que não têm acesso à análise de gases. Para atletas com idade acima de 30 anos, o método de Lacour et al.11,12 parece ser o mais recomendado para determinação da vFCmax, visto que seus resultados não foram significativamente diferentes da Vpico, com pequena diferença entre as médias, diferente do observado para a vFCmax determinada pelo método de Di Prampero7.

 

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

Agradecimentos

Agradecemos à Ger-Ar MED pelo empréstimo do analisador de gases para realização deste estudo. Agradecemos também à CAPES pelas bolsas de estudo.

 

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Correspondência:
Correio eletrónico: famachado_uem@hotmail.com
(F.A. Machado).

Recebido 11 de dezembro de 2012
Aceito 18 de junho de 2014

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