SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.13 issue34ICT Knowledge and Access by Individuals with Chronic Illness and Family Caregivers in ColombiaMock Scientific Congress: implementation in nursing degree author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

My SciELO

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • On index processCited by Google
  • Have no similar articlesSimilars in SciELO
  • On index processSimilars in Google

Share


Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.13 n.34 Murcia Apr. 2014

 

DOCENCIA-INVESTIGACIÓN

 

Vínculos profissionais no trabalho da enfermagem: elemento importante para o cuidado

Vínculos profesionales en el trabajo de enfermería: elemento importante para el cuidado

Professional ties in nursing work: important element for care

 

 

Barboza Jacondino, Michelle*; Lemos Martins, Caroline**; Buss Thofehrn, Maira***; Lessa Garcia, Bianca****; Fernandes, Helen Nicoletti***** e Rauber Joner, Leandro******

*Especialista em Educação. Mestranda do Programa de Pós-Graduaçao em Enfermagem. E-mail: michellejacondino@gmail.com
**Especialista em Enfermagem do Trabalho. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
***Pós-Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta IV da Faculdade de Enfermagem
****Enfermeira do Hospital Unimed de Caxias do Sul-RS, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
*****Enfermeira. Membro do grupo de pesquisa NEPEN- Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem
******Acadêmico do 9o semestre da Faculdade de Enfermagem. Membro do grupo de pesquisa NEPEN. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Brasil

 

 


RESUMO

Objetivo: conhecer os vínculos profissionais no processo de trabalho de uma equipe de enfermagem.
Método: estudo qualitativo, realizado com cinco profissionais de uma equipe de enfermagem da unidade de internação cirúrgica de um hospital de ensino do Rio Grande do Sul, por meio de observação simples não participante e questionário autoaplicado. Os dados foram submetidos à analise temática e se utilizou como referencial teórico a Teoria dos Vínculos Profissionais.
Resultados: os resultados mostram vínculos profissionais agregadores e positivos entre os trabalhadores de enfermagem, o que favorece ao desenvolvimento do cuidado. O enfermeiro foi considerado agente social importante para unir a equipe de enfermagem em prol da assistência em saúde e desenvolver as potencialidades dos trabalhadores. A integração, o acolhimento e a união entre os trabalhadores são essenciais para o desempenho do processo de trabalho em enfermagem.
Conclusão: a Teoria dos vínculos profissionais pode ser utilizada para fortalecer os vínculos entre a equipe de enfermagem em busca de ambiente de trabalho saudável a partir de relações humanas mais harmoniosas.

Palavras chave: Enfermagem; Relações interpessoais; Equipe de enfermagem; Teoria de enfermagem.


RESUMEN

Objetivo: Conocer los vínculos profesionales establecidos en el proceso de trabajo de un equipo de enfermería de una unidad de hospitalización quirúrgica.
Método: Estudio cualitativo, realizado con cinco profesionales de un equipo de enfermería de una unidad de hospitalización quirúrgica, a través de la observación simple no participante y cuestionario autoaplicado. Los datos fueron sometidos a análisis temático y fue utilizado como marco teórico referencial la Teoría de los Vínculos Profesionales.
Resultados: Los resultados indican vínculos profesionales agregadores y positivos entre los trabajadores de enfermería, lo que favorece el desarrollo del cuidado. El enfermero fue considerado un importante agente social para unir el equipo de enfermería en favor de la atención de la salud y desarrollar las potencialidades de los trabajadores. La integración, la acogida y la unión entre los trabajadores son esenciales para el desempeño del proceso de trabajo en enfermería.
Conclusiones: La Teoría de los Vínculos Profesionales se puede utilizar para fortalecer los vínculos entre el equipo de enfermería en busca de un ambiente saludable de trabajo a partir de relaciones humanas más armoniosas.

Palabras clave: Enfermería; Relaciones interpersonales; Equipo de enfermería; Teoría de enfermería.


ABSTRACT

Objective: This study aims to know the professional ties established in the work process of a nursing staff of a surgical admission unit.
Method: It is a qualitative study, conducted with five professionals of a nursing staff of a surgical admission unit, through a non-participant simple observation and self-applied questionnaire. The data were submitted to thematic analysis and the Theory of Professional Ties was used as the theoretical reference.
Results: The results indicate aggregator and positive professional ties among nursing workers that favor the development of care. The nurse was considered an important social agent to join the nursing staff in favor of health attendance and to develop the capacities of workers. Integration, acceptance and union among workers are essential to the performance of work process in nursing.
Conclusions: The Theory of Professional Ties can be used to strength ties among the nursing staff, in search of a healthy work environment from human relations more harmonious.

Keywords: Nursing; Interpersonal relationships; Nursing staff; Nursing theory.


 

Introdução

No processo de trabalho da enfermagem, por questões de divisão social e técnica do trabalho, os profissionais realizam o cuidado fragmentado e, portanto, há necessidade de comunicação e articulação destes trabalhadores em prol da prestação da assistência aos indivíduos que necessitam de cuidados1. Contudo, sabe-se que as relações interpessoais na equipe de saúde, assim como na enfermagem, são referidas como fator contributivo para o estresse oriundo do ambiente onde se desenvolvem as atividades laborais2.

No conjunto das ações de saúde, é preciso considerar que o processo de trabalho em enfermagem é complementar e interdependente, influenciando e sendo influenciado a todo o momento pelos membros da equipe de enfermagem3. Assim, o trabalho em equipe na enfermagem é fundamental para o desenvolvimento da prática assistencial e, o fortalecimento desta equipe por meio do estabelecimento de vínculos profissionais, reconhecimento do trabalho do outro e a colaboração entre as pessoas são essenciais para operacionalização do cuidado4. No entanto, as instituições assistenciais não permitem uma reflexão sobre o processo de trabalho que as especifica, que no caso é o assistir em saúde, assim com também não aderem a participação dos trabalhadores na organização do trabalho em saúde e perdem a qualificação do cuidado5.

Desta forma, evidencia-se que o enfermeiro pode tomar a iniciativa pela organização do trabalho em saúde e elaboração do planejamento de ações dos profissionais tendo como foco o estabelecimento de vínculos profissionais os quais podem ser compreendidos como vínculos afetivos e sociais, com ênfase no inter-relacionamento. Assim, a motivação, o comprometimento e a dinamicidade são elementos importantes para agregar a equipe e estimular relações interpessoais saudáveis3.

Nessa perspectiva, é interessante mobilizar a equipe de enfermagem para a transformação do cotidiano de trabalho, no qual se estabeleçam relações humanas mais harmoniosas, baseadas no respeito mútuo e cooperação entre os membros da equipe, tendo em vista que para a realização do trabalho em enfermagem é fundamental à cooperação e o trabalho em grupo6.

Frente a esse contexto, a Teoria dos Vínculos Profissionais (TVP) surge como proposta a partir da teorização das relações estabelecidas no ambiente de trabalho na enfermagem, por meio do fortalecimento da equipe de enfermagem, mediada pela formação e afirmação de vínculos profissionais. Deste modo, a TVP corresponde a um conjunto de definições e estratégias gerais, flexíveis, interdependentes e pode ser considerada uma referência conceitual e prática para o desenvolvimento do trabalho na enfermagem7.

A partir disso, compreende-se que o estabelecimento e afirmação de vínculos profissionais saudáveis possibilitam a promoção de um ambiente de trabalho agradável, e implicam positivamente na finalidade do trabalho da enfermagem, na transformação do corpo do ser humano a partir do cuidado prestado8,5.

Assim, a TVP pode auxiliar os trabalhadores no desenvolvimento da prática profissional da enfermagem, ao possibilitar a reflexão dos profissionais frente ao seu trabalho e as relações sociais estabelecidas no ambiente laboral.

Diante do exposto, este estudo tem por objetivo conhecer os vínculos profissionais no processo de trabalho de uma equipe de enfermagem.

 

Metodologia

Estudo exploratório e descritivo de natureza qualitativa.

Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa Implantação e avaliação da viabilidade da Teoria dos Vínculos Profissionais na prática da enfermagem. O projeto atendeu às recomendações para pesquisas envolvendo seres humanos9 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (protocolo número 060/2008).

Os dados foram coletados no mês de maio de 2011, em duas etapas. A primeira foi realizada mediante a observação simples e não participante de um turno de trabalho de uma equipe de enfermagem. Os profissionais, depois de orientados acerca dos objetivos e metodologia da investigação aceitaram em participar da pesquisa por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A observação teve como finalidade observar o processo de trabalho da equipe de enfermagem, com enfoque nos vínculos profissionais entre os membros da equipe de enfermagem, os quais foram registrados pelas pesquisadoras em um diário de campo. A segunda etapa foi composta por um questionário autoaplicado com os participantes da primeira etapa da pesquisa.

A pesquisa adotou o questionário autoaplicado em virtude da solicitação dos próprios participantes, pois estes sujeitos encontram-se alocados em um hospital de ensino e fazem parte de diversos estudos no decorrer do ano, os quais por vezes não disponibilizam de tempo para outra modalidade de coleta de dados. Desse modo, adotou-se essa forma de coletar as informações para atingir ao objetivo proposto nesta investigação.

Foram respondentes do estudo cinco trabalhadores da equipe de enfermagem, sendo um enfermeiro e quatro técnicos de enfermagem. Para assegurar o anonimato dos participantes, os profissionais foram identificados por meio da letra "E", correspondente à enfermagem, seguida de uma numeração advinda da sequência da aplicação dos questionários.

Os dados obtidos nesta pesquisa foram submetidos á analise temática10 conforme os passos operacionais preconizados: a ordenação dos dados, a classificação dos dados e a análise final. A ordenação dos dados constituiu-se no mapeamento das entrevistas realizadas com a equipe de enfermagem. Após, procedeu-se a classificação dos dados por meio de leitura flutuante para identificar ideias centrais e estruturas de relevância, as quais pudessem indicar a base de confronto do material empírico com os estudos existentes sobre o assunto proposto. A classificação permitiu visualizar as partes que compõem o todo do trabalho da equipe de enfermagem, entretanto para realizar a interpretação e a análise final foi necessário recompor o todo e analisar essas relações no seu conjunto, de maneira complementar e interdependente10.

Diante disso, estabeleceram-se três temas para análise intitulados: a) Interações humanas no trabalho da enfermagem e sua implicação na produção de cuidados b) Cooperação como componente agregador entre os trabalhadores de enfermagem c) Comprometimento no trabalho: fator essencial para todos os envolvidos no trabalho da enfermagem.

Para a interpretação dos resultados obtidos utilizou-se como referencial teórico a Teoria dos Vínculos Profissionais6.

 

Resultados e discussão

Interações humanas no trabalho da enfermagem e sua implicação na produção de cuidados

O traalho em saúde é amplo e de múltiplas dimensões, constituído por uma rede de relações e interações na qual o indivíduo se encontra11. O trabalho em saúde é constituído por diferentes núcleos profissionais, cada qual com sua formação e práticas de trabalho, mas que possuem relação de união que é o usuário do serviço de saúde a quem este trabalho será prestado12.

Dessa maneira, é relevante considerar que a subjetividade faz parte do trabalho em saúde, pois o bjeto de trabalho é o elemento humano e, portanto, apesar de haver intervenções técnicas, estas são sempre permeadas por relações interpessoais13.

A enfermagem integra a prestação de serviços à saúde, e desenvolve parte do trabalho em saúde, que visa como produto final à prestação da assistência14,5. Assim, o trabalho da enfermagem é considerado um trabalho imaterial, pois não dá origem a produtos que se possa estocar ou comercializar, e sim serviços que são consumidos e produzidos no ato de sua realização, no exato momento da prestação da assistência5.

A tarefa profissional do trabalho da enfermagem é o cuidado terapêutico entendido como toda e qualquer ação que o profissional desenvolva junto ao ser humano, e deve ocorrer a partir de um autoconhecimento enquanto ser trabalhador3. A partir das falas dos participantes da pesquisa evidencia-se que é a própria tarefa profissional que une a equipe para operacionalização do cuidado. Os trabalhadores percebem que a interação no grupo é favorável e conveniente para a realização do trabalho, ao destacar o coleguismo e a amizade como fatores positivos no cumprimento da tarefa, assim como os laços de companheirismo e confiança. Na observação a seguir reforçamos esse aspecto.

A equipe de enfermagem trabalha o tempo todo em direção à prestação da assistência do ser humano. Em muitos momentos da prestação do cuidado a equipe se ajuda na realização das tarefas, preparação de medicação, banho e curativos. Observação

A integração da equipe de enfermagem é um processo social que tende a unificar a equipe e a transcender a individualidade de seus membros, considerando-se que cada grupo de trabalho possui dinâmica e movimento6. Nesta pesquisa observou-se que apesar dos trabalhadores estarem submetidos ao processo de trabalho fragmentado e rotineiro no ambiente hospitalar, em função da organização capitalista do trabalho e suas implicações, conseguem desdobrar as dificuldades encontradas com a cooperação mútua e confiança entre a equipe, ao utilizar a tarefa profissional como ponto de convergência entre os membros do grupo.

Na presente pesquisa, nota-se a articulação entre os membros da equipe de enfermagem em direção de uma finalidade específica e, os vínculos profissionais no trabalho da enfermagem são elementos importantes para realização do cuidado. Deste modo, é possível que a construção de vínculos durante a jornada assistencial, esteja atrelado ao desejo de prestar atenção em saúde mais humanizada e competente, ao unir a equipe em prol do usuário que necessita de cuidados. Os depoimentos a seguir reforçam esse apontamento.

"O grupo trabalha bem interado e articulado em prol do bem-estar do cliente e acho bem conveniente e proveitoso". E.1

"Recebo o acolhimento de meus colegas e apoio sempre que preciso. Isso ajuda a desenvolver o trabalho". E.2

A interação dos profissionais, neste estudo, se traduz como acolhimento e, esta atenção acolhedora desponta para a cooperação, e comprometimento no trabalho. A TVP enfatiza o autoconhecimento como componente indispensável para a consolidação de vínculos profissionais no trabalho, sendo primordial a aceitação de si, para posterior aceitação do outro. Assim, o ser humano, ao se sentir seguro, repassa esse sentimento nas relações com os outros, sendo possível tornar o ambiente institucional um local de realizações, de crescimento pessoal e de interação com o coletivo3. Nesse sentido, os vínculos profissionais são dispositivos essenciais na contramão de um processo de trabalho em saúde parcelado, em busca de tornar o grupo de trabalho mais articulado.

Outro elemento essencial para se sentir acolhido e integrado ao grupo está diretamente interligado à relações horizontais no trabalho, ratificando a importância da dissolução da hierarquia profissional entre enfermeiros e técnicos de enfermagem. Um dos participantes da pesquisa enfatiza essa questão:

"Considero uma equipe de trabalho unida, que acolhe a todos sem hierarquia entre enfermeiros e técnicos de enfermagem, o que é importante para realizar o trabalho. Me sinto integrada ao grupo aqui" E.4

É uma questão histórica e social a divisão de tarefas e organização do trabalho em enfermagem pelo enfermeiro, pois este profissional tornou-se o coordenador das atividades dos membros da equipe de enfermagem e, não raramente dos demais trabalhadores da equipe de saúde11. O enfermeiro instituiu relação de dominação sobre auxiliares e técnicos de enfermagem, com poderes que o diferenciam destes profissionais15, sendo estes respaldados pela lei do exercício profissional n.o 7.498, de 25 de junho de 198616, que determina ser privativo do enfermeiro aspectos como gerenciar e coordenar a unidade de enfermagem, e os conhecimentos relativos a assistência em enfermagem. Contudo, é preciso ter clareza que a imposição do poder de forma verticalizada no processo de trabalho em enfermagem pode provocar opressão dos trabalhadores.

Desse modo, o enfermeiro é percebido como coordenador da equipe, um líder na organização da implementação da assistência, ao envolver os diferentes profissionais no cuidado. Além disso, espera-se que o enfermeiro vincule a equipe de enfermagem no desenvolvimento do trabalho em saúde, onde todos tecem uma rede de cuidado, mesmo que de forma parcelar, pois é preciso ter claro que o objeto de trabalho é comum a todos.

Assim, é o enfermeiro quem organiza o processo de trabalho da enfermagem, divide as tarefas a serem desempenhadas pelos técnicos de enfermagem e coordena as ações em saúde da equipe de enfermagem em prol do usuário17. Nesse contexto, cabe então ao coordenador manter relação harmoniosa entre os trabalhadores, a partir de do diálogo e reflexão acerca das relações humanas entre os membros da equipe e a relação do grupo com a tarefa profissional3.

Desta maneira, a postura adotada pelo enfermeiro reflete no todo do processo de trabalho da enfermagem, implicando na qualidade das relações humanas para a prestação de cuidado.

 

Cooperação como componente agregador entre os trabalhadores de enfermagem

A teoria dos vínculos profissionais postula que a busca de cuidado terapêutico de qualidade deve iniciar na atenção aos colaboradores que compõem a equipe de enfermagem, nessa perspectiva compartilha da ideia de que equipe é a nomenclatura estabelecida para todo o agrupamento de pessoas que desempenha uma atividade profissional18. Ao considerar o supracitado evidencia-se que para a TVP espera-se mais dos colaboradores, com vistas a alcançar seu objetivo e, por esta razão, a Teoria adota o conceito de grupo apresentado por Pichon-Rivière Entende-se por grupo um conjunto delimitado de pessoas, que tem em comum a vivência em um mesmo espaço e sobre um mesmo tempo, tendo o propósito de executar determinadas tarefas comuns para o grupo, a fim de alcançar os objetivos do todo, esse grupo é articulado por representação interna, que na enfermagem remete-se ao enfermeiro. Deste modo, a tarefa é o elemento organizador dos processos de pensamento, comunicação e ação que ocorrem no grupo19.

"Estamos todos articulados no cumprimento do trabalho e mantemos bons laços de amizade e coleguismo". E.2

Nessa perspectiva, entende-se que para a formação de um grupo de trabalho deve haver reflexão e compreensão por parte da equipe de enfermagem, e, para isto, o papel do enfermeiro é essencial, pois é um profissional que assume a liderança e coordenação do trabalho assistência em saúde. Contudo, algumas variáveis podem contribuir ou não para o alcance das finalidades do grupo e, portanto, é preciso considerar os determinantes que se encontram articulados ao sucesso ou fracasso do alcance da tarefa grupal. Os determinantes podem estar ligados a aspectos estruturais, de funcionamento, de dinâmica e de inter-relações, e, deste modo o êxito do trabalho parte da conscientização sobre a existência destes determinantes, que pode ser visualizado na medida em que o grupo introjeta reflexões teóricas e práticas do trabalho grupal20.

Desta forma, a teoria dos vínculos profissionais pode auxiliar nas reflexões teóricas do grupo, pois é considerada um modelo de gestão para o trabalho em equipe de enfermagem, entendida como ferramenta mediadora que considera a subjetividade dos trabalhadores, com vistas a minimizar as dificuldades vivenciadas, no que se refere as relações humanas no trabalho21. Os profissionais de enfermagem ao executar o seu trabalho em ambiente agradável desenvolvem suas atividades com prazer e satisfação, repercutindo assim, na qualidade do cuidado terapêutico6. Neste sentido, os profissionais de enfermagem mostram aspectos de cooperação e união como formas de integrar a equipe e facilitar o desenvolvimento do cuidado.

"Um dos aspectos facilitadores do trabalho é a disponibilidade de ajuda mútua, a cooperação entre os funcionários". E.3

A vida em grupo deve oportunizar um universo de experiências e confiança entre as pessoas, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento dos profissionais de enfermagem, por meio da descoberta de si mesmo e dos outros membros da equipe6.

O enfermeiro é o elemento de referência para os demais componentes da equipe de enfermagem, pois é nele que a equipe encontra o seu ponto de apoio, sendo percebido como facilitador de projetos e desejos dos trabalhadores, estimulador para a formação de vínculos profissionais saudáveis, do desenvolvimento pleno do potencial de todos, o que pode influenciar na qualidade da assistência22. Desse modo, as potencialidades dos trabalhadores podem ser estimuladas no trabalho, mediadas pela utilização da TVP, para construir um grupo coeso, reflexivo e crítico, pois é ferramenta mediadora de trabalho.

Nesse sentido, uma das alternativas de unir a equipe de enfermagem e manter os trabalhadores atualizados é a educação em serviço, tendo em vista que é uma oportunidade de identificar o potencial de cada membro da equipe. No entanto, os participantes deste estudo não referem à ocorrência da educação em serviço, mas percebem essa atividade como sinônimo de trabalho em grupo, uma forma de unir a equipe.

"(...) falta uma educação em serviço, um tipo de trabalho em grupo que possa nos unir no trabalho. Todas as atividades extras realizadas aqui são propostas pelos técnicos e enfermeiros e não da gerência, por exemplo, em proporcionar algo diferente, mudanças no setor". E.4

A educação em serviço é um processo educativo aplicado nas relações humanas com o intuito de desenvolver as áreas cognitiva, psicomotora e relacional dos profissionais, respaldada no aprendizado contínuo, almejando o autoaprimoramento, buscando a competência pessoal, profissional e social23.

O enfermeiro ao utilizar o conhecimento científico atualizado no serviço de saúde contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional da equipe de trabalho. A educação em serviço pode auxiliar no estabelecimento dos vínculos profissionais saudáveis no ambiente de trabalho, na medida em que todos do grupo visualizam o objetivo comum da equipe de enfermagem. Por isso, entende-se que a Teoria dos Vínculos Profissionais consiste em um conjunto de estratégias que visa à melhoria das relações interpessoais no trabalho em saúde e, desta forma, contribui para a prestação do cuidado terapêutico.

"Nós [equipe de enfermagem] não temos educação em serviço desde que esta enfermeira entrou. Antes nós tínhamos e era bom" (...)E.2

Nesse sentido a Teoria dos Vínculos Profissionais possui como um de seus aspectos principais a criação de espaços educacionais no ambiente de trabalho, com estímulo as ações de educação em serviço, com vistas a promover o crescimento do profissional de enfermagem como ser humano e trabalhador, por meio da atualização e aperfeiçoamento do conhecimento, qualificando a assistência em saúde6.

Outro aspecto importante que pode ser considerado relevante pelas organizações institucionais de saúde é a educação continuada, a qual auxilia na formação dos vínculos profissionais, por meio do aperfeiçoamento profissional, suprindo as necessidades de conhecimento, na constante atualização teórico-prática, a partir de cursos, capacitações e pós-graduações. A troca de experiências entre a equipe de enfermagem pode permitir a consolidação dos vínculos no trabalho, que além de proporcionar a qualificação dos trabalhadores para as atividades profissionais, tornase um fator agregador e positivo para o grupo bem como para o objeto de trabalho do processo de trabalho da enfermagem, ou seja, o usuário que recebe a assistência de enfermagem.

Os participantes desta pesquisa reforçam que as mudanças realizadas no trabalho são fruto da vontade dos enfermeiros e técnicos em qualificar a sua força de trabalho, pois não há interesse por parte da gestão institucional em proporcionar educação em serviço para a equipe de enfermagem. Nos discursos dos participantes evidencia-se a percepção dos profissionais de enfermagem acerca da necessidade de estar em constante qualificação para efetuar o cuidado, e compreende-se a corresponsabilidade da instituição e também da gerência do hospital para a realização e manutenção de programas de educação em serviço.

Comprometimento no trabalho: fator essencial para todos os envolvidos no trabalho em saúde

No trabalho em saúde, cada integrante da equipe possui um saber, uma formação específica e, com isso, a tendência dos trabalhadores é a de não considerarem tais diferenças e trabalharem de forma isolada e sozinhos24, o que traduz desencontros e ações desarticuladas na produção em saúde. Contudo, o trabalho é um espaço de transformações possíveis, pois ao trabalhar o homem modifica a natureza, mas é também modificado por ela em uma relação recíproca de dupla transformação25. As relações sociais e múltiplas determinações que se constituem nesse processo acarretam mudanças contínuas na forma de trabalhar dos profissionais, as quais podem tornar as relações humanas mais harmoniosas.

Nesse contexto, os vínculos profissionais estabelecidos no ambiente hospitalar revelam-se uma estratégia de ação, na contramão de um trabalho taylorizado, no qual produz mais divisões do que pontos de união nos trabalhadores, que embora compartilhem do mesmo espaço, do ritmo e rotinas de trabalho, a própria estrutura organizacional, dirigem a um confronto entre os operários, individualmente e na solidão, submetidos à violência da produtividade26. Todavia, é significativo enfatizar que os profissionais de saúde são todos operadores do cuidado, cada um na sua dimensão, mas sempre atuando em prol do usuário27. Nessa conjuntura de trabalho em saúde, o enfermeiro, além de ser mediador do trabalho de enfermagem e do cuidado terapêutico pode ser reconhecido como sujeito importante para o desenvolvimento pessoal e profissional dos membros da equipe de enfermagem.

"Como uma das integrantes mais nova da equipe de enfermagem, percebo que está ocorrendo o entrosamento necessário para que eu possa desenvolver minhas potencialidades no trabalho e isso é bom". E.2

"As relações interpessoais na unidade são de confiança e respeito mútuo, e isso facilita o desenvolvimento da atividade profissional". E.3

"Na unidade ocorre o entrosamento entre a equipe de enfermagem, o que é necessário para que eu possa desenvolver minhas potencialidades no trabalho". E.5

O processo de trabalho da enfermagem pode ser entendido como a transformação do ser humano que necessita de cuidado por meio da intervenção da equipe de enfermagem, que utiliza ferramentas de trabalho para realizar tal mudança. Os profissionais que atuam na área da saúde necessitam participar de contínuas capacitações para desenvolver suas potências e habilidades para então, efetuar a atividade profissional. Destaca-se que estas capacitações devem iniciar pelas tecnologias leves, que envolvem o acolhimento, responsabilização, bem como a formação de vínculos entre profissionais e usuários, tendo em vista que são elementos básicos e essenciais na operacionalização do cuidado e administração das relações humanas no contexto laboral27.

"Eu acho que aqui, os enfermeiros nos transmitem muita segurança, conhecimento e experiência, e isso faz com que junto com o restante da equipe, eu possa melhorar meu desenvolvimento profissional". E.2

Nesse sentido, o enfermeiro apresenta-se como ser participativo, cooperativo e comprometido com a equipe de enfermagem, ao respeitar a individualidade de cada um, manter o consenso das decisões do grupo e utilizar a criatividade em prol da qualidade na realização do cuidado terapêutico6. O enfermeiro é reconhecido como pessoa capaz de identificar as aptidões, desenvolver habilidades e os talentos de cada membro da equipe.

Assim, o enfermeiro ao adotar postura de manutenção de diálogo compartilhado, transparente e, planejamento coletivo estará contribuindo com o estabelecimento de vínculos profissionais saudáveis entre os membros de sua equipe, por meio da participação de todos os integrantes nas tomadas de decisões e organização do trabalho. Além disso, este profissional promove a valorização dos atores sociais envolvidos no trabalho em saúde, sendo que estes se reconhecem como parte essencial para o sucesso das atividades.

 

Considerações finais

Os resultados deste estudo mostraram que os vínculos profissionais agregadores e positivos entre os trabalhadores de enfermagem favorecem ao desenvolvimento do cuidado, pois contribuem para que os membros da equipe de enfermagem sintam-se parte integrante da organização e planejamento das atividades em saúde. Nesse sentido, os vínculos traduzem-se em elemento importante que pode proporcionar qualidade na assistência em saúde, pelo fato da participação proativa de todos na decisão das práticas de trabalho que permeiam o ambiente hospitalar.

É imprescindível o desenvolvimento de prática de trabalho articuladora, comunicativa e de diálogo aberto entre os trabalhadores de enfermagem, direcionada para o entendimento mútuo e cooperativo no trabalho, pois apostamos que a participação dos profissionais é uma das molas propulsoras para possíveis transformações do processo de trabalho da enfermagem.

Neste estudo, observou-se que o enfermeiro foi percebido pela equipe de enfermagem como coordenador do grupo de trabalho, pois, para que o cuidado terapêutico aconteça este profissional necessita mediar as relações humanas entre equipe de enfermagem, e também entre equipe de saúde e as gerências da instituição hospitalar, para atingir as necessidades biopsicossociais dos usuários.

O enfermeiro foi considerado agente social importante para unir a equipe de enfermagem em prol da assistência em saúde e desenvolver as potencialidades destes trabalhadores, visto que foi apontado como um facilitador, orientador e motivador para a afirmação de vínculos profissionais, além de ser o responsável pela divisão e organização das atividades realizadas pela equipe. Acreditamos que o planejamento participativo, a união e o acolhimento entre os membros da equipe de enfermagem são aspectos que contribuem para um ambiente de trabalho mais saudável por meio de vínculos profissionais saudáveis. Nesse contexto, entendemos que a TVP pode ser utilizada na enfermagem como ferramenta mediadora para a prática profissional, considerando-se um instrumento de trabalho relevante, ao visar à formação de vínculos profissionais saudáveis, o fortalecimento da equipe de enfermagem, implicando certamente na qualificação do cuidado.

 

 

Referências

1. Hausmann M, Peduzzi M. Articulação entre as dimensões gerencial e assistencial do processo de trabalho do enfermeiro. Texto Contexto Enfermagem; 2009. 258 p.         [ Links ]

2. Jorge LLS, Enirtes CPM. Estresse e implicações para o trabalhador de enfermagem. Informe-se em promoção da saúde; 2006. 16 p.         [ Links ]

3. Thofehrn Maira Buss, Leopardi Maria Tereza. Teoria dos vínculos profissionais: um novo modo de gestão em enfermagem. Texto contexto - enferm. (serial on the Internet). 2006 Sep (cited 2012 Dec 02) ; 15(3): 409-417.         [ Links ]

4. Souza SS, Costa R, Shiroma LMB, Maliska ICA, Aamadigi FR, Pires DEP, Ramos FRS. Reflexões de profissionais de saúde acerca do seu processo de trabalho. Rev. Eletrônica de Enfermagem; 2010. 449 p.         [ Links ]

5. Pires D. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Annablume; 2008.         [ Links ]

6. Thofehrn MB, Leopardi MT. Teoria dos vínculos profissionais: formação de grupo de trabalho. Pelotas (RS): Ed. universitária UFPel; 2009.         [ Links ]

7. Thofehrn MB, Leopardi MT. Teoria dos vínculos profissionais modo de gestão em enfermagem. Texto Contexto Enfermagem; 2006. 409p.         [ Links ]

8. Thofehrn MB, Meincke SMK, Soares MC, Heck RM. Organizadores. Práticas de gestão e gerenciamento no processo de trabalho em saúde. Pelotas (RS): Ed.universitária UFPel; 2009.         [ Links ]

9. Ministério da saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução no 196 de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996.         [ Links ]

10. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12a ed. São Paulo (SP): Hucitec, 2010.         [ Links ]

11. Magda SK, Dirce SB, Helenice MS, Marilene LW, Andréa MV, Maria TZ,Vera R, Evanguelia KAS. Tecnologias de cuidado em saúde e enfermagem e suas perspectivas filosóficas. Texto Contexto Enfermagem; 2006. 178p.         [ Links ]

12. Judite HB, Denise EPP, Flávia RSR. Dimensões do trabalho da enfermagem em múltiplos cenários institucionais. Tempus - Actas de Saúde Coletiva - O Trabalho em Saúde, 2011.         [ Links ]

13. Pires DEP. A estrutura objetiva do trabalho em saúde. In: Leopardi MT. Processo de trabalho em saúde: organização e subjetividade. Florianópolis: Papa-Livros; 1999. 64p.         [ Links ]

14. Felli VEA, Peduzzi M. O trabalho Gerencial em enfermagem. In: Kurcgant, P. (Org). Gerenciamento em enfermagem. 2. Ed. Rio de Janeiro: Guanabra Koogan; 2012. 113 p.         [ Links ]

15. Lima MADS, Almeida MCPO. Trabalho de enfermagem na produção de cuidados de saúde no modelo clínico. Rev. gaúcha Enfermagem; 1999. 86p.         [ Links ]

16. Governo Federal (BR). Lei No 7.498/86, de 25 de Junho de 1986 - Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Brasília (DF): Governo Federal, 1986.         [ Links ]

17. Francisco CPR. O Trabalho do enfermeiro em unidades de internação de um hospital geral da 14a CRS do Rio Grande do Sul. (dissertação). Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS; 2003.         [ Links ]

18. Bueno, JGS. A produção acadêmica sobre inclusão escolar e Educação Inclusiva. En E.G. Mendes, M.A. Almeida, M.C.P.I. Hayashi (Org.), Temas em Educação Especial: Conhecimentos para fundamentar a prática. Araraquara: Junqueira & Marin; 2008. 31p.         [ Links ]

19. Pichon-Reviére E. O processo grupal. 6oed. Rev. São Paulo: Martins Fontes, 1998.         [ Links ]

20. Câmara MFB, Damásio VF, Munardi DB. Vivenciando os desafios do trabalho em grupo. Rev Eletr Enf (Internet); 2008 (acesso em: 3 jun.2012). Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n3/v10n3aXX.htm.         [ Links ]

21. Thofehrn MB, Amestoy SC, Porto AR, Arrieira IC, Dal Pai D. A dimensão da subjetividade no processo de trabalho da enfermagem. Rev. Enfermagem. Saúde; 2011. 190p.         [ Links ]

22. Gelbcke FL, Souza LA, Dal Sasso GM, Nascimento E, Bulb MBC. Liderança em ambientes de cuidados críticos: reflexões e desafios à Enfermagem Brasileira. Revista Brasileira de Enfermagem; 2009.136p.         [ Links ]

23. Paschoal AS, Mantovani MF, Méier MJ. Percepção da educação permanente, continuada e em serviço para enfermeiros de um hospital de ensino. Rev Esc Enfermagem USP; 2007. 478p.         [ Links ]

24. Fortuna CM. Et al. O trabalho de equipe no Programa de Saúde de Família: reflexões a partir de conceitos do processo grupal e de grupos operativos. Rev. Latino Americano; 2005. 262p.         [ Links ]

25. Marx, K. O capital: Crítica da economia política. 29. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, tradução Reinaldo Sant'anna; 2011.         [ Links ]

26. Dejours, C. A loucura do trabalho: Estudo da Psicopatologia do trabalho. 5a ed. São Paulo: Cortez; 2011.         [ Links ]

27. Merhy EE, Franco T. Por uma Composição Técnica do Trabalho Centrada nas Tecnologias Leves e no Campo Relacional in Saúde em Debate; 2003.         [ Links ]

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License