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Enfermería Global
On-line version ISSN 1695-6141
Enferm. glob. vol.16 n.48 Murcia Oct. 2017 Epub Dec 14, 2020
https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.16.4.259141
Originales
Efeito do Reiki no bem-estar subjetivo: estudo experimental
1Enfermeiro. Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.
2Enfermeiro. Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.
3Enfermeira. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.
4Psicólogo. Professor Visitante do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.
5Enfermeira. Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Brasil.
Métodos
Estudo experimental conduzido com 60 indivíduos que foram alocados em grupos de intervenção (Reiki) e de controle (indução de concentração sem manipulação energética). Utilizou-se a Escala de Bem-Estar Subjetivo, que teve as médias dos escores de suas três dimensões - satisfação com a vida, afeto positivo e afeto negativo - comparadas entre os grupos, submetendo-as ao teste t de Student com nível de 5% de significância estatística.
Resultados
Após seguimento de 21 dias e submissão a três sessões terapêuticas, o Reiki potencializou a dimensão afeto positivo (p = 0,01) dos indivíduos sem, no entanto, influenciar as dimensões afeto negativo e satisfação com a vida do bem-estar subjetivo.
Conclusão
O Reiki potencializa o afeto positivo do bem-estar subjetivo de pessoas que buscam essa terapia.
Palavras chave Terapias complementares; Toque terapêutico; Bem-estar subjetivo; Epidemiologia experimental
INTRODUÇÃO
O estudo do Bem-Estar Subjetivo (BES) -também conhecido como felicidade, satisfação ou estado de espírito- busca compreender a avaliação que as pessoas fazem de suas vidas. Além de ser considerado um avaliador subjetivo da qualidade de vida, o BES tem como principal intuito não a investigação de estados psicológicos negativos ou patológicos, mas a diferenciação dos níveis de bem-estar que as pessoas conseguem alcançar em suas vidas1. A própria concepção de saúde da Organização Mundial da Saúde inclui o bem-estar como um conceito chave, pois a define como a situação de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas como a ausência de doença2.
Práticas integrativas e complementares têm sido reconhecidas como abordagens que estimulam os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes, com ênfase na escuta acolhedora, desenvolvimento do vínculo terapêutico e integração do ser humano com o meio ambiente3. Dentre as práticas integrativas e complementares, destacamos o Reiki: uma técnica terapêutica japonesa voltada para o restabelecimento do sistema energético corporal, graças ao estímulo dos processos de cura natural do organismo4, que pode ser utilizada para induzir o relaxamento e tratar problemas de saúde5)(6)(7) .
O Reiki é um sistema natural de equilíbrio e de reposição energética, através da imposição das mãos, que contribui para a produção de relaxamento profundo, desbloqueio energético e harmonização interior. Considerado uma abordagem holística para a saúde e bem-estar, o Reiki também pode ser entendido como uma filosofia de vida para a promoção da felicidade pessoal e de terceiros4.
Alguns estudos investigaram os efeitos do Reiki sobre a saúde e apontaram efeitos benéficos, tais como diminuição de pressão arterial5)(6, ansiedade e estresse8)(9, dor9 e frequência cardíaca9)(10. Como os efeitos do Reiki sobre fenômenos mensurados objetivamente têm sido descritos pela literatura científica, acredita-se que seus efeitos sobre fenômenos subjetivos, incluindo respostas emocionais e julgamentos globais de satisfação com a vida, também devam ser investigados.
O BES busca compreender a felicidade: o que a causa, o que a destrói e quem a tem1)(11. Portanto, sua avaliação deve considerar a satisfação global com a vida e uma análise pessoal sobre a frequência com que são experimentadas emoções positivas e negativas. Para que seja relatado um nível de BES satisfatório, é necessário que o indivíduo reconheça manter em nível elevado sua satisfação com a vida, alta frequência de experiências emocionais positivas e baixas frequências de experiências emocionais negativas11)(12.
A partir do conhecimento dos modos como o Reiki atua nos campos energéticos das pessoas, a hipótese do presente estudo é de que essa terapia pode contribuir para manter o equilíbrio físico, mental e social levando à melhora da satisfação com a vida, à elevação dos índices de afetos positivos e à diminuição dos índices de afetos negativos, contribuindo para o alcance de um BES satisfatório. Por isso, o objetivo desse estudo foi avaliar o efeito do Reiki no BES de pessoas que buscam essa terapia.
MÉTODOS
Estudo experimental desenvolvido no núcleo de extensão de uma universidade pública localizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Indivíduos com ≥ 18 anos de idade que, independente do motivo, buscaram Reiki no núcleo de extensão universitária, entre os meses de novembro de 2012 e abril de 2013, e nunca tiveram experiência anterior com essa terapia foram considerados elegíveis. No período estudado, todos os 60 indivíduos que atenderam aos critérios de elegibilidade foram convidados a participar do estudo; não houve recusas à participação.
Os indivíduos foram alocados no grupo intervenção (n = 30) ou grupo controle (n = 30) mediante ordem de busca por atendimento, isto é, o primeiro indivíduo que buscou atendimento recebeu intervenção (Reiki), o segundo placebo (indução de concentração sem manipulação energética), o terceiro intervenção, o quarto placebo e assim por diante. No momento da alocação, em sala reservada e sem a presença de terceiros, entrevistadores previamente treinados coletaram informações sobre sexo, idade, escolaridade, estado civil e religião, além de aplicarem a Escala de Bem-Estar Subjetivo11, construída e validada no Brasil para avaliação do BES a partir de três dimensões: satisfação com a vida, afeto positivo e afeto negativo.
Tanto a intervenção quanto o placebo -cegados para os participantes do estudo- foram aplicados por dois terapeutas iniciados em Reiki há, pelo menos, 12 anos. Após a alocação, em sala própria do núcleo de extensão universitária, foi realizada a primeira das três sessões terapêuticas a que cada participante foi submetido, com sete dias de intervalo entre elas, que duraram, em média, 42 minutos. A intervenção foi aplicada através da imposição das mãos do terapeuta por seis minutos em cada um dos sete chacras principais (localizados no alto da cabeça, entre as sobrancelhas, base do pescoço, centro do tórax, abaixo do processo xifoide e do umbigo e região perineal) do corpo do indivíduo, que se encontrava deitado sobre uma maca com os olhos fechados. O placebo foi aplicado pelo terapeuta através da indução de concentração sem manipulação energética do indivíduo, que se encontrava deitado sobre uma maca com os olhos fechados.
Ao término da 3ª sessão terapêutica, em sala reservada e sem a presença de terceiros, entrevistadores previamente treinados aplicaram, outra vez, a Escala de Bem-Estar Subjetivo11, uma escala do tipo likert que possui 62 itens: 21 descrevem afetos positivos e 26 afetos negativos, devendo o sujeito responder como tem se sentido ultimamente em uma escala em que o escore 1 significa nem um pouco e 5 extremamente; 15 itens descrevem julgamentos relativos à avaliação de satisfação com a vida, devendo ser respondido em uma escala na qual 1 significa discordo plenamente e 5 concordo plenamente11.
No software SPSS versão 19.0 foram realizadas análises univariadas com distribuição de frequências simples para a descrição dos indivíduos. Além disso, as médias dos escores das dimensões da Escala de Bem-Estar Subjetivo11 dos grupos intervenção e controle foram comparadas, submetendo-as ao teste t de Student com nível de 5% de significância estatística.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (045/2012) e os sujeitos que aceitaram participar dele assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. Cabe ressaltar que, ao término da entrevista que ocorreu após a 3ª sessão terapêutica, os indivíduos do grupo controle foram informados que não haviam recebido Reiki e, caso desejassem, poderiam agendar atendimento para iniciar essa terapia.
RESULTADOS
Dentre os participantes do presente estudo, 88,3% eram do sexo feminino, 43,3% possuíam o nível superior completo, 61,7% eram solteiros e 88,3% declararam possuir religião (Tabela 1). A idade dos participantes variou de 18 a 72 anos.
Características sociodemográficas | n | % |
---|---|---|
Sexo | ||
Feminino | 53 | 88,3 |
Masculino | 7 | 11,7 |
Escolaridade | ||
Até o ensino fundamental completo | 4 | 6,7 |
Até o ensino médio completo | 10 | 16,7 |
Superior incompleto ou mais | 46 | 76,6 |
Estado civil | ||
Solteiro | 37 | 61,7 |
Casado | 16 | 26,7 |
Divorciado | 5 | 8,3 |
Viúvo | 2 | 3,3 |
Religião | ||
Possui | 53 | 88,3 |
Não possui | 7 | 11,7 |
A comparação das médias dos escores das dimensões da Escala de Bem-Estar Subjetivo11 dos grupos intervenção e controle, antes de seus componentes receberem a terapia para a qual foram alocados, não apresentou diferenças estatisticamente significantes (Tabela 2).
Dimensões da Escala de Bem-Estar Subjetivo | Médias do Escores do Grupo Intervenção | Médias dos Escores do Grupo Controle | p-valor |
---|---|---|---|
Afeto Positivo | 3,41 | 3,21 | 0,11 |
Afeto Negativo | 2,76 | 2,81 | 0,26 |
Satisfação coma a Vida | 3,05 | 3,07 | 0,19 |
Após 21 dias de seguimento, o Reiki potencializou o afeto positivo (p = 0,01) sem, no entanto, influenciar o afeto negativo e a satisfação com a vida do BES de pessoas que buscaram e receberam três sessões de Reiki em comparação àqueles que o buscaram, mas não receberam sessão alguma (Tabela 3).
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo evidenciam que o Reiki potencializa o afeto positivo sem, no entanto, influenciar o afeto negativo e a satisfação com a vida do BES de pessoas que buscam e recebem Reiki em comparação àquelas que o buscam, mas não o recebem.
Estudo experimental conduzido com 35 estudantes sadios de psicologia que receberam 10 sessões de Reiki (intervenção) ou de indução de concentração e relaxamento (placebo) evidenciou que os 18 estudantes que receberam Reiki apresentaram, ainda que sem significância estatística, melhores condições de saúde e bem-estar e redução nos níveis de depressão, ansiedade e estresse quando comparados aos que não receberam essa terapia13.
Práticas integrativas e complementares estão sendo cada vez mais utilizadas, auxiliando não apenas na redução dos níveis de estresse, ansiedade e depressão, mas também no alivio da dor e no controle da compulsão alimentar. Os principais motivos que levam as pessoas a buscar tais práticas são o alcance do bem-estar, da serenidade, da melhora do humor, do sono e da compaixão pelo próximo14.
A harmonia, quantidade e equilíbrio da energia vital no organismo é essencial para a saúde humana e para o funcionamento adequado do ser. Ao nascer, todos dispomos de um certo nível de energia vital. Apesar disso, ao dispender quantidades variadas desta energia no dia-a-dia, se ela não for recuperada satisfatoriamente, provavelmente enfrentaremos desequilíbrios físicos, emocionais e mentais ou até mesmo doenças6.
Diante disso, cabe ressaltar que o Reiki tem a capacidade de dissolver bloqueios de energia e proporcionar um aumento no potencial energético do ser humano, proporcionando-lhe equilíbrio e retorno ao seu estado natural de saúde, aumentando a sensação de bem-estar e de sentimentos positivos15. Diante dos resultados do presente estudo, é possível afirmar que o Reiki, ao nutrir e fortificar o sistema energético dos seres humanos, contribui para que os sentimentos positivos sejam potencializados proporcionando efeitos psicológicos saudáveis.
Convém mencionar, no entanto, que este estudo apresenta algumas limitações, tais como a amostra ser de conveniência e pequena, o que impediu a análise do efeito do Reiki sobre o BES considerando a influência de outras variáveis, como o motivo da busca por essa terapia; e as dimensões afeto positivo e afeto negativo da Escala de Bem-Estar Subjetivo11) fazerem referência a estados emocionais transitórios, ou seja, característicos do momento em que o indivíduo participou da pesquisa. Ademais, o seguimento de 21 dias com apenas três sessões terapêuticas pode não ter sido suficiente para que possíveis efeitos benéficos do Reiki sobre outras dimensões do BES pudessem ser observados.
Vale ressaltar que a comparação das médias dos escores das dimensões da Escala de Bem-Estar Subjetivo11 dos grupos intervenção e controle, antes de seus componentes receberem a terapia para a qual foram alocados, não apresentou diferenças estatisticamente significantes. Esse resultado demonstra que, embora o processo de alocação dos indivíduos não tenha sido aleatório, a semelhança dos grupos no que concerne ao BES foi garantida fortalecendo, assim, sua validade interna.
Resultados desse estudo apontam para efeitos benéficos do Reiki sobre o fenômeno subjetivo bem-estar, mais precisamente sobre sua dimensão afeto positivo, que avalia se as experiências vividas foram entremeadas muito mais por emoções prazerosas do que por sofrimentos11)(12. Logo o Reiki, ao atuar nos campos energéticos das pessoas, parece contribuir para o alcance de um BES satisfatório.
REFERENCIAS
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Recebido: 18 de Maio de 2016; Aceito: 23 de Agosto de 2016