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Archivos de Zootecnia

versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.63 no.243 Córdoba sep. 2014

https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922014000300005 

 

 

Efeito da casca de mandioca sobre a qualidade da carne e parâmetros ruminais de ovinos

Effect of cassava peel on meat quality and ruminal parameters of sheep

 

 

Faria, P.B.1; Pinto, A.M.G.1; Costa, S.F.1; Teixeira, J.T. 2; Romitti, F.D.3; Carvalho, P.3 e Silva, J.N.3

1Universidade Federal de Lavras. Departamento de Medicina Veterinaria. Lavras-MG. Brasil. peter@dmv.ufla.br
2Universidade Federal de Lavras. Departamento de Ciência dos Alimentos. Lavras-MG. Brasil.
3Instituto Federal de Educação. Ciencia e Tecnologia de Mato Grosso. Santo Antonio do Leverger-MT. Brasil.

 

 


RESUMO

Objetivou-se com este trabalho, avaliar diferentes formas de processamento da casca de mandioca para uso na alimentação de ovinos e seus efeitos sobre a composição centesimal, qualidade de carne, perfil lipídico e morfometria ruminal. Para o experimento foram utilizados um total de 20 ovinos machos da raça Santa Inês desmamados com peso inicial 19,02±0,21 kg. O esquema fatorial utilizado foi um DIC (delineamento inteiramente casualizado), sendo 4 tratamentos (tratamento A: suplemento com casca de mandioca desidratada triturada em moinho com peneira de 12 mm; tratamento B: suplemento com casca de mandioca desidratada triturada em moinho com peneira de 5 mm; tratamento C: suplemento com casca de mandioca ensilada; tratamento D: suplemento com casca de mandioca hidrolisada), cada animal foi considerado uma repetição, totalizando 5 repetições por tratamento. Os animais foram criados em sistema semiextensivo, em pastagem de Brachiaria decumbens e o fornecimento dos tratamentos na forma de suplemento na proporção de 1,5 % do peso vivo (relação volumoso:concen-trado de 62,5:37,5 %), sendo a quantidade corrigida semanalmente em função do peso dos animais. O experimento teve duração de 84 dias, incluindo o período de 14 dias de adaptação às dietas e os animais foram abatidos com peso final de 30,72±1,46 kg, sendo coletado após abate e resfriamiento (24 horas a ±2 oC), amostras do músculo Longissimus lumborum para realizacao das análises físico-químicas e do perfil lipídico. Os resultados mostraram que não houve diferenca significativa para as cinzas, umidade e proteína. Os animais que receberam suplemento com casca de mandioca hidrolisada apresentaram maiores valores de extrato etéreo. Não foi verificado modificacao do perfil de ácidos graxos em virtude do processamento da casca de mandioca. A avaliacao histológica revelou alteracao no epitélio do rúmen e área da lamina do omaso, com maiores valores no suplemento com uso da casca de mandioca moída grosseiramente. Para as variáveis da composicao físico-químicas não foram verificadas influéncia dos suplementos. Os diferentes suplementos não foram suficientes para alterar os parametros de qualidade de carne, entretanto, a casca de mandioca hidrolisada ocasionou maior acúmulo de lipídeos no músculo.

Palavras chave: Ácidos graxos. Subproduto.


SUMMARY

This work evaluated different forms of processing of cassava peel for use in sheep feeding and its effects upon composition, meat quality, lipid profile and rumen morphometrics. A total of 20 weaned Santa Ines male sheeps, with initial weight 19.02±0.21 kg, were used. The factorial scheme utilized was a completely randomized design, with 4 treatments (A: supplement with dehydrated cassava peel ground, using a 12 mm sieve; B: supplement with dehydrated cassava peel ground using a 5 mm sieve; C: supplement with ensiled cassava peel; D: supplement with hydrolyzed cassava peel). Each animal was considered a replication, with 5 replications per treatment. The animals were reared in semiextensive system, on Brachiaria decumbens pasture. Treatments were supplied as supplement at proportion of 1.5 % of live weight (ratio roughage: concentrate of 62.5:37.5 %), amounts of food were adjusted, every week, according to the animals' weight. The experiment lasted 84 days, including 14 days for adaptation to the diets. Animals were slaughtered at 30.72±1.46 kg final weight; after slaughter and cooling (24 hours at ±2 oC), samples of Longissimus lumborum muscle were collected to carry out the physicochemical analyses, and establish lipid profile. There were no significant differences for ashes, moisture and protein. The animals fed supplement with hydrolyzed cassava peel, presented higher values for ether extract. The fatty acid profile was not affected by processing type of cassava peels. The histological evaluation revealed alteration in the rumen epithelium and area of the omasal lamina, with higher values for coarsely ground cassava peel supplement. No influence of the supplements was found for physicochemical composition. The different supplements were not enough to alter the meat quality parameters, however, hydrolyzed cassava peel brought about increased accumulation of lipids in the muscle.

Key words: Byproducts. Fatty acids.


 

Introdução

A mandioca (Manihot esculenta, Crantz) destaca-se pela grande variedade de produtos e subprodutos, sendo que os residuos gerados, como a casca de mandioca, farinha de varredura e massa de fecularia, podem ser utilizados como fonte alternativa na alimentação de ruminantes (Zeoula et al., 2003), contribuindo dessa forma para redução da perda deste material e diminuição dos custos na produção animal (Faria et al., 2011).

A casca de mandioca corresponde a um residuo que apresenta como característica: baixa quantidade de proteína e grande quantidade de fibra e energia, sendo principalmente usada em animais para engorda em sistema intensivo ou extensivo, complementando a composição da pastagem (Abrahão et al., 2005).

Aspectos relacionados ao processamento e características do alimento podem interferir com o perfil lipídico da carne de ruminantes, com modificação da composição dos ácidos graxos da série ω6 e ω3 devido ao processo de biohidrogenação no rúmen (Nuernberg et al., 2008; Wood et al., 2008). Além disso, avaliação histológica dos componentes ruminais é uma técnica utilizada para verificar alterações nos processos mor-fofisiológicos em relação ao comportamento da mucosa e suas partes para diferentes alimentos, considerando modificações relacionadas a estrutura física, degradabilidade, digestibilidade e produção de ácidos graxos voláteis (Costa et al., 2008).

Apesar dos trabalhos avaliando o uso da casca de mandioca não terem mostrado influência sobre as características de carcaça e desempenho para ruminantes em diferentes sistemas de terminação (Lakpini et al., 1997; Faria et al., 2011; Abrahão et al., 2005), para ovinos, ainda não foram realizados estudos relacionados a qualidade de carne.

O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes formas de processamento da casca de mandioca (Manihot Sculenta, Crantz) sobre as características físico-químicas, composição centesimal, perfil de ácidos graxos do músculo Longissimus Lumborum e avaliação histológica dos compartimentos dos pré-estomagos.

 

Material e métodos

O experimento foi conduzido na fazenda do IFMT- Campus São Vicente. Para o experimento foram utilizados 20 ovinos machos inteiros desmamados da raça Santa Inês, com idade aproximada de 90 dias e peso inicial de 19,02+0,21 kg. O esquema fatorial utilizado foi um delineamento inteiramente casualizado (DIC, 4x5), sendo 4 tratamentos (SCMG: Suplemento com casca de mandioca desidratada triturada em moinho com peneira de 12 mm; SCMF: suplemento com casca de mandioca desidratada triturada em moinho com peneira de 5 mm; SCME: suplemento com casca de mandioca úmida triturada sem o uso de peneiras e ensilada e; SCMH: suplemento com casca de mandioca ùmida triturada sem o uso de peneiras e hidrolisada com 0,5 % de cal virgem (óxido de càlcio - CaO).

Nos suplementos com casca de mandioca desidratada, estas foram picadas inicial-mente com auxilio de um triturador sem peneiras, sendo depositadas para secar sobre uma lona em cima do piso em local coberto, até que a matèria seca fosse superior a 75 %. Posteriormente, esse material foi novamente passado no triturador com uso de peneiras com malha de 12 mm (rolão) e 5 mm (quirera), respectivamente. No suplemento com casca de mandioca ùmida ensilada, as cascas de mandioca foram picadas e desidratadas até atingir em torno de 30 % de matèria seca e, em seguida, foram ensiladas por 30 dias em tambor de plàstico (capacidade de 200 litros) para posterior uso. No suplemento com casca de mandioca ùmida hidrolisada com óxido de càlcio, estas foram trituradas sem peneira e o processo de hidrólise realizado com uso da cal virgem (CaO), colocada na proporção de 0,5 % em relação ao peso da matéria natural. Esse material hidrolisado foi desidratado até atingir em torno de 30 % da matèria seca e armazenado em tambor plástico de 200 litros com tampa removivel para uso durante duas semanas.

A casca de mandioca utilizada foi considerada o subproduto resultante da pré-limpeza da raiz que chega a indústria, formado por cepa, ponta de raiz, casca e entre-casca.

Os animais foram criados em sistema semiextensivo, sendo pesados individualmente no inicio e semanalmente para ajuste da quantidade de suplemento a ser fornecido durante o periodo experimental. A área experimental foi composta de quatro piquetes com tamanho de 0,16 ha cada, formados exclusivamente por pastagem de Brachiaria decumbens com produção média estimada de 3216,49 kg/MS/ha (Costa et al., 2009). Os ovinos foram separados em grupos composto de 5 animais e cada grupo recebeu a dieta especifica, fornecida no cocho duas vezes ao dia e sal mineral ad libitum em cocho próprio. O suplemento era misturado no momento do fornecimento e oferecido aos animais em quantidade ajustada semanalmente de acordo com o peso médio de cada grupo. Os animais eram manejados diariamente com uso de rodizio, ou seja, cada grupo permanecia apenas um dia em cada piquete e retornava ao inicial somente após o quarto dia. Esse manejo foi aplicado para reduzir possiveis variações decorrentes da ausência de uniformidade dos piquetes em termos de produção de forragem.

As dietas foram calculadas de acordo com as recomendações do NRC (1985), os tratamentos foram calculados para atender um fornecimento de 12 % de proteina bruta (PB), com uma estimativa de consumo de 4,0 % MS por peso vivo (PV) e ganho diário de 150 g para cordeiros com 20 kg de PV, sendo os suplementos calculados com 21 % PB e fornecidos na proporção de 1,5 % do PV, de forma a representar 37,5 % da dieta total. Nas dietas experimentais, a inclusão de casca de mandioca ficou estabelecido em 45 % do total da matéria seca para cada suplemento, sendo o peso deste ingrediente ajustado em função do valor de matéria seca determinado para casca de mandioca úmida e desidratada (tabela I).

 

O experimento teve duração de 84 dias, incluindo o periodo de 14 dias de adaptação às dietas, e os animais foram abatidos com peso final de 30,72+1,46 kg. O abate foi realizado em condições humanitárias e de acordo com as boas práticas de fabricação. Em seguida, os animais foram conduzidos à cámara fria onde permaneceram num periodo de 24 h à temperatura de +2 oC. Após esse período, realizou-se a coleta de amostras do músculo Longissimus lumborum para realização das análises físico químicas, centesimais e do perfil lipídico.

Os valores de pH final foram registrados no músculo Longissimus lumborum após o resfriamento das carcaças (24 h), com uso pHmetro Hanna Instruments.

Para realização da análise de cor, foi utilizado colorímetro MINOLTA CR 200b (Osaka-Japão), operando no sistema CIEL*a*b*, com iluminante D65. Na cor, ainda foram determinados os índices de saturação (C*) e o ângulo de tonalidade (h*) (Ramos e Gomide, 2007).

Para a determinação da perda de peso por cocção (PPC), as amostras foram pesadas em balança semi-analítica, METTLER M P1210 (Toledo, Brasil), envolvidas em papel alumínio e submetidas a cozimento em chapa elétrica à 150 oC até ultrapassar 72 oC. Para determinação da maciez foi utilizada metodologia de Froning e Uijttenboogarte (1988), onde as amostras foram obtidas com amostrador cilindrico de 1,27 cm de diâmetro e posteriormente seccionadas no sentido transversal das fibras musculares, utilizando uma sonda Warner Bratzler acoplada a um Texturômetro modelo TA XT-2.

As análises de umidade, proteina, extrato etéreo e cinzas foram realizadas em triplicatas e de acordo com Horwitz (1980).

Os lipídeos totais foram extraídos com clorofórmio-metanol, segundo o método de Folch et al. (1957) e separados e esterificados segundo conceitos estabelecidos por Hartman e Lago (1973). A análise dos ácidos graxos foi realizada em cromatógrafo Shimatzu CG 2010 (Agilent Technologies Inc., Palo Alto, CA, USA), equipado com detector de ionização de chama, injetor split na razão 1:50 e coluna capilar da Supelco SPTM-2560, 100 m x 0,25 mm x 0,20 µm (Supelco Inc., Bellefonte, PA, USA). As condições cromatográficas foram temperatura inicial da coluna de 140 oC/5 minutos; aumentada 4 oC/minuto até 240 oC e mantida por 30 minutos, totalizando 60 minutos. A temperatura do injetor foi 260 oC e a do detector 260 oC. O gás de arraste utilizado foi o hélio. Os ácidos graxos foram identificados por comparação aos tempos de retenção apresentados pelo padrão SupelcoTM37 standard FAME Mix (Supelco Inc., Bellefonte, PA, USA) e expressos em porcentagem do total de ácidos graxos identificados.

Foi estimada a atividade da enzima Δ9 dessaturase e elongase de acordo com Malau-Aduli et al. (1997) e Kazala et al. (1999).

O índice de aterogenicidade e trombo-genicidade, considerado como indicador de saúde relacionado ao risco de doenga cardiovascular, foram determinados de acordo com Ulbricht e Southgate (1991).

Para a avaliação histológica das papilas, foram coletados fragmentos da parede do saco cranial do rúmen e fixados em formalina (10 %) por 24 horas e mantidos em àlcool etílico a 70oGL até serem processados. Para a análise morfométrica das papilas ruminais e a determinação do índice mitótico (IM) das células da camada basal dos epitélios do rúmen, retículo e omaso, as lâminas foram coradas com Hematoxilina-Eosina (HE). A altura e a área das papilas ruminais foram mensuradas com o software KS300 contido em um analisador de imagens e para a determinação do IM, utilizou-se microscòpio de luz em aumento de 400X. Foram contados todos os núcleos das células da camada basal do epitélio e todas as células com núcleo apresentando figuras mitóticas. O índice mitótico foi calculado dividindo-se o número de núcleos com figuras mitóticas pelo total de núcleos contados. O exame histológico constou de uma avaliação de todo corte histológico presente na lámina de cada animal por tratamento nas diferentes regiões (Costa et al., 2008).

O delineamento utilizado no experimento foi inteiramente casualizado, considerando cada animal uma unidade experimental. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância utilizando o teste de Scott-Knott a 5 % de significância com o programa computacional SISVAR®.

 

Resultados e discussão

Os ovinos apresentaram um consumo médio de matéria seca para os suplementos, variando de 362,28 a 412,78 g/dia, apresentando uma taxa de substituição em relação a pastagem de Brachiaria decumbens de 36,42 a 41,19 % (tabela II), indicam que o fornecimento de nutrientes para os animais foi semelhante para todos os suplementos.

 

Os resultados da composição centesimal, mostraram que somente houve diferença para o teor de extrato etéreo no músculo Longissimus lumborum (lombo). Não sendo verificadas modificações dos demais parâmetros de composição centesimal e fisico-quimica analisados, independente do tratamento realizado para casca de mandioca nos suplementos (tabela III).

 

Os animais que receberam a dieta suplementada com casca de mandioca hidrolisada (SCMH) com óxido de càlcio (CaO), apresentaram maiores valores de extrato etéreo (p<0,05). De acordo com Macedo et al. (2000), a gordura é o componente da carcaça que apresenta maior variação, sendo influenciada pelo sistema de terminação, pelo genótipo e pela razão idade/peso do animal. Madruga et al. (2005) avaliando diversas dietas para alimentação de cordeiros Santa Inês, verificaram resultado semelhante ao descrito nesse estudo, com diferenças observadas entre os tratamentos com relação ao teor de lipídeo na carne. Contudo, Macedo et al. (2008) não relataram efeito do sistema de alimentação sobre a composição centesimal da carne de cordeiros. Esse comportamento verificado para o SCMH, indica que o processo de hidrólise apresentou efeito positivo sobre a disponibilidade de nutrientes para os animais, uma vez que o consumo de matéria seca e taxa de substiuição ao consumo de pastagem foi semelhante.

O aumento na deposição de lipideos na carne encontrado no SCMH, estaria relacionado ao menor valor de FDN observado para este suplemento (tabela I), uma vez que essa fração é inversamente correlacionada ao consumo, influenciando a taxa de degradação, passagem pelo retículo-rúmen e ingestão de matèria seca total (Van Soest, 1994; Kozloski et al., 2006).

Em relação à qualidade de carne, não houve influência dos tratamentos sobre os parâmetros físico-químicos (tabela III). Rodrigues et al. (2008) verificaram comportamento semelhante com uso de diferentes níveis de polpa cítrica na alimentação de cordeiros, citando maiores valores de L* e a* e, semelhantes para b*. Madruga et al. (2005), avaliando diferentes dietas também não encontraram influencia sobre os parâmetros de cor para a carne de cordeiros Santa Inês.

Neste trabalho não houve efeito dos suplementos sobre o ángulo de tonalidade (h*), que ficou entre 29,84 e 31,82o e, o índice de saturação (C*) de 14,54 à 15,02, o que mostra de acordo com escala de cor no Sistema CieL*a*b*, uma tonalidade variando de vermelho para o laranja (Vermelho de 0 a 25o e Laranja de 25 à 70o), porém com baixa intensidade. Por outro lado, Velasco et al. (2004) encontraram resposta semelhante para C* (16,75 à 17,93) porém com menores valores de h* (12,19 a 18,20). Essa diferença esta relacionada aos maiores valores de b* e reduzido de a* encontrados na carne dos animais deste estudo, uma vez que, Velasco et al. (2004) relatam média de 3,72 à 5,48 e de 16,24 à 17,44, respectivamente para estes parâmetros.

O perfil lipidico da carne de cordeiro pode ser alterado em função do tipo de dieta e sistema de alimentação (Wood et al., 2008), contudo, neste experimento devido a composição e consumo semelhante dos suplementos em sistema de produção semi-extensivo, estes não promoveram alteração em relação ao composição dos ácidos graxos (AGs), tabela IV.

 

Os ácidos graxos em maior proporção encontrados foram: oleico (C18:lω9cis), palmitico (16:0), esteárico (C18:0), linoleico (C18:2ω6c), elaidico (C18:lω9trans) e miristico (C14:0). Estes resultados estão de acordo com os trabalhos de Bonagurio Gallo et al. (2007) e Madruga et al. (2005).

De forma geral é verificado um aumento nos teores dos ácidos graxos poliinsaturados em relação aos saturados para animais criados em sistema de pastagem, sendo observado um aumento na quantidade de ácidos graxos da série ω-3 em relação a ω6 (Rossato et al., 2010; Faria et al., 2012).

Neste trabalho, os animais foram criados em pastagem e receberam uma suplementação com as dietas, apresentando uma carne com perfil lipídico semelhante a de ovinos criados em sistema extensivo (Bonagurio Gallo et al., 2008; Faria et al., 2012; Nuernberg et al., 2008). Macedo et al. (2008), também não verificaram efeito da dieta no lombo de cordeiros sobre os valores dos ácidos graxos mirístico (C14:0), heptadecanóico (C17:1) e esteárico (C18:0).

Apesar dos maiores valores de lipídeos encontrados na carne dos animais com uso da casca de mandioca hidrolisada, o perfil lipídico foi semelhante entre os tratamentos, indicando que as características dos diferentes suplementos não foram suficientes para promover alteração nos parâmetros relacionados à composição dos ácidos graxos (tabela IV). Resultados semelhantes foram encontrados por Velasco et al. (2004) trabalhando com diferentes suplementos na terminação de cordeiros que encontraram somente efeito para os ácidos graxos C12:0, C18:1, C20:4ω6 e total de monoinsaturados. Estes resultados sugerem que o processo de hidrólise apesar de melhorar a disponibilidade de nutrientes, o fator determinante da composição lipidica estaria relacionado a maiores quantidades de ácidos graxos ω3 encontrados na pastagem (Wood et al. , 2008). Efeitos sobre o perfil de ácidos graxos da carne de cordeiro foram observados nos trabalhos com inclusão de ingredientes ricos em lipideos como caroço de algodão e semente de girassol (Macedo et al., 2008; Madruga et al., 2008).

Considerando as recomendações nutricionais da Organização Mundial da Saùde (World Health Organization, 2003) em que a relação entre ácidos graxos poliinsaturados e saturados (P/S) deve ser superior a 0,4; verifica-se neste trabalho que nos diferentes tratamentos, a carne ovina apresentou valores inferiores a este indice (0,17 a 0,20), tabela IV. Resultados inferiores foram relatados por Madruga et al. (2005), que encontraram para relação (P/S) médias de 0,05 a 0,10 e proporção de ácidos graxos poliinsaturados de 2,25 a 5,01 %. Contudo, Madruga et al. (2008) citam média de 0,21 a 0,26 para relação P/S, com maior proporção de ácidos graxos poliinsaturados (10,40 a 13,54 %) e menores valores de ácidos graxos monoinsaturados (35,86 a 40,82 %).

Para a dieta humana é desejável que seja mantida uma proporção de consumo de 4:1 em relação aos ácidos graxos ω6/ω3 (World Health Organization, 2003). Entretanto, na carne dos animais desse estudo, os resultados mostraram valores médios de relação ω6/ω3 de 8,33 a 13,19, o que representa de 2 a 3 vezes o recomendado, constituindo fator de risco para desenvolvimento de certos tipos de cáncer e doengas cardiacas se considerado somente o seu consumo.

Os indices de aterogenicidade e trombo-genicidade, encontrados neste trabalho são semelhantes aos obtidos por Arruda et al. (2012) para cordeiros (0,64 e 1,37, respectivamente). Estes indices estão relacionados às quantidades de ácidos graxos saturados, poliinsaturados e da sèrie ω6, sendo um indicador de saúde associado ao risco de doença cardiovascular (Ulbritch e South-gate, 1991). Dessa forma, quanto menor for os índices de aterogenicidade e trombo-genicidade de determinado produto, melhor será para a saúde o seu consumo.

Considerando os diferentes suplementos, verifica-se que ocorreram alterações no rúmen em relação à área do epitèlio e do epitèlio total (queratina + epitèlio) e no omaso para área da lâmina (tabela V).

 

Apesar de não se verificar efeito sobre os valores de altura de papilas no rúmen, as dietas com maior tamanho de particula (SCMG e SCME), ocasionaram aumento da àrea do epitélio e epitélio total. O aumento do epitélio é citado como reflexo da maior produção e absorção dos ácidos graxos voláteis (AGVs) (Costa et al., 2008). Apesar de não ter sido avaliado a produção de AGVs, o resultado encontrado neste estudo, estaria relacionado principalmente a forma fisica da casca de mandioca desses suplementos, pois segundo Beharka et al. (1998) e Coverdale et al. (2004) em bezerros, o uso de dietas com particulas grosseiras promo-veu maior desenvolvimento do epitélio ruminal com maiores concentragoes de pro-pionato e butirato.

Não foi verificado modificação dos demais parâmetros avaliados no rúmen e reticulo, com os suplementos com casca de mandioca. Wang et al. (2009) também não verificaram efeito sobre a largura e densidade das papilas do saco ventral e dorsal do rúmen, avaliando diferentes niveis de amido na dieta. Segundo Neto et al. (2000), é verificado uma maior fermentação ruminal quando os animais são alimentados com rações que contenham como fonte energética a mandioca em comparação ao milho, devido a maior quantidade de amilopectina e baixa quantidade de proteina neste alimento, favorecendo degradação ruminal pelos microrganismos (Moron et al., 2000).

O suplemento SCMG, promoveu no omaso aumento na área da lamina, o que segundo Medeiros et al. (2008), esta relacionado a maior retenção do alimento no rúmen-reticulo e, animáis com maiores níveis de concentrado na dieta tendem apresentar redução no tamanho desse órgão, devido ao maior fluxo da dieta.

Os diferentes processamentos da casca de mandioca promoveram modificação de alguns aspectos histológicos dos componentes digestivos o que pode estar relacionado á diferenga na produção de ácidos graxos voláteis, principalmente pelos ácidos butírico e propiônico, que são utilizados como fonte de energia para crescimento do tecido epitelial e produção de glicose através de gluconeogênese (Costa et al., 2008). A maior quantidade de gordura intramuscular verificada para o suplemento com casca de mandioca com uso da técnica de hidrólise, pode estar relacionado a maior produção de butirato, que é um dos principais precursores para síntese de gordura em ruminantes.

 

Conclusão

Os diferentes processamentos da casca de mandioca fornecidos na forma de suplementos, não influenciaram os parâmetros de qualidade e perfil de ácidos graxos da carne dos ovinos, entretanto, com o uso da casca de mandioca hidrolisada ocorreu aumento na deposição de lipídeos no músculo. A forma física dos suplementos promovera alteração da morfometria ruminal com aumento do epitelio ruminal e área da lámina do omaso com uso da casca de mandioca desidratada moída grosseiramente.

 

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Recibido: 5-12-12.
Aceptado: 22-4-14.

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