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Enfermería Global
versión On-line ISSN 1695-6141
Enferm. glob. vol.21 no.65 Murcia ene. 2022 Epub 28-Mar-2022
https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.481541
Originais
A prevenção das infecções sexualmente transmissíveis entre jovens e a importância da educação em saúde
1 Enfermero. Doctorando en Enfermería por la Universidad del Estado de Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil laerciodl28@hotmail.com
2 Enfermera. Especialista em Enfermería en Salud de la Famiília por el Programa de Residencia de Enfermería en Salud de la Famiília de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil..
3 Enfermera. Doctora en Enfermería. Profesora Asociada del Departamento de Fundamentos de Enfermería de la UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4 Enfermera. Alumna de Máster del programa de Posgraduación em Enfermería de la UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
5 Alumna de Grado de Enfermería de la UERJ. Bolsista de Iniciación Científica del CNPq, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Objetivo:
Analisar as práticas sexuais e a adoção de práticas de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis entre estudantes universitários.
Método:
Pesquisa descritiva, transversal, quantitativa, realizada em instituição pública de ensino superior, localizada no município do Rio de Janeiro. Foram selecionados como amostra 173 estudantes dos cursos de nutrição, medicina, enfermagem e ciências biológicas, no banco de dados da pesquisa-matriz.
Resultados:
Houve predomínio de jovens do sexo feminino (76,88%), faixa etária 18 a 23 anos (84,39%), sexualmente ativos (78,03%); não faziam uso contínuo do preservativo com parceiros fixos (47,22%) e casuais (30,36%); a maioria negociava o uso do preservativo (37,78%); nunca realizaram teste para detectar o HIV (56,07%) e negaram ocorrência prévia de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) (91,33%).
Conclusão:
A baixa adesão dos jovens ao preservativo com parceiros fixos e casuais são comportamentos sexuais de risco que podem contribuir para adquirir IST. A ampliação da oferta de testagem oportuna e a intensificação de ações educativas no ambiente universitário são práticas necessárias para reduzir a vulnerabilidade do grupo às IST.
Descritores: doenças sexualmente transmissíveis; adulto jovem; comportamento sexual; estudantes; educação em saúde
INTRODUÇÃO
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são causadas por microrganismos como vírus, fungos e bactérias e sua principal forma de transmissão é a sexual. Há uma grande incidência de IST, sendo consideradas um dos problemas de saúde pública mais comum mundialmente. No contexto social e de saúde, representa uma importante causa de morbimortalidade, apesar de a sua visibilidade ter apenas aumentado a partir da década de 80 com o surgimento da aids1.
A terminologia IST − em substituição à expressão Doença Sexualmente Transmissível (DTS) − vem sendo utilizada com maior frequência no intuito de alertar sobre a possibilidade de ser portador de alguma dessas infecções ainda que o indivíduo permaneça assintomático2.
Estudos apontam que entre os 4.500 novos casos de infecções pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em adultos em nível mundial registrados em 2016, 35% ocorreram entre jovens de 15 a 24 anos e que todas as semanas, aproximadamente seis mil mulheres com idades entre 15 e 24 anos são infectadas pelo HIV3. No Brasil, o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS)4 tem registrado o aumento do número de casos de aids entre jovens de 15 a 24 anos e sinaliza que a maioria dos casos notificados no país foi registrado na faixa etária de 20 a 34 anos, demonstrando a necessidade de ações preventivas e de educação em saúde voltadas para esse grupo específico2.
Considerando os aspectos epidemiológicos, as IST representam um importante problema na saúde sexual e reprodutiva dos jovens, podendo desencadear alguns problemas de saúde como infertilidade, doenças inflamatórias pélvicas, câncer de colo uterino e infecções nos recém-nascidos2. Uma das principais formas de prevenir a ocorrência de novas infecções é através do uso contínuo do preservativo5.
Os jovens são considerados um grupo vulnerável para adquirir uma IST, considerando a presença de Comportamentos Sexuais de Risco (CSR), como o início precoce da vida sexual, o uso descontínuo ou incorreto do preservativo, a ocorrência de múltiplos parceiros e o uso de álcool e/ou drogas. Além disso, considerando as modificações sociais envolvidas, fatores relacionados com o ingresso no ambiente da universidade podem aumentar a ocorrência de comportamentos sexuais de risco6.
Atualmente, entende-se que a atenção integral às pessoas com IST deve ser resultado da conjugação de diversos serviços através da prevenção combinada. Esta, por sua vez é composta por três áreas estratégicas: a prevenção individual e coletiva, oferta de diagnóstico e tratamento e manejo. Sendo assim, acesso à educação em saúde, uso do preservativo, testagem oportuna para as IST e vacinação são alguns exemplos dos componentes essenciais de prevenção no manejo das IST2, justificando, assim, a realização da presente investigação.
Os estudos que avaliam universitários apresentam, em sua maioria, uma amostra composta por cursos da área da saúde6,7. Investigar alunos da área biomédica torna-se oportuno ao se considerar que, ainda que sejam estudantes da área da saúde, a temática é pouco aprimorada durante a faculdade ou no seu processo de trabalho, o que pode refletir diretamente sobre as condutas sexuais de jovens universitários.
Diante desse contexto, selecionou-se como objetivo para esta pesquisa analisar as práticas sexuais e de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis adotadas por estudantes universitários.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado em uma instituição de ensino superior, localizada no município do Rio de Janeiro, Brasil. O estudo está integrado à pesquisa Sexualidade e vulnerabilidades dos jovens em tempos de infecções sexualmente transmissíveis. Acrescenta-se que houve participação dos autores deste estudo nas etapas de coleta e armazenamento dos dados da investigação e que a coordenadora da pesquisa autorizou o uso dos dados para a realização do presente estudo. A pesquisa-matriz foi realizada em uma instituição de ensino superior pública situada no município do Rio de Janeiro no período de 2018 e 2019.
A amostra selecionada do banco de dados da pesquisa-matriz para este estudo é do tipo intencional não probabilística, composta por estudantes dos cursos de nutrição, medicina, enfermagem e ciências biológicas, unidades de ensino que compõem o centro biomédico da universidade, totalizando 173 participantes. Como critérios de inclusão foram participantes os estudantes de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 29 anos, regularmente matriculados na graduação da instituição, sede da pesquisa. Os estudantes ausentes, por motivo de adoecimento ou trancamento de matrícula no período da coleta de dados, não integraram a investigação.
A escolha do conjunto amostral para esta pesquisa justifica-se, considerando o interesse da autora em conhecer as práticas sexuais e de prevenção das IST entre estudantes de graduação na área da saúde. Acrescenta-se que, considerando a inserção da autora principal na residência em Enfermagem em Saúde da Família, após a coleta de dados foi realizada uma atividade educativa com o grupo de estudantes relacionada à prevenção de IST.
Para captação dos dados na pesquisa-matriz, foi utilizado um questionário autoaplicável estruturado com 60 questões fechadas, previamente validado pela da “Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira”, realizada pelo Ministério da Saúde realizada em 2008, 2011 e 2013 na forma de inquérito populacional voltado a pessoas entre 15 e 64 anos de idade8. O instrumento de coleta de dados (ICD) foi adaptado pelos pesquisadores as especificidades do grupo populacional investigado (Jovens universitários entre 18 e 29 anos) e continha variáveis socioeconômicas, comportamentais e aquelas referentes ao conhecimento e prevenção das IST.
Cabe mencionar que, visando a validade e confiabilidade interna ICD foi testado previamente, realizando-se um teste-piloto com 10 estudantes universitários para verificar a objetividade, clareza e pertinência aos objetivos propostos. Com isso, durante a avaliação por peritos sobre a temática, foram feitos ajustes no questionário e os instrumentos utilizados na fase teste-piloto, foram descartados. Considerando que este estudo é recorte de uma pesquisa maior, foram selecionadas do ICD dez variáveis socioeconômicas, quinze sobre as práticas sexuais e cinco sobre as práticas de prevenção que respondiam ao objetivo desta investigação.
A coleta de dados desta investigação ocorreu em dois momentos, em 2018 e 2019, nos intervalos das aulas dos estudantes, com o propósito de não atrapalhar a dinâmica nas salas de aula. O tempo de preenchimento, em média, para responder o ICD foi de 20 minutos. Após a coleta, os dados foram tabulados e organizados no programa Excel da Microsoft office 2013 para Windows. As variáveis selecionadas para este estudo, em sua maioria, eram qualitativas e dicotômicas.
Para o tratamento e a análise dos dados, empregaram-se os recursos da estatística descritiva com análise uni e bivariada. Os resultados foram apresentados em frequência absoluta e percentual, sendo discutidos à luz da literatura científica (inter)nacional.
A pesquisa foi previamente submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sede da pesquisa, com o parecer consubstanciado número 3.396.324. Os participantes assinaram previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após serem informados sobre os potenciais riscos, benefícios, objetivos e finalidades da investigação, como prevê a Resolução 466/2012.
RESULTADOS
Participaram do estudo 173 estudantes de graduação na área biomédica de uma instituição pública, situada no município do Rio de Janeiro. As características sociais dos estudantes evidenciam que 133 (76,88%) são do sexo feminino; 146 (84,39%) têm idades entre 18 e 23 anos; 97 (56,07%) solteiros e sem relacionamentos afetivos; 169 (97,69%) não possuíam filhos; 142 (82,08%) declararam-se heterossexuais; 141 (81,50%) não trabalhavam; 91 (52,60%) se autodeclararam brancos; 118 (68,21%) consideravam-se religiosos sendo, predominantemente, seguidores da religião de matrizes católica (39,83%) e evangélica (38,98%); 138 (79,77%) moravam com os pais.
Questionados sobre as práticas sexuais, 135 (78,03%) responderam ser sexualmente ativos e 95 (70,37%) fizeram uso do preservativo no primeiro intercurso sexual que ocorreu na faixa etária de 15 a 18 anos (71,85%), não havendo diferença entre os sexos. Quanto à parceria sexual, 73 (54,07%) informaram que em toda a vida não possuíram mais que um parceiro sexual; 100 (74,07%) negaram ter mantido relação sexual com mais de um parceiro no mesmo período; 112 (82,96%) negaram manter relações sexuais com homens e mulheres no mesmo período e 82 (60,74%) informaram não utilizar preservativos em todas as relações sexuais.
O uso do preservativo, o tipo de parceria sexual e a negociação do preservativo estão descritos na Tabela 1.
Fonte: Banco de dados da Pesquisa Sexualidade e Vulnerabilidade dos Jovens em Tempos de Infecções Sexualmente Transmissíveis. Nota: NI - não informou; NA - não se aplica.
Quanto ao uso do preservativo em todas as relações sexuais, verificou-se que existe um maior quantitativo de universitários casados ou com companheiro fixo que não usam preservativo em todas as relações sexuais, quando comparados aos estudantes solteiros, conforme descrito na Tabela 2.
Ao associar a negociação do preservativo e o seu uso em todas as relações sexuais, verificou-se que os estudantes que negociam ou negociam em parte não fazem uso do preservativo em todas as relações sexuais, como apresentado na Tabela 3.
Fonte: Banco de dados da Pesquisa Sexualidade e Vulnerabilidade dos Jovens em Tempos de Infecções Sexualmente Transmissíveis.
Quando as jovens do estudo foram questionadas sobre o uso do preservativo feminino, 97 (97,98%) informaram nunca tê-lo utilizado nas relações sexuais.
Quanto ao uso de álcool ou drogas antes da última relação, 41 (65,08%) afirmaram positivamente. Ao serem questionados sobre a possibilidade de adquirir uma IST, 96 (55,49%) estudantes universitários afirmaram ser pouco possível e 28 (16,18%) que acreditam ser impossível adquirir IST.
Em relação à ocorrência de IST no grupo investigado, 158 (91,33%) negaram algum evento. Dentre as IST referidas pelos participantes destacam-se candidíase (42,86%), HPV (28,57), herpes (14,29%), sífilis (7,14%) e clamídia (7,14%).
Quando questionados sobre a realização de testes para detectar o HIV, 97 (56,07%) informaram nunca ter realizado o exame. Os estudantes que já haviam realizado o teste apontaram como motivos: doação de sangue, traição, curiosidade, exame admissional ou solicitação prevista em concurso público. Tais exames foram feitos após relação sexual desprotegida e por recomendação de um profissional de saúde.
A realização do exame citopatológico e ginecológico entre as mulheres que participaram do estudo estão descritos na Tabela 4.
DISCUSSÃO
Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2018, 14,9% dos estudantes universitários estão matriculados nos cursos de graduação nas áreas da saúde e bem-estar, são predominantemente do sexo feminino, da cor branca e a idade mais frequente é 19 anos. Os achados desta pesquisa assemelham-se aos do Censo9. A tendência atual é de que os jovens ingressem cada vez mais cedo no âmbito universitário; este é considerado um momento marcante na vida deles, caracterizando o contato inicial com o mundo do trabalho10.
Em relação à cor de pele, neste estudo, 91 (52,60%) se autodeclararam brancos, corroborando com o Censo Demográfico de 2010 no qual 47,7% da população se autodeclarou branca e 43,1%, parda11.
O jovem, ao ingressar na universidade, pode ter o comportamento sexual influenciado a partir de diferentes fatores, como novas amizades e o convívio com pessoas com hábitos de vida distintos dos seus e a nova liberdade adquirida10. A falta de acesso às informações seguras, a ausência de discussões em ambientes oportunos como a universidade e o início precoce da vida sexual são descritos como fatores que aumentam a chance de adquirir o HIV entre os jovens12.
Os jovens universitários são categorizados como um segmento populacional de risco quando se considera a probabilidade em desenvolver CSR, pelo fraco senso de vulnerabilidade e a pouca atenção recebida devido à baixa taxa de morbimortalidade − se comparados a outros grupos populacionais7,13.
Pesquisas apontam que a maioria dos jovens universitários são sexualmente ativos e que a primeira relação ocorreu entre 12 e 17 anos7,10. Uma revisão de literatura realizada com 123 artigos evidenciou que a iniciação sexual dos jovens variou entre 13 e 18 anos, com a média de 15 anos na maioria dos estudos, resultados estes próximos aos desta pesquisa14. Desse modo, o início precoce da atividade sexual, associado a outros fatores, torna o jovem vulnerável às IST15.
O preservativo masculino é o método contraceptivo mais popular entre os jovens. Trata-se de um dispositivo de fácil manuseio e de distribuição gratuita pelos serviços de saúde pública, e seu uso está diretamente relacionado às chances de contrair uma IST; por outro lado, o preservativo feminino é difícil de ser encontrado nos serviços públicos para distribuição gratuita e, muitas vezes, até mesmo para compra em farmácias e comércios afins10,16. Estudo realizado nos Estados Unidos em 2017 demonstrou que muitos estudantes do ensino médio estão envolvidos em comportamentos de risco para a saúde sexual, associados à gestação não planejada e infecções de transmissão sexual, como o HIV. No tocante à adesão de preservativos na última relação sexual, seu uso foi maior entre os estudantes heterossexuais (56,1%) que entre gays, lésbicas e bissexuais (39,9%). A prevalência, também, foi maior entre os estudantes do gênero masculino heterossexuais (61,8%) que entre as mulheres heterossexuais (49,6%)17.
Estudo realizado com jovens universitárias aponta que a maiorias das mulheres não teve relação sexual com o preservativo feminino, corroborando com os achados da pesquisa. A dificuldade de acesso, disponibilidade, manuseio e custo são apontados como os principais motivos para que o dispositivo tenha menor adesão entre as mulheres, tornando o preservativo masculino mais popular18.
Idade avançada, idade do parceiro ou o uso de algum método contraceptivo são fatores apontados para o não uso do preservativo na primeira relação sexual16. Entre os motivos elencados pelos jovens para o não uso do dispositivo são a confiança no parceiro, o uso de outros métodos contraceptivos, a escolha do parceiro, questões religiosas e o estigma da redução do prazer sexual12,19.
Pesquisas1)(10)(18)(19 apontam que o sexo desprotegido é mais comum entre os jovens com relacionamentos fixos corroborando com os achados desta pesquisa, que há menor probabilidade de a mulher negociar o seu uso e há a redução do uso do dispositivo com o aumento da idade. Entretanto, deve-se salientar que ter um parceiro fixo não é uma forma segura de se evitar as IST, e que a probabilidade de se contrair IST está diretamente relacionada ao uso do preservativo continuamente10.
Em relação à negociação do preservativo, os jovens que negociam seu uso não o fazem de maneira contínua. Pesquisas apontam que a negociação do uso do preservativo é mais presente em relacionamentos casuais e que as mulheres se encontram em desvantagem na negociação do preservativo com seus parceiros, considerando as questões de gênero, relações de poder e diferenças históricas entre homens e mulheres10,20.
Considerando o uso de drogas (i)lícitas, sabe-se que o uso abusivo do álcool pode afetar o julgamento, decisões e discernimento20. Estudos apontam que o uso de bebidas alcoólicas está diretamente relacionado à maior prevalência de CSR e que o uso de drogas ilícitas na última relação sexual aumentou em mais de 100% a chance de apresentar algum CSR7,20.
No grupo investigado, os jovens acham pouco possível ou impossível adquirir uma IST. Estudo realizado com universitários de 80 cursos de graduação do Rio Grande do Sul identificou HPV, herpes genital e gonorreia como mais frequentes entre os jovens7, corroborando com os achados deste estudo. História prévia de IST e ter as primeiras relações sexuais em idade jovem são apontadas como variáveis significativas entre jovens com IST22.
Como forma de prevenção das IST, HIV e hepatites virais, o MS recomenda a prevenção combinada que articula intervenções biomédicas, comportamentais e estruturais. Considerando a ampliação do termo “sexo seguro”, são propostas ações combinadas entre testagem para IST, profilaxia pré e pós-exposição, uso do preservativo, diagnóstico precoce e tratamento adequado das IST, redução de danos, tratamento antirretroviral, imunização e prevenção da transmissão vertical2.
O rastreamento das IST deve ser realizado anualmente em pessoas menores de 30 anos, através de testes rápidos em assintomáticos. Neste estudo, evidenciou-se um número expressivo de jovens que nunca realizou a testagem rápida. Pesquisas apontam que a maioria dos jovens não fazem o teste anti-HIV e que, dentre os motivos, se destacam o medo de um possível diagnóstico positivo ou não querer saber sobre a infecção23,24.
No grupo investigado, percebe-se que, embora os jovens tenham entre 18 e 23 anos, a maioria das mulheres refere ter realizado o citopatológico. Estudos apontam que a realização do exame ginecológico em mulheres assintomáticas e não grávidas pode gerar sobrediagnósticos, ansiedade e custos desnecessários, não sendo recomendado rotineiramente, devendo-se evitar o rastreamento antes dos 25 anos25,26. Entretanto, o enfermeiro deve incentivar a ida da mulher à unidade de saúde para realizar o rastreamento oportuno da IST através dos testes rápidos e do exame ginecológico2,27.
No Brasil, o método de rastreamento do câncer de colo de útero é o exame citopatológico, que deve ocorrer anualmente nos dois primeiros anos; se ambos os resultados forem negativos, a cada três anos. A coleta deve ser realizada em mulheres de 25 a 64 anos que já tenham iniciado a vida sexual25. Ações educativas, informações sobre o exame antes da sua realização e o bom atendimento realizado por profissionais de saúde capacitados são citados como estratégias para favorecer a adesão de mulheres na realização do exame citopatológico10.
Considerando a importância da oferta de ações voltadas à preservação da saúde da população jovem, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) implementada pelo MS surge para reorganizar o modelo de atenção à saúde e suas práticas priorizam ações de prevenção, promoção e recuperação dos usuários a partir da integralidade e longitudinalidade do cuidado28. A promoção de saúde tem como propósito colaborar para o enfrentamento de determinantes sociais de saúde através da ampliação do conhecimento, (auto)cuidado e autonomia. Atividades em grupo, orientações gerais e integração entre diferentes setores, como a articulação entre saúde e educação através do Programa Saúde na Escola (PSE), são algumas das estratégias adotadas pela ESF para promover a saúde29.
Entre as diversas atividades desenvolvidas pelas equipes de ESF, as ações de promoção à saúde contam com a adoção de ações e atividades educativas com o objetivo de fortalecer o autocuidado do indivíduo por meio do controle dos determinantes sociais de saúde30. Em relação à testagem rápida, o enfermeiro apresenta competência técnica e legal para solicitação e execução do exame, para aconselhamento pré e pós-teste, emissão de laudo, encaminhamentos e agendamentos31.
As práticas educativas devem ser feitas considerando uma relação de diálogo e respeito entre educador e educando. A busca pela reflexão de uma realidade num processo contínuo e ativo dentro do contexto educativo humanizador proporciona a transformação da realidade. O processo de aprendizagem precisa articular o conhecimento científico, o senso comum e o individual para que a informação tenha, de fato, algum significado e seja incorporada na vida das pessoas29.
Estudos apontam que as atividades educativas com jovens desenvolvidas por profissionais da ESF oportunizam a troca de ideias, conhecimentos, experiências e fortalece o vínculo entre os jovens e os profissionais28.
A educação em saúde é um recurso utilizado por profissionais de saúde para impactar positivamente na vida das pessoas. Constantemente, a educação sexual encontra barreiras pautadas no argumento de que promove a promiscuidade e o início precoce da vida sexual, contudo seu principal resultado é contribuir para a redução do risco de IST e gestações indesejadas28.
A educação em saúde é primordial para a promoção de hábitos saudáveis e de prevenção, entretanto é fundamental que o enfermeiro seja capaz de buscar estratégias adequadas e assertivas durante seu processo de trabalho29. Entre algumas das estratégias utilizadas para realizar a educação em saúde, consideram-se as rodas de conversa como facilitadoras do processo, pois ajudam a estreitar laços e aumentam a aderência à atividade e propõem feedbacks constantes28. Outra estratégia é inserir o jovem no planejamento das atividades através da escolha dos temas a serem trabalhados, tornando o jovem um ser ativo na elaboração de atividades desenvolvidas pela ESF29.
Além disso, é fundamental que as ações de educação em saúde sejam interdisciplinares com a equipe multiprofissional, rompendo a lógica de cuidado fragmentado, com práticas desarticuladas das políticas públicas e focalizadas na doença29).
A saúde sexual nas instituições de ensino depende de uma equipe multidisciplinar para promover, proteger e recuperar a saúde dos jovens. O enfermeiro, inserido no âmbito escolar, pode atuar como mediador, apoiando as ações educativas e atuando junto aos professores na articulação entre escola, família e comunidade30. Nesse cenário, considera-se que o enfermeiro da ESF é primordial para o fortalecimento da prevenção combinada e para a redução do número de IST entre os jovens.
CONCLUSÃO
Neste estudo, foi possível avaliar as práticas sexuais e de prevenção de IST adotadas por estudantes universitários. Os achados demonstram que houve predomínio de mulheres, na faixa etária de 18 a 23 anos, que apresentam comportamentos sexuais de risco e baixa adesão ao preservativo nos intercursos sexuais, com parceiros fixos e casuais. Além disso, considerando o conceito de prevenção combinada, há um número expressivo de jovens que nunca realizou a testagem para o HIV.
Desta forma, é necessário que haja a ampliação da oferta de testagem oportuna para as IST, tendo em vista a baixa adesão do grupo investigado ao exame, e intensificação de práticas educativas no ambiente universitário para favorecer a disseminação de informação e a redução da vulnerabilidade dos estudantes às IST.
A realização desta pesquisa somente com estudantes universitários da área biomédica é uma limitação do estudo, sendo oportuna a replicação com jovens de outras áreas de conhecimento. Entretanto, os achados são semelhantes a outros estudos que demonstram a baixa adesão ao uso do preservativo e a assunção de comportamentos de risco pelo grupo jovem.
Este estudo pode contribuir para incentivar novas pesquisas relacionadas à realização de práticas educativas entre os jovens considerando a necessidade de reformulação das práticas já existentes. Além disso, a discussão sobre a prevenção de IST nesse grupo populacional destaca a importância de criação e formulação de políticas públicas específicas para contribuir na redução do número de casos de IST nesse contingente populacional.
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Aceito: 29 de Maio de 2021; Recebido: 14 de Setembro de 2021