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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.13 no.34 Murcia abr. 2014

 

REVISIONES

 

A educação no trabalho da enfermagem no contexto latinoamericano

La educación en el trabajo de enfermería en el contexto latinoamericano

Education in nursing work in Latin America

 

 

Da Silva, Luiz Anildo Anacleto*; Schubert Backes, Vânia Marli**; Lenise Prado, Marta**

*Doutor em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. Estado do Rio Grande do Sul. E-mail: luiz.anildo@yahoo.com.br
**Doutora en Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. Brasil.

 

 


RESUMO

Objetivo: O objetivo deste estudo esteve em evidenciar as tendências de educação no trabalho da enfermagem na América Latina.
Material e métodos: Esta se constitui de uma pesquisa de natureza qualitativa, exploratória e documental realizada com a revisão 18 periódicos, 299 exemplares, 3310 resumos e palavras-chave e análise de 70 artigos completos de 07 países latino-americanos.
Resultados: Evidencia a pesquisa que as tendências de educação no trabalho, estão passando por mudanças de concepções, transcendendo ao aspecto técnico para propostas mais abrangentes, principalmente em países como Brasil, México e Colômbia. Mostra o estudo que a produção intelectual está mais centrada na academia.
Conclusões: As tendências da educação no trabalho na América Latina estão orientadas para diversos segmentos, contudo, duas convergências se destacam: em um dos segmentos o direcionamento está na capacitação técnica e em outra fração privilegiam-se os preceitos da educação permanente com desígnio em aproximar teoria e prática, assim como, a relação academia e serviços.

Palavras-chave: Enfermagem; Educação no Trabalho; Produção Científica.


RESUMEN

Objetivo: El objetivo del presente estudio es poner de relieve las tendencias de la educación en el trabajo de enfermería en América Latina.
Metodología: Es una investigación de carácter cualitativo, exploratoria y documental, realizada a partir de la revisión de 18 revistas, 299 ejemplares, 3310 resúmenes y sus palabras claves, además del análisis de 70 artículos completos de 7 países de América Latina.
Resultados: La investigación muestra que las actuales tendencias de la formación en el trabajo están experimentando cambios en las concepciones, las cuales trascienden el aspecto técnico de propuestas más amplias, especialmente en países como Brasil, México y Colombia. El estudio muestra que la producción intelectual está más centrada en el mundo académico.
Conclusiones: En América Latina, las tendencias de la educación en el trabajo están dirigidas a diferentes segmentos, sin embargo, se pueden destacar dos convergencias: en uno de los segmentos, la dirección está centrada en la formación técnica, y en el otro, se privilegian los preceptos de la educación permanente para aproximar la teoría y la práctica, así como la relación academia y servicios.

Palabras clave: Enfermería; Educación en el trabajo; Producción científica.


ABSTRACT

Objective: This study aims to evidence the trends of education in nursing work in Latin America.
Material and methods: It is a qualitative, exploratory and documental study, carried out by the review of 18 journals, 299 copies, 3310 abstracts and keywords, and analysis of 70 full text articles from 7 Latin American countries.
Results: The study evidences that trends of education at work are undergoing changes in conceptions, which transcend the technical aspects, aiming to reach more extensive proposals, mainly in countries like Brazil, Mexico and Colombia. Research shows intellectual production is more focused on academia.
Conclusions: Trends of education at work in Latin America are oriented for several segments, however, two convergences stand out: in one of the segments, focus is on technical training, and in the other one, there are favored the precepts of permanent education, with the intention of bringing theory and practice together, as well as the relationship between academia and services.

Keywords: Nursing; Education at work; Scientific production.


 

Introdução

A saúde e a conseqüente organização dos serviços de saúde na América Latina apresentam um quadro de diversidades e complexidades peculiares de cada país, os quais incluem fatores como: o processo de saúde e doença, diferente perfis epidemiológicos nos quais se associam antigos e novos problemas, questões socioeconômicas, formação, distribuição de renda, distribuição da população com crescente concentração em grandes centros urbanos e migração de recursos humanos 1.

Para o estabelecimento de planos e políticas para o setor saúde, e em especial para a enfermagem, se faz necessário reconhecer os processos de mudanças por meio de uma análise permanente do impacto da globalização, de investimentos econômico-financeiros e das reformas em saúde, em educação e no campo do trabalho, mas principalmente, o estabelecimento de políticas efetivas de investimentos em recursos humanos como planos de cargos e salários e, de educação no trabalho. As rápidas transformações nesse cenário apontam fortemente para a necessidade de uma formação ao longo da vida que possa proporcionar aos trabalhadores de enfermagem uma permanente qualificação para o cuidado em saúde, assim como proporcionar a estes propostas educativas para o desenvolvimento integral enquanto sujeitos-trabalhadores (as) e cidadãos (as).

Ao abordar a educação no trabalho, algumas questões são identificadas e muitas outras precisam ser desveladas. O olhar para as diferentes propostas educativas permite observar que há fragilidades e potencialidades. Neste campo, as áreas críticas revelam-se na fragilidade e incipiência de algumas propostas educativas centradas na educação continuada e nos treinamentos, nas abordagens educativas teóricas destoantes das práticas, da não atualização dos educadores e gestores dos serviços de enfermagem, no descompasso e dispersão da formação de pós-graduação.

As potencialidades estão em conceber e estruturar propostas prioritárias de desenvolvimento de programas educativos voltados à promoção e fortalecimento da educação no trabalho de forma contínua e permanente nos serviços, apropriação de preceitos teóricos para o fortalecimento das práticas educativas, formação de professores e gestores com diferentes perfis educacionais, inserção efetiva da educação no processo de trabalho e na sistematização da assistência de enfermagem, definição de políticas efetivas de pós-graduação, aproximação entre academia e serviços.

Portanto, parte-se do entendimento que a educação tenha um papel central na composição e dinâmica da força de trabalho, enfim, na qualificação da assistência de enfermagem. Entretanto, a conversão destes desafios em ações resolutivas e a consecução de resultados implicam na reformulação dos sistemas educativos, com a articulação entre os diferentes níveis de formação, reorientação dos conteúdos curriculares para a construção de conhecimentos e das práticas. Também, se fazem necessário à apropriação de modelos pedagógicos de transcender ao modelo tecnicista e que considerem a educação como forma de promoção dos sujeitos e a conseqüente integração entre a prática e a teoria, estando estas, articuladas com as necessidades de saúde de indivíduos e populações.

Quanto aos serviços, evidências apontam para a reorganização dos processos de trabalho e da sistematização da assistência com o desenvolvimento de ações educativas articuladas com a assistência, na qual se permita envolver indivíduos que sistematicamente possam conjugar assistência e educação reciprocamente, em prol de ações mais equânimes e resolutivas.

Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo evidenciar as tendências de educação no trabalho na América Latina, no intuito de, ao reconhecer-se o cenário atual, apontar possibilidades de avanços que possam assegurar as transformações profissionais, estando estas, vinculadas às necessidades de saúde das populações.

 

Materiais e método

Metodologicamente este estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, exploratória e documental2,3,4 A coleta dos dados ocorreu em periódicos de enfermagem publicados na América Latina no período de 2000-2005, que estavam disponíveis na forma impressa, ou contidos em base de dados e/ou bibliotecas virtuais tais como: CINAHL- Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, LAPTOC- Latin American Periodicals Tables of Contents, BDENF- Base de dados em Enfermagem, LILACS- Literatura latinoamericana em Ciências da Saúde, ERIC: Education Resources Information Center, SCIELO: Scientific Eletronic Library Online, Latindex, Cuiden Plus, Periódica, ULRICH'S.

Para tanto, foram pesquisados resumos de artigos que em seus descritores ou palavras-chave contemplassem os termos: educação continuada, educação permanente, educação no trabalho, aprendizagem contínua, educação em serviço, educação em enfermagem, treinamento em serviço. A partir destes resumos, realizou-se a coleta dos artigos na sua íntegra, os quais foram incluídos em um banco de dados desenvolvido especificamente para a catalogação dos artigos. Neste estudo foram pesquisados periódicos de enfermagem disponibilizados impressos e on-line em bases de dados. Na primeira fase da pesquisa a busca se fez através da identificação das palavras chaves e da leitura dos resumos de 3816 artigos, distribuídos em 1744 exemplares em 72 revistas, de 14 diferentes países Latinoamericanos.

Na segunda fase da pesquisa, fez-se a revisão de 299 exemplares, 3310 de resumos e palavras chave, com uma amostra de 70 artigos completos sobre a educação no trabalho, sobre os quais se extraíram 15 artigos que foram exaustivamente analisados. Os textos que enfocam as tendências de educação no trabalho são advindos de periódicos publicados em 07 diferentes países da América Latina. A interpretação dos conteúdos deu-se pelo método de análise temática3,4,5.

 

Resultados e discussões

Os dados obtidos com a pesquisa permitem compor um breve cenário da produção cientifica, da inserção dos autores nos respectivos espaços de trabalho, assim como o percentual de publicações com enfoque na educação no trabalho. Do total de artigos analisados, 08 destes são oriundos do México, correspondendo a 11,4% da amostra dos artigos pesquisados. Da Colômbia foram investigadas 05 revistas, com a leitura de 599 artigos, na qual 12 artigos tratavam da educação no trabalho, com percentual de 17,2% dos artigos pesquisados.

No Chile pesquisou-se um periódico, com a revisão de 88 artigos, na qual se encontrou 01 artigo de educação no trabalho, com 1,5% dos artigos pesquisados. Em Cuba investigou-se uma revista, com 78 artigos, 09 artigos de educação no trabalho, com um percentual de 12,8% dos artigos pesquisados.

No Brasil a pesquisa foi realizada sobre 07 revistas, com a revisão de 2213 artigos, sendo 37 artigos de educação no trabalho, o qual corresponde a 52,8% dos artigos pesquisados. No Paraguai investigou-se uma revista, com 15 artigos, catalogando-se um artigo com enfoque na educação no trabalho, o qual corresponde a 1,5% dos artigos pesquisados. Na Argentina na pesquisa encontrou-se uma revista com a revisão de 98 artigos 02 artigos de educação no trabalho, e 2,8% dos artigos pesquisados.

A analise total dos dados da pesquisa, mostra que os autores, indiferente do país de origem, a maioria se encontram de alguma forma ligados à academia, sejam estes, docentes, profissionais em processo de qualificação (doutorado e mestrado), especialização e alunos de graduação, os demais autores estão na assistência. Os autores dos artigos com título de doutores estão assim distribuídos: Brasil 77%, Colômbia 15%, Chile 5% e México 3%. Os autores dos artigos com titulação de mestre, 60% estão no Brasil, 24% na Colômbia, 12% no México e 4% no Chile. A grande maioria dos autores com titulos de licenciado estão em Cuba 42%, seguidos do México 27% e da Colômbia 25% e Argentina 4% e Paraguai 2%.

Em referência à área de atuação verifica-se que aproximadamente 83% dos autores são professores atuantes no ensino e na pesquisa [...], enquanto que 17% estão ligados à assistência de enfermagem e atividades afins. O percentual de artigos envolvendo a educação no trabalho na América Latina é aproximadamente dois por cento do total de publicações (2,11%) em relação ao total de artigos publicados nos periódicos.

 

Tendências da educação no trabalho na América Latina

A leitura exaustiva dos textos, a categorização e a classificação em áreas temáticas e consolidadas nas estruturas de respostas evidenciam diferentes direcionamentos para a educação no trabalho da enfermagem e na saúde, como: a educação no trabalho e os diferentes níveis de práxis; a educação no processo de trabalho; a educação no trabalho e a relação entre cuidar e educar; a educação no trabalho na perspectiva da construção do conhecimento; educação no trabalho e tendências educativas. Contudo, em razão do recorte que se faz necessário, destacamos a categoria 'educação no trabalho e as tendências educativas'. A descrição destas áreas temáticas foi sedimentada em duas estruturas de tendências: a primeira refere-se a 'propostas educativas voltadas ao desenvolvimento técnico' e a segunda refere-se a concepções de educação no trabalho mais ampliadas características das propostas embasadas nos 'preceitos de educação permanente'.

A tendência tecnicista

A tendência tecnicista pode ser evidenciada em oito publicações6,7,8,9,10,11,12,13 de diversos paises como Brasil (Revista Eletrônica de Enfermagem, Revista Acta Paulista de Enfermagem, Revista de Enfermagem da USP); Cuba (Revista Cubana de Enfermería); México (Revista Del Instituto Mexicano Del Seguridad Social); Paraguay (Revista Paraguaya de Enfermería). Demonstram os textos que as opções de educação no trabalho estão vinculadas à diversidade de serviços disponibilizados nos sistemas de saúde, os quais implicam demanda de profissionais capacitados para atuarem nas diferentes áreas. Os objetivos desta tendência educativa estão relacionados mais precisamente a exeqüibilidade das ações.

 

 

Na tendência tecnicista, a educação está vinculada à valorização do saber-fazer, à capacitação para habilidade na execução das atividades, ao conhecimento científico, aos comportamentos e aos relacionamentos interpessoais. A capacitação em programas de educação no trabalho, neste enfoque, a modalidade educativa é vista como necessária, em decorrência de mudanças na economia, na globalização, da produtividade, da qualidade e da competitividade, aspectos estes em que os seres humanos passam a ter um papel fundamental no desenvolvimento das empresas. Neste preceito educativo, enfatiza-se o treinamento e o desenvolvimento do pessoal de enfermagem, os quais, normalmente são desenvolvidos por profissionais ligados aos programas de educação continuada. Assim, a educação é entendida como um poderoso instrumento de capacitação profissional, independente do enfoque a ser dado ou de estratégias educativas utilizadas, a qual tem como objetivo, desenvolver capacidades para execução adequada do trabalho, suprir as exigências institucionais e melhorar os serviços de saúde.

Algumas acepções características desta modalidade educativa incluem ações como: introdução e ambientação dos trabalhadores recém-admitidos que visam o preparo e a adequação e a inserção nos serviços; treinamentos que se destinam à capacitação para que os sujeitos sejam mais produtivos, à adaptação ao serviço para melhoria das relações humanas e facilitação da integração; educação continuada ou reciclagem refere-se ao processo educativo destinado a manter as atualizações necessárias e sua aplicação em serviço; o desenvolvimento está relacionado a programas que propiciem ao indivíduo oportunidades de melhorar e ampliar conhecimentos e habilidades profissionais. A opção por modelos de educação no trabalho mais voltados para a capacitação técnica decorre de diversos fatores, os quais incluem: mudanças na economia; novas exigências de produtividade e qualidade; adequação ao processo de trabalho; adaptação e capacitação dos recém-admitidos; necessidades de desenvolvimento de protocolos assistenciais, sistematização da assistência de enfermagem; capacitação para a intervenção em determinados procedimentos.

A educação no trabalho na ótica de mercado tem forma e jeito de intervenção e resolução, passa a ser concebida para a qualificação da mão-de-obra competitiva nos diferentes segmentos produtivos. A justificativa para tal opção se dá em decorrência de situações socioeconômicas e financeiras, competitividade de mercado, os quais buscam prestar serviços mais resolutivos, com custos reduzidos e assistência de qualidade. Os sujeitos trabalhadores, nesta visão empresarial, são meios que devem ser otimizados para o máximo rendimento. Mostra a pesquisa que estas concepções educativas aparecem com mais nitidez em artigos publicados em diversos países, contudo, é no Chile, Argentina, e principalmente em Cuba que estas acepções de educação se destacam.

Parte-se da percepção que os programas educativos de fomento a atualizações técnicas, cujas capacitações possam ser pontuais, esporádicas ou contínuas, sejam necessários, senão imprescindíveis à segurança e qualificação dos serviços. Todavia, a observação que se pode fazer não se refere à modalidade ou estratégias educativas especificamente, mas sim, à sistematização de programas que enfoquem somente estreiteza tecnicista de desenvolvimento dos sujeitos.

A tendência de transformação e promoção dos sujeitos através da educação permanente.

Esta tendência está presente em sete artigos15,16,17,18,19,20,21 advindos publicação em países como Brasil (Revista Brasileira de Enfermagem), Colômbia (Revista Aquicham, Revista Avances en Enfermería, Revista Investigación y Educación en Enfermería); Cuba (Revista Cubana de Enfermería). A educação permanente constitui-se uma alternativa educativa de superação, de transformação das práticas educativas, apoiada na teoria de aprendizagem significativa, da problematização e de alguns em alguns princípios da andragogia.

 

 

A tendência transformadora com preceitos educativos vinculados a educação permanente constitui-se na modalidade educativa presente em artigos publicados em diferentes países. Embora se perceba que estas concepções apresentem direcionamentos, formas e estratégias, interesses ora congruentes ora díspares, pode-se perceber que estão relacionadas a fatores que incluem situação socioeconômica, política, cultural, de formação de pessoal, legislação, políticas de saúde, interesses e organização do trabalho conforme especificidades de cada país.

Em relação à educação permanente no trabalho como possibilidade de transformação na educação, saúde e enfermagem evidencia-se que este movimento educativo permeia propostas, mesmo que incipientes, em todos os países pesquisados, entretanto, são no Brasil, México e Colômbia que esta concepção educativa aparece com mais destaque nas publicações. Na Colômbia, nas últimas décadas, vem se enfatizando e difundindo a concepção de educação permanente no trabalho como uma das estratégias mais adequadas de transformação das práticas em saúde. Associam-se à necessidade de educação permanente no trabalho a revolução tecnológica, as transformações nas estruturas de produção e das organizações e a crescente participação dos diferentes setores sociais.

Especificamente, no Brasil, o desenvolvimento de propostas de educação permanente22 está ancorado na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Entre os princípios de orientação, contidos na proposta de educação permanente em saúde, está à transformação dos processos de formação, das práticas pedagógicas, da organização dos serviços. A educação permanente, nesta concepção, destina-se a um público multiprofissional e desenvolve-se de forma institucionalizada no processo de trabalho. Articula-se e se constrói através do enfoque nos problemas cotidianos das práticas das equipes, são continuas e buscam as transformações nas práticas sociais em saúde.

No Brasil, a proposta de educação permanente preconiza a articulação entre formação, capacitação e serviços, com controle social, tendo como referencial teórico os preceitos da aprendizagem significativa, da problematização e da educação de adultos. Nesta destaca-se a importância da aproximação entre concepção e execução, ou seja, teoria e prática com sentido social, que pode ser o diferencial T3 O/l OC enquanto estratégia de transcender na educação no trabalho23,24,

Propostas de educação permanente constituem-se em alternativas educativas de superação, de transformação, de transcender os modelos convencionais de educação destinada à capacitação técnica, para a transformação das práticas educativas, apoiada no modelo de aprendizagem significativa. Na proposta de educação permanente a teoria e a prática educativa são indissociáveis, advogando a favor de uma aprendizagem que leva o indivíduo a aprender sempre, em constante processo de construção. Neste movimento de aprendizagem co-existem conhecimentos teóricos e experiências práticas, sendo esta relação determinante das ações e decisões.

A experimentação do conhecimento teórico na prática permite a construção de novos conhecimentos, assim, ratifica-se a importância de articular teoria e prática, transformando o ambiente de trabalho em laboratório de aprendizagem, desenvolvendo uma cultura de compartilhamento de saberes, construção e divulgação do conhecimento profissional. O trabalho, como parte da vida dos seres humanos, é compreendido como fonte de formação. Assim, entende-se que o conhecimento, decorrente da articulação teoria e prática permitem mobilizar as competências requeridas no trabalho em saúde.

Ao longo dos últimos 15 anos, vários estudiosos ligados à Organização PanAmericana de Saúde26, 27, 28 vem desenvolvendo estudos relacionados à educação permanente. Nesta concepção, a educação permanente diferencia-se de outras modalidades educativas, pelo enfoque no qual se privilegia a aproximação entre a concepção e a execução dos programas educativos27.

A educação permanente apresenta-se como um ponto de partida para dignificar o trabalho e colocá-lo a serviço dos cidadãos, sejam estes profissionais ou usuários, revisando e redefinindo papéis e funções, incrementando graus de autonomia, formação de equipes de trabalho com alta capacidade de reflexão crítica e definindo e implantando projetos de melhoria institucional25. Portanto, para que estes programas venham a ser efetivos se necessita repensar modelos educativos e incorporar novas competências para alcançar a eficiência, eficácia, e qualidade na atenção a saúde.

Programas de educação permanente vêm sendo estimulados pela Organização PanAmericana de Saúde26 e por outros organismos de cooperação internacionais nos últimos 20 anos27. Estes programas atendem a uma série de objetivos, que incluem: a atualização técnica, destinada à aprendizagem de novos conhecimentos, introdução de novas tecnologias, normas, as quais podem ser implementadas por meio de cursos semi-presenciais, seminários, oficinas e educação à distância.

As modalidades de intervenção educativa constituem-se aprendizagens em situações de trabalho, aprendizagem tutorial e educação à distância. A sensibilização refere-se a mudanças de enfoques, políticas, intervenções e abordagens, as quais podem ser desenvolvidas através de seminários e visitas de observação. A promoção de mudanças de atitudes inclui a introdução de novas formas de trabalho (em equipes, redes), promoção do trabalho interinstitucional e intersetorial, tratamento de questões éticas e de cidadania.27

No Brasil a educação permanente passou a ter mais evidência a partir da proposta do Ministério da Saúde, em que se considera a educação permanente articulada ao conceito pedagógico de efetuar relações orgânicas entre ensino, serviços, controle social (refere-se à participação da sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública na execução das políticas públicas, avaliando os objetivos, processos e resultados29) e atenção à saúde, ampliados na Reforma Sanitária Brasileira, que busca a articulação nas relações entre formação e gestão setorial, desenvolvimento institucional e controle social em saúde. Nesta proposta, a educação permanente em saúde parte da agregação entre aprendizado, reflexão crítica sobre o trabalho e resolutividade da clínica e da promoção da saúde coletiva.22

Semelhante a algumas concepções preconizadas por autores de outros países da América Latina, a proposta de educação permanente no Brasil parte dos pressupostos da aprendizagem significativa, a qual sugere que as transformações dos profissionais tenham como base a reflexão crítica sobre as práticas profissionais. Nessa procura-se aproximar 'o mundo de formação e de trabalho', em que a relação entre aprender e ensinar incorpora-se ao cotidiano das organizações e ao trabalho. Propõe-se que os processos educativos de capacitação dos trabalhadores da saúde tenham como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações22.

A educação permanente, ao utilizar-se dos preceitos da aprendizagem significativa, propõe-se à transformação das práticas profissionais através da reflexão crítica. O objetivo está em transformar as práticas profissionais e a própria organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde23.

No Brasil a partir de 2004 vem sendo desenvolvida uma proposta política de Educação Permanente a qual busca transformar as práticas profissionais a partir dos problemas enfrentados na realidade, e dos conhecimentos e experiências dos sujeitos. A educação permanente na proposta ministerial insere mudanças significativas e profundas, na formação de profissionais em educação para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), com elaboração de projetos de mudanças em educação técnica, na graduação, pós-graduação, programas de residências, entre outras22. O Sistema Único de Saúde foi criado pela Constituição Federal Brasileira de 1988, e regulamentado pelas leis no 8080/90 e no 8.142/90. O sistema Único de Saúde é destinado a assistência totalmente gratuita a todos os cidadãos. Este é financiado pelo governo federal, estadual e municipal30.

A Política de Educação Permanente, no Brasil, ao procurar integralizar o processo educativo, prevê a participação dos diversos segmentos sociais, em especial, os prestadores dos serviços e os sujeitos usuários, estabelecendo-se o objetivo primordial: a consolidação e o fortalecimento do SUS. Assim relacionam a proposta educativa aos princípios que orientam este sistema, ou seja, a construção descentralizada; a universalidade; a integralidade e a participação popular. A educação permanente busca possibilitar o desenvolvimento pessoal e institucional, assim como fortalecimento das ações de formação com a gestão dos serviços e com controle social22.

Em razão destes fatos, entende-se que as propostas educativas necessitam ser socialmente construídas, com processo decisório descentralizado e articulado com as realidades locais. A concepção de educação permanente de uma forma em geral está vinculada à transformação das práticas educativas e a reorganização do processo de trabalho. A reestruturação do processo de trabalho com a inclusão da cultura educativa a partir dos preceitos da educação permanente incidirá em novas maneiras de projetar e estruturar o trabalho, na qual relação de ensinar, aprender, assistir e administrar ocorrem de forma sistematizada em que as ações são reciprocamente fortalecidas.

Algumas reflexões sobre a educação permanente permitem entender que a capacitação é um processo amplo que incide em aprendizagem; é um produto de reflexões, de experimentação, de prever novas práticas, habilidades e competências; a metodologia pretende questionar as práticas de trabalho e superar a tendência a buscar soluções rápidas e fáceis. As mudanças nas pessoas e nas equipes não se dão de uma só ação, mas sim como parte de um conjunto de ações em cadeia26.

A educação permanente tem como objetivo a transformação no processo de trabalho, para a qualificação, a eqüidade no cuidado e o acesso aos serviços de saúde. A proposta educativa busca o desenvolvimento de ações educativas gerem conhecimentos e atitudes a partir dos problemas identificados no cotidiano de trabalho. A partir de reflexões sobre os processos educativos no trabalho, pode-se concluir que a educação permanente não se restringe a um espaço que a diferencia de outros processos educativos. Esta, enquanto processo educativo e de trabalho em saúde, parte das demandas educacionais, que são demarcadas pelos limites, possibilidades, dificuldades e interesses na organização dos processos educativos e da organização do trabalho e desta para com a sociedade.

 

Considerações finais

O contexto da enfermagem na América Latina mostra uma diversidade de situações, nas quais podem ser incluídas: diferentes formações e qualificações, inserção profissional e social, quantificação e determinação de pessoal em relação à população, concentração em determinadas regiões, migração de enfermeiras de países latino-americanos para América do Norte, Europa e Oceania principalmente. Esse quadro associa-se ao déficit quantitativo e qualitativo na grande maioria dos países e a concentração em grandes centros, acentuando as dificuldades de recursos humanos em determinadas regiões. Entretanto, evidenciam-se propostas de ações para resolução destas questões, as quais vêm sendo preconizadas e permeadas por entidades de classe, fundações filantrópicas, entidades privadas, órgãos governamentais e organizações internacionais como OPAS (Organização PanAmericana de Saúde) e OMS (organização Mundial de Saúde) que em declaração conjunta com ministros e secretários de saúde, lançaram a Agenda de Saúde para as Américas 2008-2017, com um enunciado de intenções com o objetivo de propor ações de resolução em áreas consideradas críticas e de acordo com as prioridades e especificidades de cada região29.

O estudo mostra que a tendência de educação no trabalho nos países latinoamericanos enfatiza o tecnicismo, contudo, precisa-se ressalvar o fato que esta modalidade educativa atrela-se a necessidade premente de disponibilizar pessoas capacitadas, e de rever sistematicamente o exercício das diferentes formas de atuar. Os objetivos desta modalidade educativa são mais pontuais e determinados. Nesta acepção educativa se projeta e se constrói a partir das práticas, da assistência, está destinada a ser resolutiva e o enfoque é determinado, finalizador e pontual. Ressalva-se o entendimento que esta modalidade educativa seja muito importante para a qualificação da assistência de enfermagem.

Por outro lado percebe-se também uma tendência de valorização de propostas mais abrangentes, como a educação permanente. A maioria dos autores que teorizam esta modalidade são professores universitários, profissionais em processo de qualificação e alunos de graduação inseridos em projetos de estudos e pesquisas. Os objetivos nesta modalidade educativa são mais abrangentes e diversificados. Observa-se que existe um movimento de aproximação entre a academia e os serviços de saúde, esta interação entre a academia e os serviços pode ser o ponto de partida para a construção de proposta educativa de desenvolvimento de ações conjuntivas, que podem levar ao empoderamento individual, coletivo, institucional e social.

Evidencia o estudo, a importância de se prever propostas educativas diferenciadas. Sobre as quais não interessa estabelecer patamares ou definir quantitativamente e qualitativamente as modalidades ou propostas educativas e sim visualizá-las de forma integrativa e de acordo com as necessidades dos profissionais e das populações.

Em razão da abrangência espacial, das diferentes culturas, situações socioeconômicas e políticas encontradas na América Latina, necessita-se entender as diferentes modalidades estão de certa forma atrelada a estes fatores. Por fim, é possível perceber um movimento de implantação de propostas educativas a partir dos preceitos da Educação Permanente, os quais vêm, ao longo dos anos, sendo preconizados pela OPAS e pela OMS, com experiências diferenciadas de acordo com as necessidades e especificidades de cada região, dos sujeitos e trabalhadores e das populações de uma forma em geral1,31.

 

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