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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 no.51 Murcia jul. 2018  Epub 01-Jul-2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.3.291371 

Originais

O Enfermeiro na Creche/jardim-de-infância: Perspectiva dos professores de uma Escola Superior de Enfermagem

Dulce Maria Pereira Garcia Galvão1 

1 Profesora Coordinadora; UCP - ESCA; Escuela Superior de Enfermería de Coimbra. Portugal. dgalvao@esenfc.pt

RESUMO:

Introdução:

A crescente necessidade da actuação do enfermeiro nas instituições infantis de forma contínua é uma temática pouco estudada e que não constitui de todo uma realidade. Na Área de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica de uma Escola Superior de Enfermagem os estudantes realizam o Ensino Clínico em creches/jardins-de-infância.

Objectivos:

Conhecer o que valorizam os professores de enfermagem no papel do enfermeiro nas creches/jardins-de-infância.

Métodos:

Estudo descritivo e exploratório, que seguiu a metodologia qualitativa, após aceitação da Presidente da Escola Superior de Enfermagem e aprovação da Comissão de Ética, junto de sete professores. Recorreu-se a entrevistas semi-estruturadas, realizadas entre Dezembro de 2016 a Fevereiro de 2017, cujo tempo de realização oscilou entre 30 e 45 minutos. No tratamento da informação recorreu-se à análise de conteúdo optando-se pela análise categorial.

Resultados:

Alguns professores defendem a presença do enfermeiro a tempo integral na creche/jardim-de-infância. Maioritariamente consideram que o enfermeiro tem papel preponderante. Para os professores o enfermeiro intervém junto das crianças, famílias, outros técnicos e em articulação com as estruturas de saúde, escola e família. A sua presença traduz-se também em segurança para os pais sobre o bem-estar da criança e permite-lhes reduzir períodos de ausência ao trabalho.

Conclusão:

Nem todos os professores têm a mesma visão do enfermeiro e do seu papel numa creche. O enfermeiro na creche tem papel preponderante junto da criança, família, outros técnicos, de gestão, de investigação e também docente.

Palavras chave: Enfermagem Pediátrica; Papel do Enfermeiro; Criança; Creche; Jardim-de-infância

INTRODUÇÃO

Em Enfermagem considera-se o Ensino Clínico um momento privilegiado na formação dos estudantes. Permite que os estudantes de Enfermagem aprendam no seio de uma equipa e em contacto directo com um indivíduo em bom estado de saúde ou doente e/ou uma colectividade a planear, executar e avaliar os Cuidados de Enfermagem globais requeridos com base nos conhecimentos e competências adquiridas1. Na Área de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica pode ler-se no Guia Orientador do Ensino Clínico1 que se preconiza que os estudantes desenvolvam capacidades de forma a prestarem cuidados globais à criança e sua família. Nesta área os estudantes realizam o Ensino Clínico em Instituições hospitalares e em Creches/Jardins-de-infância.

As creches/jardins-de-infância são locais onde permanecem crianças com idades entre os 0 e os 6 anos. Creche constitui uma resposta social de âmbito socioeducativo que se destina a criança dos 3 meses aos 3 anos2. Proporciona às crianças¸ durante o período diário de trabalho dos pais, as condições adequadas ao desenvolvimento harmonioso e global e coopera com as famílias em todo o seu processo educativo. Jardim de Infância é uma instituição de educação pré-escolar, frequentada pelas crianças dos 3 aos 5 anos. Presta serviços vocacionados para o desenvolvimento das crianças, proporcionando-lhes actividades educativas, podendo também oferecer actividades de apoio à família.

A educação pré-escolar, entendida como primeira etapa da educação básica, visa o desenvolvimento equilibrado de todas as potencialidades das crianças, proporcionando-lhes oportunidades de autonomia e socialização, preparando-as para uma escolaridade bem-sucedida e constituindo apoio importante às famílias na sua tarefa educativa2. Nestes locais a prestação de serviços educativos é obrigatoriamente exercida por profissionais que têm como habilitação o curso de educadores de infância2. O tempo de actividades pedagógicas (tempo lectivo) tem de ser assegurado, em cada sala, por profissionais e o de prolongamento do horário de atendimento, por não ter uma intencionalidade pedagógica, quem o assegura deve ter uma habilitação superior à escolaridade obrigatória2.

Neste contexto, realizando os estudantes de Enfermagem o Ensino Clínico em creches/jardins-de-infância e verificando-se a carência de pesquisas desenvolvidas em Portugal sobre esta temática, desenvolveu-se um estudo descritivo e exploratório, que seguiu a metodologia qualitativa, para responder à questão: O que valorizam os professores de enfermagem no papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância?

Com este estudo pretendemos conhecer o que valorizam os professores no papel do enfermeiro nas creches/jardins-de-infância.

MATERIAL E MÉTODO

Realizámos um estudo descritivo e exploratório, que seguiu a metodologia qualitativa, junto dos professores, Especialistas em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica (EESIP), que pertencem à Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem de Saúde da Criança e do Adolescente (UCP - ESCA) de uma Escola Superior de Enfermagem, após aceitação da realização do estudo pela Presidente da Escola Superior de Enfermagem onde o estudo decorreu e aprovação da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (Parecer Nº P 336 - 03/2016).

A UCP- ESCA foi criada pelos Estatutos da Escola Superior de Enfermagem, homologados pelo Despacho Normativo n.º 50/2008 (de 9 de Setembro) e publicados no Diário da República de 24 de Setembro de 20083. Tem regulamento próprio aprovado pela Presidente da Escola Superior de Enfermagem a 16 de Julho de 2013. Integra catorze elementos sendo que dez pertencem ao quadro de pessoal da Escola Superior de Enfermagem e quatro são assistentes convidados. Dos assistentes convidados três incluíram a UCP - ESCA no ano lectivo 2015/2016 e um em 2016/2017. Todos os membros da UCP são EESIP, treze possuem o grau de Mestre e sete de Doutor. Um professor tem Pós Doutoramento em Enfermagem e quatro possuem Título de Especialista em Enfermagem (Decreto-Lei nº 206/2009)4. É coordenada por um Professor e um vice-coordenador. Dos 14 elementos que a integram dez são professores da carreira do Ensino Superior Politécnico, destes, sete são professores coordenadores e os demais professores adjuntos.

Para desenvolvermos o estudo, utilizámos uma amostra intencional. Os nossos critérios de inclusão assentaram em que os participantes fossem professores da Escola Superior de Enfermagem onde decorreu o estudo; pertencessem à UCP - ESCA; fossem Enfermeiros EESIP e aceitassem participar no estudo.

No estudo de campo recorremos a entrevistas semi-estruturadas, realizadas entre Dezembro de 2016 a Fevereiro de 2017. Foi elaborado um guião para orientação das entrevistas, contudo as mesmas decorreram de forma flexível. Cada participante foi contactado pessoalmente, entregue o pedido de colaboração no estudo e após ter aceitado participar assinou o documento de aceitação de participação na pesquisa. A marcação do dia, hora e local da entrevista foi efectuada de acordo com a preferência de cada participante. As entrevistas foram efectuadas nos gabinetes de trabalho dos participantes ou no gabinete da investigadora, sem ocorrência de interrupções. A cada participante foi pedida autorização para a gravação magnética da entrevista. O tempo de realização de cada entrevista oscilou entre 30 e 45 minutos. No final, cada entrevista foi transcrita, destruída a gravação áudio, e ordenada em ficheiros individuais. Cada um dos ficheiros foi codificado e a cada entrevista atribuída uma numeração: E1, E2, E3…E7, sendo a codificação das mesmas apenas do conhecimento da investigadora.

Aceitaram participar no estudo sete professores, quatro do sexo feminino e três do masculino, com média de idade de 56 anos. Desenvolviam a actividade profissional na escola em média há 23 anos e eram Enfermeiros EESIP em média há 22 anos. A totalidade dos professores pertence à UCP - ESCA desde a sua criação. Dos sete professores, cinco são doutores. São também cinco os professores que possuem a categoria profissional de professor coordenador. Quatro dos professores têm feito orientação de estudantes em creches.

No tratamento da informação atendendo ao tema, à pergunta de partida e aos objectivos, recorremos à análise de conteúdo de Bardin5. Todo o método de identificação das categorias e subcategorias sugerido por Bardin é hipotético-dedutivo6. Na escolha da técnica para analisar o material recolhido optámos pela análise categorial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da leitura e análise das entrevistas realizadas junto dos sete professores emergiram os temas: Presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância, Papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância e Intervenções desenvolvidas pelo enfermeiro.

Presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância

Alguns professores defendem a presença do enfermeiro a tempo inteiro na creche/jardim-de-infância.

Olhe (…) eu vejo bem um enfermeiro a desenvolver o seu papel, a sua profissão na creche.” (E1)

Um enfermeiro na creche, eu penso que é um assunto a pensar, um assunto relevante a pensar por parte das instituições que tomam conta das nossas crianças.” (E2)

Penso que seria importante haver um enfermeiro senão permanentemente, pelo menos 4 horas por dia. Penso que seria importante. (…). Isso depende do tamanho das creches, penso que era capaz de ser, de ter um trabalho, de fazer um trabalho interessante.” (E5)

Na minha visão o enfermeiro para poder ter como foco de atenção a criança, a família e os outros profissionais que trabalham na creche tem de permanecer diariamente na creche.” (E6)

Outros há que duvidam da necessidade deste profissional numa creche/jardim-de-infância.

Eu nem estou certo se é fundamental um enfermeiro numa creche, (…). É um enfermeiro da UCC (Unidade de Cuidados na Comunidade) por exemplo, do Centro de Saúde, que digamos tem ali um espaço avançado na creche. (…) Mas a tempo inteiro numa creche, a não ser que seja um dirigente da creche, que seja de gestor de creche e simultaneamente com um papel adicional de prestador de cuidados agora, um enfermeiro a tempo inteiro numa creche, para dar os comprimidos às crianças. (…) Cada creche deve ter um enfermeiro de referência, do Centro de Saúde.” (E3)

Pode ser e é uma ajuda útil, agora ter um enfermeiro a tempo inteiro para isso, não é tecnicamente viável, é impensável na sociedade de hoje.” (E4)

É possível perceber que a presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância como elemento da equipa multiprofissional não é unânime no discurso dos professores porém a inserção do profissional de enfermagem no quadro fixo de funcionários de uma creche visa aprimorar a assistência à criança nela institucionalizada7. Integrar a educação em saúde nas creches e pré-escolas sob a supervisão do enfermeiro torna-se prioritário uma vez que o enfermeiro possui na sua formação académica uma ampla variedade de conhecimentos que poderão ser aplicados de maneira benéfica sobre as crianças. Também Motta, Silva, Marta, Araújo, Francisco e Junior (2012)8) defendem a presença do enfermeiro nestas instituições alegando que a formação desperta para o cuidado ao ser humano de forma holística, visando, principalmente, a promoção da saúde. A actuação do enfermeiro numa creche/jardim-de-infância ou em qualquer outro contexto vai além da administração de terapêutica ou de intervenções interdependentes. Em Espanha a enfermeira escolar exercendo o seu trabalho com crianças e jovens em creches, escolas, primárias e secundárias, públicas e privadas, tem mais de três décadas9. O enfermeiro escolar, é o profissional que se encontra apto a desenvolver intervenções autónomas que incluem a promoção da saúde, a prevenção da doença e a assistência à criança saudável ou doente e a sua reabilitação dentro de uma equipa multiprofissional e em colaboração com outros enfermeiros especialistas de outras áreas9.

Em Portugal, o Estatuto dos Jardins-de-Infância do sistema público de educação pré-escolar foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º 542/79, de 31 de Dezembro10. Relativamente ao pessoal técnico está previsto, respectivamente, nos Nºs 2 e 3 do Art. 44.º do Capítulo XI que “Nos jardins-de-infância dependentes do Ministério dos Assuntos Sociais haverá ainda pessoal auxiliar do pessoal técnico.” e “Os jardins-de-infância dependentes do Ministério da Educação poderão ainda contratar pessoal técnico nas condições previstas no presente Estatuto.” No Nº 1 do Art. 55.º pode ler-se: “Por portaria conjunta dos Ministros das Finanças e da Educação e do Secretário de Estado da Administração Pública poderão ser contratados profissionais para apoio temporário dos jardins-de-infância em domínios de saúde, psicopedagogia e outros.”.

Papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância

No dizer dos professores o enfermeiro na creche/jardim-de-infância tem papel preponderante.

Eu penso que o papel do enfermeiro na creche, é tão importante como o papel de outro profissional.” (E1)

Acho que o papel do enfermeiro numa creche é algo que pode ser importante (…) o papel do enfermeiro pode ser muito relevante.” (E2)

Pronto, o papel do enfermeiro na creche é no meu ponto de vista de facto muito importante.” (E6)

A enfermeira nas escolas, integrada na comunidade educativa tem valor acrescido, eficaz e eficiente, juntamente com o corpo docente trabalha para normalizar a vida diária das crianças e adolescentes saudáveis ou com problemas de saúde, promovendo estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa9. O enfermeiro é o profissional que com uma atitude científica responsável exerce a liderança no cuidado à criança e adolescente, saudável, com doença aguda ou crónica ou incapacitante, estando capacitado para planear, executar e avaliar programas de saúde, desenvolver investigação e ensino para melhorar a qualidade dos serviços e contribuir para o progresso da especialidade9.

Também no Programa Nacional de Saúde Escolar de dois mil e quinze se pode ler que “todas as crianças e jovens têm direito à saúde e à educação e devem ter a oportunidade de frequentar uma escola que promova a saúde e o bem-estar” (p.20)11. Portanto a creche e jardins-de-infância, como instituições, têm o dever de oferecer condições para proporcionar um crescimento e desenvolvimento integral e harmonioso à criança num ambiente com o menor risco possível de adoecer e de ser vítima de acidentes. O enfermeiro durante a sua formação adquire conhecimentos para cuidar do ser humano de forma holística, pelo que se encontra apto a prestar cuidados às crianças nas instituições de educação infantil8.

E4, embora considere útil o papel do enfermeiro, vê a sua intervenção pontual quando afirma:

No meu ponto de vista pode desempenhar um papel útil, desde que integrado no centro de saúde, nas USFs (Unidade de Saúde Familiar) ou organizações anteriores, (...), é uma intervenção sempre pontual e que é integrada naquilo que são os programas da saúde infantil e dadas dentro dos programas da saúde comunitária, é útil.” (E4)

Intervenções desenvolvidas pelo enfermeiro na creche/jardim-de-infância

Para os professores, o enfermeiro na creche/jardim-de-infância intervém junto das crianças, das famílias, dos outros técnicos que aí desenvolvem a sua actividade profissional e também em articulação com as estruturas de saúde, a escola e a família.

A Asociación Madrileña de Enfermería en Centros Educativos (2016)9) defende que as competências desenvolvidas pela enfermeira escolar são as previstas no regulamento de competências do enfermeiro de cuidados gerais mas também as previstas no perfil de competências do enfermeiro especialista em enfermagem pediátrica, enfermagem familiar e comunitária e enfermagem de saúde Mental. Refere serem Competências da enfermeira escolar a atenção integral ao aluno onde incluiu as competências de comunicação e a assistencial, a Gestão de Saúde da Comunidade Educativa, Competências Docentes, Competências de Investigação e as Competências de Relações interprofissionais. Nestas últimas inclui as relações da enfermeira com a escola, com o pessoal docente e outros profissionais, com os alunos e pais e com os serviços externos9.

No dizer dos professores nas Intervenções desenvolvidas pelo enfermeiro na creche/jardim-de-infância Junto das crianças destacaram a Promoção do crescimento e do desenvolvimento.

O papel do enfermeiro (…) é o de acompanhar o desenvolvimento da criança, (…), e o seu papel é de facto de um papel preventivo e de promoção de um crescimento saudável na criança. (…) quer em termos de promoção do seu desenvolvimento quanto também do seu crescimento saudável.” (E1)

(…) primeiro pode fazer um trabalho de parceria na área de promoção e desenvolvimento infantil, com os educadores. Penso que podem desenvolver preferencialmente as áreas ligadas à promoção do desenvolvimento, até porque tem um apoio interessante sempre das educadoras. Até porque conseguem fazer uma avaliação de desenvolvimento de forma mais realista, mais fácil, mais contextualizada, (…). Depois em termos de promoção do desenvolvimento, há um conjunto de áreas que podem ser muito bem articuladas, entre o enfermeiro, os pais e os educadores, e portanto isso reverterá claramente num forte beneficio para a criança. E falamos em variadíssimas áreas, vão desde aspectos mais bio, como seja a alimentação, a outros mais ligados à educação, à disciplina, aos limites (…).” (E2)

A actuação do enfermeiro na creche é de grande complexidade e coloca em evidência a importância do conhecimento das especificidades das características do desenvolvimento da criança desenvolvendo actividades de cuidar, vigilância do desenvolvimento/crescimento, necessidades essenciais na infância, consulta de enfermagem, formação/educação continuada, trabalho multiprofissional, educação em saúde e gestão de recursos12. A creche e jardins-de-infância, como instituições, têm o dever de oferecer condições que proporcionem um crescimento e desenvolvimento integral e harmonioso da criança - nos aspectos físico, psicológico, intelectual e sociais - complementado com a acção da família12. A avaliação do bem-estar total da criança resulta da avaliação dos dados obtidos num vasto histórico de saúde e familiar, bem como do exame físico e da avaliação do desenvolvimento7.

Também a Prevenção e tratamento da doença foi evidenciada no discurso dos professores.

Tem um papel importante (…) por exemplo, (…) sobre a prevenção das doenças sobre o acompanhamento, e até na vigilância de saúde em termos da vacinação, tudo isso, eu penso que sim é um factor importante (…).” (E1)

(…) daí um papel muito importante desde a prevenção da doença, (…) até eventualmente ao tratamento. (…) muitas vezes os pais são chamados pelos educadores para os irem buscar, havendo um enfermeiro a controlar a situação isso não seria necessário, portanto significa que até em termos de produtividade os pais necessitavam de um menor absentismo, se houver um enfermeiro com conhecimentos profundos nesta área.” (E2)

“(…) não apenas na questão do apoio à criança que esteja doente, ou para ajudar a diagnosticar alguns problemas.” (E5)

É estar atento à identificação de problemas de saúde da criança, ter em atenção à forma como é, como é que se faz, digamos a articulação entre a criança e as famílias, em termos emocionais, em termos de cuidados que são prestados a essas crianças, (…). Por exemplo uma criança que faz um pico febril, mas que na realidade não tem outros sinais, ou sinais outros sintomas coexistentes, ou outros sinais de risco e que na realidade a enfermeira pode cuidar dessa criança, administrando medicação adequada, digamos que deve ser antipirética por exemplo, (…)”.(E6)

“O papel do enfermeiro, será detectar digamos assim, algumas alterações de comportamento das crianças que depois mais tarde se poderão repercutir a nível da sua saúde, e que estando diariamente junto da criança podemos fazer de imediato a nossa intervenção sempre que achamos necessário.” (E7)

Caso a criança tenha sinais e sintomas de uma patologia o enfermeiro com o seu saber é capaz de identificar e entender a patologia associada aos sinais e sintomas que a criança apresenta e colocar em prática acções que melhorem ou aliviem a situação da criança assim como perceber se pode ou não permanecer na instituição tendo em conta o quadro clínico que apresenta.

A não especialização e a falta de conhecimento científico nas questões relacionadas com a saúde por parte dos profissionais que actuam nas creches implica a não realização de uma avaliação do estado de saúde da criança, comprometendo as acções que poderiam ser implementadas precocemente para minimizar a situação7. A presença do enfermeiro na creche e jardim-de-infância assistindo a criança de forma integral e observando práticas de cuidados exercidas por outros profissionais, permite que seja traçado um plano de actuação que identifique esses factores, diminua a ocorrência de doenças prevalentes da infância, ajuda nas condições de vida da família, que se favorece à medida que a criança adoece menos, coopera para um espaço favorável ao desenvolvimento infantil e é relevante ainda para a qualidade do ensino, dado a saúde estar directamente ligada à aprendizagem8.

O profissional de enfermagem nos quadros fixos da creche e/ou jardim-de-infância teria um conhecimento e maior controlo no que diz respeito à situação vacinal da criança assim como na administração de terapêutica7. Qualquer pessoa que trabalhe na instituição que tenha indicação dos pais ou prescrição médica pode administrar qualquer tipo de terapêutica, no entanto, nem todos têm conhecimento suficiente sobre a mesma. O enfermeiro tem preparação académica que lhe permite actuar nesta área que exige responsabilidade e conhecimento7.

A promoção da saúde foi outra intervenção mencionada pelos professores.

Tem um papel importante de educação para a saúde por exemplo, em várias vertentes (…), em caso também de até de outras sessões que podem acontecer sobre a educação para a saúde, sobre a alimentação, (…).” (E1)

(…), desde a promoção até eventualmente ao tratamento. (…).”(E2)

“(…) tem todo um trabalho no sentido de promover a saúde das crianças, trabalho esse que pode ser desenvolvido directamente com as crianças nomeadamente com algumas sessões de educação.” (E6)

Cuidar da criança envolve compreendê-la na sua singularidade, como um ser que está em contínuo processo de crescimento e desenvolvimento. Os primeiros anos de vida da criança são um período de formação e criação de hábitos que poderão durar para toda a vida, tais como o cuidar de si e da própria saúde. Sendo assim, a instituição educativa constitui um excelente lugar para a implementação de programas de promoção da saúde, que podem contribuir para a melhoria das práticas de cuidado directamente oferecido às crianças bem como estimular a adopção de hábitos saudáveis desde a infância13. O contacto educacional iniciado nestas instituições prepara as crianças para futuras responsabilidades a serem vivenciadas posteriormente. Portanto, a educação em saúde também contribuirá para a formação de cidadãos conscientes e saudáveis7. A criança é uma grande multiplicadora de informações, leva para casa as orientações adquiridas e transforma-as em conhecimentos para toda a vida. Obviamente que o acompanhamento por parte dos familiares é fundamental para que as questões abordadas nas sessões de educação para a saúde sejam implementadas de forma eficaz.

Para os professores a Actuação perante uma urgência é outra intervenção que o enfermeiro desenvolve junto das crianças.

Tem um papel importante (…) em várias vertentes desde por exemplo em caso de uma urgência, (…).” (E1)

Em uma creche encontram-se crianças de diversas faixas etárias, com diferentes focos de descoberta pelo que é quase inevitável que os acidentes ou incidentes aconteçam. Daí a importância da participação dos enfermeiros nestes locais, tendo em vista altos riscos, como queimaduras, traumas, sufocamentos, engasgo, entre outros7.

Mas também para os professores as Intervenções do enfermeiro são desenvolvidas junto da família, capacitando os pais.

Também podem actuar junto da família. Ter um papel preventivo de algumas situações se forem situações que possam ser sinalizadas, fazer também esta ponte entre a criança e a creche ou a família da criança, ter sempre como objectivo, pensamos que falamos de um contexto ou de um binómio criança-família, se a criança não estiver bem a família, também não estará, e também pensar que o contrário também pode acontecer.” (E1)

(…) e eventualmente algum apoio e também aos pais, (…). Também para aos pais eventualmente algum apoio, situações que eventualmente são diagnosticadas, por exemplo se a criança não come bem ou se a criança tem alguma, sobre aquelas dúvidas habituais dos pais, sobre o controle dos esfíncteres, dependendo da idade, as etapas do desenvolvimento pode ter um papel orientador em relação aos pais.” (E5)

(…) à criança, para a família, também à família, e a família também é de facto um foco, deve ser um foco de atenção. Despistar precocemente, falta de relação e estimulação, até com a criança fora da creche e isso é evidente em muitas situações. Há muitos problemas que surgem na relação da criança com a família, que podem ser despistados, que podem ser abordados, com a família duma forma positiva, de uma forma promotora.” (E6)

Educar as crianças de forma consciente e saudável garante um presente proveitoso assim como o seu futuro. As orientações preventivas consistem no fornecimento de informações às famílias sobre crescimento e desenvolvimentos normais, assim como práticas educativas que envolvam pais e filhos, auxiliando-os no convívio, na obtenção e manutenção da saúde7.

No dizer dos professores a presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância traduz-se também em segurança para os pais sobre o bem-estar da sua criança enquanto permanece no espaço de guarda no período em que a mãe e o pai estão a trabalhar12 e como benefício relativamente à sua actividade profissional permitindo-lhes reduzir os períodos de ausência ao trabalho.

(…) se houver um enfermeiro a cuidar daquelas crianças em ambiente de creche não há necessidade dos pais faltarem ao serviço e as crianças ficam bem entregues.” (E2)

“ (…) evitando obviamente que os pais por exemplo façam absentismo às actividades, ao seu trabalho às suas actividades profissionais, por outro lado eu penso que é importante também da parte do enfermeiro, fornecer ou dar alguma segurança aos pais, em relação aos cuidados de saúde que as crianças têm, os pais sente-se mais seguros se souberem que há alguém da área saúde, que está directamente a trabalhar com os seus filhos, a vigiá-los a cuidar deles etc. sentem mais segurança do que propriamente se souberem que não há ninguém com conhecimentos nessa área onde os seus filhos estão, que estão de facto integradas na creche.” (E6)

Os professores mencionaram também que os enfermeiros desenvolvem Intervenções junto dos outros técnicos que desenvolvem a sua actividade profissional na creche/jardim-de-infância

Pode ter, não só um papel complementar, na equipa que atende a criança, como também até pode ter um papel de supervisão, por exemplo, naquilo que são algumas questões ligadas à alimentação da criança e não só, e outras também.” (E1)

Mas, também na formação do pessoal, (…) também e eventualmente também aos profissionais que lá trabalham, obviamente em relação tudo, desde propagação de infecções, desde também orientar para as questões, do crescimento e desenvolvimento infantil, penso que sim é pertinente, obviamente.” (E5)

Mas, muito particularmente, com as pessoas que trabalham directamente para as crianças, não é? Se bem que há creches que efectivamente trabalham bem, em que as próprias funcionárias têm formação etc. para desenvolverem cuidados adequados e ajustados às crianças, há outros que na realidade se calhar as próprias funcionárias precisam de mão, precisa-se alertar para alguns cuidados e para alguns riscos que são inerentes às crianças, precisa de se fazer também formação em termos de cuidados imediatos a ter em relação à saúde das crianças, e há cuidados de saúde que podem ser de facto dirigidos desde logo a uma criança.” (E6)

Motivar a criança para a ingestão adequada de água, é outro problema que também se nota em determinadas creches, não é valorizada a ingestão de água após o exercício físico, durante a refeição, (…). Há também, funcionários que ainda não conseguem e não valorizam a posição durante o sono na criança (…) não valorizando a posição (…). Outro aspecto que também surge com alguma frequência é a da lavagem das mãos, lavagem das mãos principalmente quando há prestação dos cuidados de higiene, mudança de fralda em que não há qualquer cuidado na lavagem das mãos de uma criança para a outra. Por exemplo em relação ao assoar a criança, assoam muitas vezes com o mesmo lenço de papel …” (E7)

Relativamente aos profissionais de uma creche destaca-se o acto de educar, acolher, alimentar, manter a higiene e a organização do local. O vínculo entre o enfermeiro e a creche/jardim-de-infância possibilita inúmeros benefícios que não seriam somente para a criança e família como também para a construção de uma parceria com os profissionais que nela desenvolvem a sua actividade. É possível oferecer uma segurança aos profissionais da instituição em relação ao saber agir e/ou poder solicitar intervenção face a possíveis necessidades da criança e a outros anseios sobre saúde. Os mesmos terão no enfermeiro um referencial, um sistema de apoio nas amplas questões relativas à saúde infantil7. O enfermeiro como responsável pela assistência de saúde na creche/jardim-de-infância pode melhorar a qualidade do serviço prestado à saúde das crianças, através do planeamento, execução, supervisão e avaliação do serviço prestado8.

Os professores consideram que o enfermeiro na creche/jardim-de-infância tem ainda como intervenção a Articulação entre as estruturas de saúde, a escola e a família.

Depois há todo um conjunto de áreas ligadas à saúde, (…), aí o enfermeiro tem um papel chave, porque pode fazer ele próprio uma boa ligação entre as estruturas de saúde e a instituição, e é sempre um elemento a considerar, a ter em conta nesta articulação entre a escola, no fundo a escola dos mais pequeninos e a família.” (E2)

O enfermeiro é visto como um elo para o alcance dos objectivos na assistência em saúde. A parceria entre este e a instituição possibilita estreitar o vínculo da criança e da família com os serviços de saúde, o que proporciona oportunidades para a realização da promoção de saúde, hábitos de vida saudável, vacinação, prevenção de problemas, gerando o cuidado em tempo oportuno7.

CONCLUSÕES

O estudo desenvolvido permitiu concluir que nem todos os professores têm a mesma visão do enfermeiro e do seu papel em uma creche. Alguns professores defendem a presença do enfermeiro nestas instituições a tempo integral. Outros há que duvidam da necessidade deste profissional. Maioritariamente, os professores, consideram que o enfermeiro, neste espaço, tem papel preponderante podendo intervir junto das crianças, famílias, outros técnicos que desenvolvem a sua actividade profissional na creche/jardim-de-infância e também em articulação com as estruturas de saúde, a escola e a família. No dizer dos professores a presença do enfermeiro traduz-se também em segurança para os pais sobre o bem-estar da sua criança enquanto permanece no espaço de guarda no período em que a mãe e o pai estão a trabalhar e como benefício relativamente à sua actividade profissional, permitindo-lhes reduzir os períodos de ausência ao trabalho.

Pretendeu-se, com este estudo, contribuir de forma sustentada na evidência científica para a melhoraria das práticas de ensino-aprendizagem e para a mudança de paradigma de enfermagem. Este projecto reflecte a necessidade da inserção do enfermeiro nestas instituições vocacionadas para o desenvolvimento das crianças.

A presença do enfermeiro nas instituições infantis de forma contínua é uma temática pouco estudada e que não constitui de todo uma realidade, todavia, os benefícios identificados são muitos, que vão desde atender as necessidades básicas de saúde da criança, promoção do crescimento e estimular o seu desenvolvimento. Através dos conhecimentos adquiridos durante o curso de enfermagem, a assistência a ser oferecida à criança, família, outros profissionais que trabalham nestas instituições onde as crianças permanecem durante o período diário de trabalho dos pais é de grande abrangência. O enfermeiro na creche tem papel preponderante junto da criança, família, outros técnicos, de gestão, de investigação e também docente.

REFERENCIAS

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Recebido: 11 de Abril de 2017; Aceito: 10 de Setembro de 2017

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