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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 no.52 Murcia oct. 2018  Epub 01-Oct-2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.4.299971 

Originais

Índice de massa corporal de gestantes na unidade de saúde da família

Poliana Cristina Ferrari Schiavetto1  , Beatriz Barco Tavares2 

1 Enfermera, Egresada del Curso de Graduación en Enfermería de la Facultad de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP.Brasil. bbarco@famerp.br

2 Enfermera obstétrica, Profesora Doctora del Departamento de Enfermería Especializada de la Facultad de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP. Brasil.

RESUMO:

Introdução:

No Brasil, a obesidade é encontrada em 25% a 30% das gestações.

Objetivos:

Analisar o índice de massa corporal na gestação de mulheres atendidas na Unidade Básica de Saúde; Identificar a prevalência de sobrepeso e obesidade nas gestantes; Verificar o ganho de peso gestacional e associar com as variáveis: idade, estado conjugal, número de gestação, paridade, peso pré-gestacional e pré-natal.

Metodologia:

Estudo quantitativo, retrospectivo e descritivo. Composto por 241 mulheres que realizaram o pré-natal, de 2013 a 2015. Foi considerado o Coeficiente de Prevalência (número total de gestantes com sobrepeso e obesidadex 103/número total de gestantes).

Resultados:

O coeficiente de prevalência do sobrepeso e obesidade foi de 34,54%, em 2013; em 2014, de 43,61% e em 2015, de 41,34%. Nas características obstétricas, tiveram uma forte correlação com o ganho de peso total da gestação às consultas pré-natal e à idade gestacional, e significância igual a P<0,0001. Identificou-se que o IMC das gestantes variou de 15,80 a 46,80 Kg/m². Acima do peso detectou-se 39,84% das gestantes; 34,44% ganharam peso acima do esperado na gestação. Enquanto que das sobrepeso 55,00% ganharam peso mais do que o recomendado e das com obesidade 54,77%. A correlação do IMC pré-gestacional com as variáveis do peso anterior, o peso na última consulta e o ganho de peso total na gestação foi forte com o IMC, P<0,0001.

Conclusão:

O estado nutricional inadequado vem aumentando com o decorrer dos anos, reforçando a importância de uma abordagem mais ampla sobre o tema com as gestantes.

Palavras-Chave: Obesidade; Gestantes; Enfermagem Obstétrica; Índice de massa corporal; Sobrepeso

INTRODUÇÃO

A obesidade deve ser tratada como um problema de saúde pública, pois sua prevalência e comorbidades, acarretam uma condição de epidemia global.1)(2)(3)(4)(5) Considerada até pouco tempo, como distúrbio de pouca relevância clínica, até mesmo a comunidade científica relacionava tal distúrbio com maus hábitos e falta de determinação pessoal, que afetaria os indivíduos sem força de vontade, responsáveis por sua própria condição clínica.2

Todavia, já esta descrita como de etiologia multicausal, envolvem aspectos biológicos, históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, culturais, definida como uma síndrome metabólica crônica multifatorial caracterizada pelo desequilíbrio entre alimentação e gasto calórico.1)(5)(6) Provocando um aumento do número e do tamanho das células adiposas no organismo.2)(7)

Estudos epidemiológicos do Ministério da Saúde do Brasil, “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico” (VIGITEL), é um sistema desenvolvido para monitorar os comportamentos de risco ou proteção para as doenças crônicas na população brasileiras.8 Para o diagnóstico do estado nutricional de adultos usou o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC): divisão do peso em quilogramas/pela altura ao quadrado, medida em metros (Kg/m²).8) Classificando com excesso de peso o IMC com valor igual ou superior a 25 Kg/m² e obesidade igual ou superior a 30 Kg/m².8)(9 Vigitel identificou na cidade de São Paulo, o excesso de peso em 53,9% da população maior de 18 anos, e entre as mulheres o índice foi de 50,5%. A obesidade atinge 18,9% da população e 19,6% de mulheres.8

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), revelam um aumento no número de obesos no mundo, estima-se que, em 2025, será superior a 700 milhões de pessoas acometidas por esta condição.10

O ganho de peso adequado durante a gestação para mulheres obesas é de até 6,8 Kg. Para aquelas que iniciam a gestão com excesso de peso, estima-se um ganho entre 6,8 a 11,2 Kg, enquanto que, para mulheres que engravidam com um peso considerado adequado, o ganho recomendado é de 11,2 a 15,9 Kg.1

O período gestacional pode agravar ou desencadear a obesidade, principalmente em mulheres pré dispostas à este distúrbio e naquelas com histórico de infertilidade.10) A obesidade acarreta à gestação, um aumento no risco de complicações maternas e perinatais, como a diabetes gestacional, hipertensão arterial desenvolvida pela gravidez, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, fenômenos tromboembólicos, infecções urinárias, parto pré-termo, partos distócicos que aumentam a incidência de cesáreas, malformações fetais, macrossomia fetal, morte fetal, hemorragia maciça pós-parto, infecção puerperal, morte materna, entre outras.1)(4)(10)(11

As mulheres obesas, ou com excesso de peso que desejam engravidar devem ser orientadas e encorajadas a perderem peso anteriormente, reforçando a importância das consultas pré-concepcionais e do planejamento familiar.9) A prevenção na gestação e no pós-parto resulta no melhor desfecho materno e fetal.10

Diante desta problemática, e com a finalidade de melhorar a assistência à mulher no ciclo gravídico puerperal esta pesquisa teve os seguintes objetivos:

OBJETIVOS

-Analisar o índice de massa corporal na gestação de mulheres atendidas na Unidade Básica de Saúde;

-Identificar a prevalência de sobrepeso e obesidade nas gestantes;

-Verificar o ganho de peso gestacional e associar com as variáveis: idade, estado conjugal, número de gestação, paridade, peso pré-gestacional e pré-natal.

MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo quantitativo, retrospectivo, descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), com o parecer no 1.448.790. Desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) do Distrito de Saúde IV, que teve um total de 169 nascimentos em 2013, 163 em 2014 e 142 em 2015, segundo o Painel de Monitoramento do município de São José do Rio Preto, localizado a Noroeste do Estado de São Paulo, Brasil.12

Os dados foram, coletados entre março a abril de 2016, de prontuários de mulheres que atenderam aos seguintes critérios: ter realizado pré-natal nesta UBSF nos anos de 2013 a 2015 e o concluido com o nascimento até dezembro de 2015. Como critério de exclusão: os prontuários que não constavam a altura da gestante impossibilitando o cálculo do índice de massa corpórea.

Na primeira etapa da coleta de dados identificou o número do prontuário registrado no livro de gestantes da Unidade. Após o levantamento destes prontuários, foram coletadas as informações respectivas aos dados sociais e obstétricos, as características pessoais e história pregressa gestacional. As variáveis independentes foram: idade materna, estado nutricional inicial, situação marital, escolaridade, número de gestações, aborto, natimorto, complicação (Diabetes Gestacional/ Síndrome Hipertensiva da Gravidez) e doença de base; presença de anemia e glicemia de jejum.

A partir dos dados de altura e peso antes da gestação calculou o IMC, para avaliação do ganho de peso considerou o peso a partir do segundo trimestre de gestação (14ª semana).13)

Para a classificação do IMC e o ganho de peso durante a gestação considerou a recomendação da OMS: baixo Peso <18,5Kg/m2 pode ganhar de 12,5 a 18kg; adequado 18,5- 24,9 kg/m² pode ganhar 11,5 a 16 kg; sobrepeso 25,0- 29,9 kg/m² deve ganhar de 7,0 a 11,5 kg; obesidade >= 30 kg/m² deve ganhar de 5,0 a 9,0 kg.13

A prevalência de gestantes com sobrepeso/obesa pré-gestacional foi obtida com o Coeficiente de Prevalência = número total de gestantes com sobrepeso e obesa x 103 /número total de gestante.

A análise estatística dos dados se deu por meio dos softwares GraphPadInstat 3.0 e Prisma 6.01, e considerou o nível de significância de α=0,05.

RESULTADOS

Selecionou 241 (100,0%) prontuários que atendiam aos critérios de inclusão. Na avaliação do estado nutricional das gestantes, detectou o IMC pré-gravídico de 15,80 a 46,80 Kg/m², média de 24,83 Kg e desvio padrão de 5,48 Kg/m². Acima do peso detectou-se 39,84% das gestantes, destas, 24,89% com sobrepeso e 14,95% obesidade, ganharam peso acima do esperado na gestação 34,44% do total das gestantes. Chama atenção que 7,88% eram baixo peso, e até o final da gestação não ganharam excesso de peso. Entre as com sobrepeso 55,00% das gestantes e 54,77% das com obesidades ganharam peso na gestação mais do que o recomendado. (Tabela 1 )

Tabela 1 Distribuição das gestantes segundo o estado nutricional pré-gravídico e ganho de peso gestacional. São José do Rio Preto/SP, Brasil, 2016. 

O coeficiente de prevalência do sobrepeso e de obesidade foi de 34,54% em 2013, 43,61% em 2014, passando para 41,34% em 2015.

Ao avaliar a correlação do IMC pré-gestacional com as variáveis do peso anterior, o peso na última consulta e o ganho de peso total na gestação houve uma correlação forte com o IMC em todas as variáveis e significância com P<0,0001, conforme Tabela 2 .

Tabela 2 Correlação do IMC pré-gravídico, com o peso pré-gestacional, o peso na última consulta e o ganho total do peso na gestação. São José do Rio Preto/SP, Brasil, 2016. 

Concernente às características sociais das gestantes, a faixa etária variou de 13 a 41 anos, com 57,26% das gestantes entre 20 a 29 anos, e a média de 24,53, o DP=14,10 anos. Ter companheiro foi realidade de 72,20% das gestantes. O tempo de escolaridade variou de 1 a 9 anos ou mais, com a média 5,50, o DP=1,80, as mulheres com ensino fundamental representou 67,22%, ou seja, de 5 a 8 anos de estudo. (Tabela 3 )

Tabela 3 Distribuição das gestantes segundo as características sociais. São José do Rio Preto/SP, Brasil, 2016. 

Na Tabela 4 estão descrito as caracteristicas obstétricas, constatou que 36,52% eram primigesta e 17,02% sofreram aborto em gestações anteriores. O inicio do pré-natal no primeiro trimestre gestacional foi realidade para 71,37% das gestantes, com média de 7,34 consultas, DP=2,85, frequentaram de 7 a 9 consultas pré-natal 42,32%, seguido de 34,85% que compareceram em até 06 consultas. A idade gestacional da última consulta do pré-natal de 51,04% das gestantes foi de 26 a 37 semanas.

O ganho de peso total na gestação teve uma correlação forte com, a consulta pré-natal e a idade gestacional, com significância igual de P<0,0001. Mulheres com o IMC elevado atingiram o maior número de consultas no pré-natal e com a evolução da Idade gestacional acumularam mais peso do que o recomendado.

Tabela 4 Distribuição das mulheres segundo as características obstétricas. São José do Rio Preto/SP, 2016. 

*última consulta do pré-natal.

No exame de hemograma, da primeira consulta de pré-natal, observou que em 9,54% das gestantes o valor da hemoglobina foi de até 11g/dl, seguido de 20,75% com valores entre 11,1 a 12g/dl e 60,59% de 12,1g/dl ou mais. Ainda, quanto ao hematócrito deste primeiro hemograma, em 31,54% das gestantes o resultado foi inferior a 36%. Em relação aos valores de glicemia em jejum, não foi possível uma avaliação fidedigna, devido à falta de informação dos resultados do exame nos prontuários das gestantes.

DISCUSSÃO

O estado nutricional repercute nos resulatdos gestacionais e perinatais, daí a importância da manutenção do IMC adequado no período gravídico e a manutenção do ganho de peso, desde o inicio da gravidez.4)(14)

Compátivel com a prevalência descrita, os índices de sobrepeso são descritos de 22,00% a 24,00% das gestantes dos estudos, e 18,00% a 25,00% com obesidade.15)(16)(17) Encontrapartida dos resultados, verificou em gestantes do Rio Grande do Sul que 66,7% eram baixo peso, e continuaram até o final da gestação.18) Chama a atenção que o IMC elevado reflete na menor satisfação da gestante com a sua imagem corporal.15

Identificou mulheres na faixa etária considerada como fator de risco para a gestação, que são as menores de 15 anos e as com 35 anos ou mais, apesar do aumento da média da idade das gestante no Brasil, que já é retratada próxima a 30 anos.13)(15

A união conjugal confere apoio emocional a gestante, a presença e participação de um parceiro é fundamental para a manutenção da saúde mental equilibrada para o desenvolvimento gestacional, influencia na vivenciada gestação, do parto e do processo da maternidade.16 Em Recife, Pernambuco, ter companheiro representou 74,5% das gestantes, achado igual em Imperatriz no Maranhão.19)(20

A baixa escolaridade é considerada fator de risco obstétrico que dificulta a compreensão das modificações do corpo neste período e a decisão do autocuidado.16)(21) Muitas vezes a escolaridade está atrelada a situação socioeconômica, que além de conferir o baixo grau de escolaridade associa-se ao menor poder aquisitivo, diminuindo o acesso aos alimentos em termos qualitativos, optando por consumir os mais calóricos que geralmente são mais barato.16)(17

O grau de escolaridade materna influencia na compreensão das atividades educacionais desenvolvidas no pré-natal, que visam propiciar a manutenção da saúde e prevenção de complicações materno fetal.15)(16)(17)

Cabe aos profissionais de saúde envolver estas gestantes em ações educativas, enfatizando a promoção da saúde e prevenção dos danos associados ao excesso de peso no período gravídico. (22)

O IMC elevado teve correlação com o maior número de consultas de pré-natal. O Ministério da Saúde, Brasil, determina que a asistência pré-natal tem que ser de no minímo seis consultas, e o ínicio o mais precoce possível, porém a realidade nas regiões do Brasil diverge, constatou o inicio do prénatal no primeiro trimestre em 54,20% das gestantes, porém 87,50% realizaram menos de seis consultas em Recife, estado de Pernambuco, e na cidade de Imperatriz, Maranhão, verificou que 83,1% iniciaram no primeiro trimestre, mas 74,57% das gestantes foram assistida em menos de 6 consultas.13)(19)(20

O período gestacional pode desencadear a obesidade, ou potencializar um estado preexistente, o ganho de peso na gestação propicia a mulher mais suscetível ao ganho excessivo de peso.21)(22 Até a 32ª semana de gestação,a mulher pode associar uma dieta para manutenção e ou, perda de peso, a fim de prevenir complicações imediatas e futuras.23

No pré-natal é fundamental a avaliação do nível de hemoglobina e hematócritos, em um estudo realizado no Rio Grande do Sul, a prevalência de anemia em gestantes foi 48%, o que aponta a necessidade da continuidade e intensificação dos programas de suplementação, que ainda é um problema de saúde pública. As elevadas taxas de anemia esta fortemente relacionadas com a escolaridade, que tem papel fundamental para a adesão ao adequado estado de saúde nutricional.18)(20

CONCLUSÃO

O IMC pré-gestacional elevado apresentou relação significativa com ganho de peso total na gestação e no maior número de consultas de pré-natal, o ganho de peso em excesso na gestação prevaleceu nas mulheres com sobrepeso e nas com obesidade no período pré-gestacional. Reforçando a importância do emprego de ações educativas em saúde da mulher e de uma abordagem mais ampla sobre o tema com as gestantes nas consultas de pré-natal, enfocando a prevenção dos danos e redução dos agravos ocasionados pela obesidade na saúde materna e fetal.

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Recebido: 10 de Junho de 2017; Aceito: 21 de Setembro de 2017

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