INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, existe uma tendência generalizada que identifica a aquisição de hábitos que incluem a Actividade Física e o Desporto (AFD) com o aumento dos níveis de bem-estar social. Neste sentido, a prática regular de AFD está relacionada com a prevenção de doenças, melhora do estado de ânimo, elevação da auto-estima, contribuição na formação do indivíduo e promoção da interacção e inclusão social (Bofill Ródenas, 2010; Hanrahan, 2007; Nicoletti & García, 2015; Tembe & Machava, 2012; Vitorino et al., 2015).
Com a intenção de levar estes benefícios a grupos com características específicas (pessoas com doenças crónicas, pessoas idosas, pessoas com deficiência, e outros), a AFD tem ido transformando as actividades convencionais de modo a poderem ser praticadas por cada um destes grupos de população específicos, passando a denominar-se Actividade Física Adaptada (AFA). De acordo com Nicoletti y García (2015), a AFA pode ser descrita como "todo movimento, actividade física e desporto onde coloca-se especial ênfases nos interesses e capacidades das pessoas com condições limitadoras, como deficiências, problemas de saúde ou pessoas idosas" (Depauw & Doll Tepper, 1989, p. 96). Assim, a AFA inclui o desporto, educação física, recreação, dança, artes criativas, nutrição, medicina, reabilitação, etc. (Hutzler & Sherrill, 2007; Omote, 2016).
No entanto, pese a AFA ser reconhecida como um óptimo meio para a inclusão dos diversos grupos sociais específicos, com interesse nas pessoas com deficiência (Abellán, Sáez-Gallego, & Reina, 2018; Rodrigues & Lima-Rodrigues, 2017), acredita-se que a atitude perante este grupo seja um dos alicerces essenciais (Martins, 2014; Monteiro, 2012; Oliveira, de Almeida Pereira, & Pinto, 2017; Omote, 2016, 2018; Teixeira, 2014; etc.). A este respeito, Sherrill (1989, p. 225) afirma que "a chave para a mudança de comportamentos em relação às pessoas que são diferentes são as atitudes. Esta é a essência da Actividade Física Adaptada, integração e inclusão". Ainda, Silva (2019) indica que o grau de inclusão das pessoas com deficiência dependerá em grande medida das atitudes manifestas pelos distintos grupo populacionais.
Portanto, assume-se que uma atitude positiva influencia o comportamento da pessoa perante um grupo social específico, jogando um papel importante no sucesso da inclusão de dito colectivo (Oliveira et al., 2017; Omote, 2018; Silva, 2019; Xavier, 2016). Neste contexto, a atitude é descrita como "um conjunto duradouro de crenças, carregadas de emoção que predispõe uma pessoa a determinados tipos de comportamentos" (Sherrill, 1989, p. 7). Por conseguinte, o conceito de atitude pode ser fragmentado em três dimensões: a) cognitiva, sendo as percepções, crenças ou ideias que a pessoa tem sobre o objecto; b) afectiva, referindo-se às emoções e sentimentos em relação ao objecto; e c) condutual, aludindo à forma de reagir perante o objecto (Gaona, Torres, & Charles, 2018; González, & Baños, 2013; Kim, Lu, & Estrada-Hernandez, 2015; Lund & Seekins, 2014; Silva, 2019; Vilchinsky, Werner, & Findler, 2010).
De acordo com Pérez-Tejero, Ocete, Ortega y Coterón (2012), as estratégias que se têm mostrado mais eficazes na promoção de mudanças de atitudes positivas perante a deficiência têm sido duas: a Informação e o Contacto Directo (CD). Segundo estes autores, as pessoas envolvidas em programas de AFD mostram uma atitude mais positiva para a inclusão de pessoas com deficiência quando se lhes facilita informação sobre a deficiência, o Desporto Adaptado e a sua prática. De forma similar, se obtêm mudanças positivas da atitude para ambos os grupos quando se promove um contacto directo entre pessoas com e sem deficiência a partir da prática desportiva de carácter cooperativa (Carvalho, 2011; Omote, 2016; Pérez-Tejero et al., 2012).
Estas estratégias têm a sua fundamentação a partir da teoria do contacto de Allport (1954), a qual indica como a discriminação e os preconceitos em contra de um certo colectivo podem ser reduzidos a partir do contacto directo entre grupos. De uma forma simplificada, o preconceito dirigido a uma minoria pode ser reduzido quando o contacto for estruturado em base a quatro premissas: a) compartilhar estatuto de igualdade; b) a comunidade deve apoiar institucional e legislativamente a mudança; c) os indivíduos devem procurar objectivos comuns; e d) o trabalho conjunto deve ser profundo, genuíno e íntimo. Neste sentido, o contacto em ambientes de formação inclusivos entre pessoas com e sem deficiência, é considerado de grande valia para tornar mais positivas as atitudes dos formandos face a inclusão (Oliveira et al., 2017; Omote, 2016, 2018; Pérez-Tejero et al., 2012; Rodrigues & Lima-Rodrigues, 2017; Teixeira, 2014).
Consequentemente, de acordo à teoria apresentada se faz necessária uma estruturação intencional de toda intervenção que vise mudanças de atitude positivas a partir do contacto entre os grupos (Oliveira et al., 2017; Omote, 2016; Silva, 2019), já que o contacto casual não só não é efectivo (Archie & Sherrill, 1989), senão que ainda pode ser prejudicial (Slininger, Sherill, & Jankowski, 2000). Portanto, quando a prática desportiva não é orientada sob o paradigma da inclusão, não favorece a cooperação, não valoriza a diversidade e pode gerar sentimentos de frustração (Aguiar & Duarte, 2005). Reforçando esta ideia, Martín e González (2004) afirmam que a Actividade Física e o Desporto não são elementos educativos per se, senão que dependem da intencionalidade que tenha a pessoa que os utiliza. Conclui-se que é necessária uma estruturação da intervenção quando o interesse seja promover mudanças de atitudes no grupo alvo (Trepat, 1995; Venero Valenzuela, 2007; Wandzilak, 1985; como citados em Mouliaá, Tembe & Buendia, 2019, p. 7; Oliveira et al., 2017; Omote; 2016).
Em Moçambique, a maioria dos cursos ofertados para a formação de agentes desportivos em AFA e DA, está dirigida a estudantes e graduados dos institutos médios e faculdades afins à AFD, assim como a treinadores de modalidades desportivas convencionais, não incluindo expressamente a presença de pessoas com deficiência durante a formação. Neste sentido, é comum que um elevado número dos candidatos não tenham uma formação específica na área da deficiência, e em muitos dos casos, não tenham tido um contacto prévio com o grupo alvo. No contexto moçambicano este pormenor é especialmente preocupante, pois após a formação, espera-se que o agente desportivo capacitado seja um mobilizador social em favor da inclusão. No entanto, como indicam Rodrigues e Lima-Rodrigues (2017) de um modo geral, a maior parte das capacitações para formadores em AFA, está preocupada pela caracterização das pessoas com deficiência, ficando relegados a um segundo plano os aspectos metodológicos.
Consequentemente, parece existir uma incongruência metodológica, dado que, em muitos dos casos, os agentes desportivos formados devem promover a inclusão através de uma situação vivencial de carácter afectivo (contacto directo entre pessoas com e sem deficiência), da qual eles próprios não têm tido experiência, ao menos durante a formação inicial . No entanto, toda formação realizada na área da Actividade Física Adaptada deve observar o princípio da inclusão (Martin & Arregui, 2013; Sherrill, 1989; Omote, 2018). Este prolegómeno epistemológico basilar exige um desenho instrucional meticulosamente estruturado quanto à componente metodológica da formação de agentes desportivos em ambientes inclusivos (Oliveira et al., 2017; Omote; 2016; Rodrigues & Lima-Rodrigues, 2017; Silva, 2019).
Neste contexto, o presente estudo centrou-se na validação por especialistas de uma proposta metodológica com o intuito de promover atitudes positivas perante as pessoas com deficiência em cursos inclusivos de técnicos desportivos sem detrimento dos aspectos técnicos e tácticos da modalidade em questão. A proposta foi sustentada no conceito multidimensional da atitude proposto por Sherrill (1998), guiada pela teoria do contacto de Allport (1954) e enquadrada dentro do paradigma da inclusão proposto por Sassaki (2004). A este respeito, acredita-se que, o âmbito desportivo é um espaço ímpar que comporta várias similitudes com os pressupostos da teoria do contacto, como por exemplo: a comparticipação comum de objectivos; uma continua inter-relação entre participantes em ambientes de carácter lúdico e vivencial com o mesmo status dentro do grupo; expressão de numerosas e variadas emoções que permitem uma experiência conjunta profunda, genuína e íntima; etc. Como afirmam Rodrigues e Lima-Rodrigues (2017) muitas das estratégias que esperamos que os profissionais adoptem nunca foram experimentadas por eles como modelos eficazes e efectivos de aprendizagem. Assim, os autores reflectem a existência de um conjunto das estratégias de intervenção comummente utilizadas na área da Educação Especial, mas que os profissionais em formação nunca vivenciaram.
MATERIAL E MÉTODOS
1. Tipo de estudo
Realizou-se um estudo de carácter quantitativo e qualitativo com enfoque na validade de conteúdo de uma proposta metodológica a partir da valoração de um painel de especialistas.
De acordo com Souza, Alexandre e Guirardello (2017), a validade de conteúdo refere-se ao grau em que o conteúdo de um instrumento espelha adequadamente o constructo que está sendo medido, ou por outra, é o grau em que um instrumento inclui todos os itens necessários para representar o conceito a ser medido. Não existindo um teste estatístico específico para a validade de conteúdo, é usualmente utilizado a avaliação através dum comité de expertos. Neste sentido, Garrote y del Carmen Rojas (2015), apontam este método como uma forma de validação útil para verificar a fiabilidade de uma pesquisa, sendo entendida como a opinião informada de pessoas reconhecidas pelos outros como especialistas qualificados nessa área, e que podem oferecer informação, evidências, julgamentos e valorações (Dorantes-Nova, Hernández-Mosqueda, & Tobón-Tobón, 2016). Desta forma, a avaliação através de um painel de especialistas é um método de validação cada vez mais utilizado na investigação, e basicamente consiste em solicitar a uma série de pessoas o seu parecer sobre um aspecto específico, um objecto, um instrumento ou um material de ensino (Cabero & Llorente, 2013, p. 14, como citado em Garrote & del Carmen Rojas, 2015).
A este respeito, utilizou-se o método individual para a recolha de informação dos peritos o qual consiste na obtenção de informação de cada especialista sem que estejam em contacto entre eles. Este método evita, entre outros aspectos, as interferências de enfoques sectoriais, diminui a pressão grupo-elemento e elimina a influência de certo especialista pelo seu prestígio (Crespo, 2007).
No caso, a proposta metodológica que submeteu-se ao juízo de especialistas tinha como intuito a promoção de atitudes positivas perante as pessoas com deficiência em ambientes inclusivos, devendo ser aplicada em capacitações de técnicos desportivos. Dita proposta forma parte de um estudo maior, e está estruturada em duas fases, cada uma delas dividida em dois níveis, para os quais foram indicados os seus respectivos objectivos, estratégias e critérios de êxito. A Figura 1 apresenta a relação entre fases e níveis propostos.
De forma resumida, a intervenção propõe uma estrutura inicial baseada num ambiente distendido e motivador que facilite a participação/contribuição individual, o contacto entre os participantes e o conhecimento do grupo alvo (Fase I). Nesta fase inicial do contacto entre grupos, as estratégias apresentadas terão como norma, sempre que possível, a criação intencional de grupos inclusivos por parte do formador, com o intuito de encetar a aproximação dos participantes.
Uma vez criado o ambiente adequado e motivador para a prática são introduzidas actividades que fomentem directamente a acção pró-activa do participante (Fase II). Seguindo o conceito multidimensional de atitude apresentado, esta fase pretende reforçar as componentes cognitiva e afectiva protagonizadas pelo conhecimento e o contacto entre grupos ganhos durante a fase I, e motivar para um comportamento positivo perante a deficiência. Neste sentido, se durante a fase I o formador esteve atento à configuração inclusiva dos grupos de trabalho com poucas opções de liberdade para o formando, na fase II pretende-se o contrário, permitindo um máximo grau de autonomia dos participantes na conformação das equipes de trabalho.
Para a transição de um nível para o seguinte, foram estabelecidos critérios de êxito que determinam as exigências de realização e que garantem que os objectivos previstos foram alcançados. Os critérios referem-se a características observáveis que o participante deve apresentar, não existindo hierarquia entre eles, e portanto, sendo complementares e fortalecendo-se entre eles. Os critérios de êxito devem assegurar uma avaliação objectiva.
Embora cada nível possui os seus objectivos, estratégias e critérios de êxito próprios, a progressão entre níveis é flexível, tendo como desafio final a promoção positiva da atitude perante a deficiência no quotidiano, o que é trabalhado desde o início. Uma estrutura similar de intervenção, mas aplicada noutros contextos, pode ser advertida em Pardo (2008).
2. Participantes
De acordo com Garrote y del Carmen Rojas (2015), o conceito de especialista é bastante polissémico, pelo que deve-se ter em conta tanto o número adequado de peritos como os critérios de selecção dos mesmos. Em relação ao número apropriado de juízes, Urrutia Egaña, Barrios Araya, Gutiérrez Núñez, y Mayorga Camus (2014), indicam que dependendo dos autores, alguns indicam entre 25 e 30 e outros entre sete e 30, segundo os objectivos do estudo. Estes números são reforçados por Crespo (2007) que aponta um intervalo ideal entre 15 e 30 especialistas.
No que respeita aos procedimentos de selecção, os pesquisadores mais conservadores têm utilizado critérios estruturados como o Coeficiente de Competência do Especialista, já que parece não haver um consenso claro sobre as características que deve possuir um experto. Este coeficiente parte de pessoas inicialmente consideradas como especialistas, as quais devem auto valorizar-se indicando o seu nível de conhecimento sobre o objecto de investigação e as fontes que lhe permitem argumentar dito nível (Urrutia Egaña et al., 2014; Matos, 2015). No mesmo sentido, Crespo (2007) indica que o Coeficiente de competência a partir da auto-avaliação é a forma mais utilizada e confiável para estabelecer a competência dos peritos, pois a experiência mostra que pessoas com elevados valores na auto-avaliação erram menos nas suas predições.
Neste contexto, determinou-se o coeficiente de competência dos especialistas através de um questionário de auto-avaliação antes de submeter a proposta metodológica ao parecer dos expertos. Por tanto, seguindo a Crespo (2007), o questionário para a elaboração do coeficiente de competência dividiu-se em duas partes, estando a primeira relacionada à informação geral sobre o especialista; e a segunda, à sua auto-avaliação. Para o cálculo do coeficiente de competência (k) utilizou-se a seguinte fórmula: ; onde:
- Kc é o coeficiente de conhecimento ou informação que tem o especialista sobre o problema indicado. Assim, o Kc calculou-se pelo sumatório de ambos os dois aspectos arrolados no questionário, sendo obtido o resultado de cada um a partir da multiplicação por 0,05 da auto-valoração do especialista numa escala de 0 a 10.
- Ka é o coeficiente de argumentação ou fundamentação dos critérios do especialista, o qual obteve-se da soma dos pontos alcanzados a partir da classificação de cada ítem.
Após definir o coeficiente K, classificaram-se os especialistas segundo as suas competências a partir dos seguintes parámetros:
0.8 ≤ K ≤ 1 ⇒ competência alta
0.5 ≤ K < 0.8 ⇒ competência média
K < 0.5 ⇒ competência baixa
Para o recrutamento dos especialistas, idealizou-se uma lista de 35 elementos que, a priori, consideraram-se "expertos" na área da Actividade Física Adaptada à pessoa com deficiência, ora como pesquisadores, ora como pessoas experientes na prática. De seguida, contactou-se via email, telefonicamente ou em pessoa, cada um destes 35 elementos para pedir a sua colaboração na pesquisa. No entanto, dos 35 elementos contactados, apenas 21 responderam favoravelmente. A estas 21 pessoas, enviou-se-lhes uma carta formal de apresentação com informação sobre o estudo a ser desenvolvido e pedindo-lhes expressamente a sua participação no mesmo. Igualmente, foi enviado em anexo a esta carta um questionário para apurar o Coeficiente de Competência do Especialista. A Tabela 1 resume os resultados obtidos a partir do questionário para a elaboração do coeficiente de competência.
Como pode-se apreciar na Tabela 1, o coeficiente K indicou que dos 21 elementos, 17 foram classificados como especialistas com alta competência, e quatro como especialistas com competência média. No entanto, três destes especialistas estavam situados perto do limiar de alta competência (K= 0,75; 0,73 e 0,73). Em relação ao grau académico/formação, destaca-se o número de doutores e mestres, nove e quatro respectivamente, estando em menor número as qualificações mais práticas. No entanto, como indica Crespo (2007, p. 18), "às vezes, deslumbrados com as categorias científicas e de ensino dos candidatos a especialistas, descartamos verdadeiros especialistas", advertindo que as pessoas que trabalham no seu dia-a-dia com o objecto de estudo podem ter maior conhecimento de determinados conteúdos que o teórico que ficou afastado desta prática por demasiado tempo. Outros dados que completam a Tabela 1 referem-se ao país de trabalho dos expertos (Espanha, Portugal, Brasil e Moçambique), o tipo de deficiência com o qual tem maior contacto cada especialista e os anos de experiência nos assuntos de interesse para a pesquisa.
3. Procedimentos
Uma vez finalizada a selecção de especialistas, entregou-se-lhes um questionário de avaliação o qual estava dividido em três partes. A primeira pretendia contextualizar a proposta metodológica facilitando informação geral sobre a área e o tema da investigação, objectivo geral, grupo alvo, características da aplicação, variáveis e instrumentos para a recolha de dados. A explanação visava contextualizar a proposta submetida a valoração dos expertos dado que estava inserida numa pesquisa maior. Igualmente, o documento apresentava informação sobre as características do processo de validação, e as características gerais sobre o questionário para avaliação referenciando o número de perguntas, itens a classificar e o modo de fazê-lo. A segunda parte, estava dividida em três secções. A primeira secção tratava sobre o desenho da metodologia e compreendia 58 afirmações a serem respondidas com base numa escala Likert de 5 pontos para expressar maior ou menor acordo (1= de modo nenhum / 5= muitíssimo). A segunda secção requeria informação sobre a avaliação dos oito descritores da proposta: contexto da proposta; aplicabilidade; desenho; objectivos; estratégias; critérios de êxito; características e estimação do tempo; e resultados. Estes descritores deviam ser valorados com base numa escala Likert de 5 pontos para expressar a sua opinião (1. Não está clara e deve ser totalmente reformulada; 2. Pouco clara e precisa de modificações específicas; 3. Precisa de poucas modificações; 4. Está clara; e 5. Está muito clara). Por último, na terceira secção solicitava-se ao especialista que valorasse a possível validação da proposta metodológica através de três possíveis respostas (Não; Sim com mudanças; Sim). Finalmente, deu-se um espaço opcional para justificação ou realização de comentários.
Seguindo Dorantes-Nova et al. (2016), utilizou-se a técnica denominada "agregação individual" para iniciar o juizo de especialistas, a partir da qual obteve-se a informação de cada perito de forma individual, sendo realizada de forma anónima e confidêncial. Assim, os 21 expertos devolveram o questionário totalmente preenchido.
Após a recepção da informação, procedeu-se à análise dos resultados. Neste sentido, para a discussão de cada ítem e a sua posterior revisão ou aceitação, recorreu-se à estatística inferencial a partir de medidas de tendência central (média, moda, somatório), medidas de dispersão (desvio padrão, mínimo e máximo, coeficiente de variabilidade), e o coeficiente de concordância (W de Kendall).
A este respeito, o coeficiente de concordância "W de Kendall", utilizou-se para determinar o grau de concordância entre juizes, sendo esta uma prova não paramétrica usada como índice de divergência entre a concordância actual dos especialistas e a concordância perfeita ou máxima concordância. Neste sentido, o valor "1" indica a máxima concordância e pouca divergência de critérios entre os peritos. Segundo Dorantes-Nova et al. (2016) 0,5 seria o valor crítico, enquanto que Crespo (2007) afirma que valores entre 0,7 - 0,9 são positivos, e valores maiores de 0,9 apontariam uma concordância muito forte. No entanto, deve-se ter em conta que a pouca divergência entre especialistas não quer dizer que o critério analisado seja favorável, apenas que existe concordância entre os peritos, fazendo-se necessária uma avaliação pormenorizada da razão desta concordância. Por regra geral, quanto maior é o valor de Kendall mais forte é a associação que outorga validade e confiabilidade ao instrumento, para que possa ser usado para os fins para os quais foi desenhado (Dorantes-Nova et al., 2016).
Devido a que o coeficiente de Kendall refere-se à concordância entre juizes no geral, também calculou-se o coeficiente de variabilidade (CV) por ítem, indicando a dispersão relativa à média, onde uma maior percentagem da variação apontaria uma menor concordância entre os classificações dos especialistas. A este respeito, estabeleceu-se o seguinte critério:
CV < 15% ⇒ homogeneidade nas respostas dos juízes
15% ≤ CV ≤ 30% ⇒ dispersão média das respostas dos juízes
CV ˃30% ⇒ heterogeneidade nas respostas dos juízes
Em relação ao somatório, teve-se em conta as respostas dos juízes para aprovação ou necessidade de modificação de cada descritor da proposta. Assim, estabeleceu-se como critério:
84 ≤ ∑ ≤ 105 ⇒ Juízes concordam na aprovação
∑ < 84 ⇒ Juízes divergem / deve ser revisto
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos mediante o coeficiente de W de Kendall em relação ao grau de concordância externa para cada um dos oito descritores gerais da proposta metodológica, indicam que o nível é significativo entre os rangos, apresentando valores arredondados iguais ou superiores a 0,8. Portanto, estima-se uma óptima concordância entre as valorações dos 21 expertos, da qual pode-se inferir que os descritores são adequados à proposta, o que outorga validade e confiabilidade ao instrumento proposto (Tabela 2).
De uma forma pormenorizada, a Tabela 3 indica que cada um dos oito descritores gerais da proposta metodológica teve uma alta qualificação com relação à variabilidade. Assim, tanto a média como o sumatório acumulado, aproximam-se dos valores máximos. Igualmente, a moda apresenta o valor 5 ("está muito claro") para todos os descritores. No entanto, destaca-se o descritor 3 (desenho da proposta), com uma valoração ideal em todos os indicadores. Em relação ao CV, todos os valores estão abaixo de 10%, apontando à homogeneidade nas respostas dos juízes.
De acordo às pesquisas da área, uma elevada concordância entre juízes sobre os descritores gerais da proposta parece indicar uma adequada validade de conteúdo da metodologia (Dorantes-Nova, et al., 2016; Matos, 2015; Urrutia Egaña et al., 2014).
Relativamente à análise pormenorizada de cada descritor geral, a Tabela 4 apresenta resultados sobre o contexto relativo à metodológica. Pode-se apreciar que todos os itens têm uma avaliação positiva por parte dos juízes, sendo que os somatórios estão ao redor de 100, valor mínimo outorgado pelos juízes de 4 ("Muito"), moda com valor 5 ("Muitíssimo") e CV abaixo de 10%. Destaca-se o item 1.4, onde todos os expertos coincidiram em que a proposta metodológica é de interesse para as entidades dedicadas à formação no âmbito desportivo, ora dedicadas ao desporto adaptado ou não.
De facto, são numerosas as pesquisas que desenvolvem-se em relação ao conceito multidimensional da atitude, a aplicação da teoria do contacto no âmbito desportivo para a promoção de atitudes perante a deficiência, assim como o interesse no melhoramento do perfil de saída dos vários profissionais que actuam nesta área (Baptista, Santos, & Fumes, 2016; Kropp & Wolfe, 2018; Omote, 2018; Silva, 2019; e outros).
O segundo descritor fazia referência à possibilidade da metodologia proposta poder ser aplicada em diferentes contextos (Tabela 5). A este respeito, os resultados mantiveram uma resposta positiva por parte de todos os juízes, indicando uma amplitude mínima (entre 4 e 5), CV menor a 10%, e a moda situada em 5 para todos os itens. Embora com resultados positivos, o item 2.2 teve a menor pontuação no somatório (99), sugerindo que a metodologia proposta teria uma maior aplicabilidade em capacitações de nível básico do que nível intermédio.
Na actualidade, os vários métodos que concorrem para o fomento de uma atitude positiva perante a deficiência, são adaptados a diferentes contextos, o que afirma a versatilidade dos mesmos (Barney, 2011; Lund & Seekins, 2014; Perez-Tejero et al., 2012).
Em relação ao desenho da proposta metodológica, Tabela 6, os resultados apontam para uma adequada sequência entre fases (3.2), entre níveis (3.4), e entre fases e níveis (3.5), todos por unanimidade dos juízes (5±0,00). Ainda, os dados sugerem uma relação quase perfeita entre as fases, níveis e objectivos (3.6), assim como entre fases, níveis, objectivos específicos e estratégias formuladas (3.7); ambas com um somatório de 104 pontos e desvio padrão mínimo (4,95±0,218).
Em consequência, pode-se inferir que a estruturação lógica dos diferentes elementos que compõem o desenho, conferem uma adequada validade à metodologia. De acordo com Garrote y del Carmen Rojas (2015), a concordância entre juízes confirmam a relação entre o desenho do instrumento em processo de validação e a eficácia com relação ao objectivo para o qual foi criada a proposta.
Com relação aos objectivos apresentados na proposta - Tabela 7 - os juízes valoraram positivamente os diferentes itens afirmando por unanimidade (5±0,00) que se adequavam às necessidades do desenho da mesma (4.7). Igualmente, os expertos estiveram de acordo em que a metodologia incluía objectivos relacionados às três dimensões da atitude (4.4, 4.5 e 4.6) indicando valores acumulados acima de 100 e um CV inferior a 10%
De facto, um dos aspectos fundamentais da metodologia baseia-se no desenvolvimento das atitudes desde uma perspectiva multidimensional, a qual esta assente nos vários estudos específicos (Kim et al., 2015; Radlińska, Starkowska, Kożybska, Flaga-Gieruszyńska, & Karakiewicz, 2020; Wöhrle, Franke, & Kissgen, 2018). Neste sentido, a concordância entre juízes concorre para confirmar a validade da proposta em análise (Crespo, 2007; Galicia Alarcón, Balderrama Trápaga, & Edel Navarro, 2017; Souza et al., 2017).
Em relação às estratégias apresentadas na metodologia com o intuito de alcançar os diversos objectivos - Tabela 8 - os especialistas estiveram totalmente de acordo (5±0,00) em que contribuíam para o desenvolvimento das três dimensões da atitude (5.5), estando orientadas para o formando (5.6), e sendo de fácil implementação (5.11). O resto dos itens, mesmo com uma maior variabilidade entre as opiniões dos expertos (CV abaixo de 10%), aceitaram-se como dentro dos parâmetros de homogeneidade, apresentando uma moda igual a cinco. No entanto, em relação ao facto das estratégias serem motivadoras para os formandos (5.9), os juízes apresentaram um somatório acumulado menor (97), com um coeficiente de variabilidade maior (10,77%). Neste sentido, pode-se deduzir que mesmo sendo aceite como adequado, deve-se envidar esforços na melhora das estratégias como forma a incrementar a motivação do formando dentro da proposta. Similarmente, houve divergências entre os juízes em relação à necessidade de utilizar material específico para a implementação das estratégias (5.12), tendo como desvio 4,76±0,539 e CV 11,32%. Contudo, a origem desta divergência entre juízes poderia estar relacionada à construção frásica indicando um valor negativo. Porém, o item foi considerado dentro dos parâmetros de homogeneidade pelos critérios estabelecidos nos procedimentos da validação.
Deve-se destacar que um dos aspectos essenciais da proposta está relacionada às estratégias utilizadas para o desenvolvimento de atitudes positivas nos participantes, as quais devem contribuir para uma experiência eficaz de aprendizagem (Rodrigues & Lima-Rodrigues, 2017). Neste sentido, a concordância entre juízes sugere uma adequada validade em relação ao conteúdo avaliado (Dorantes-Nova, et al., 2016; Galicia Alarcón et al., 2017; Urrutia Egaña et al., 2014).
Quanto aos critérios de êxito estabelecidos na proposta para verificar o sucesso de cada nível ou fase e a sua progressão dentro do modelo - Tabela 9 - os expertos concordaram na idoniedade dos mesmos. Portanto, os resultados mostraram um sumatório igual ou superior a 100, com um CV inferior a 10%; o que sugere uma adequada validade como continuação dos dados obtidos em relação ao desenho, objectivos e estratégias (descritores 3, 4 e 5).
Com base nas características da proposta e o tempo estimado para a sua aplicação - Tabela 10 - os juízes apontaram como pertinente a duração dedicada tanto à parte presencial, quanto ao trabalho independente. Igualmente consideraram que o tempo total investido na capacitação estava dentro dos parâmetros normalmente dedicados à realização de formações na área do desporto (moda igual a 5, com somatório acumulado próximo a 100, e CV inferior a 10%). Contudo, houve divergências em relação à proporção entre participantes com e sem deficiência (7.2) para efectivar a convivência entre grupos como base da teoria do contacto. Porém, esta discrepância entre juízes não ultrapassou os valores de referência estabelecidos nos procedimentos para a aprovação do item (somatório superior a 84 e CV inferior a 15%).
Como indicam Galicia Alarcón et al. (2017), a disparidade de opiniões entre expertos, enriquece o processo e ajuda a encontrar debilidades e forças na proposta. Isto permite uma análise mais aprofundada e ajuda na tomada de decisões em relação ao que deve ser modificado, integrado ou eliminado (Batista et al., 2016; Matos, 2015).
O último descritor estava relacionado aos resultados que poderiam ser esperados a partir da aplicação da metodologia (Tabela 11). Neste sentido, todos os expertos foram unânimes (5±0,00) ao considerar que a proposta contribuía para a melhora da atitude nas suas dimensões cognitiva, afectiva e comportamental (8.1, 8.2 e 8.3). Igualmente, houve homogeneidade na avaliação dos juízes relativamente ao impacto positivo da metodologia nas atitudes dos formandos a curto e longo prazo. Destaca-se, que segundo a opinião dos especialistas, a proposta contribui para a melhora do perfil de saída dos formandos (8.4) em aspectos atitudinais perante as pessoas com deficiência, sem detrimento dos conteúdos específicos técnico / tácticos da modalidade desportiva na qual se aplique (8.8). Assim, o somatório de cada um dos itens ultrapassa o valor 100, com um coeficiente de variabilidade inferior a 8%.
Neste contexto, estudos realizados tendo em conta a facilitação de conhecimento em relação ao grupo alvo da atitude, afirmam que as pessoas que participam em programas de prática desportiva onde se facilita informação sobre a deficiência, os desportos adaptados e a sua prática, apresentam uma atitude mais positiva perante a inclusão das pessoas com deficiência (Pérez-Tejero et al., 2012; Oliveira et al., 2017; Omote, 2018; Silva, 2019). Igualmente, pesquisas indicam que a inclusão teve um efeito positivo nos participantes, não observando efeitos negativos no programa (Branco, 2012; Lund & Seekins, 2014). Com relação ao desenvolvimento das diferentes dimensões da atitude, a concordância entre juízes nos vários itens (4.4, 4.5, 4.6, 5.5, 8.1, 8.2, e 8.3), sugere que os diferentes descritores desenvolvem a mesma característica apresentando uma apropriada homogeneidade (Souza, 2017).
Finalmente, a proposta metodológica para a promoção de atitudes positivas perante a pessoa com deficiência através de capacitações desportivas em ambientes inclusivos foi validada pelos especialistas com 21 votos a favor e nenhum em contra.
A este respeito, a realização de um questionário para apurar o Coeficiente de Competência do Especialista (Crespo, 2007; Galicia Alarcon et al., 2017; Matos; 2015; Urrutia Egaña et al., 2014), foi um procedimento essencial para dar validade aos resultados, já que autores como Dorantes-Nova et al. (2016) indicam que sendo a validação por expertos relativamente nova, alguns especialistas recrutados podem não possuir as aptidões necessárias para realizar com sucesso este tipo de pesquisa.
CONCLUSÕES
No âmbito da promoção das Actividades Físicas para as pessoas com deficiência, acredita-se que seja necessário munir o profissional em formação das ferramentas atitudinais adequadas para o desempenho das suas actividades. Neste contexto, idealizou-se uma proposta metodológica a ser aplicada em ambientes inclusivos durante as capacitações de técnicos desportivos em Moçambique, a qual foi submetida com éxito à validação por especialistas. Durante este processo, os expertos analisaram vários descritores, entre eles, o contexto da proposta e a sua aplicabilidade; o desenho, objectivos e estratégias da metodologia; assim como os critérios de êxito, a estimação do tempo para a sua implementação e os resultados esperados. Finalmente, pode-se concluir que o conjunto de especialistas consideraram adequada a proposta metodológica, sendo validada em relação ao conteúdo.
Cabe destacar que a metodologia proposta não só é aplicável para capacitações de curta duração na área do desporto, podendo adapta-se a outros contextos como o educativo, através das aulas de Educação Física. De forma similar, embora a proposta centrou-se no contexto da deficiência, pela sua estrutura pode ser adaptada a outros grupos populacionais em risco de exclusão.
Ainda, um aspecto favorável da proposta metodológica é que promove as atitudes sem detrimento dos conteúdos teóricos e prácticos a serem desenvolvidos, podendo ser realizada de forma implícita em qualquer tipo de capacitação / formação.
APLICAÇÕES PRÁTICAS
Desde uma perspectiva prática, a metodologia ora validada pode ser aplicada nos diferentes contextos que pretendam fomentar a inclusão de pessoas com deficiência a partir do desenvolvimento de atitudes positivas. Desta forma, a metodologia pode ser adaptada tanto no âmbito da recreação e do desporto inclusivo, como no contorno da educação inclusiva. Neste sentido, a proposta pode ser utilizada em capacitações de qualquer modalidade desportiva adaptada (p. ex: cursos de voleibol sentado, basquetebol em cadeira de rodas, parabadminton, etc.) assim como em actividades práticas de carácter recreativo (p. ex: acampamentos, multiaventuras, turismo, etc.) ou mesmo durante as aulas de Educação Física nas quais estejam inseridos alunos com Necessidades Educativas Especiais. Cabe destacar que a metodologia é o suficientemente simples como para ser utilizada com éxito por qualquer animador, formador, técnico ou professor.