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Enfermería Global

versão On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 no.51 Murcia Jul. 2018  Epub 01-Jul-2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.3.289541 

Originais

Ansiedade em técnicos de enfermagem da atenção básica

Bruna Maria Alves Fernandes1  , Gabriel Chaves Neto2  , Poliana Rafaela dos Santos Araújo3  , Flávia Maiele Pedroza Trajano4  , João Euclides Fernandes Braga5 

1 Licenciada en Enfermería por la Universidad Federal da Paraíba. Miembro del Grupo de Investigación y Extensión Sinapsis y Ansiedad- CCS/UFPB. Brasil. bruna_2292fernandes@hotmail.com

2 Alumno de doctorado por el Programa de Postgraduación en Desarrollo e Innovación Tecnológica PPGDITM/UFPB. Licenciada em Enfermería por la Universidad Federal da Paraíba. Miembro del Grupo de Investigación y Extensión Sinapsis y Ansiedad - CCS/UFPB. Brasil.

3 Alumna de Máster del Programa de Postgraduación en Neurociencia Cognitiva Comportamiento - PPGNeC/UFPB. Licenciada en Enfermería por la Universidad Federal da Paraíba. Miembro del Grupo de Investigación y Extensión Sinapsis y Ansiedad- CCS/UFPB.Brasil.

4 Alumna de Doctorado del Programa de Postgraduación Modelos y Decisión en Salud PPGMDS/UFPB. Licenciada en Enfermería por la Universidad Federal de Paraíba. Miembro del Grupo de Investigación y Extensión Sinapsis y Ansiedad - CCS/UFPB. Brasil.

5 Doctor en Farmacología por el Programa de Postgraduación en Productos Naturales y Sintéticos Bioactivos de la Universidad Federal de Paraíba. Profesor de la Universidad Federal de Paraíba. Coordinador del Grupo de Investigación y Extensión Sinapsis y Ansiedad - CCS/UFPB. Brasil.

RESUMO:

Objetivo:

Avaliar o nível de ansiedade em técnicos de enfermagem da Estratégia de Saúde da Família, enfatizando os aspectos determinantes para o surgimento da ansiedade.

Método:

Estudo de característica descritiva, transversal, abordagem quantitativa, constituído por 28 Técnicos de Enfermagem, utilizando o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) como instrumento para a coleta de dados.

Resultados:

8 técnicos de enfermagem apresentaram níveis de alta ansiedade e 20 de baixa ansiedade. Houve um aumento no escore no IDATE-E no momento durante a realização das atividades, com diferença estatística em relação ao momento antes. A baixa remuneração, sobrecarga de trabalho e desvalorização profissional foram apontados como fatores responsáveis por provocar o aparecimento da ansiedade no âmbito de trabalho.

Conclusão:

O estudo evidencia uma predominância da baixa ansiedade entre a população estudada, porém, foi possível detectar fatores desencadeadores da ansiedade, apontando de que tais aspectos podem vir a prejudicar a peculiaridade da assistência ao usuário.

Palavras chave: Ansiedade; Atenção Básica; Técnicos de Enfermagem

INTRODUÇÃO

A Estratégia de Saúde da Família (ESF), porta de entrada do Sistema Único de Saúde, que corresponde aos serviços da Atenção Básica (AB), tem como objetivo reorganizar a saúde primária com atenção integral ao usuário voltada para o individual e coletivo, ofertando serviços de prevenção à doenças, promoção da saúde e reabilitação frente a determinado problema através de um diagnóstico preciso. A ESF trabalha em conjunto com a vigilância sanitária e epidemiológica para minimizar os danos, promover e proteger a saúde da população de acordo com suas necessidades, além de realizar o planejamento familiar e desenvolver ações de educação em saúde1)(2)(3.

A equipe de enfermagem que atua na AB é composta por três tipos de profissionais, o enfermeiro, técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem, que devem trabalhar de forma coletiva a fim de atingir as metas exigidas pelo governo com o objetivo de manter e produzir saúde4.

O Técnico de Enfermagem realiza funções primordiais para o funcionamento da UBS e que exigem um grande envolvimento, dentre elas pode-se destacar: fazer parte de atividades na unidade e se necessário em domicílio ou em ambientes comunitários; desenvolver ações programadas e de acordo com a demanda; executar práticas de educação em saúde de acordo com planejamento; se mostrar presente na administração dos recursos necessários para a unidade; e colaborar com a educação permanente2)(3.

A saúde do trabalhador vem se tornando uma preocupação constante devido aos riscos ocupacionais que estão expostos. Os profissionais da saúde, em especial os de enfermagem, por atuarem em contato direto com a população estão mais propensos a desenvolver doenças, sejam físicas ou emocionais. A rotina que estes enfrentam envolve diversos fatores desgastantes, tais como, a cobrança da população, a falha do serviço ou da equipe, a falta de recursos materiais e humanos, as condições do ambiente e a exacerbação do ritmo de trabalho, entre outros, fazendo com que estes profissionais exijam mais de si, provocando cansaço do corpo e da mente, e consequentemente viabilizando a intercorrência de agravos à saúde e ao desenvolvimento de sentimentos como angústia e ansiedade5)(6.

Os transtornos da ansiedade vêm se mostrando presentes com frequência na atualidade, apesar de já ser um assunto relatado na história. A ansiedade é um estado psíquico que se caracteriza por apresentar oscilações emocionais em que componentes fisiológicos estão presentes sem conjunto com os psicológicos afetando o comportamento humano em determinadas situações. É destacada como normal à medida que a reação emitida se torna harmônica ao estímulo desencadeador da aflição. Passa a ser patológica a partir do momento em que a circunstância que está ocasionando é desproporcional, ou quando não há um motivo ao qual se direcione, tornando-se prejudicial, caracterizando-se em um transtorno7)(8.

A ansiedade pode ser classificada como ansiedade-traço e ansiedade-estado. A primeira trata-se da personalidade, sendo então estável, a segunda refere-se ao estado emocional, que sofre alterações no tempo e engloba os sentimentos de tensão, nervosismo, e preocupações com variações de acordo com a intensidade do perigo identificado9.

O presente estudo teve como objetivo avaliar o nível de ansiedade em profissionais Técnicos de Enfermagem da ESF, enfatizando os principais aspectos determinantes para o surgimento de ansiedade e sua relação com as variáveis: idade e tempo de serviço.

MATERIAL E MÉTODOS

Delineamento do estudo, população e amostra

Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal e abordagem quantitativa, desenvolvido com Técnicos de Enfermagem integrantes da ESF das Unidades de Saúde da Família de um Distrito Sanitário do município de João Pessoa- PB. A amostra foi constituída por 28 Técnicos de Enfermagem que aceitaram participar do estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e atendiam aos critérios de elegibilidade: Ser Técnico de Enfermagem, atuar nas ESF há mais de dois meses, não fazer uso de substância ansiolítica, e não está sendo submetido a quaisquer tipos de terapêutica para ansiedade.

Instrumentos para coleta dos dados

Inicialmente foi realizada a aplicação de um questionário semiestruturado, elaborado pelos pesquisadores, a fim de caracterizar a amostra e sua relação com as variáveis do estudo. O questionário contemplou questões direcionadas a investigar a relação entre a ansiedade apresentada pelos Técnicos de Enfermagem e as variáveis: faixa etária e tempo de serviço.

Para avaliação da Ansiedade dos Técnicos de Enfermagem, utilizou-se o Inventário de Ansiedade Traço- Estado (IDATE), que consiste em duas sub-escalas de auto avaliação: o IDATE-Traço (IDATE-T) e o IDATE-Estado (IDATE-E).

O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), elaborado em 1970 por Spielbergert al10, é um instrumento traduzido e validado para a língua portuguesa por Biaggio e colaboradores no ano de 197911. O IDATE-T avalia a reação do indivíduo em situações de perigo, e, portanto, permite o conhecimento do traço de ansiedade. O IDATE-E avalia a ansiedade em um momento específico, apresentando variações de acordo com a situação enfrentada. São compostos por 20 perguntas, com quatro graus de intensidade possíveis de resposta, que variam de 1 a 4, os escores somados por cada voluntário oscilam entre 20 e 80 pontos. Os escores apresentados pela população avaliada abaixo de 40 pontos foram designados ao grupo julgado com baixa ansiedade (BA) e os que obtiveram escores acima de 41 foram designados ao grupo de alta ansiedade (AA)12.

Procedimentos para coleta dos dados

No primeiro momento foi aplicado o questionário semiestruturado e o IDATE-T, para a avaliação do nível de ansiedade do Técnico de Enfermagem. O IDATE-E foi utilizado durante os três momentos do desenvolvimento do processo de trabalho:

1º momento: antes do início de suas atividades assistenciais, quando o técnico de enfermagem se prepara para inicializar as tarefas de cuidado.

2º momento: duas horas após o início das atividades, tempo considerado intermediário no decurso da jornada de um turno de trabalho.

3º momento: quinze minutos após a finalização das atividades dos participantes da investigação.

Após a mensuração do IDATE-E no ultimo momento citado, foi aplicado o questionário sobre os fatores considerados por estes profissionais como desencadeadores de ansiedade.

Análise estatística

Para análise estatística descritiva e analítica dos dados utilizou-se o programa GraphPadPrism (version 4.00, GraphPad Software Inc., San Diego, CA, USA). Foi realizado o teste de Kruskal-Wallis e pós-teste de Dunns para as variáveis não paramétricas. Os resultados foram considerados significativos quando apresentaram um nível de significância de 95% (P<0,05).

Aspectos éticos

A pesquisa teve aprovação a partir da CAAE nº 47766815.9.0000.5188 do comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, atendendo à Resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a realização de pesquisas envolvendo seres humanos.

RESULTADOS

Os resultados obtidos referem-se aos níveis de ansiedade-traço e ansiedade-estado mensurados através dos instrumentos IDATE T e IDATE E aplicados aos 28 técnicos de enfermagem que atuam nas ESF’s em um distrito sanitário do município de João Pessoa-PB.

Ao analisarmos o nível de ansiedade-traço, verificou-se uma mediana no valor de 30 pontos, apresentado por estes profissionais. Quanto a distribuição dos níveis de baixa ansiedade (BA) e alta ansiedade (AA), constatou-se que 8 técnicos de enfermagem apresentaram alto nível de ansiedade, representando 28,57% da amostra, enquanto que 20 sujeitos foram categorizados com níveis baixos de ansiedade 71,43%, predominando a BA, conforme Tabela 1.

Tabela 1: Classificação dos Técnicos de Enfermagem segundo o nível de ansiedade traço e mediana do escore do IDATE-T. João Pessoa - 2016. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao relacionar a mediana do IDATE-T com a faixa etária dos profissionais, observa-se que a BA foi predominante em todas as faixa etárias. Entre os Técnicos de Enfermagem que tinha mais de 51 anos, apenas um único sujeito apresentou AA. O maior valor da mediana identificado, do grupo categorizado com AA, foi o da faixa etária de 31 a 40 anos com valor de 56 pontos, conforme representados na Tabela 2.

Quando apresentado a mediana do traço de ansiedade conforme o tempo de serviço, pode-se identificar que o grupo de até 5 anos de tempo de serviço possui uma maior concentração de sujeitos classificados com AA, enquanto nos demais tempo de serviço delimitados, predomina a BA.

Tabela 2 Mediana do IDATE-T distribuídos segundo características sociodemográficas dos Técnicos de Enfermagem e conforme níveis de ansiedade apresentado. João Pessoa, 2016. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Na avaliação do nível de ansiedade-estado, foram analisadas as medianas de escore do IDATE-E mensuradas nos momentos do processo de trabalho: antes do início da jornada de trabalho (primeiro momento), durante a jornada de trabalho (segundo momento) e após o término da jornada de trabalho (terceiro momento) como demonstra a Tabela 3. No primeiro momento os profissionais apresentaram uma mediana do escore de 23pontos (Min: 20; Max: 47), durante o trabalho, o valor da mediana aumentou para 31 pontos (Min: 21; Max: 54), e ao final das atividades a mediana foi de 29 pontos (Min: 20; Max: 41), demonstrando uma diferença significativa entre os momentos antes e durante o trabalho do profissional (p-valor - 0,0151).

Tabela 3 Comparação de Medianas (mínima e máxima) de escores do IDATE-E entre os momentos antes durante e final das atividades dos profissionais. João Pessoa, 2016. 

Fonte: Dados da pesquisa. Teste estatístico Kruskal-Wallis e pós-teste de Dunns. *Significativamente diferente no momento Antes.

Os Técnicos de Enfermagem elencaram alguns fatores considerados desencadeadores de ansiedade no âmbito do processo de trabalho (Tabela 4). Cada profissional teve autonomia concedida para citar os fatores que considerassem pertinentes.

Sendo assim, pode-se ressaltar: a baixa remuneração, seguido de sobrecarga de trabalho, desvalorização do profissional, e estrutura física comprometida, ainda foram citados demanda excessiva, excesso de burocracia e outros.

Tabela 4 Disposição dos fatores designados por técnicos de enfermagem como desencadeadores da ansiedade no ambiente de trabalho. João Pessoa, 2016. 

Fonte: Dados da pesquisa.

DISCUSSÃO

O presente estudo demonstrou que de acordo com os parâmetros estipulados para classificação do grau de ansiedade e conforme análise dos resultados dos escores do IDATE-T, os Técnicos de Enfermagem foram classificados com baixa ansiedade. Porém, os profissionais que foram categorizados com alto nível de ansiedade, apresentaram um resultado considerado relevante ao olhar clínico, tendo em vista os efeitos que os agravos à saúde psíquica desses profissionais podem acarretar em suas vidas pessoais, atividades cotidianas, no âmbito de trabalho, nos seus relacionamentos sociais e interprofissionais, como também na assistência prestada à comunidade13.

Tais resultados corroboram com achados de um estudo que avaliou17 profissionais da saúde, e destes, apenas 4 apresentaram alto nível de ansiedade, porém, foi um resultado considerado significativo pelo autor, tendo em vista as possíveis consequências oriundas da ansiedade patológica na vida pessoal e profissional destes indivíduos14. Em pesquisa realizada, 2% dos profissionais apontaram alto nível de ansiedade, os autores relatam que esse dado é identificado como elevado, já que 25% desses indivíduos podem adquirir como diagnóstico principal o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)15.

Os resultados apresentados em um estudo demonstram que os indivíduos com alteração nos níveis de ansiedade são encontrados desde a graduação em enfermagem. Estes demonstraram que 12% da amostra estudada apresentavam ansiedade grave, destacando a importância de identificar e tratar esse problema, uma vez que este pode afetar de forma significativa a formação da identidade do estudante como também a sua qualidade de vida16.

O indivíduo diagnosticado com TAG tem pouca viabilidade de uma remissão espontânea, podendo haver um aumento na probabilidade deste transtorno se tornar crônico, ou até mesmo provocar o aparecimento de novos transtornos psiquiátricos, caso não tenha um tratamento eficaz13. Em estudo se constatou que essas considerações acarretam não apenas em prejuízos à saúde do trabalhador, mas também à saúde da população, pois estes sofrem em consequências oriundas do sofrimento dos profissionais, tornando-os desta forma disseminadores da ansiedade17.

Quando confrontado os resultados dos escores do IDATE-T com a faixa etária, pode-se observar que independente da compatibilidade nos valores das medianas, os profissionais mais jovens tendem a apresentar um perfil ansioso, pois, apresentaram o mais alto nível de ansiedade, em relação aos profissionais com maior idade.

Tais resultados corroboram com achados em estudos, que evidenciam que os profissionais mais jovens estão mais propensos a manifestarem a ansiedade, em relação aos trabalhadores com idade mais avançada18. Pesquisa realizada apresentou que os profissionais de enfermagem com idade avançada, revelavam-se satisfeitos e realizados pessoalmente, apresentando baixos níveis de stress emocional e por este motivo, os níveis de ansiedade encontravam-se baixos19.

Um profissional de enfermagem quando se torna obsoleto desenvolve debilitação de força física e déficit no trabalho prestado, em decorrência disto a qualidade da assistência dispensada ao paciente sofre um impacto direto. Algumas medidas devem ser tomadas em relação a estes profissionais, tais como: reconhecimento no trabalho, horários de trabalho favoráveis, incentivos econômico, empregos menos extenuantes e medidas ergonômicas no ambiente de trabalho20.

Ao confrontar os resultados dos escores do IDATE-T com o tempo de serviço, pode-se observar que os profissionais que possuem um tem pode serviço de até 5 anos, apresentaram um nível de ansiedade mais alto, já os que apresentam tempo de serviço superior, predominaram com baixo nível de ansiedade. Tais desfechos corroboram com os resultados de estudo, no qual afirma que os profissionais que apresentaram maiores valores do nível de ansiedade são os que possuem um tempo de experiência profissional inferior a cinco anos. Os autores relatam que tal episódio pode estar relacionado à atual situação da profissão de enfermagem (maior instabilidade profissional, particularidades dos contratos, entre outros), de assumir novas responsabilidades frente uma maior insegurança de suas ações, tendo em vista a escassa experiência profissional e elevada expectativa pelo ingresso no mercado de trabalho19.

Ao analisar o nível de ansiedade-estado a partir dos resultados dos escores do IDATE-E, durante os três momentos do estudo, antes, durante e ao final das atividades dos Técnicos de Enfermagem, verificou-se que entre o primeiro e o segundo momento, houve uma variação significativa em nível estatístico. Ao iniciar as atividades os profissionais apresentaram um baixo nível de ansiedade, em seguida, durante o trabalho, esse nível aumentou, superou o momento anterior. Posteriormente, ao final das atividades a ansiedade teve uma redução. Foi identificado que é durante o processo de trabalho que os profissionais apresentaram um nível de ansiedade mais elevado.

Em estudo realizado, os profissionais de enfermagem apresentaram um alto nível de ansiedade, durante o processo de trabalho14.Retrata que o impacto do exercício profissional durante o turno vem provocando transtornos na qualidade de vida, nos ritmos biológicos e na saúde física e psíquica desses trabalhadores, gerando obstáculos na harmonização da vida familiar e social19.

O stress durante a jornada de trabalho está associado às circunstâncias e ambientes desfavoráveis para desenvolvimento das atribuições do profissional de enfermagem. Por muitas vezes estes trabalhadores ao se depararem com a dor do próximo e a angústia dos familiares tomam para si uma grande sobrecarga emocional, e ao prestarem sua assistência a estes indivíduos terminam negligenciando a sua própria saúde, prejudicando consequentemente, sua vida social e o ambiente laboral17)(21.

Embora não haja variação com grau de significância estatística (valor de p< 0,05) entre o segundo e terceiro momento, não se pode passar por despercebido a existência de uma significância clínica no decréscimo da ansiedade presente entre esses momentos, fator identificado quando confrontados os resultados dos escores do IDATE-E. O retorno ao lar ou até mesmo a ida a outros locais de agrado pessoal, no final da jornada de trabalho dos profissionais, podem estar associados com o fato do nível de ansiedade ser menos intenso após o turno, indicando assim, a possibilidade deste aspecto funcionar como um princípio redutor da ansiedade22)(17.

Quanto aos fatores destacados pelos profissionais como desencadeadores da ansiedade no âmbito de trabalho, pode-se verificara exposição diária a circunstâncias de alta exigência emocional que os profissionais de enfermagem estão submetidos, ocasionando o esgotamento físico e mental. Fatores como excesso de burocracia, sobrecarga de trabalho e demanda excessiva, também foram postos em ênfase pelos profissionais da Atenção Básica em pesquisa realizada14. As demandas do meio profissional ultrapassam as capacidades físicas ou psíquicas do trabalhador, gerando disfunção na saúde destes indivíduos23.

Auto buscaram identificar fatores favoráveis e impeditivos a satisfação dos Técnicos de Enfermagem no âmbito de trabalho e de acordo com os seus resultados os fatores impeditivos se sobrepuseram aos favoráveis, gerando assim barreiras para o auto cuidado e consequentemente trazendo desmotivação e danos para a saúde dos trabalhadores20.

De acordo com estudo realizado, os baixos salários aparecem como um aspecto desmotivador ao trabalhador, no qual torna este fator significativo do ponto de vista da saúde mental. Em seus resultados, foi constatado que a prevalência de episódios de ansiedade está mais relacionada com a renda mensal, no tempo em que a variável da renda diminuía, os profissionais mostravam-se mais ansiosos18. A sobrecarga de trabalho é a categoria mais citada pelos profissionais de enfermagem, apontando que 47,6% destes sentem-se sobrecarregados em relação às atividades que exercem no seu cotidiano23.

A valorização do Técnico de Enfermagem e o reconhecimento pelo seu trabalho executado são de grande significância, visto que o profissional se sentirá motivado a exercer suas atividades com qualidade, bem como irá estimulá-lo na busca de um cuidado hu manizado, e na ascendência de sua autoestima, acarretando desta forma na diminuição do nível de ansiedade17.

O cuidado ao ser humano é a essência e especificidade da enfermagem, princípio primordial para a equipe que compõe esta profissão. No entanto, frequentemente esses trabalhadores estão suscetíveis às condições impróprias de trabalho, tais como: jornadas prolongadas, excesso de tarefas, desvalorização do profissional, a insuficiência de recursos, baixa remuneração, entre outros. Cotidianamente esses aspectos vêm lesando o profissional, induzindo-o a desempenhar seu serviço mecanicamente e inibindo o desenvolvimento de suas atribuições com competência e habilidade, portanto, refletindo diretamente na assistência prestada ao usuário e a comunidade como um todo17)(19.

CONCLUSÕES

O estudo evidencia que houve uma predominância do baixo nível de ansiedade-traço entre a população estudada, porém com um número relevante de indivíduos com alta ansiedade. Verificou-se que de acordo com os escores do IDATE-E, houve um aumento significativo no nível de ansiedade-estado durante o processo de trabalho dos técnicos de enfermagem, caracterizando como um momento ansiogênico.

Os fatores destacados pelos técnicos de enfermagem como desencadeadores da ansiedade podem estar correlacionados com os altos níveis de ansiedade apontados nos escores do IDATE, possibilitando a hipótese de que tais aspectos podem vir a prejudicar a assistência ao usuário e a comunidade.

À vista destes desfechos, nota-se a necessidade de uma maior atenção proveniente dos supervisores para com estes profissionais, permitindo-os a garantia de condições de trabalho favoráveis e a implementação de estratégias não farmacológicas no meio empregatício destes com perfis ansiogênicos, tais como, rodas de Terapia Comunitária Integrativa (TCI), ginástica laboral, musicoterapia, entre outros, como métodos de enfrentamento dessa ansiedade.

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Recebido: 23 de Março de 2017; Aceito: 30 de Abril de 2017

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