SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 número52Grau de dependência de pacientes internados em unidades cirúrgicas de um hospital universitárioAdministración de corticoides a los pacientes con sepsis grave y mejora de su mortalidad intrahospitalaria: Una revisión sistemática índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Em processo de indexaçãoCitado por Google
  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO
  • Em processo de indexaçãoSimilares em Google

Compartilhar


Enfermería Global

versão On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.17 no.52 Murcia Out. 2018  Epub 01-Out-2018

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.17.4.307301 

Revisões

Os fatores estressores em pacientes adultos internados em uma unidade de terapia intensiva: uma revisão integrativa

Letice Dalla Lana1  , Paloma Stumpf Mittmann2  , Catherina Isdra Moszkowicz3  , Carla Chaves Pereira4 

1 Doctoranda en Enfermería por la Universidad Federal do Rio Grande do Sul, RS-l. Docente de la Universidad Federal do Pampa, Uruguaiana, Rio Grande do Sul, RS- Brasil. leticedl@hotmail.com

2 Enfermera del Hospital General de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul- RS Brasil

3 Enfermera Graduada por la Universidad Federal do Rio Grande do Sul-RS. Brasil..

4 Enfermera del Hospital Universitário de Canoas, Canoas, Rio Grande do Sul -RS. Brasil.

RESUMO:

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura que objetiva analisar as evidências disponíveis acerca dos fatores estressores relatados pelos pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva (UTI) adulto. A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados LILACS, Scielo, PubMed e BDENF publicados entre o período de 1997 a 2015. Foram incluídos os artigos que abordaram a temática do estudo em relação a questão norteadora, nos idiomas português e espanhol. Dos 13 artigos selecionados, foram identificados 40 fatores estressores, categorizados em ambiental, fisiológico, emocional/psicológico e social, divididas em 16 subcategorias: situações desfavoráveis, ruídos, termorregulação ineficaz, padrão de sono perturbado, mobilidade no leito prejudicada, comunicação verbal prejudicada, dor, falta de atenção/individualidade, ansiedade, medo, perda de autonomia, processo familiar interrompido, interação social prejudicada, impotência, sentimento de impotência e enfrentamento familiar comprometido. Constata-se que o tema é relevante, porém, ainda incipiente tendo em vista as lacunas de cuidados de enfermagem a serem implementados. Fica evidente que os fatores estressores quando identificados, avaliados e diagnosticados pelos enfermeiros, podem ser transcritos como cuidados de enfermagem num plano de cuidado individual ao paciente, viabilizando o processo de recuperação e reabilitação durante a hospitalização na UTI.

Descritores: Cuidados de Enfermagem; Transtornos de Estresse Pós-Traumáticos; Estresse Fisiológico; Cuidados Críticos; Unidades de Terapia Intensiva; Estresse Psicológico

INTRODUÇÃO

A tecnologia altamente especializada e complexa utilizada nas unidades de terapia intensiva (UTI), ao proporcionar o monitoramento contínuo do contexto de saúde do paciente1 , possibilita o aumento da sobrevida dos pacientes com quadro clínico crítico e instável2 , porém eleva os fatores desencadeantes do estresse entre os profissionais da saúde, pacientes internados e família3 .

A resposta ao estresse pelo paciente ou familiares está relacionada com o tipo, intensidade e duração dos fatores desencadeantes, pois conduz a alterações de ordem psicológica como medo, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, bem como instabilidades fisiológicas, como, por exemplo, predisposição a infecções e retardo de cicatrização de feridas operatórias4 . Esses fatores estressores ainda ficam acentuados quando os pacientes com idade superior a 18 anos se internam via emergência, pois na maioria das vezes não estão preparados para o processo de adoecimento e hospitalização, que irá comprometer o percurso de vida com o isolamento social5 .

Dentre os fatores citados pelos pacientes, destacam-se os aspectos estruturais, como a quantidade de equipamentos tecnológicos que o paciente utiliza; organizacionais da assistência, que demandam controle rigoroso e atenção do paciente continuamente; sociais, causados pelo afastamento da família, trabalho e atividades diárias com a família no ambiente habitual; e, não menos importantes, os fatores psicológicos, como o risco de incapacidade e morte6)(7)(8 .

A enfermagem, inserida numa UTI adulto, tem como papel essencial diagnosticar, intervir e buscar resoluções frente aos fatores estressores, já que um dos seus objetivos é o cuidado humanizado e integral, que impulsiona o estabelecimento de vínculos afetivos e minimiza sentimentos desagradáveis nos indivíduos internados e família3 . A intervenção de enfermagem é qualquer tratamento, baseado no julgamento e no conhecimento clínico que seja realizado por um enfermeiro para melhorar os resultados do paciente9 .

Diante do exposto, revela-se a necessidade de identificar não apenas os fatores estressores na perspectiva do paciente que está vivenciando a hospitalização na UTI, mas as particularidades que desencadeiam o estresse, com o intuito de revelar os possíveis cuidados de enfermagem que irão auxiliar o paciente no seu processo de recuperação e reabilitação. Para tal, o objetivo deste estudo é analisar as evidências disponíveis na literatura acerca dos fatores estressores em pacientes adultos internados em uma unidade de terapia intensiva adulto.

MATERIAL E MÉTODO

Estudo de enfoque qualitativo que busca identificar as produções científicas dos fatores estressores relatados pelos pacientes internados numa UTI adulto. Para o alcance dos objetivos, se optou pela RI baseada em Cooper10 . Este método reúne resultados obtidos de outras pesquisas sobre o mesmo tema, com o objetivo de sintetizar e analisar esses dados, desenvolvendo uma explicação mais abrangente do fenômeno estudado. Com relação ao desenho do estudo, seguiram-se as cinco etapas descritas em Cooper10: formulação do problema, coleta dos dados, avaliação dos dados e análise, interpretação dos resultados, e apresentação dos resultados.

Por meio do aprofundamento da temática e definição dos aspectos relevantes deste estudo, foi possível a delimitação do problema, que partiu da seguinte questão norteadora: Qual(is) o(s) fatores(s) estressor(es) dos pacientes adultos em uma unidade de terapia intensiva adulto?

Para a coleta de dados foram utilizadas as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (Scielo), PubMed e Banco de Dados em Enfermagem (BDENF). Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) selecionados foram utilizados nos idiomas português e espanhol, separados com operador booleano AND, os quais foram: cuidados de enfermagem, transtornos de estresse pós-traumáticos, estresse fisiológico, cuidados críticos, unidades de terapia intensiva, hospitalização, estresse psicológico, humanização da assistência, resiliência psicológica e pacientes internados.

Os critérios de inclusão foram: artigos de enfermagem que abordavam a temática em idiomas português e espanhol, que estavam disponíveis na íntegra via online, publicados no período de 1997 a 2015, como anais, artigos nacionais de enfermagem resultantes de pesquisas dos tipos qualitativo, quantitativo, revisão teórica, revisão integrativa e revisão sistemática. Definiu-se o ponto de corte através do instrumento Escala de Estressores em Unidades de Terapia Intensiva (Intensive Care Unit Environmental Stressor Scale - ICUESS), que foi traduzida e adaptada para o contexto brasileiro no ano de 1997 por Novaes et al.11 .

Foram excluídos os artigos que abordaram fatores estressores em crianças e neonatos hospitalizados ou desenvolvidos em animais, estudos que levantassem os fatores estressores na perspectiva do profissional e/ou família, estudos disponibilizados na forma de áudio ou vídeo, e os que não dispuseram o conteúdo de forma completa via online.

Para a etapa de avaliação dos dados e registro das informações extraídas dos artigos científicos, foi elaborado um formulário para avaliação individual contendo as seguintes informações: identificação do artigo (título, país de origem, autores e titulação, periódico, ano, volume, número, descritores/palavras-chave); objetivo/questão de investigação do estudo; população de estudo; metodologia; resultados (relativos à questão problema).

Para a análise e interpretação dos resultados foi elaborado um quadro sinóptico geral, que possibilitou o agrupamento dos fatores estressores por similaridade.

Considerando-se os aspectos éticos, foram assegurados a autoria e as ideias, os conceitos e definições dos autores das produções analisadas, os quais devem ser apresentados fidedignamente, descritos e citados conforme os preceitos da Lei n. 9610/98.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população do estudo constituiu-se de 973 artigos, dos quais 960 foram excluídos por estarem fora do tema, dos critérios de inclusão ou por serem repetidos. Após a leitura aprofundada das publicações, a amostra selecionada foi de 13 artigos, dos quais quatro artigos da base LILACS; oito da base BDENF; um da base SciELO e nenhum da base PUBMED. O número acentuado de publicações excluídas deu-se pelo déficit de produções que discutiam o assunto sob a ótica do paciente.

Em relação ao ano de publicação encontraram-se artigos entre os anos de 2002 e 2015. Verificou-se um predomínio de estudos no ano de 2007, com três (23,07%) artigos, e ausência de publicações entre 1997 e 2005. Além disso, foi identificada apenas uma publicação no ano de 2015. Esse resultado demonstra que o período de publicação dos artigos agrupou-se sobretudo entre 2007 e 2011, não apresentando correlação com a publicação e validação da Escala de Fatores Estressores (ICUESS) no ano de 1997.

No que se refere ao país de origem dos periódicos, percebeu-se que a temática sobre os fatores estressores ainda é incipiente entre os artigos brasileiros, dentre os quais foram encontradas 12 publicações, e, principalmente, entre os espanhóis, já que foi identificada apenas uma produção científica sobre o tema. Essa inferência denota a necessidade de estudos que enfoquem o ponto de vista do paciente8 , tomando como premissa as crenças, valores e expectativas da sua vivência em uma UTI.

Os artigos analisados apontaram quatro grandes categorias de fatores estressores na perspectiva dos pacientes, sendo estas: ambiental, fisiológica, emocional/psicológica e social. As categorias apresentam um total de 16 subcategorias e 40 fatores estressores, como descrito no Quadro 1 .

Quadro 1 Fatores estressores levantados de acordo com a amostra  

Fonte: dados da pesquisa (2017)

O método de revisão integrativa possibilitou a compreensão da problemática dos fatores estressores em pacientes adultos internados em uma unidade de terapia intensiva e a identificação de possíveis cuidado de enfermagem nos âmbitos social, psicológico, emocional, fisiológico e ambiental.

Na categoria ambiental, a subcategoria padrão do sono perturbado foi influenciada não apenas pela rotina diária imposta pela UTI, mas pela característica de ser uma unidade fechada e de alta complexidade, a qual traz consigo uma série de situações novas de enfrentamento pelo paciente7 . Deste modo, podemos inferir que o período de internação na UTI poderá desencadear diferentes níveis de estresse nos pacientes.

A influência por parte do ambiente leva a maior dificuldade de dormir, pois os relatos dos pacientes enfocam os ruídos desconhecidos dos equipamentos tecnológicos que apresentam diferentes intensidades, a luminosidade excessiva e constante, a realização de procedimentos, a movimentação da equipe e a manipulação constante dos profissionais à beira do leito12)(13)(14)(15)(16 . Os relatos ainda afirmam que os ruídos acentuam-se quando ocorrem simultaneamente os alarmes disparados por equipamentos tecnológicos e quando associados ao ruído da equipe7 .

Como durante o sono ocorrem diferentes transformações fisiológicas e metabólicas ligadas às funções orgânicas do paciente as quais auxiliam na recuperação de seu quadro clínico16 , cabe à enfermagem adotar intervenções que venham propiciar padrões habituais do sono e repouso com qualidade. Ou seja, a enfermagem deve transformar os fatores estressores em cuidados de enfermagem como, por exemplo, reduzir as luzes da cabeceira à noite, concentrar os procedimentos durante o dia, posicionar o paciente no leito de forma que este sinta-se confortável, diminuir os ruídos e a movimentação desnecessária perto dos leitos por parte dos profissionais.

De acordo com uma pesquisa desenvolvida em um hospital de ensino localizado na cidade de São Paulo, a disposição do leito pode influenciar nos níveis de estresse do paciente, pois a distância do posto de enfermagem possibilita maior privacidade, menor luminosidade e ruídos16 . Deste modo, dispor os pacientes lúcidos e orientados de forma que eles se sintam confortáveis dentro da UTI poderá auxiliar a diminuir a intensidade e a duração de exposição ao fator estressor ambiental.

Na UTI, a temperatura do ar condicionado geralmente é extrema, sendo esta fria ou quente. Pelo fato de os pacientes terem limitação de movimentos devido à situação imposta pelo próprio ambiente e condições de saúde, acabam se tornando mais sensíveis a essas temperaturas, passando a caracterizar o ambiente como um local muito frio ou muito quente17 .

Na categoria fisiológica, os pacientes afirmam que a mobilidade no leito prejudicada é um fator estressor, uma vez que se encontram presos a dispositivos invasivos ou não invasivos13 . A sensação de estar amarrado3 evidenciada pelos pacientes, além de comprometer a mobilidade no leito, desperta o sentimento de impotência8 , visto que eles perdem o controle sobre a situação vivenciada18 . Para minimizar o sentimento de impotência dos pacientes e a mobilidade prejudicada, cabe aos enfermeiros e demais profissionais da saúde avaliar periodicamente a quantidade de dispositivos e equipamentos tecnológicos utilizados, visto que a exposição prolongada a estes fatores estressores provoca desconforto em diferentes níveis de intensidade e aumenta o risco de infecção19 .

Outro fator fisiológico associado ao tipo, intensidade e duração destes dispositivos descrito pelos pacientes é a dor aguda, que, por sua vez, altera os sistemas respiratório, nervoso, sensorial e cardiovascular15)(16)(17 . O desencadeamento de consequências geradas pela dor aguda ou crônica pode comprometer o estado emocional do paciente, que induz à ansiedade e agitação psicomotora, na qual o paciente pode vir a remover os equipamentos e dispositivos necessários para a monitorização, causando prejuízos ainda maiores à sua saúde14 .

A dor, considerada o quinto sinal vital, não pode ser ignorada pela equipe de enfermagem20 e demais profissionais da saúde, pois se comporta como fator estressor que irá repercutir em consequências que irão comprometer os aspectos psicológico, emocional e fisiológico. Assim, independente do quadro clínico do paciente, as características da dor devem ser avaliadas sistematicamente por meio das escalas verbal, numérica ou de faces de dor21 .

Outro fator estressor da categoria fisiológica é a comunicação verbal prejudicada dos pacientes que apresentam algum comprometimento específico ou fazem uso de tubos orotraqueais e/ou sondas enterais5)(6)(13)(17 . Na perspectiva dos familiares e profissionais, a comunicação verbal prejudicada também é visualizada como um fator estressor, principalmente quando implica na impossibilidade de tomada de decisões pelo paciente, transferindo tais responsabilidades para aqueles22 . Deste modo, cabe aos profissionais atentar a sinais e sintomas dos pacientes visando à identificação de métodos de comunicação não verbal.

Como um dos fatores estressores citados pelo paciente é a dificuldade de expressar sede, um dos cuidados de enfermagem é manter úmidos os lábios e boca do paciente, utilizar sprays de água gelada juntamente com hidratante labial e reavaliar frequentemente a necessidade de permanência dos tubos ou sondas, proporcionando maior bem-estar, melhora da mobilidade no leito e, não menos, qualidade no sono e sono17,23 . Outro cuidado de enfermagem atrelado à comunicação é a utilização de cadernos ou gravuras para que possibilitem a expressão dos pacientes numa forma não verbal6 .

Dentre os aspectos sociais, destaca-se a ruptura do paciente com seu contexto familiar e vida cotidiana, caracterizada como o enfrentamento familiar interrompido e comprometido5)(6)(8)(13)(15)(16)(17)(19)(24 . Acredita-se que essa ruptura pode ser gerada pelo aspecto fisiológico, que impede a tomada de decisão por parte do paciente, como pelo aspecto ambiental em virtude do espaço físico da UTI.

Um estudo quantitativo desenvolvido em dois hospitais, sendo um público e um privado, localizados no interior do Estado de São Paulo, identificou que a reestruturação da família, ao ser visualizada pelo paciente, é capaz de gerar angústia psicológica12 . Outros autores afirmam que o fator estressor está associado à manutenção do lar prejudicada, pois a maioria dos sujeitos da amostra eram trabalhadores ativos que sustentavam o seu lar e os demais membros da família12)(17 .

Conforme relatos dos pacientes lúcidos e orientados, sem dificuldade de comunicação, um fator estressor é a restrição de horários de visitas à beira do leito, pois não conseguem ter tempo suficiente para obter informações dos membros de sua família e a compreensão sobre a atual rotina dos mesmos sem a sua presença física17 . Assim, uma das estratégias a serem utilizadas pelos enfermeiros é flexibilizar e estender os horários de visitas, pois a presença do familiar é capaz de transmitir tranquilidade e aproximação entre o familiar e o paciente5)(7)(16)(23 .

A instabilidade diante do processo de saúde e doença impulsiona o paciente a ter reflexões sobre o seu estado de saúde atual e futuro, bem como sobre o contexto de vida de seus familiares. Independente da natureza dessas reflexões, o paciente acaba despertando fatores emocionais e psicológicos como a ansiedade e medo, caracterizados como uma reação a determinada ameaça percebida que, conscientemente, é reconhecida como um perigo18 que ainda pode ocorrer. O medo pode ser proveniente de fatores conhecidos, como dor e morte8 , ou desconhecidos, como os ruídos oriundos de equipamentos tecnológicos desconhecidos pelos pacientes, procedimentos que não reconhecem como prioridade ou até mesmo as consequências do seu processo de saúde e doença7)(8 .

O medo também pode estar associado ao risco de contrair a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), em virtude da manipulação de outros pacientes no mesmo ambiente hospitalar17 . Sabe-se que os cuidados atuais e o uso de equipamentos e dispositivos descartáveis reduzem a propagação da AIDS, contudo, cabe à enfermagem orientar os pacientes quanto à segurança dos procedimentos bem como do tratamento realizado, possibilitando uma margem aceitável de confiança entre o paciente e os profissionais de saúde.

A perda da autonomia no ambiente de UTI, categorizada como um fator estressor da categoria emocional e psicológica, pode estar relacionada com o nível de dependência24 . Também pode estar associada com a falta de privacidade, controle do corpo ou falta de informações sobre os cuidados a serem realizados8)(12)(14)(15)(17)(19 . A vigilância e o controle do quadro clínico instável pela enfermagem e a utilização de equipamentos tecnológicos considerados indispensáveis para o sucesso da terapêutica25 podem levar a fatores psicológicos, emocionais e biológicos.

Os aspectos psicológicos e emocionais podem ser despertados pelo déficit de atividades de recreação, que torna o paciente mais sensível ao seu sofrimento e à preocupação pelos demais pacientes internados5 . Além disso, as atividades de recreação deficientes somadas à desvinculação com o ambiente externo afastam o paciente do meio social, aumentando o sentimento de distanciamento da família23 e da sociedade. Tal fato demonstra que os fatores estressores provocados pelo ambiente da UTI levam a consequências psicológicas, emocionais e sociais. Desse modo, a enfermagem pode possibilitar ações de interação social, como acesso a rádio ou músicas, evitando que o paciente fique estressado por ter que ficar olhando para o teto26 e vivenciando seu processo de adoecimento de forma negativa.

O reduzido quantitativo de produções científicas voltadas para a perspectiva do paciente internado demonstrou que alguns aspectos não foram destacados, como o cognitivo, espiritual e funcional. Contudo, os resultados sugerem que os cuidados de enfermagem devem ser apresentados num plano individual que contemple os fatores que estão gerando estresse no paciente, independente do tipo, duração e intensidade desses fatores estressores.

CONSIDERAÇÕES

Diante dos resultados, é notório que os fatores estressores identificados neste estudo podem ser transcritos como cuidados de enfermagem num plano de cuidado individual ao paciente, viabilizando o processo de recuperação e reabilitação. Assim, cabe à enfermagem diagnosticar, intervir e avaliar os pacientes, prevenindo e minimizando os fatores estressores durante a hospitalização na UTI.

Dentre os fatores ambientais, foram identificados padrão de sono perturbado, ruídos, termorregulação ineficaz e situações desfavoráveis. Os fatores fisiológicos foram mobilidade no leito prejudicada, comunicação verbal prejudicada e dor. Os fatores emocionais/psicológicos foram falta de atenção/individualidade, ansiedade, medo e perda de autonomia. Enquanto que os fatores sociais identificados foram processo familiar interrompido, interação social prejudicada, impotência, sentimento de impotência e enfrentamento familiar comprometido.

Recomenda-se que sejam desenvolvidas pesquisas clínicas sobre a temática na ótica do paciente e novas pesquisas de revisão que incluam novas bases de dados e idiomas. Uma das limitações deste estudo é a variedade de instrumentos utilizados pelos pesquisadores para a identificação dos fatores estressores.

REFERENCIAS

1. Zardini R, Marineia A, De Resende C. valuation of stressor agents and resilience by patients admitted in the intensive care unit. Perspect em Psicol. 2014;18(181):194-213. [ Links ]

2. Rodrigues TDF. Stress factors in intensive care unit nursing. Rev Min Enferm [Internet] . 2012;16(3):454-62. Available from: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=c8h&AN=2012011745&site=ehost-liveLinks ]

3. Veiga E, Vianna L, Melo G de. Stress and Technological Innovation in a Cardiac Intensive. Rev Enferm do Centro-Oeste Min [Internet] . 2013;16(3):65-77. Available from: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/view/343Links ]

4. Ullman AJ, Aitken LM, Rattray J, Kenardy J, Brocque R Le, MacGillivray S, et al. Intensive care diaries to promote recovery for patients and families after critical illness: A Cochrane Systematic Review. J Crit Care [Internet] . 2015;52(7):1243-1253. Available from: http://www.journalofnursingstudies.com/article/S0020-7489(15)00100-5/abstractLinks ]

5. Pina RZ, Lapchinsk LF, Pupulim JSL. Percepção de pacientes sobre o período de internação em unidade de terapia intensiva. Cienc Cuid Saude [Internet] . 2008;7(46):503-8. Available from: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/6658/3916Links ]

6. Dornelles C, Oliveira GB De, Schwonke CRGB, Silva R de S. Experiências de doentes críticos com a ventilação mecânica invasiva. Esc Anna Nery [Internet] . 2012;16(4):796-801. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n4/22.pdfLinks ]

7. Lemos RCA, Rossi LA. O significado cultural atribuído ao centro de terapia intensiva por clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a liberdade. Rev Latino-am Enferm [Internet] . 2002;10(3):345-57. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v10n3/13344.pdfLinks ]

8. Proença MDO, Agnolo CMD. Internação em unidade de terapia intensiva: percepção de pacientes. Rev Gaúcha Enferm [Internet] . 2011;32(2):279-86. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472011000200010&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S1983-14472011000200010. [ Links ]

9. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman J, Wagner CM. NIC. Classificação das intervenções de enfermagem. 6th ed. Mosby Elsevier, editor. St. Louis; 2016. [ Links ]

10. Cooper HM. The Integrative Research Review: a systematic approach. Sage, editor. Beverly Hills; 1984. [ Links ]

11. Novaes MAFP, Aronovich A, Ferraz M B, Knobel E. Stressors in ICU: patients evaluation. Intensive Care Med [Internet] . 1997;23(12):1282-5. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s001340050500 [ Links ]

12. Rosa BÂ, Matheus Rodrigues RC, Jayme Gallani MCB, Spana TM, da Silva Pereira CG. Estressores em unidade de terapia intensiva: Versão Brasileira do the Environmental stressor questionnaire. Rev da Esc Enferm. 2010;44(3):627-35. [ Links ]

13. Ayllón Garrido N, Álvarez González M, González García M. Factores ambientales estresantes percibidos por los pacientes de una Unidad de Cuidados Intensivos. Enferm Intensiva [Internet] . 2007;18(4):159-67. Available from: http://www.elsevier.es/es-revista-enfermeria-intensiva-142-resumen-factores-ambientales-estresantes-percibidos-por-13113135Links ]

14. Linch GF da C, Guido L de A, Pitthan L de O, Lopes LFD. Stressors identified for the patient submitted to myocardial revascularization and percutaneous transluminal coronary angioplasty. quantitative study. Online Brazilian J Nurs [Internet] . 2008;7(2):23. Available from: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=c8h&AN=2010171328&site=ehost-liveLinks ]

15. Heidemann AM, Cândido PL, Kosour C, Costa AR de O, Dragosavac D. Influência do nível de ruídos na percepção do estresse em pacientes cardíacos. Rev Bras Ter Intensiva [Internet] . 2011;23(1):62-7. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-507X2011000100011. [ Links ]

16. Marosti C, Dantas S. Avaliação dos pacientes sobre os estressores em uma unidade coronariana. Acta Paul Enferm [Internet] . 2005;19(2):190-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n2/a10v19n2.pdfLinks ]

17. Dias D de S, Resende MV, Diniz G do CLM. Patient stress in intensive care: Comparison between a coronary care unit and a general postoperative unit. Rev Bras Ter Intensiva [Internet] . 2015;27(1):18-25. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v27n1/0103-507X-rbti-27-01-0018.pdfLinks ]

18. Herdman SK. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2015-2017. Artmed, editor. Porto Alegre; 2015. 468 p. [ Links ]

19. Bitencourt AGV, Neves FBCS, Dantas MP, Albuquerque LC, Melo RMV De, Almeida ADM, et al. Análise de estressores para o paciente em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Ter Intensiva [Internet] . 2007;19(1):53-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v19n1/a07v19n1.pdfLinks ]

20. Queiróz DTG, Carvalho MA de, Carvalho GDA de, Santos SR dos, Moreira A da S, Silveira M de F de A. Dor - 5o sinal vital: conhecimento de enfermeiros. Rev enferm UFPE line [Internet] . 2015;9(4):7186-92. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/viewFile/7275/pdf_7451Links ]

21. Fortunato JGS, Furtado MS, Hirabae LF de A, Oliveira JA. Escalas de dor no paciente crítico: uma revisão integrativa. Rev Hosp Univ Pedro Ernesto [Internet] . 2013;12(3):110-7. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/7538Links ]

22. Barth AA, Weigel BD, Dummer CD, Machado KC, Tisott TM. Stressors in the relatives of patients admitted to an intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva [Internet] . 2016;28(3):323-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v28n3/en_0103-507X-rbti-28-03-0323.pdfLinks ]

23. Piccini JD, Dummer CD, Fernandes RD, Arenhardt MP, Maraschim R, Paulo J, et al. Distanciamento dos familiares como principal fator estressor em uma Unidade de Terapia Intensiva. Rev da AMRIGS [Internet] . 2016;60(1):1-5. Available from: http://www.amrigs.org.br/revista/60-01/01.pdfLinks ]

24. Faquinello P, Dióz M. A UTI na ótica de pacientes. Rev Min Enferm [Internet] . 2007;11(1):41-7. Available from: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/311Links ]

25. Oliveira EB de, Souza NVM de. Stress and Technological Innovation in a Cardiac Intensive. Rev enferm UERJ [Internet] . 2012;20(4):457-62. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/4768Links ]

26. Prado APO, Bento D, Gardenghi G. Avaliação de possíveis fontes externas de estresse e o seu nível em duas unidades de terapia intensiva em pacientes pós-angioplastia coronariana. Rev Soc Cardiol Estado São Paulo [Internet] . 2012;22(3 Supl A):25-30. Available from: https://www.researchgate.net/publication/283341796Links ]

Recebido: 19 de Outubro de 2017; Aceito: 07 de Dezembro de 2017

Creative Commons License Este es un artículo publicado en acceso abierto bajo una licencia Creative Commons