SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22 número72Factores de riesgo social relacionados con las infecciones de vías urinarias en mujeres embarazadas, Montería-ColombiaLa incertidumbre previo a la toma de una endoscopia o colonoscopia índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Em processo de indexaçãoCitado por Google
  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO
  • Em processo de indexaçãoSimilares em Google

Compartilhar


Enfermería Global

versão On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.22 no.72 Murcia Out. 2023  Epub 04-Dez-2023

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.546611 

Originais

Qualidade de vida dos graduandos de enfermagem durante a pandemia de covid-19: estudo transversal

Francisca Edinária de Sousa-Borges1  , Cristina da Silva-Fernández1  , William Caracas-Moreira2  , Glaubervania Alves-Lima1  , Roseane Luz-Moura3  , Joselany Afio-Caetano1 

1Universidade Federal do Ceará. Ceará. Brasil

2Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, João Pessoa, PB, Brasil

3Universidade de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil

RESUMO:

Introdução:

Os estudantes de Enfermagem vivenciam o contexto universitário como experiência ambígua, concomitante ao apontamento da universidade como geradora de sofrimento, a caracterizam, também, como capaz de proporcionar desenvolvimento intelectual, sociocultural, afetivo e político. No entanto, a pandemia de COVID-19 trouxe outros olhares do público estudantil para o contexto do ensino superior, ao descrevê-lo como ambiente de sobrecarga física e emocional, com consequente influência na Qualidade de Vida desses estudantes, dado que a pandemia tem o potencial de afetar esse público em âmbito físico, acadêmico, financeiro e psicológico.

Objetivo:

Descrever a Qualidade de Vida de graduandos em Enfermagem, a partir dos domínios do WHOQOL-bref, durante a pandemia de COVID-19.

Material e Método:

Estudo transversal, descritivo, com 59 acadêmicos de enfermagem, realizado de julho a agosto de 2020 em uma Instituição Pública de Ensino Superior. Aplicou-se questionário sociodemográfico e o WHOQOL-bref. Os dados foram processados no Statistical Package for the Social Sciences 20.0 para análise descritiva e foi realizada a média ponderada das facetas do WHOQOL-Bref, como, dos domínios. O estudo foi desenvolvido respeitando a Resolução nº 466/2012.

Resultados:

Os domínios que mais necessitaram de melhorias foram o físico (relacionado a sono e repouso, energia e fadiga e atividade física cotidiana) e o meio ambiente (relacionado à recreação/lazer).

Conclusão:

As questões sobre Qualidade de Vida geral e satisfação com a saúde demonstraram a necessidade de melhoria em ambos os questionamentos, o que pode ter sido influenciado pela pandemia da COVID-19.

Palavras- chave: Enfermagem; Qualidade de Vida; Estudantes de Enfermagem; Saúde; COVID-19

INTRODUÇÃO

Os estudantes de Enfermagem vivenciam o contexto universitário como experiência ambígua, concomitante ao apontamento da universidade como geradora de sofrimento, a caracterizam, também, como capaz de proporcionar desenvolvimento intelectual, sociocultural, afetivo e político(1). No entanto, a pandemia de COVID-19 trouxe outros olhares do público estudantil para o contexto do ensino superior, ao descrevê-lo como ambiente de sobrecarga física e emocional, com consequente influência na Qualidade de Vida (QV) desses estudantes, dado que a pandemia tem o potencial de afetar esse público em âmbito físico, acadêmico, financeiro e psicológico(2).

Nesse contexto, com o advento da pandemia de COVID-19, tem sido necessário investigar a interação dinâmica entre as condições pandêmicas e a percepção interna dessas vivências, entre estudantes universitários, o que justifica a mensuração da QV desse público ter se tornado cada vez mais frequente, com o objetivo de capturar a percepção dos indivíduos sobre sua própria saúde, esperanças, expectativas e sentimentos durante a pandemia(3). Além disso, a avaliação da QV, também, tem sido considerada resultado importante na prestação dos cuidados de saúde em diferentes cenários(4).

Pesquisas realizadas na Europa, Oriente Médio e Ásia apontam que, durante a pandemia de COVID-19, graduandos de Enfermagem têm relatado piores resultados no sofrimento psicológico e QV geral, além de demonstrar relação inversa, moderada, significativa entre a resiliência psicológica e o impacto da COVID-19 na QV. Estes estudos relatam, como lacunas, a necessidade de explorar as estratégias de enfrentamento do público estudantil durante a pandemia e investigar a QV dessas populações em outros países e regiões, com o objetivo de subsidiar pesquisas futuras que comparem a QV desse público em cenários diversos(5,6,7,8,9).

Diante do exposto, este estudo justifica-se pela carência de pesquisas brasileiras, realizadas no nordeste, em especial no Piauí, que tenham avaliado a QV de graduandos em Enfermagem durante a pandemia de COVID-19. Além disso, sua relevância fica expressa na possibilidade de gerar dados para comparações futuras sobre o impacto da pandemia nesse público em estados, regiões e países diferentes.

Ressalta-se que, descrever a QV de estudantes de Enfermagem pode ajudar a garantir profissionais de saúde adequados para o desenvolvimento de intervenções, com o objetivo de melhorar a saúde física e mental, bem como, o nível de independência, as relações sociais, convicções e crenças pessoais desses indivíduos. Além disso, a avaliação da QV pode favorecer a implementação de políticas públicas, o que contribui para evitar cenários agudos de saúde em termos de doenças e limitações desses sujeitos.

Assim, esta pesquisa objetivou descrever a QV de graduandos em Enfermagem, a partir dos domínios do WHOQOL-bref, durante a pandemia de COVID-19.

MATERIAL E MÉTODO

Estudo transversal, de natureza descritiva, realizado no período de julho a agosto de 2020 em uma Instituição Pública de Ensino Superior (IES), localizada no centro-sul do Piauí, Brasil. O cenário da pesquisa foi selecionado tendo em vista que, a universidade é a segunda maior referência para a população que adentra ao ensino superior no estado do Piauí.

A população do estudo consistiu em 72 acadêmicos matriculados no curso de bacharelado em enfermagem. A amostra foi obtida a partir das fórmulas: n0= z2/ 4e2; n=n0/1+(n0/N), nas quais “n0” corresponde à primeira aproximação do tamanho da amostra, “Z” ao valor crítico de Z (dependente do nível de confiança), “e” à margem de erro, “N” consiste no tamanho da população e “n” ao tamanho da amostra. Considerou-se um erro amostral de 5% e nível de confiança de 95%, logo, obteve-se a amostra de 61 participantes, no entanto, houve perda amostral de dois, pois não responderam de forma completa o instrumento de coleta de dados. Assim, a amostra foi de 59 estudantes.

Os critérios de inclusão da amostra foram: ter idade igual ou superior a 18 anos; estar regularmente matriculado no curso de enfermagem e possuir conta em aplicativo de mensagens instantâneas. Foram excluídos os estudantes que se encontravam afastados por licença maternidade e/ou atestado médico durante o período de coleta de dados.

Os dados foram coletados no formato online, via aplicativo de mensagens instantâneas. Os participantes recebiam o convite, em formato de texto, no smartphone e, mediante aceite, era enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o questionário dividido em duas partes, a primeira continha dados sociodemográfico e, a segunda, o WHOQOL-bref.

O WHOQOL-bref é um instrumento composto de 26 questões, com respostas em escala Likert de cinco pontos, desenvolvido pela WHO em 1998 e validado para o português, a fim de avaliar a QV de populações adultas(10). Duas questões são referentes à percepção individual da QV, e as demais estão subdivididas em quatro domínios e representam cada uma das 24 facetas que compõem o instrumento original WHOQOL-100(11).

Os dados foram processados no Programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0, para proceder à análise descritiva a partir da apuração de frequências simples, absolutas e percentuais para as variáveis categóricas e medidas de centralidade (média) para variáveis quantitativas. Além disso, foi realizada a média ponderada das facetas do WHOQOL-Bref, bem como, dos domínios, as quais classificam a QV em: necessita melhorar, quando for 1 até 2,9; regular, se 3 até 3,9; boa, se 4 até 4,9 e muito boa, quando for 5.

O estudo foi desenvolvido de acordo com os princípios éticos e legais, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) Nº 466/2012 que regulamentam e aprovam diretrizes e normas relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos(12). A pesquisa recebeu parecer positivo por parte do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), com o parecer nº 3.835.037 e CAAE 22713719.9.0000.5209.

RESULTADOS

Participaram do estudo 59 graduandos de Enfermagem, matriculados entre o terceiro e décimo período do curso. A amostra foi composta por 48 (81,4%) participantes do sexo feminino e 11 (18,6%) masculino. Quanto à idade, 56 (95%) tinham entre 19 e 25 anos e três (5,0%) estavam na faixa etária de 28 a 35 anos. Em relação à cor, 27 (45,8%) se autodeclararam pardos, 23 (39%) brancos e nove (15,2%) negros. Relacionado ao estado civil, 52 (88,1%) eram solteiros, sete (11,9%) estavam em união estável. No que diz respeito ao número de filhos, oito (13,6%) tem um filho, um (1,7%) tem mais de um e 50 (84,7%) não possuem filhos. Quanto às atividades laborais, 48 (81,4%) afirmaram que apenas estudam, nove (15,3%) estudam e trabalham informalmente, dois (3,3%) estudam e trabalham formalmente.

Ao serem questionados quanto à percepção da QV geral e satisfação com a saúde, mediante perguntas do WHOQOL-Bref, os participantes as classificaram como necessária de melhoria, visto que, a média geral do escore QV e saúde foram, respectivamente, 2,73 e 2,72. Os acadêmicos responderam, também, as perguntas relacionadas às facetas dos quatro domínios do instrumento, a saber: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, conforme apresentado nas Tabelas 1, 2, 3e 4.

Tabela 1. Distribuição das respostas dos graduandos em enfermagem quanto às facetas do domínio físico do WHOQOL-bref. Picos, PI, Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa (2020)

*Facetas que necessitam melhorar, conforme WHOQOL-Bref.

Tabela 2. Distribuição das respostas dos graduandos em enfermagem quanto às facetas do domínio psicológico do WHOQOL-bref. Picos, PI, Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa (2020)

Tabela 3. Distribuição das respostas dos graduandos em enfermagem quanto às facetas do domínio relações sociais do WHOQOL-bref. Picos, PI, Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa (2020)

Tabela 4. Distribuição das respostas dos graduandos em enfermagem quanto às facetas do domínio meio ambiente do WHOQOL-bref. Picos, PI, Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa (2020)

*Facetas que necessitam melhorar, conforme WHOQOL-Bref.

Os estudantes apresentaram a média de 3,52 no domínio físico, o que representa a avaliação como regular. No entanto, nas facetas: sono e repouso; atividade física cotidiana; energia e fadiga demonstraram necessidade de melhorar, uma vez que, 23 dos acadêmicos são insatisfeitos com o padrão de sono e repouso (39%) e 22 possuem pouca energia para o dia a dia (37,2%).

Assim, a insatisfação com o sono mencionada pelos estudantes pode resultar na redução de energia desses indivíduos em realizar atividades diárias como a prática de exercícios físicos. Portanto, existem aspectos da rotina dos acadêmicos que podem ter piorado em decorrência da pandemia de COVID-19 e precisam de intervenção. As demais questões foram classificadas como regulares ou boas.

Quanto ao domínio psicológico, os acadêmicos apresentaram a média de 3,82, logo, classificaram a avaliação como regular. Além disso, os participantes apresentaram QV regular na maioria das facetas do domínio e boa nas questões relacionadas à espiritualidade e imagem corporal, com média de 4,22 e 4,65, respectivamente. O que pode ser destacado como potencialidades para melhora do bem-estar dessa população.

Em relação aos sentimentos negativos, os resultados evidenciam que apenas três (5,1%) dos acadêmicos nunca vivenciaram sentimentos negativos como, ansiedade, depressão, mau humor e desespero. Os dados proporcionam um motivo de alerta para a instituição, visto que, há um percentual maior de participantes que vivenciaram tais sentimentos, seja algumas vezes, com frequência, com muita frequência ou sempre.

Em relação ao domínio relações sociais, os acadêmicos apresentaram média de 3,77, com classificação geral como regular. Acrescenta-se que, todas as facetas foram consideradas regulares. Portanto, as relações sociais dos estudantes podem estar prejudicadas pelas atividades do ensino superior e/ou isolamento social decorrente da pandemia de COVID-19.

O domínio meio ambiente apresentou média de 3,48, o que o classifica como regular. No entanto, os acadêmicos consideraram a faceta relacionada à participação em recreação/lazer como necessária de melhoria, o que pode ter sido influenciada pelo isolamento social decorrente da pandemia de COVID-19. As demais facetas foram classificadas em regulares ou boas, nesta última está à questão referente ao ambiente no lar, o que pode ser interpretado como meio de melhora da QV dos estudantes de enfermagem.

DISCUSSÃO

Os estudantes que participaram da pesquisa eram predominantemente do sexo feminino, idade entre 19 a 25 anos e cor parda. Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo sobre QV desenvolvido com discentes do curso de enfermagem no Distrito Federal, no qual se constatou que a maioria era do sexo feminino, faixa etária de 18 a 21 anos e a cor parda(13). Os dados encontrados neste estudo e no citado anteriormente evidenciam o predomínio histórico das mulheres nos cursos de enfermagem.

Ainda sobre o perfil dos participantes, corroborando com os resultados encontrados, estudo desenvolvido para avaliar o impacto da pandemia da COVID-19 em relação à QV dos estudantes de enfermagem, também identificou prevalência dos solteiros, o que evidencia o fato dos jovens terem adiado cada vez mais a decisão de constituir uma família, priorizando a vida profissional e a estabilidade financeira(14). Em relação ao número de filhos, divergindo com os resultados encontrados, um estudo realizado com 102 acadêmicos do curso de psicologia identificou que 71 (69,6%) tinham pelo menos um filho(15).

No que diz respeito às atividades laborais durante o período de formação, pesquisa realizada para avaliar as dificuldades vivenciadas pelos estudantes de enfermagem durante a sua formação, identificou que 11 (61,1%) deles não trabalhavam(16). Os resultados contribuem com os encontrados neste estudo, no qual, 48 (81,4%) dos estudantes não trabalhavam, dedicando-se exclusivamente aos estudos.

Acadêmicos dos cursos de engenharia civil e medicina de universidade do Rio de Janeiro, Brasil, tiveram sua QV analisada por meio da aplicação do WHOQOL-Bref. Os estudantes de engenharia civil e medicina consideraram a sua QV “boa” ou “muito boa”, 31 (79,48%) e 107 (74,82%), respectivamente. Afirmaram que se encontram “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” com a sua saúde, 27 (69,23%) alunos engenharia civil e 71 (49,65%) da medicina(17). Os achados divergem com os encontrados neste estudo, visto que, ao serem questionados quanto à percepção da QV geral e satisfação com a saúde, os acadêmicos de enfermagem consideraram que as mesmas necessitam de melhoria.

O domínio físico alcançou a média de 3,52, representando uma avaliação regular. A faceta: sono e repouso apresentou média de 2,96, evidenciando necessidade de melhoria. Em estudo realizado com estudantes de enfermagem de uma universidade privada na cidade de João Pessoa - Paraíba, a média encontrada para esse mesmo domínio foi de 3,60(18). No que concerne à questão do sono e repouso, acadêmicos de medicina de uma instituição localizada em Maceió, no estado de Alagoas, tiveram esse item como a questão de pior avaliação(11). Estar na universidade pode provocar uma influência na qualidade de sono dos discentes. Os resultados alertam para a necessidade de avaliar as situações que estão influenciando no domínio para que estratégias de melhoria possam ser adotadas.

As alterações apresentadas no padrão de sono e repouso, associadas a baixa média da faceta atividade física cotidiana, podem influenciar diretamente na capacidade de trabalho, energia e fadiga dos estudantes. A média de 2,78 atingida na faceta energia e fadiga demonstra uma fragilidade. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado para avaliar o ambiente acadêmico e QV dos estudantes de medicina do ciclo básico da universidade de Uberaba, pois se percebeu um ciclo vicioso de privação do sono, cansaço e falta de energia, provocando uma redução da QV desse público(19).

Um estudo desenvolvido com acadêmicos do segundo ao oitavo semestre do curso de medicina de uma instituição pública do interior de Goiás identificou uma melhor QV entre os alunos envolvidos em práticas de atividades físicas, atingindo maiores escores no domínio físico(20). Os resultados divergem dos encontrados no presente estudo, em que a média alcançada pelos discentes para a faceta atividade física cotidiana foi de 2,99, terceira menor nota do domínio, evidenciando a necessidade de melhoria.

Pesquisa desenvolvida para avaliar a saúde mental dos estudantes do primeiro, segundo e terceiro ano do curso de medicina, apresentou como média para o domínio psicológico, respectivamente, os valores: 3,39, 3,49 e 3,23(21). O resultado obtido por eles é inferior ao encontrado neste estudo, que foi de 3,82. Corroborando com esses resultados, outro estudo desenvolvido com alunos do primeiro ano do curso de medicina de uma universidade em São Paulo, identificou que 60,6% dos estudantes avaliaram esse domínio como regular(22).

Ao avaliar a QV, sintomas depressivos e psiquiátricos menores em estudantes de enfermagem, pesquisa identificou que os discentes apresentavam elevada prevalência de sintomas depressivos(23). Os achados do estudo nos refletem a importância de voltar a atenção para a saúde física e emocional desse público, sendo de fundamental importância conversar sobre essa temática no ambiente acadêmico.

Observou-se que a faceta Espiritualidade / religião / crenças pessoais, pertencente ao domínio psicológico, atingiu a média 4,22, corroborando com o resultado encontrado no estudo realizado com acadêmicos do curso de odontologia, em que os alunos que declararam ter alguma religião, estavam satisfeitos quanto à QV(24). Divergindo destes resultados, o estudo realizado com acadêmicos de educação física da Universidade Federal do Acre obteve a média de 2,57 para essa faceta, identificando a necessidade de melhoria(25).

As facetas: sentimentos positivos e sentimentos negativos atingiram, respectivamente, as médias 3,40 e 3,45, sendo classificadas como regular. Um estudo desenvolvido com acadêmicos de medicina identificou que a mudança de período letivo, inserção de matérias de maior complexidade e alterações na carga horária, provocam sentimentos positivos ou negativos entre os estudantes, podendo ocasionar situações de ansiedade e estresse(19). Ao avaliar a QV de alunos de um curso técnico em gestão, foi observado que a faceta sentimentos negativos necessita de melhoria, pois foi considerada como um padrão “ruim” ((26).

Pensar, aprender, memória e concentração, foi à faceta do domínio psicológico que alcançou a menor média, 3,28. Resultado semelhante foi encontrado ao se avaliar a QV dos estudantes do curso de educação física, na qual a média alcançada para essa faceta foi de 3,78, classificando-a como regular(25). A deficiência relatada na faceta sono e repouso podem ter influência nestes resultados, pois o cansaço provocado pela falta de repouso podem interferir na memória e concentração dos estudantes.

O domínio relações sociais apresentou os melhores resultados em uma pesquisa desenvolvida com os estudantes de medicina e engenharia civil de uma universidade do Rio de Janeiro(17). Esse achado diverge com o encontrado neste estudo, pois a média atingida pelos estudantes de enfermagem foi de 3,77 sendo o domínio classificado de forma geral como regular. Um estudo qualitativo, utilizando o processo photovoice, concluiu que os acadêmicos possuem uma rotina de estudos intensa, falta de tempo e apresentam dificuldade para conciliar a vida pessoal e acadêmica(27).

O último domínio relacionado ao meio ambiente também foi classificado como regular, com destaque para a faceta recreação/lazer que atingiu a média 2,60, evidenciando que os estudantes consideram a necessidade de melhoria. Já no estudo realizado para avaliar a QV dos estudantes do curso de odontologia na pandemia da COVID-19, esse domínio atingiu a maior média(24). No entanto, vale ressaltar que a pandemia da COVID-19 pode ter influenciado nos achados deste estudo, pois as medidas de contenção da doença adotadas por cada Estado podem ter contribuído para as baixas notas na faceta recreação/lazer. A intensa carga de estudos também reflete no pouco tempo disponibilizado para as atividades de recreação/lazer, e essa restrição pode comprometer a QV futura dos estudantes(11).

A faceta: recurso financeiro alcançou a segunda menor média do domínio, 3,10, seguida da faceta segurança física e proteção que teve a média 3,41, sendo classificadas como regular. Resultado semelhante foi encontrado ao avaliar a QV de estudantes dos cursos de enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, saúde coletiva e terapia ocupacional, na qual, os acadêmicos classificaram o domínio como “insatisfatório”, sendo essas duas facetas, em conjunto com participação em recreação/lazer, as que apresentaram os menores resultados(28).

No que concerne a faceta oportunidade de adquirir novas informações e habilidades, os acadêmicos deste estudo classificaram como “regular”. Resultado semelhante foi encontrado ao avaliar a QV de acadêmicos de enfermagem de uma universidade pública do norte brasileiro, na qual, identificou-se que os discentes consideram “médio” o acesso a essas informações(29).

O estudo apresenta como contribuição para a prática clínica e pesquisa em enfermagem, o fato de possibilitar a detecção das dificuldades vivenciadas pelos acadêmicos de enfermagem, o que dá subsídios para a formulação de estratégias que melhorem a QV desse público, ao fornecer suporte físico, emocional e psicológico. Salienta-se a necessidade de contribuição da universidade com o desenvolvimento de momentos de lazer e interação com maior frequência no campus.

Diante da situação de saúde vivenciada com a pandemia da COVID-19, teve-se como limitação do estudo a necessidade de aplicar o instrumento de coleta de dados via eletrônica, em virtude da necessidade de distanciamento social no combate à doença. Dessa forma, alguns acadêmicos não responderam os questionários. Porém, o número da amostra e a colaboração dos participantes foram determinantes para a pesquisa. Destaca-se, que este trabalho poderá ser utilizado como base para estudos científicos relacionados a essa temática nos demais cursos oferecidos pela IES, contribuindo com um conjunto de dados seguros para pesquisas.

CONCLUSÃO

Os estudantes de enfermagem descreveram a QV em todos os domínios do WHOQOL-Bref como regular, apesar de facetas que necessitam de melhorias nos domínios: físico e meio ambiente. No entanto, as questões sobre a QV geral e satisfação com a saúde demonstraram a necessidade de melhoria em ambos os questionamentos, o que pode ter sido influenciado pela pandemia de COVID-19. A satisfação com o sono e repouso, atividade física cotidiana, falta de energia para o dia a dia e fadiga foram os itens mais agravantes presentes no domínio físico. Já no domínio meio ambiente a participação em atividades de recreação/lazer se apresentou como a principal faceta que necessita de melhorias.

Desse modo, é necessário que sejam elaboradas intervenções com os universitários de enfermagem, com ênfase na melhoria do bem-estar físico e ambiental. Com isso, poderá ser viável estabelecer benefícios para a QV desses acadêmicos e garantir o melhor desempenho nas atividades universitárias, assim como, na satisfação com a saúde geral.

REFERENCIAS

1 - Peixoto LCP, Santos EKA, Andrade LM, Carvalho PAL, Sena ELS. Vítima e vilã: experiência ambígua de estudantes de enfermagem no contexto universitário. Rev. Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200365. doi: https://doi.org/10.1590/19831447.2021.20200365 Acesso em 18 de jan. de 2022. [ Links ]

2 - Kecojevic A, Basch CH, Sullivan M, Davi NK. The impact of the COVID-19 epidemic on mental health of undergraduate students in New Jersey, cross-sectional study. PloS one. 2020;15(9):e0239696. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0239696 Acesso em 17 de jan. de 2022. [ Links ]

3 - Maia BR, Dias PC. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: O impacto da COVID-19. Estud. Psicol. 2020;37:e200067. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067 Acesso em 18 de jan. de 2022. [ Links ]

4 - Hermassi S, Hayes LD, Salman A, Sanal-Hayes NEM, Abassi E, Al-Kuwari L, et al. Physical Activity, Sedentary Behavior, and Satisfaction With Life of University Students in Qatar: Changes During Confinement Due to the COVID-19 Pandemic. Frontiers in Psychology. 2021;12:4388. doi: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.704562 Acesso em 17 de jan. de 2022. [ Links ]

5 - Kupcewicz E, Grochans E, Kaducaková H, Mikla M, Józwik M. Analysis of the Relationship between Stress Intensity and Coping Strategy and the Quality of Life of Nursing Students in Poland, Spain and Slovakia. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2020;17(12):4536. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph1724536 Acesso em 18 de jan. de 2022. [ Links ]

6 - Guillasper JN, Oducado RMF, Soriano GP. Papel protetor da residliência no impacto do COVID-19 na qualidade de vida de estudantes de enfermagem nas Filipinas. Belitung Nursing Journal. 2021;7(1):43-49. doi: https://doi.org/10.33546/bnj.1297 Acesso em 20 de jan. de 2022. [ Links ]

7 - Beisland EG, Gjeilo KH, Andersen JR, Bratas O, Ba B, Haraldstad K, et al. "Qualidade de vida e medo do COVID-19 em 2600 estudantes de bacharelado em enfermagem em cinco universidades: um estudo transversal". Resultados de saúde e qualidade de vida. 2021;19(1):NA. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12955-021-01837-2 Acesso em 25 de jan. de 2022. [ Links ]

8 - Grande RAN, Butcon VEB, Indonto MCL, Villacorte LM, Berdida BJE. Quality os life of nursing internship students in saudi Arabia during the covid-19 pandemic: a cross-sectional study. International Journal of Africa Nursing Sciences. 2021;14:100301. doi: https://doi.org/10.1016/j.ijans.2021.100301 Acesso em 25 de jan. de 2022. [ Links ]

9 - Kayaba M, Matsushita T, Katayama N, Inoue Y, Sasai-Sakuma T. Sleep-wake rhythm and its association with lifestyle, health-related quality of life and academic performance among Japanese nursing students: a cross-sectional study. BMC nursing. 2021;20(1):1-9. doi: https://doi.org/10.1186/s12912-021-00748-3 Acesso em 24 de jan. de 2022. [ Links ]

10 - World Health Organization. Introduction, Administration, scoring and generic version of the assessment. [Internet] 1996 [Acesso em 18 de jan. 2022]. Disponível em: http://www.who.int/mentalhealt/media/en76.pdf. [ Links ]

11 - Pires AMF, Gusmão WDP, Carvalho LWT, Amaral MMLS. Qualidade de vida de acadêmicos de Medicina: Há mudanças durante a graduação?. Rev. Bras. de Educ. Méd. 2020;44(4):1-7. doi: https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.4-20200008 Acesso em 10 de fev. de 2022. [ Links ]

12 - Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução n° 466 de 12 de dezembro de 2012. Avaiable from: https:/bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html Acesso em 10 de fev. de 2022. [ Links ]

13 - Castro TRO, Rodrigues JA, Sousa JCS, Ribas MS, Silva MV, Freire FM, et al. Qualidade de vida dos estudantes de enfermagem em uma instituição de ensino do Distrito Federal/DF. Enferm. Bras. 2021;20(2):159-176. doi: https://doi.org/10.33233/eb.v20i2.4327 Acesso em 10 de fev. de 2022. [ Links ]

14 - Ramos TH, Pedrolo E, Santana LL, Ziesemer NBS, Haeffner R, Carvalho TP. O impacto da pandemia do novo coronavírus na qualidade de vida de estudantes de enfermagem. Rev. Enferm. do Centro-Oeste Mineiro. 2020;10:1-11. doi: https://doi.org/10.19175/recom.v10i0.4042 Acesso em 15 de fev. de 2022. [ Links ]

15 - Aliante G, Abacar M, Mucavea PLA. Burnout em estudantes de psicologia em uma Universidade pública em Moçambique. Trabalho (En) Cena. 2020;5(1):163-180. doi: https://doi.org/10.20873/2526-1487V5N1P163 Acesso em 15 de fev. de 2022. [ Links ]

16 - Amorim CB, Oliveira MF, Barlem ELD, Mattos LM. Dificuldades vivenciadas pelos estudantes de enfermagem durante a sua formação. Journal of Nursing And Health. 2019;9(3):1-15. Avaiable from: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/14310 Acesso em 17 de fev. de 2022. [ Links ]

17 - Carrara VA, Santos AMVC. Análise da qualidade de vida dos acadêmicos de medicina e engenharia civil da UniRedentor mediante aplicação do WHOQOL-bref. Perspectivas Online: Biológicas & Saúde. 2021;11(39):11-22. doi: https://doi.org/10.25242/8868113920212297 Acesso em 10 de fev. de 2022. [ Links ]

18 - Cruz FRS, Gomes ACMS, Rodrigues Neto G, Silva NAV, Nogueira WBAG, Andrade SSC. Qualidade de vida entre estudantes de enfermagem de uma instituição de ensino superior. Rev. Enferm. UERJ. 2020;28:e51148. doi: https://doi.org/10.12957/reuerj.2020.51148 Acesso em 21 de fev. de 2022. [ Links ]

19 - Silva GM, Garcia LN, Araújo junior LM, Souza LBC, Silva MVO, Abdalla D, et al. Evaluation of the academic environment and quality of life medical students in the basic cycle of the University of Uberaba. Research, Society and Development. 2021;10(13):1-17. doi: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i13.20841 Acesso em 06 de mar. de 2022. [ Links ]

20 - Miranda IMM, Tavares HHF, Silva HRS, Braga MS, Santos RO, Guerra HS. Quality of Life and Graduation in Medicine. Rev. Bras. de Educ. Médica. 2020;44(3):1-8. doi: https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.3-20200068.ING Acesso em 06 de mar. de 2022. [ Links ]

21 - Amorim BB, Moraes L, Sá ICG, Silva BBG, Câmara Filho JWS. Saúde mental do estudante de Medicina: psicopatologia, estresse, sono e qualidade de vida. Rev. Psi. Divers. Saúde. 2018;7(2):245-254. doi: https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v7i2.1911 Acesso em 06 de mar. de 2022. [ Links ]

22 - Carmignani LE, Panhoca I. Percepção da qualidade de vida de alunos de primeiro ano de medicina. Rev. Científica UMC. 2019;4(3):1-4. Avaiable from: http://seer.umc.br/index.php/revistaumc/article/view/918/702 Acesso em 06 de mar. de 2022. [ Links ]

23 - Pinheiro JMG, Macedo ABT, Antoniolli L, Dornelles TM, Tavares JP, Souza SBC. Qualidade de vida, sintomas depressivos e psiquiátricos menores em estudantes de enfermagem. Rev. Bras. Enferm. 2020;3(suppl 1): e20190134. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0134 Acesso em 19 de mar. de 2022. [ Links ]

24 - Teixeira CNG, Rodrigues MIQ, Silva RADA, Silva PGB, Barros MMA. Qualidade de vida em estudantes de odontologia na pandemia de COVID-19: um estudo multicêntrico. Rev. Saúd Pesq. 2021;14(2):247-259. doi: https://doi.org/10.17765/2176-9206.2021v14n2.e8113 Acesso em 02 de abr. de 2022. [ Links ]

25 - Silva PJS, Simões RLL, Ferreira CRT, Deus MBB, Leitão FNC, Morais MJD. Qualidade de vida dos acadêmicos de educação física da Universidade Federal do Acre. Sout American Journal: of Basic Education, Technical and Technological. 2021;8(2):1-13. Avaiable from: https://revistas.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/view/3634 Acesso em 02 de abr. de 2022. [ Links ]

26 - Alvarenga ABCS, Souza MO, Vital SJS, Pereira TF, Espuny M. Avaliação da qualidade de vida em relação ao desempenho escolar de alunos de cursos técnicos em gestão. Brazilian Journal of Development. 2020;6(4):18463-18483. doi: https://doi.org/10.34117/bjdv6n4-135 Acesso em 02 de abr. de 2022. [ Links ]

27. Carvalhais M, Ferreira A, Silva A, Dias C, Silva D, Leite D, et al. Promover estilos de vida saudáveis nos estudantes de enfermagem. Rev. De Investigação e Inovação em Saúde. 2020;3(1):43-53. doi: https://doi.10.37914/riis.v3i1.79 Acesso em 10 de abr. de 2022. [ Links ]

28. Rodrigues DS, Silva BO, Souza MBCA, Campos IO. Análise da qualidade de vida de estudantes universitários da área de saúde. Rev. Saúde em Foco. 2019;6(2):3-16. doi: http://dx.doi.org/10.12819/rsf.2019.6.2.1 Acesso em 12 de abr. de 2022. [ Links ]

29. Margotti E, Sousa JG, Braga ALS. Qualidade de vida de acadêmicos de enfermagem de Universidade Pública do Norte brasileiro. Espaço para a Saúde - Rev. Saúde Pública do Paraná. 2021;22:e770. doi: https://doi.org/10.22421/1517-7130/es.2021v22.e770 Acesso em 25 de abr. de 2022. [ Links ]

Recebido: 10 de Novembro de 2022; Aceito: 03 de Fevereiro de 2023

Creative Commons License Este es un artículo publicado en acceso abierto bajo una licencia Creative Commons