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Cuadernos de Psicología del Deporte

versión On-line ISSN 1989-5879versión impresa ISSN 1578-8423

CPD vol.21 no.3 Murcia sep./dic. 2021  Epub 23-Mayo-2022

 

Psicología del Deporte

Atletismo brasileiro: uma análise qualitativa do ambiente do desenvolvimento do talento esportivo

Brazilian athletics: a qualitative anlysis of the environment for the development of sports talent

Atletismo brasileño: un análisis cualitativo del entorno para el desarrollo del talento deportivo

IP Costa1  , MP Rodrigues1  , JF López-Gil2  , FR Cavichiolli1 

1Universidade Federal do Paraná, Brasil

2Universidad de Murcia, España.

RESUMO

O ambiente de desenvolvimento do talento é composto pelos aspectos psicológicos, sociais e fisiológicos, além das condições físicas e materiais que influenciam o desenvolvimento do talento dentro e fora do mundo esportivo. Este estudo verificou se o contexto do atletismo brasileiro pode ser um elemento propulsor ou inibidor do desenvolvimento dos atletas. Foram entrevistados 19 atletas e cinco gestores, de cinco equipes classificadas entre as 35 equipes melhores ranqueadas em competições realizadas nos anos de 2015, 2016 e 2017. O modelo de entrevista se baseou no questionário Talent Development Environment Questionnaire, elaborado por Martindale. O modelo de análise utilizou como base a teoria Bioecológica de Bronfenbrenner. As teorias utilizadas consideram o ambiente de talentos de forma generalizada. Conclui-se que o ambiente de desenvolvimento impacta no desempenho esportivo e na progressão que o atleta terá em sua carreira e as principais diferenças estão nos contextos de estruturas físicas e humanas.

Palavras chave: esporte; atletas; psicología; contexto

ABSTRACT

The environment for the development of talent is composed of psychological, social and physiological aspects, beyond the physical and material conditions that influence such development, inside and outside the world of sport. This study verified whether context of Brazilian athletics can be a propelling or inhibiting element in the development of athletes. 19 athletes and five managers, of five teams among the 35 best classified in the competitions held in 2015, 2016 and 2017 were interviewed. The interview model was based in the Talent Development Environment Questionnaire, created by Martindale. The analysis model was based on Bronfenbrenner's bioecological theory. The theories used consider the talent environment in a generalized way. It is concluded that the development environment impacts sports performance and the progression that the athlete will have in his career and the main differences are in the contexts of physical and human structures.

Keywords: sports; athletes; psychology; context

RESUMEN

El entorno de desarrollo del talento está compuesto por los aspectos psicológicos, sociales y fisiológicos, más allá de las condiciones físicas y materiales que influyen en dicho desarrollo, dentro y fuera del mundo deportivo. Este estudio verificó si el contexto del atletismo brasileño puede ser un elemento propulsor o inhibidor del desarrollo de los atletas. Fueron entrevistados 19 deportistas y a cinco directivos, de cinco equipos de entre los 35 mejores clasificados en las competiciones celebradas en 2015, 2016 y 2017. El modelo de entrevista se basó en el Cuestionario del Entorno de Desarrollo de Talentos, preparado por Martindale. El modelo de análisis se basó en la teoría bioecológica de Bronfenbrenner. Las teorias utilizadas consideran el entorno del talento de forma generalizada. Se concluye que el entorno de desarrollo impacta el rendimento desportivo y la progresión que tendrá el desportista en su carrera y las principales diferencias están em los contextos de estructuras físicas y humanas.

Palabras clave: deportes; atletas; psicología; contexto

INTRODUÇÃO

O atletismo tem sido tema de trabalho de diversos pesquisadores que focam suas pesquisas em diferentes perspectivas e, na psicologia do esporte não é diferente, há uma grande quantidade de trabalhos na modalidade (García-Navieira, 2016; Redondo Castán, Fernández-Martinez & Izquierdo, 2019; Saavedra-García, Gutiérrez-Aguilar, Sa-Marques & Fernández-Romero, 2016).

Outro tema relevante é a formação esportiva de um atleta, em que autores estudam às alterações de estágios ocorridas ao longo da carreira, ou seja, as transições ocorridas (Alfermann, Stambulova, & Zemaityte, 2004; Hollings, Mallett, & Hume, 2014, Ramos & Neves, 2008). Ramos e Neves (2008) defendem que a formação esportiva, principalmente a longo prazo, precisa de modelos de análise que identifiquem sua estrutura como um todo, seus objetivos, consequências e as variáveis influentes sobre esse fenômeno, dessa forma, fatores psicológicos, sociológicos, físicos e ambientais são pontos-chave quando se debate a formação continuada de atletas.

Gould, Dieffenbach e Moffett (2002) afirmam que vários indivíduos e instituições influenciam o desenvolvimento psicológico dos atletas, incluindo a comunidade, a família, o próprio indivíduo, pessoas de fora do meio esportivo, pessoas do meio esportivo, como o treinador, e o próprio processo esportivo em si. O impacto do ambiento no desenvolvimento de um atleta desempenha um significativo papel em sua progressão no esporte (Henriksen; Stambulova & Roessler, 2010; Martindale, Collins & Draubney, 2005).

Bronfenbrenner (2011) apresenta em sua teoria bioecológica o modelo PPCT (Processo-Pessoa-Contexto-Tempo), caracterizado pelos processos proximais, características pessoais, contexto (com todos os seus níveis, micro, meso, exo e macrossistema) e o tempo. Os processos proximais que desenvolvem as características pessoais e ocorrem em um ambiente estimulador e em um período longo, favorecem o desenvolvimento pleno do indivíduo.

Com o aumento no interesse do surgimento de novos atletas, alguns países desenvolveram programas de detecção e desenvolvimento de talentos, Martindale et al. (2005) exemplificam com o programa australiano de busca de talentos. Um problema é que muitos programas se concentrarem em identificar precocemente os jovens talentosos, deixando em segundo plano o próprio processo de desenvolvimento humano, sendo que pesquisas mostram que a especialização precoce pode ser problemática em algumas modalidades (De Bosscher, De Knop, Van Bottenburg, Shibli & Bingham, 2009; Martindale et al., 2005).

Segundo Massa (2006), o talento pode ser compreendido por um conjunto de fatores biopsicossociais que necessita tanto da genética quanto de condições motoras, cognitivas e afetivas favoráveis, desenvolvidas em configurações sociais e ambientais favoráveis. O ambiente não está restrito ao local de treinamento e competição, é algo de maior abrangência, englobando o meio que o atleta está inserido, os indivíduos que compõem esse meio (considerando o próprio atleta como parte desses indivíduos) e as possibilidades que esse meio disponibiliza aos atletas (Elumaro, Georgios, Martindale & Tony, 2016; Subotnik, Olszewski-Kubilius & Worrell, 2019).

Dessa forma, a evolução do atleta transpassa o treinamento e o desenvolvimento fisiológico, e coloca-se o contexto, a cultura regional e as políticas de desenvolvimento dos talentos como pontos diretamente influentes no sucesso esportivo (Rodrigues, 2013). Nesse contexto, Martindale et al. (2005) realizaram uma densa revisão de literatura e formularam o questionário "Talent development Environment Questionnaire for Sport" (TDEQ) com o objetivo de ser uma ferramenta de monitoramento eficiente para a análise do ambiente de desenvolvimento do talento esportivo, considerando os objetivos do ambiente e as características individuais do atleta (Hall, Jones & Martindale, 2019; Martindale, Collins, Wang, McNeill, Lee, Sproule & Westbury, 2010).

É notável a falta de aplicação de instrumentos práticos de avaliação do desenvolvimento do ambiente de atletas no Brasil, inclusive o questionário TDEQ. Porém, sabe-se que o ambiente é um propulsor de desenvolvimento em diferentes modalidades esportivas. Este estudo tem como objetivo verificar se o contexto do atletismo brasileiro pode ser um elemento propulsor ou inibidor do desenvolvimento dos atletas.

MATERIAL Y MÉTODOS

Desenho do estudo

O presente estudo caracteriza-se como um estudo qualitativo descritivo e de campo. Foi utilizado entrevistas semiestruturadas e observações diretas intensivas não participante como instrumentos. Thomas, Nelson e Silverman (2012) mencionam que a observação tanto pode atuar como instrumento principal ou de modo complementar a outro instrumento, sendo que a grande tônica é observar o comportamento dos indivíduos, analisando, de forma quantitativa ou qualitativa, algum fenômeno que se busca investigar, levando em conta que a presença do observador pode influenciar involuntariamente o comportamento do objeto. Anguera-Argilaga e Hernández-Mendo (2013) classificam como combinação de formatos de campo e sistema de categorias. Além disso, Quiñones, Morillo-Baro, Reigal, Morales- Sànchez, Vázques-Diz e Hernández-Mendo (2019) declaram que a metodologia observacional é um procedimento científico, flexível e rigoroso, diante disso, é um recurso cada vez mais utilizado, inclusive para analisar os fatores determinantes no rendimento esportivo (Anguera-Argilaga & Hernández-Mendo, 2014; Blanco-Villaseñor, Castellano, Hernández-Mendo, Sánchez-López & Usabiaga, 2014; Ortega-Toro, García-Angulo, Giménez-Egido, García-Angulo & Palao, 2019).

Em relação ao desenho observacional do estudo, quanto às unidades observadas é ideográfico, quando a temporalidade é pontual, e quanto a dimensionalidade é multidimensional (Aguera-Argilaga, Blanco Villasenor, Hernández-Mendo & Losada López, 2011).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisas da Universidade Federal do Paraná (CAAE no 88770618.4.0000.0102, parecer no 2.748.001).

Participantes

A amostra do presente estudo consiste em equipes com nível de qualidade primária do 1º ao 5º lugar, equipes com nível de qualidade secundária do 6º ao 19º, e as equipes com nível terciário, do 20º ao 35º lugar no somatório da pontuação geral de atletismo disponibilizada pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) entre os anos de 2015, 2016 e 2017 (resultados das competições interclubes sub-18 e sub-20.

Côté (1999) afirma que, somente após os 15 anos de idade é que os jovens são direcionados a buscar o nível de excelência em apenas uma atividade. Assim, as idades de 18 e 20 anos são contempladas como idades em que a especialização já está em processo de evolução durante grande período de tempo.

A população da pesquisa consiste em 173 clubes participantes de pelo menos uma competição anual organizada pela CBAt. Destas, selecionamos as 35 equipes com o maior número de resultados (nível de confiança 90%, margem de erro amostral de 10%). Destas equipes, com o intuito de aprofundar a análise qualitativa, selecionamos as equipes ORCAMPI e EMFCA, como as equipes de qualidade primária, a equipe FECAM como equipe de qualidade secundária, e as equipes PM Colombo e Curitiba SMELJ foram selecionadas como equipes de qualidade terciária. Todas as equipes selecionadas estão localizadas nas regiões Sudeste e Sul: a equipe ORCAMPI em Campinas - SP; a EMFCA no Rio de Janeiro - RJ; a FECAM em Campo Mourão - PR; a PM Colombo na cidade de Colombo - PR; e a Curitiba SMELJ localizada na cidade de Curitiba - PR.

Tabela 1.  Dados gerais da amostra 

Instrumentos

As entrevistas foram elaboradas a partir dos sete fatores do questionário Talent Development Environment Questionnaire sendo eles: "foco no desenvolvimento a longo prazo", "preparação de qualidade", "comunicação", "compreensão do atleta", "rede de apoio", "ambiente desafiador e de apoio" e "fundamentos de desenvolvimento a longo prazo". (Martindale et al., 2005; Martindale et al., 2010; Martindale, Collins, Douglas & Whike, 2012). As perguntas originais do questionário estão no idioma inglês e foram traduzidas para o português de Portugal, tendo sido utilizadas em estudos científicos daquele país (Rodrigues, 2013). Há também uma versão em espanhol para o questionário TDEQ que foi validada previamente (Brazo-Sayavera, Olivares, Andronikos & Martindale, 2017). O questionário foi transformado em uma entrevista, pois não há validação do questionário para o a língua portuguesa. E ainda, durante a validação para o espanhol, Brazo-Sayavera et al. (2017) utilizaram entrevistas como uma das etapas do processo.

O roteiro de observação foi fundamental para diferenciar os fatores apresentados em cada equipe. Focando na interpretação das ações, ambientes e relação com os formadores, o roteiro de observação se atentou em descrever desde a estrutura física e humana encontradas nas equipes, até os sete fatores do Talent Development Environment Questionnaire (Martindale et al., 2010), confrontando ou reforçando as principais características relatadas pelos atletas (Tabela 2).

Tabela 2.  Distribuição dos critérios, categorias e rating scales. 

Procedimentos

É necessário que o pesquisador tenha a garantia sobre a qualidade dos dados (Anguera-Argilaga & Hernandéz-Mendo, 2013), assim, aprovada em caráter qualitativo, foi utilizado a concordância consensual, que antes da observação os observadores entram em consenso sobre as categorias de análises. Na sequência, os observadores discutem em qual categoria a ação observada foi atribuída.

A coleta dos dados foi realizada de maio a agosto de 2018. As observações iniciaram uma hora antes dos treinamentos e tiveram a duração de até uma hora após término dos treinamentos, totalizando uma média de 5 horas por dia de observação. Essas informações foram registradas no roteiro de observação, a partir de fotos e vídeos, que permitiu a consulta posterior dos arquivos nele contidos. O observador ficou no mínimo cinco dias e no máximo sete dias em cada local de análise. E para o controle da qualidade dos dados foi utilizado 42 situações que ocorreram durante as 30 horas totais de gravação.

Análise dos dados

As entrevistas foram transcritas na íntegra e organizadas por temáticas de acordo com o roteiro de entrevista que é baseado no questionário. Foi utilizado software NVivo - QSR International versão 12, para categorizar as entrevistas transcritas, que gerou a seguinte tabela:

Tabela 3.  Análise das categorias e criterios 

As categorias de análise surgidas nas observações e entrevistas foram detalhadas, buscando, com o referencial teórico, a base necessária para estabelecer discussões diretas e fundamentadas. De acordo com Anguera-Argilaga e Hernández-Mendo (2013) cada categoria consiste em um núcleo categórico e seus graus de abertura.

Foi utilizada como referencial teórico deste trabalho a teoria desenvolvida pelo psicólogo Urie Bronfenbrenner, que em sua proposta buscou analisar como o ambiente, em suas diversas camadas, pode ser decisivo no desenvolvimento humano. Este modelo de análise se alia perfeitamente aos fatores presentes no instrumento elaborado por Martindale et al. (2012), por evidenciar a pesquisa ambiental in loco, levar em consideração as características pessoais, as relações interpessoais, o tempo e as interações ambientais.

O paradigma utilizado será o de PPCT (Processo-Pessoa-Contexto-Tempo). Há a exclusão do modelo de processo, pois não foi feita uma análise histórica e biográfica dos participantes, para proceder com todos os processos de interiorização dos estímulos do ambiente. Deste modo o modelo de análise será (PCT), dentro do qual as pessoas são os gestores e atletas e o tempo caracterizado pelos meses de maio a agosto de 2018.

Dentro da teoria de Bronfenbrenner (1996; 2011), a matriz de análise será dividida em duas partes, Propriedades da Pessoa (disposições que ativam ou inibem o desenvolvimento por base dos recursos e demandas) e Parâmetros do Contexto (Micro/Meso/Exo/Macro/Cronotempo), utilizadas para nortear os resultados e discussões, considerando a visão holística do TDEQ e a teoria Bioecológica.

De acordo com Anguera-Argilaga e Hernández-Mendo (2013) cada categoria consiste em um núcleo categórico e seus graus de abertura, que são as manifestações externas dos comportamentos que são atribuídas a categoria. De acordo com a tabela, a matriz é o núcleo categórico e os fatores são os graus de aberturas visualizados de acordo com as entrevistas, observações e literatura. Após criado os códigos, foi realizado a identificação de relação entre os mesmos.

Tabela 4.  Distribuição dos fatores na matriz de análise. 

O estágio de controle de qualidade é de extrema importância para garantir que os dados sejam confiáveis, Anguera-Argilaga e Hernández-Mendo (2013) chamam de confiabilidade do registro observacional, ou seja, requer um controle de qualidade. E para isso é levado em consideração o número de unidades, a temporalidade, a dimensionalidade e a natureza dos dados, sendo que este estudo é caracterizado como ideográfico, pontual e multidimensional (Anguera-Argilaga et al., 2011). Para o registro e análise da qualidade dos dados, com o objetivo de detectar qualquer fonte de erros ou desvio nos dados observados, foi utilizado o software NVivo - QSR International versão 12.

RESULTADOS

Propriedades da pessoa

Na preparação de qualidade, as estruturas aparecem como recursos fundamentais dos ambientes. Nas instituições avaliadas, o microssistema da equipe ORCAMPI é caracterizado como completo, pois possuem materiais em bom estado, moradia para os atletas de outras cidades e com grande gama de profissionais multidisciplinares. A equipe EMFCA apresenta dificuldades estruturais, mas por contar com cinco treinadores, há um grande número de atletas, a instituição conta também com a ajuda do Centro de Desportos da Aeronáutica.

A equipe FECAM apresenta problemas estruturais físicos e humanos, mas com a ajuda de atletas formados em educação física e com o auxílio financeiro disponível para moradias, ela se destaca por contar atletas de vários lugares do Paraná, principalmente de cidades próximas a Campo Mourão. O microssistema da PM de Colombo é o mais deficitário estruturalmente. Os atletas não têm os objetos e instrumentos necessários para o seu desenvolvimento pleno. O número reduzido de professores também ressalta a falta de estrutura, limitando as atividades a um número pequeno de atletas. E apesar dos déficits é um centro importante de formação.

Finalizando a análise estrutural das equipes, o grupo da SMELJ Curitiba possui estrutura física de qualidade. Com suas duas pistas, consegue se adaptar ao estilo das competições, mas por ter apenas dois professores e não possuir outros profissionais, o número de jovens atendidos se reduz.

Outro aspecto na "preparação de qualidade", foi a definição de metas e periodização de treinamento. Em todas as equipes, os atletas não têm participação na sua elaboração. Ao serem questionados sobre isso, alguns relataram que os treinadores têm o entendimento necessário para isso. Todos os gestores relataram possíveis mudanças no treinamento e na periodização, caso o atleta não tenha o rendimento esperado, ou não acredite que esteja na sua melhor forma.

Sobre o estabelecimento de metas, em quatro equipes os atletas e gestores afirmaram que os próprios gestores e treinadores estabelecem essas metas. Em uma das equipes, a gestora afirmou que a meta é estabelecida em conjunto com os atletas, para eles se sentirem mais ativos e facilitar possíveis cobranças depois.

Eles participam da elaboração, na hora que eu vou cobrar ele, eu vou falar, "pera aí você participou da receita, você falou o que você queria no seu bolo, você me disse que ficaria feliz fazendo essa prova, então agora eu posso fazer uma cobrança maior, porque você estabeleceu a meta que você queria, não fui eu que disse, foi você que disse isso, cadê os compromissos? " Não tá mais fazendo feliz, então é preciso achar a sua felicidade (GESTORA 2).

No fator "compreensão do atleta", a preocupação com a vida fora do microssistema esportivo esteve presente em todas as entrevistas. Gestores afirmam que há a preocupação com a vida completa do atleta, pois algumas coisas interferem no rendimento. Por parte dos atletas, todos ressaltam essa preocupação dos treinadores e rede de profissionais de alertar sobre a influência das atitudes fora do mundo esportivo, que podem ser positivas ou negativas. Alguns atletas apontam também dificuldades em conciliar a vida de atleta e a vida social.

É difícil isso, mas eu e meu namorado fomos nos acostumando, só nos vemos no final de semana e as vezes eu tenho competição sábado e ele tem aula, então não nos vemos. Ele não é do esporte, às vezes, quando tenho que vir rodar, ele vem e anda de bike junto, mas se for para ele correr, ele não vai [...] Não sei como alinhar todas essa coisas. Quando saio com o povo da igreja, acabo explicando para eles um pouco mais do atletismo. Tinha uma época que eu gostava de sair, para ir nas festas de 15 anos, porque era chique, mas agora, eu não curto mais ficar indo em festinha, tenho que treinar [...] Tento esquecer de todas essas coisas, quando chego na competição, tento me desligar, para não atrapalhar minha concentração na prova (ATLETA 3).

Parâmetros do contexto

Os fatores que englobam o ambiente ecológico serão analisados em suas diferentes esferas. Ao se pensar nas perspectivas de desenvolvimento a longo prazo, elas estão presentes em todas as equipes. Sobre a pedagogia envolvida nos treinamentos, os gestores de duas equipes relatam a necessidade da progressão pedagógica para desenvolver o gosto pela modalidade.

Eu aceito qualquer pessoa que tenha interesse em ser atleta. Peço para os pais deixarem seus filhos uns 10 a 15 dias, sem compromisso nenhum, pois se ele gostar do atletismo, ele vai continuar, se ele não gostar, ele não continua. Porque o atletismo é bem individual, é cansativo, quando a criança vem, temos que tornar um pouco recreativo também, então se a criança gostar do atletismo, ela continua vindo. Só pego a partir dos 10 anos, antes disso eu acho que a criança tem que brincar, se divertir, participar de vários esportes diferentes. O treinamento mesmo, a partir dos 12 13 anos, antes disso tem que ser recreativo (GESTOR 3).

Então temos o modelo de trabalho da escolinha, onde o gesto motor é trabalhado e pegamos os movimentos principais de cada prova de atletismo e a gente trabalha dentro de brincadeiras, pois se fazemos repetições técnicas a criança fica desmotivada e sai da equipe, a criança não quer, mas como colocamos em brincadeiras, fica mais atrativo. Quando as crianças vêm da escolinha para o treinamento, elas já vêm mais preparadas, assim fica mais fácil para treinar as provas específicas (GESTOR 4).

Sobre essa evolução entre as categorias dentro da equipe, o Gestor 1 afirma que, dependendo das aptidões físicas demostradas pelos atletas, eles serão direcionados para as provas que mais se destacam.

Dentro da equipe, há o histórico de atletas que iniciaram o projeto (nosso projeto já tem 20 anos), iniciaram com 9 ou 10 anos de idade e hoje são treinadores da equipe. Prezamos por isso, é importante que a criança seja moldada, ele chega aqui e brinca, o processo de iniciação é lúdico, divertido que faz com que a criança aprenda a gostar da modalidade, gostar do atletismo e aí os treinadores vão percebendo os que se destacam, que tem aptidão para a modalidade, que vão crescendo até chegar a atletas de alto rendimento [...] Ele entra na escolinha, ali aprende as diversas provas do atletismo, ali ele descobre em qual prova ele leva mais jeito. Os treinadores e professores da iniciação ficam observando eles, quem tem aptidão para ser saltador ou lançador, ele direciona, leva para as competições e vai vendo se realmente o menino tem jeito mesmo (GESTOR 1).

Nas equipes observadas podemos ver a preocupação de todos gestores em formar atletas que não obtém resultados imediatos, pensando na formação social desse indivíduo. Como relata o Gestor 1:

Também temos a preocupação com os atletas que não vão chegar ao alto nível de rendimento, nosso projeto está voltado para o social. Nós não mandamos ninguém embora [...] Os atletas que são do social, logo vão perceber que não tem condições de continuar seguindo, meus amigos todos viajam e vão para as seleções, mas eu não [...] Acredito que se for olhar estatísticas o numero de crianças que entram no projeto e chegam no alto rendimento, é uma porcentagem muito baixa, 1 ou 2%. Então é uma porcentagem muito pequena para você se preocupar só com o alto rendimento. Então tem que se preocupar, principalmente, com o social. Os patrocinadores da equipe estão preocupados mais com o lado social que com o lado do alto rendimento. Porque a preocupação maior hoje, é transformar essas crianças que vem aqui para aprender o esporte, em cidadãos. E não em atletas de alto rendimento. Mas então estão fugindo do principio? Não, estamos preocupados sim com o atleta de ponta, mas o caráter do projeto principal é justamente dar atenção a todas crianças, indiferente se for chegar a nível olímpico ou não (GESTOR 1).

No fator comunicação, respostas como "eu gosto muito de trabalhar com ele", "nossa comunicação é muito boa", "ele me explica bem as coisas" e outras desse teor foram muito presentes nas equipes investigadas.

O fator "rede de apoio", escola e família foram os microssistemas mais presentes nesse fator a partir das respostas obtidas. Sobre o microssistema escolar, todos os atletas entrevistados declararam que, quando há a necessidade de faltas para viagens ou treinamentos, os gestores fornecem os materiais necessários para a declaração de justificar as faltas. Encontramos divergências na relação quanto à cobrança de desempenho estudantil para continuar treinando. Com exceção de uma equipe, todas as outras afirmam ter relacionamento direto com a escola e afirmam cobrar esse rendimento. Um gestor justifica que há uma obrigatoriedade, mas que o papel de interferir na atividade escolar é dos pais.

A gente exige que tragam os boletins informando a performance deles na escola, cobramos como eles vão na escola, mas não interferimos. Os que vão mal na escola, nós orientamos eles e os pais, nas reuniões, falamos que se o filho seguir com essas notas perderá o ano letivo, mas não fazemos a vez dos pais, só orientamos (GESTOR 1).

Sobre a relação pós-educação básica, três equipes possuem convênios com faculdades, que oferecem bolsas de estudo para os atletas. Os gestores relatam que essa busca de uma formação acadêmica é estimulada pelas equipes.

Se eles já terminaram a escola, pedimos para fazer faculdade, que temos a parceria com uma universidade da cidade (eles ganham bolsa e, em algumas competições, eles competem pela universidade), ou no mínimo um curso profissionalizante, estudar um inglês, fazer alguma coisa que venha a beneficiar ele no futuro (GESTOR 3).

Ao questionar os atletas sobre as dificuldades de seguir com a vida de atleta e a vida estudantil, tivemos diversas opiniões, mostrando dificuldades (sacrifício em repor os conteúdos perdidos), facilidades (ajuda dos professores em questão de notas) ou neutralidade.

Outro ponto presente nas entrevistas foi a forma de relação entre os familiares e as equipes, em todas as equipes existem os pais que se relacionam diretamente com a equipe e, em quatro delas, têm os pais que não são presentes no microssistema das equipes.

No fator "ambiente desafiador e de apoio", é possível compreender se o ambiente é estimulante e proporciona o suporte necessário ao atleta. Existem diferentes pessoas, desempenhando papéis diferentes. Há a colaboração entre os companheiros das equipes, por meio da transmissão de conhecimento entre os atletas mais velhos e os atletas mais novos, repasse de materiais usados pelos atletas, como explica o atleta 15 "Eu dou vários incentivos a outros atletas, eu ganho uniforme do Brasil, e como ganho muita massa muscular, os uniformes que não servem mais, eu passo para eles".

Outro aspecto é a competitividade dentro do ambiente mais próximo do atleta e até mesmo em ambientes mais distantes, que pode estimular o resultado e a crescente evolução. Um gestor ressalta a importância desse estímulo na evolução dos seus atletas, com a ressalva da dosagem dessa competição, para não acabar sendo um estímulo negativo para o atleta.

No fator "fundamentos de desenvolvimento do longo prazo", o ponto principal das entrevistas dos atletas foi o apoio parental. Respostas como "eu recebo apoio total dos meus pais", "meus irmãos falam para todos que têm uma irmã atleta", "quando eu quis parar, meu pai me aconselhou a continuar", "minha mãe me apoia muito", "meu pai é meu principal apoiador em casa" e muitas outras, estiveram presentes na grande maioria dos relatos coletados. Mas também houve respostas com pouco apoio e alguns com estímulos negativos, como expõe o atleta 10.

De vez em quando eu pego o celular e minha irmã fala para mim, "sai dessa vida, vem para cá arrumar um trabalho, vira gente, para com isso, isso não vai te dar futuro". Minha família, eu vejo isso, minha família nunca teve objetivo, nunca teve o sonho de crescer. Eu também não tinha, como eles, porque eles cresceram em uma cidade pequena, quem cresce em cidade pequena, em sítio não tem sonho grande, quer viver o que tá ali. Então eles viveram o que tinha para eles lá, eu não, eu conheci uma coisa maior, eu quis sonhar. Mas como eu não tinha ajuda, não tinha dinheiro para poder me levantar sozinho, eu comecei aos poucos. Eu uso a minha família como referência aqui, para poder pegar mais pesado, eu quero ser bom eu quero continuar na frente, conseguir conhecer alguma coisa e ajudar minha família. Eu pretendo ajudar mais minha mãe, porque ela sempre me ajudou, ela sempre manda dinheiro quando falta e eu falo, "mãe, não precisa mandar dinheiro não", mas ela sempre manda dinheiro e me ajuda. Eu pego como estímulo para treinar, a minha família (ATLETA 10).

Sobre o pensamento dos pais com relação a prática esportiva, o gestor de uma equipe explica os modelos de apoio parentais que seus atletas recebem.

Cada família tem uma estrutura totalmente diferente, temos casos de pais que super apoiam e temos casos de pais que apoiam demais e cobram de menos, eles dão tudo que o cara quer, mas não cobram o empenho dele. Temos casos de pais que não deixam o filho competir, mesmo o filho treinando diariamente, tendo talento, eles alegam N motivos, o cara é muito jovem, "eu tenho medo do meu filho viajar sozinho". Mas temos os casos dos pais que não apoiam e às vezes desencorajam o filho de participar da competição. Então temos os três casos, o que apoia muito e isso também é ruim, pois não tem exigência, o cara que apoia menos, mas está junto com o filho e o cara que não apoia nada, até desestimula o filho (GESTOR 4).

DISCUSSÃO

Ao verificar se o contexto do atletismo brasileiro pode ser um elemento propulsor ou inibidor do desenvolvimento dos atletas, os resultados mostram que o ambiente pode influenciar de forma negativa e/ou positiva. Os contextos analisados possuem diferenças e semelhanças dentro dos fatores levantados por Martindale et al. (2010), podemos ver que cada microssistema se constitui de singularidades e homogeneidades que formam o macrossistema esportivo do atletismo. Cada equipe pode se enquadrar como um microssistema, estabelecido como o ambiente de contato imediato, constituído de um padrão de atividades, relações interpessoais e papéis sociais, levando em conta os aspectos físicos, simbólicos e sociais, que podem permitir ou inibir o envolvimento em atividades e interações, por parte da pessoa de desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1996; Li, Martindale & Sun, 2019; Martindale et al., 2005).

Em relação as propriedades da pessoa, podemos constatar que os fatores "preparação de qualidade" e "compreensão do atleta" se enquadram na categoria de análise por contemplarem os recursos e demandas que cada microssistema oferece, além de analisarem o atleta holisticamente, de maneira completa, tirando proveito de forma otimizada das suas características para o seu desenvolvimento (Martindale et al., 2010).

O fator "preparação de qualidade" relata sobre as perspectivas de desenvolvimento por meio das definições de metas, estrutura de qualidade, oportunidades de repetição e feedback (Martindale et al., 2010). Cecconello e Koller (2003) apontam que ambientes distintos resultam em resultados distintos. Quanto mais organizado e favorável, mais processos proximais competentes vão ocorrer, quanto menos organizado e desfavorável, maior serão as disfunções apresentadas.

O rendimento pode ser justificado pela diferença na estrutura física e humana de cada equipe e pelo número de atletas que podem ser atingidos com qualidade, fazendo com que os processos proximais se aproximem da competência para um número maior de jovens (Bronfenbrenner & Morris, 2006). As esquipes que apresentaram melhores resultados são as equipes que contam com número maior de professores, e logo, podem atender um número maior de atletas, aumentando sua gama de seleção para o período posterior, em que os treinamentos se tornam específicos de certas modalidades. Tozetto, Milistetd, Collet, Ilha, Anello e Nascimento (2019) afirmam a necessidade de um suporte multiprofissional (gestores, psicólogos e outros) e de políticas públicas para que a ação dos treinadores aconteça de forma efetiva.

Martindale et al. (2010) defendem que, nesse fator, não só a estrutura oferece uma preparação de qualidade, mas a definição de metas e periodização de treinamento são pontos importantes no desenvolvimento do atleta. E para isso é necessário que os atletas tenham uma participação ativa na definição de metas, pois promove uma melhora pessoal contínua (Bronfenbrenner, 2011; Keegan, Harwood, Spray & Lavallee, 2014).

No fator "compreensão do atleta" é visível que interação de conhecimento interambiente, em que se traz informações de experiências existentes em um ambiente para outro é determinante no desenvolvimento do atleta, já que se tem o conhecimento das influências entre os ambientes, e busca-se, através de processos, a evolução para que todos os ambientes permitam o melhor desenvolvimento possível (Bronfenbrenner, 1996).

Desse modo, ao melhorar o entendimento holístico sobre o atleta, as equipes progridem na orientação evolutiva da formação plena do atleta. As equipes com mais recursos para trabalhar esse entendimento tendem a obter um resultado desenvolvimentista mais efetivo (Henriksen et al., 2010)

Nesses discursos apresentados pelos atletas vemos que há essa oportunidade da prática das atividades mais diversificadas, em níveis inferiores, como entre colegas de equipe. Bronfenbrenner e Evans (2001) afirmam que essa multidirecionalidade de tarefas é um dos fatores considerados como primordiais no desenvolvimento humano ambiental, por demandar a troca enérgica do ambiente com o indivíduo em formação. Assim, esses ambientes, de promoverem essas atividades molares, estimulam a competência, tipo de processo proximal caracterizado pelo ganho e desenvolvimento de valências como habilidades e conhecimento.

Na matriz "parâmetros do contexto", fatores como "foco no desenvolvimento a longo prazo" e "comunicação" aparecem no ambiente mais imediato, e são caracterizados diretamente no microssistema. Já os fatores "rede de apoio", "ambiente desafiador e de apoio" e "fundamentos de desenvolvimento a longo prazo" abrangem os conceitos de meso, exo e macrossistema, por se estabeleceram na análise de vários microssistemas. O cronossistema aparece ao falarmos no desenvolvimento contínuo, principalmente nos fatores "foco no desenvolvimento a longo prazo" e "fundamentos de desenvolvimento a longo prazo". Foi possível constatar a partir do fator "foco de desenvolvimento a longo prazo", que há uma preocupação com a formação por parte de todas as equipes analisadas. As equipes visam a formação de um número amplo de vários indivíduos, isso contempla satisfatoriamente os pontos determinados por Martindale et al. (2010) como mais importantes na análise do foco no desenvolvimento a longo prazo, não havendo diferenças ambientais significativas sobre esse fator.

Com relação ao fator "comunicação", Bronfenbrenner (1996) analisa, pelo meio das díades, que a reciprocidade é ponto determinante de motivação de seus participantes, os padrões interativos se tornam mais complexos, e resultam no aumento da intensidade de processos proximais que visam o desenvolvimento (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Nesse ponto, temos que destacar que, em todas as entrevistas, o principal treinador de cada equipe foi o que recebeu essa análise por parte dos atletas, descartando-se os técnicos auxiliares, estagiários e voluntários.

Microssistemas com maior nível de reciprocidade entre os indivíduos que o compõe tendem a ter mais respostas evolutivas no caminho do desenvolvimento humano. Assim, as equipes devem ter esse cuidado ao estipularem padrões de comunicação entre os treinadores e atletas. Todas as equipes apresentaram bons níveis de comunicação pelos relatos dos atletas e gestores. Mas as equipes que contam com mais de um treinador trabalhando diretamente com o grupo de atletas devem se atentar a manter um padrão comunicativo entre os indivíduos visando o desenvolvimento. Thomas, Abbott, Gastin & Main (2020) destacam a eficácia das comunicações entre treinadores e atletas em relação ao desenvolvimento dos atletas.

O fator "rede de apoio" vem aliado ao entendimento do atleta, quando pensamos na formação abrangente, que forma o atleta em todas as áreas (Jordana, Pons, Borrueco, Pallarés & Torregrossa, 2019; Li et al., 2019), estudo, família, religião e amigos dentro e fora do esporte, são exemplos de componentes dessa rede de apoio (Martindale et al., 2010). Como pensamos em rede, nesse fator os aspectos analisados partiram da relação entre a equipe de treinamento e os outros componentes da rede (Martindale et al., 2012).

Esse contato mais próximo entre pais e equipe é de suma importância para a aceleração do desenvolvimento. Bronfenbrenner (1996) afirma que o potencial desenvolvimental de um microssistema evolui no momento em que os vínculos de apoio são pessoas que o indivíduo em desenvolvimento já criou díades primárias. Para o indivíduo, é importante que essas pessoas se relacionem de forma positiva. Assim, os mesossistemas em que os familiares e os treinadores têm um vínculo suplementar, em que há a participação dessas pessoas em mais do que um ambiente, favorecem muito o desenvolvimento do indivíduo, formando uma rede social fundamental, que serve para transmitir informações e atitudes entre os ambientes.

O fator "ambiente desafiador e de apoio" tem enfoque em como os ambientes podem ser desafiadores e estimulantes no desenvolvimento, a partir dos treinamentos, apoio entre companheiros, competições e progressões de carreira, levando a uma motivação intrínseca (Martindale et al., 2010).

Com relação aos papéis desempenhados e suas influências no ambiente, Bronfenbrenner (1996) relata que os papéis influenciam diretamente as atividades e relações em que estão inseridas, alterando seu desenvolvimento. As atitudes que pessoas em determinados papéis desempenham devem ser correspondentes (Ceballos, Molina, Vallejo & Izquierdo, 2019). A interferência desses papéis vem associada às influências expostas nas díades, quanto mais forte for a reciprocidade, a relação afetiva e o equilíbrio de poder, maior será o impacto que os indivíduos com determinado papel exercerão no ambiente (Bronfenbrenner, 1996).

A competição pode ser vista como motivação para o desenvolvimento. Bronfenbrenner e Morris (2006) defendem que a esfera do domínio motivacional se estabelece como um dos domínios importantes para se estabelecer processos proximais competentes. Esses processos proximais generativos podem estimular as disposições generativas presentes nas características do indivíduo em desenvolvimento.

O fator "fundamentos de desenvolvimento a longo prazo" é responsável por analisar como as instituições convergem, oferecendo uma base sólida para o objetivo do desenvolvimento a longo prazo do atleta (Martindale et al., 2010). Martindale et al. (2012) defendem que, quando há uma concordância de pensamento por parte de todas as instituições, formais ou informais, que participam diretamente da formação do atleta, auxiliando o desenvolvimento a longo prazo, facilita a projeção de evolução do atleta.

Como a busca por um emprego é o principal motivo de evasão de um atleta, gestores buscam subsídios públicos para evitar perder esse atleta, gestores colocam programas de bolsas como um suporte financeiro para o desenvolvimento a longo prazo dos atletas.

Dessa maneira, Martindale et al. (2010) argumenta que para que o desenvolvimento seja completo é necessária a base de suporte para o desenvolvimento longínquo do atleta, pois eles favorecem a exposição que esses talentos estão submetidos em contato com os processos proximais. Bronfenbrenner e Evans (2001) afirmam que a exposição pode trazer muitos benefícios ao desenvolvimento, mas quando a duração é curta, com pouca frequência de ocorrência, interrompida inúmeras vezes, com respostas equivocadas e com intensidade baixa, essa exposição se torna danosa ao desenvolvimento do indivíduo naquele ambiente. Assim, os fatores de desenvolvimento a longo prazo, permitem com que se execute melhor essa exposição dos atletas aos processos proximais, favorecendo integralmente o desenvolvimento.

CONCLUSÕES

Ao se deparar com as diferenças e semelhanças apresentas entre os contextos, podemos ver que cada microssistema se constitui de singularidades e homogeneidades que formam o macrossistema esportivo do atletismo.

Existem conformidades e distinções entre os ambientes formadores do talento esportivo no atletismo, mas que a discrepância do resultado se dá pela oferta de participação esportiva e estrutura fornecida pelas equipes aos atletas, treinadores e gestores. Esse é um dos pontos constituintes do ambiente, logo, dessa maneira, podemos constatar que o ambiente influencia de maneira positiva e/ou negativa no resultado esportivo dessas equipes. Assim, as equipes com melhor resultado possuem maior oferta de atividades e treinadores, atendendo a um número maior de atletas e obtendo maiores resultados.

A relação entre os indivíduos em desenvolvimento, seus pares, treinadores e atividades desenvolvidas a curto, médio e longo prazo, se mostra como fundamental para o entendimento de um microssistema. A relação entre escola, pais, amigos, parceiros afetivos e equipe é indispensável na compreensão holística do atleta, podendo interferir de modo a ampliar ou limitar o crescimento esportivo, impactando no mesossistema em que os atletas estão inseridos.

A nível exossistêmico, a classe social em que o atleta se enquadra pode determinar a perspectiva de futuro tanto no caminho esportivo quanto no abandono da prática para assumir uma carreira laboral. O macrossistema, presente na maneira organizacional do esporte brasileiro, com suas competições, políticas públicas e financiamento, é responsável pelos meios de fomento e evolução não só dos atletas, mas das modalidades e equipes do esporte nacional, servindo de base para todo o desenvolvimento esportivo brasileiro.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

Os resultados obtidos pelo estudo poderão ajudar técnicos e gestores de equipes esportivas a analisarem e estruturarem o ambiente esportivo de acordo com o desenvolvimento dos atletas e assim, alcançarem melhores resultados. Sugere-se a implementação de programas de desenvolvimento esportivo, que incluam uma equipe multidisciplinar e uma estrutura física adequada, contemplando desde espaços específicos para a prática, como salas de suportes com diversos profissionais, como por exemplo: sala de psicologia.

LIMITAÇÕES DA PESQUISA

O principal fator limitante desse estudo é a não aplicação do questionário, mas sim, de uma adaptação do mesmo, não perdendo sua fiabilidade na análise do ambiente, mas limitando a amostra, por mudar a característica da pesquisa, de quantitativo, em que se pode alcançar um valor amostral maior, para qualitativo, por meio de entrevistas. Mas esse fator pode ser considerado positivo ao perceber maior contato com os entrevistados e maior aprofundamento em questões mais pessoais.

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Recebido: 23 de Julho de 2021; Aceito: 26 de Outubro de 2021

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