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Archivos de Zootecnia

versión On-line ISSN 1885-4494versión impresa ISSN 0004-0592

Arch. zootec. vol.59 no.227 Córdoba sep. 2010

 

 

 

Comportamento sócio-sexual e de manutenção de touros nelore durante a estação de monta

Social hierarchy in nellore bulls and sexual and maintenance activities during breeding season

 

 

Costa-e-Silva, E.V.1*, Sereno, J.R.B.2, Vasconcelos, J.T.3, Zúccari, C.E.S.N.1 e Paranhos-da-Costa, M.J.R.4

1Laboratório de Reprodução Animal. FAMEZ. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. CP 549. CEP 79070-900. Campo Grande, MS. Brasil. *licsilva@nin.ufms.br
2
Embrapa Cerrados. Planaltina, DF. 73310-970. Brasil.
3FAMEZ/UFMS. PIBIC/ CNPq. Brasil.
4Departamento de Zootecnia. FCAV-UNESP. Jaboticabal, SP. Brasil.

 

 


RESUMO

As proposições de manejo de touros zebuínos têm sido feitas sem avaliação do impacto sobre o seu comportamento e bem-estar. O objetivo deste estudo foi avaliar se o aumento na atividade sexual de touros Nelore altera o tempo despendido em atividades de manutenção e se isto depende do status social do touro. Seis touros foram distribuídos em três lotes: 1) um touro e 60 vacas, 2) dois touros e 120 vacas em cio natural e 3) três touros e 180 fêmeas, induzindo o cio em 50 delas. Foi adotada amostragem focal com observação contínua por 120 horas, registrando-se o tempo dedicado às atividades sexuais e de manutenção. A posição hierárquica influenciou o tempo despendido em atividades sexuais, que foi maior para touros sob alta pressão de cio que os de baixa. Como esperado observou-se que o status social dos touros interferiu na definição do tempo despendido em atividades sexuais, com detrimento das atividades de manutenção.

Palavras chave: Bos indicus. Dominância social. Pastejo. Ruminação. Zebu.


SUMMARY

Changes in the bull:cow proportion in natural breeding have been proposed, but there are not evaluations about the effect of these changes in the behaviour of Nellore bulls. The objective of this study was to test the hypothesis that the increase of sexual activity of Nellore bulls, due to the highest heat incidence (HHI), changes the time of general activity of those animals depending on their social status in the group. Six Nellore bulls were distributed in three groups: one bull in a single-sire breeding group (1bull:60cows) and two in multiplesire breeding groups - one with 2 bulls and 120 cows (cycling naturally) and the other group with 3 bulls and 180 females, 50 of which were synchronised. The behaviour of these animals was recorded during 120 hours, using continuous and direct observation with animal focal sampling. The dominance order influenced the time spent with sexual activities. Bulls under high heat incidence presented the largest sexual activities and the smaller grazing, agonistic interactions and other activities, there was no difference in rumination.

Key words: Bos indicus. Social dominance. Grazing. Rumination. Zebu bulls.


 

Introdução

O manejo reprodutivo do rebanho de corte brasileiro caracteriza-se por sistemas extensivos, com estações de monta definidas nos meses de primavera ou verão, sendo que cerca de 95% do processo reprodutivo ainda ocorre por monta natural (Costa e Silva, 1995). Em decorrência disto, a demanda anual por touros é enorme, considerando a proporção touro:vaca (PTV) 1:25 (média no Brasil), aproximadamente 300 mil animais (Rosa, 2007). Uma das propostas de manejo que vem sendo feita é a redução da PTV, no sentido de minimizar os custos da reposição anual de touros. Estima-se que a redução da PTV de 1:25 para 1:40 diminua em 15% os custos do bezerro ou 14,6 dólares por bezerro no sistema de produção brasileiro (Fonseca et al., 1991). No entanto, é possível alcançar maiores estimativas, quanto maior for a redução de touros. Por exemplo, em regiões como o Pantanal brasileiro onde se utiliza PTV de 1:10, alterá-la para 1:25 ou 1:40 proporciona uma queda da ordem de 60% e 75% nos custos de produção do bezerro, respectivamente (Sereno et al., 2000). A garantia de uma relação custo beneficio positiva é essencial que não haja perdas na eficiência reprodutiva. Diversos autores brasileiros têm testado menores PTV com sucesso. Inicialmente, Crudeli et al. (1990) e Costa e Silva (1994) avaliaram PTV de 1:40 e 1:60 em sistemas de acasalamento individual, em touros Nelore, e registraram média de 90% de prenhez aos 120 e 90 dias de estação de monta, respectivamente. Chegando à PTV de 1:80 (Costa e Silva, 1994; Pineda et al., 2000) e até 1:100 (Santos et al. , 2004). Pineda et al. (2000) e Santos et al. (2004) registraram a perda de peso de 5 e 9,1%, respectivamente, mas não correlacionaram esta perda com a PTV adotada.

Estudos sobre o efeito de diferentes pressões de cio sobre o comportamento sócio-sexual, bem como nas atividades gerais de manutenção, são ainda escassos. Touros europeus adultos, de raças de corte, mantidos numa PTV média de 1:28,6 não apresentaram variação significativa no padrão diurno de pastejo durante a estação de monta (Raadsma et al., 1983/1984 e Boyd et al., 1989). No entanto, em se tratando de PTV tão baixas, quanto as que têm sido propostas para o Nelore no Brasil (Santos et al., 2004; Pineda et al., 2000), surge a preocupação com o impacto negativo sobre as atividades gerais e as possíveis conseqüências sobre a integridade reprodutiva dos touros.

O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que o aumento na atividade sexual de touros Nelore, decorrente do aumento da pressão de cio, altera o tempo despendido nas atividades de manutenção desses animais, avaliando a predição de que tal alteração depende do status social dos touros.

 

Material e métodos

Este estudo foi realizado numa propriedade situada na transição entre o Pantanal e o Planalto Central no Estado do Mato Grosso do Sul (latitude 19o51'S, longitude 56o59'W e altitude 125 m). A região apresenta médias anuais de pluviosidade de 1182 mm concentrada no verão, temperatura de 25oC (com variações entre 19,7 e 32oC) e umidade relativa do ar de 82% (com variação entre 48 a 96%, no inverno e verão, respectivamente).

Após exame andrológico e testes de libido, de um total de 93 machos Nelore registrados, foram selecionados 6 touros adultos, com experiência sexual prévia, com média de idade de 7 anos, média de perímetro escrotal de 38,25 cm. No teste de libido, baseando-se na metodologia proposta por Chenoweth (1981), foram classificados como de libido média, com moda seis na pontuação. Organizou-se três lotes: a) um em acasalamento simples (um touro e 60 vacas), b) dois em acasalamento múltiplo, sendo um com dois touros e 120 fêmeas em cio natural (baixa incidência de cio) e c) três touros e 180 fêmeas, das quais 50 foram submetidas à sincronização de cio (alta incidência de cio). As vacas Nelore foram distribuídas proporcionalmente nos lotes considerando a categoria: primíparas e pluríparas, após exame ginecológico prévio, por meio de palpação retal, evidenciando-se atividade cíclica dos ovários. Todas estavam em boa condição corporal (moda para escore 4, escala de 1 a 5), período puerperal mínimo de 60 dias e peso médio de 372,78 kg, no início da estação. No lote de alta incidência de cio, a sincronização do ciclo foi realizada pela aplicação de 3 mg de Norgestomet e 5 mg de valerato de estradiol, via IM, logo após a colocação do implante auricular contendo 6 mg de Norgestomet (Syncro-mate β®). As fêmeas sincronizadas foram introduzidas no lote logo após o implante auricular. As observações iniciaram-se um dia depois.

Os lotes foram formados 30 dias antes do início das observações e mantidos em pastos (Brachiaria brizantha) com pouca declividade, com boa distribuição de sombra. A média de taxa de lotação utilizada foi de 1,17 U.A./ha. A estação de reprodução foi iniciada em novembro, época adequada às características da região e teve duração de 120 dias. As observações foram realizadas por duas estações reprodutivas consecutivas, no verão (dezembro/janeiro).

A metodologia de observação adotada foi a de coleta contínua com amostragem focal por cinco dias consecutivos, 24 horas por dia, sendo um observador para cada touro. Os observadores trabalharam em turnos de seis horas/dia, montados a cavalo, munidos de binóculos, lanterna e equipa-mento adequado para garantir os registros, mesmo sob chuva. Para facilitar a visão noturna, as observações foram realizadas próximas das noites de lua cheia (até cinco dias antes e cinco depois).

Registrou-se o tempo despendido em: atividades sexuais (SEX), interações agonísticas (INT), pastejo (PAST), ruminação (RUM) e outras atividades (OUT - composta, principalmente, por ócio e deslocamento).

A posição social de cada macho por lote de acasalamento múltiplo foi definida por meio das observações dos confrontos (ataques e fugas) entre eles, definindo-os como: dominante (Do) e subordinados (Sb). O touro do lote de acasalamento individual foi classificado como sem hierarquia (SH).

O banco de dados foi organizado discriminando-se o tempo de cada atividade em períodos de 3 horas ao longo do dia (definidos a partir da hora zero em: 0-3 h, 3-6 h, 6-9 h ..., 21-24 h). A análise de variância, pelo Procedimento GLM do pacote estatístico SAS (2005), considerou efeitos fixos de pressão de cio (I), ordem na hierarquia (H), ordem do dia de observação (D), período do dia (T), ocorrência de serviço completo (O) e as interações de interesse, como apresen-tado no modelo a seguir:

Yijklm= μijklm + Hi + Ij + Dk + Tl + Om + HIij + HDik + HTjl + IDjk + ITil + DTkl + DOkm + TOlm + εijklm

Em que:

Yijklm= tempo gasto pelos touros em cada uma das atividades (SEX, PAST, RUM, INT, OUT);

μijklm= media geral;

Hi= efeito fixo da i-esima ordem na hierarquia (i= 0,1,2);

Ij= efeito fixo da j-esima incidencia de cio (j= 1,2);

Dk= efeito fixo da k-esima ordem do dia de observacao (k= 1, 2, 3, 4, 5);

Tl= efeito fixo do l-esimo periodo do dia (l= 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8);

Om= efeito fixo da m-esima ocorrencia de servico completo no lote (m= 0,1);

HIij= efeito da interacao entre a i-esima ordem na hierarquia com a j-esima incidencia de cio;

HDik= efeito da interacao entre a i-esima ordem na hierarquia com a k-esimo ordem do dia de observacao;

HTjl= efeito da interacao entre a i-esima ordem na hierarquia e o l-esimo periodo do dia;

IDjk= efeito da interacao entre a j-esima incidencia de cio com a k-esima ordem do dia de observacao;

ITil= efeito da interacao entre a j-esima incidencia de cio e o l-esimo periodo do dia;

DTkl = efeito da interacao entre a k-esima ordem do dia de observacao e o l-esimo periodo do dia;

DOkm= efeito da interacao entre a k-esima ordem do dia de observacao e da m-esima ocorrencia de servico completo no lote;

TOlm= efeito da interacao entre o l-esimo periodo do dia e da m-esima ocorrencia de servico completo no lote;

εijklm= erro aleatorio.

Para algumas variáveis foram calculados os contrastes de médias para comparação dos efeitos de:

- Ordem de hierarquia: (Do) vs. (Sb); Do vs. Sb sob alta incidência de cio; Do vs. Sb sob baixa incidência de cio.

- Efeito da competição: (SH) vs. (Do); (SH) vs. (Sb);

- Períodos do dia: noite vs. dia (T1+T2+T7+T8) vs. (T3+T4+T5+T6); noite (6-24 horas) vs. madrugada (0-6 horas) (T1+T2) vs. (T7+T8); manhã vs. tarde (T3+T4) vs. (T5+T6).

As comparações de médias entre ordem do dia foram realizadas pelo teste de Duncan e entre as médias de incidência de cio e ocorrência ou não de serviço completo, pelo teste t de Student (Sampaio, 1998).

 

Resultados e discussão

O tempo médio de observação por touro foi de 113 horas e 42 minutos, totalizando 682 horas e 16 minutos. O tempo médio diário despendido em atividades sexuais (SEX), pastejo (PAST), ruminação (RUM), interações agonísticas (INT) e outras atividades (OUT), expressos em minutos por dia (24 horas) foi: 353,83 ± 48,71 (25,05%), 274,67 ± 25,88 (19,60%), 276,50 ± 37,41 (19,73%), 42,28 ± 12,35 (3,01%) e 453,83 ± 48,73 (32,39%), respectivamente.

O modelo de análise foi significativo para as seguintes variáveis: SEX (Anova: p= 0,0001; R2= 0,68; CV= 43,19), PAST (Anova: p= 0,0001; R2= 0,63; CV= 45,49), INT (Anova: p= 0,0015; R2= 0,55; CV= 79,81) e OUT (Anova: p= 0,0412; R2= 0,49; CV= 51,36), mas não para RUM (Anova: p= 0,0913, R2= 0,47; CV= 67,96).

A ordem hierárquica afetou significativamente (p= 0,0290) o tempo despendido com atividades sexuais (tabela I). Os contrastes entre as médias de touros em função das classes hierárquicas (dominantes, subordinados e sem hierarquia) mostraram efeito significativo apenas entre as médias de SEX dos dominantes vs subordinados (p= 0,0049). Touros sob alta pressão de cio utilizaram maior tempo em atividades sexual (p= 0,0009) e menor em pastejo (p= 0, 0152), interações agonísticas (p= 0, 0002) e outras atividades (p=0, 0513), não interferindo no tempo de ruminação (p>0,05) (tabela II). A ordem do dia de observação influenciou (p= 0,0015) apenas o tempo despendido com atividades sexuais, com diminuição grada-tiva nesta atividade do primeiro ao quinto dia de observação (figura 1).

 

 

Os períodos do dia influenciaram significativamente (p= 0,0046) apenas o tempo despendido com pastejo. Ao testar os efeitos de períodos do dia observou-se, pelos contrastes (figura 2), maior atividade de pastejo durante o dia (p= 0,0219) e principalmente à tarde (p= 0,0002) e que o pastejo ocorreu por mais tempo a noite do que na madrugada. Apesar da não significância do período do dia sobre o tempo despendido com interações agonísticas, detectou-se, quando as frações de 180 minutos foram agrupadas, diferença significativa na comparação noite x dia (p= 0,0079), com maior concentração diurna de interações agonísticas (figura 3). Da mesma forma para outras atividades, que ocorreu por maior tempo na madrugada (0-6 h) quando comparada com a noite (p= 0,0010), provavelmente devido ao deslocamento dos animais após a meia-noite para as áreas de descanso (malhadouros), onde permaneciam até o amanhecer. Houve concentração de ócio no período entre 3 e 6 horas da manhã (p= 0,0306). Também para as atividades sexuais, observou-se variação significativa (p= 0,0335) entre as médias obtidas para noite (6-24 h) e madrugada (0-6 h). A distribuição das atividades dos touros no decorrer do dia é apresentada na figura 3.

 

A ocorrência de serviço completo afetou significativamente o tempo gasto com atividades sexuais (p= 0,0027), mas não influenciou pastejo, ruminação, interações agonísticas e outras atividades (p>0,05). As médias de tempo gasto nas diferentes atividades observadas estão discriminadas na tabela III.

 

Não foi observada interação significativa entre hierarquia e incidência de cio (H*I) para o tempo gasto nas diferentes atividades observadas. Observou-se interação significativa entre hierarquia e ordem do dia para interações agonísticas (p= 0,0488), mas não para atividades sexuais, pastejo, ruminação e outras atividades (p>0,05), figura 4. A interação entre hierarquia e período do dia foi significativa para pastejo (p= 0,0359) e interações agonísticas (p= 0,0006), mas não para atividades sexuais, ruminação e outras atividades (p>0,05), figura 5. Observou-se interação significativa entre incidência de cio e ordem do dia de observação para as atividades sexuais (p= 0,0090) e pastejo (p= 0,0001). Estes resultados são ilustrados na figura 6A. Ruminação, interações agonísticas e outras atividades não apresentaram variação significativa (p>0,05) em decorrência dessa interação. Observou-se interação significativa entre incidência de cio e períodos do dia para atividades sexuais (p= 0,0152), pastejo (p= 0,0504) e interações agonísticas (p= 0,0493) (figura 6B). Não foi observada interação significativa entre ordem do dia de observação e período do dia ou com ocorrência de serviço completo para nenhuma das variáveis testadas. A interação período do dia e ocorrência de serviço completo também não foi significativa para as variáveis testadas.

 

 

 

O aumento no tempo despendido em atividades sexuais pode ter reflexos negativos no tempo que os touros despenderam nas atividades de manutenção, principalmente com a diminuição dos tempos de pastejo e outras atividades (que englobava ócio e deslocamento). Todavia, é evidente que tais efeitos não foram diretos nem absolutos, sendo dependente de vários fatores, dentre eles: da posição do touro na hierarquia de dominância, da disponibilidade de fêmeas em cio e da própria ocorrência de atividades sexuais. No geral, as atividades sexuais ocuparam em média 25,05% das 24 horas do dia. Percentual menor foi observado por Raadsma et al. (1983/1984) com touros cruzados europeus na Austrália, registrando 11,9% do tempo de observação, que foi realizada entre 5 e 19 horas.

Os touros tiveram em média 0,83 e 8,6 fêmeas em cio por dia nos lotes de baixa e alta incidência de cio, respectivamente. Como esperado, a maior incidência de cio teve efeito direto no tempo despendido em atividades sexuais, aumentando-o. Nesta condição, os touros ocuparam quase o dobro do tempo daquele ocupado sob baixa pressão de cio. Valor muito inferior foi encontrado no estudo de Raadsma et al. (1983/ 1984), com 2,7% do tempo em atividade sexual, quando havia em média 0,37 fêmeas em cio por dia. No entanto, mesmo, sob baixa incidência de cio, o percentual de tempo diário demandado em atividades sexuais pelos touros, 16,92%, foi maior. Os resultados de Blockey (1978), com touros Angus, mostraram que quando não havia fêmeas em cio no lote, os touros despendiam 3,3% do tempo em atividades sexuais, percentual muito baixo. Essas diferenças podem ter ocorrido em decorrência de variações metodológicas no período de observação: cinco dias não consecutivos de observação e porque os touros ficaram muito tempo sem apresentar serviço completo, 21% do tempo total de observação. O autor não fez referência ao tempo gasto nessas atividades quando havia fêmeas em cio. Neste estudo sempre houve fêmeas em cio e, sendo os dias de observação consecutivos, provavelmente, mesmo nos períodos em que não houve ocorrência de serviço completo, os touros apresentavam ativi-dades sexuais em relação às vacas em proestro, período no qual já há aumento da estimulação, com 15,55% do tempo despendido em atividades sexuais. Com a ocorrência de serviço completo no lote, independente de qual dos touros tenha executado a cópula, houve aumento, ainda maior, do tempo despendido em atividades sexuais. Prova-velmente isto ocorreu porque as interações entre fêmeas no grupo sexualmente ativo (SAG) sejam estimulantes, tanto para o próprio touro que tenha executado montas como para outros que a assistiram, estimulados pela visão e pelo olfato (Blockey, 1979; Mader e Price, 1984).

A interação significativa entre incidência de cio e dia provavelmente foi observada em decorrência do método de sincronização utilizado no lote de alta incidência de cio, o que levou a uma maior concentração de fêmeas receptivas 48 a 72 horas depois da retirada do implante (Valle et al., 1994), que nesse estudo coincidiu com o primeiro e segundo dias de observação.

O tempo médio diário de pastejo nos touros foi menor do que o registrado na literatura, ocupando apenas 19,60% do dia. Raadsma et al. (1983/1984) registraram 45% do tempo total de observação (entre 5 e 19 horas) dedicado ao pastejo, em touros cruzados europeus, enquanto que Boyd et al. (1989) registraram que touros Angus gastaram 36% do tempo pastando. Os resultados deste estudo foram inferiores aos observados no Brasil para a raça Nelore: Machado Filho et al. (1993a) encontraram 8 horas/dia de tempo médio de pastejo para vacas; enquanto Villares e Rocha (1950) registraram, para novilhos observados entre 6 e 19 horas, 8,56 horas de pastejo (65,85% do tempo de observação) no outono e 11,58 (89,10%) na primavera. Diferenças climáticas estacionais podem alterar os horários e o tempo de pastejo de bovinos (Machado Filho et al., 1993b). Pastagens melhores diminuem o tempo de pastejo (Villares e Rocha, 1950), que neste estudo coincidem com o verão, época das observações.

O maior tempo gasto em uma determinada categoria de atividade levou à diminuição compensatória em outras categorias. De fato, o aumento no tempo dedicado às atividades sexuais pode ter causado a diminuição do pastejo, bem como de outras atividades, como evidenciado pelo grupo sob maior incidência de cio, no qual os touros pastaram menos nos dias de maior concentração de atividades sexuais, em torno do primeiro e segundo dias de observação. Além disto, os touros sob baixa e alta incidência de cio tiveram picos de pastejo diferenciados: entre 6 e 9, 15 e 18 (maior pico) e 21 e 24 horas para os de baixa incidência de cio e entre 0 e 3, 6 e 9 e 18 e 21 horas (maior pico), para os de alta. Destacase ainda a alteração promovida pela ocorrência de serviço completo no lote, com redução do tempo despendido em pastejo e nas interações agonísticas, sendo 2,35 e 2,13 menores do que quando não ocorreu o serviço completo. Houve ainda alteração nos hábitos de pastejo dos touros, pois apenas quando não ocorreu serviço completo no lote os touros apresentaram padrão similar ao observado na literatura (Villares e Rocha, 1950; Raadsma et al., 1983/1984; Boyd et al., 1989).

À exceção do período do dia, as demais fontes de variação consideradas neste estudo caracterizaram que o aumento nas atividades sexuais de touros se dá com o comprometimento das atividades de manu-tenção, principalmente o pastejo. Como não houve evidência de ingestão compensatória durante o período de estudo, a longo prazo tal situação poderia resultar em perdas de peso acima do esperado, o que poderia prejudicar a capacidade reprodutiva dos mesmos. Ressalte-se que no período em que as observações foram realizadas, meio da estação de monta, a manifestação de cio já deveria estar baixa, o que pode ser evidenciado pela oferta no lote de baixa incidência que, na realidade, representava a oferta de cio natural num rebanho. Neste caso, os touros apresentavan boas condições corporais (escore 4), o que provavelmente permitiria que estes mobilizassem energia rapidamente, compensando as exigências de um prazo curto de tempo como foi o das observações neste estudo, sem que viessem a apresentar maiores prejuízos na sua capacidade reprodutiva. No entanto, é importante frisar que uma oferta de cio similar à do lote de alta incidência de cio, numa condição não experimental, poderia perpe-tuar-se por mais tempo, no início da estação. Por exemplo, num lote de acasalamento múltiplo, com três touros e PTV de 1:100, a incidência de cio esperada de 4-5% levaria a oferta média de 12 fêmeas em cio/dia, nos primeiros 21 dias de estação, se conside-rarmos que 80% das fêmeas estivessem ciclando. Sendo assim, seria necessário que estes animais compensassem o baixo tempo de pastejo acionando mecanismos fisiológicos para disponibilizar energia ou talvez outros recursos comportamentais, que não foram avaliados neste estudo, tais como aumento da velocidade de pastejo ou do tamanho da bocada. Infelizmente a avaliação de peso e escore destes animais foi feita apenas no início e final da estação de monta, não permitindo verificar, com acuidade, alterações nas condições corporais que possam ter ocorrido em decorrência do manejo estabelecido durante as observações comportamentais.

A grande oferta de vacas em cio, ainda que por um período curto de tempo, pode caracterizar uma situação de estresse para o touro, o que pode levar inclusive a perda de peso. Sabe-se que o estresse altera a secreção de GnRH, modulando a liberação do hormônio luteinizante (LH) comprome-tendo a espermatogênese (Barth, 1993; Brooks et al., 1986). Os reflexos poderiam não ser imediatos considerando a duração do ciclo do epitélio seminífero, vindo a comprometer a qualidade seminal já no final da estação reprodutiva. Santos et al. (2004) observaram, em touros submetidos à PTV de 1:100, perdas na qualidade seminal -aspectos físicos do sêmen (motilidade, vigor, turbilhonamento e concentração espermá-tica), mas não registraram variações no perímetro escrotal ou na morfologia espermática. O impacto de situações desta natureza sobre a performance dos reprodutores ainda precisa ser mais bem estudado.

A diminuição das interações agonísticas entre os machos sob alta oferta de cio, provavelmente ocorreu devido a maior oferta de fêmeas receptivas o que diminuiu os efeitos da competição social. Situações não controláveis, como interações com touros vizinhos de cerca, foram, provavelmente, responsáveis pelas interações significativas observadas entre hierarquia o dia de observação e período do dia.

Outras atividades, que englobaram predominantemente o ócio, mas também beber água, lamber sal e deslocamento, foram associadas com a atividade sexual. A incidência de cio apresentou efeito significativo sobre o tempo em outras atividades e a interação significativa entre hierarquia e dia de observação sugere que os touros dominantes e subordinados, diante de uma maior demanda por atividades sexuais nos primeiros dias de observação, compensaram aumentando o descanso nos dias subse-qüentes em que não havia fêmea em cio. Estes resultados não permitem sustentar esta inferência, pois o descanso não foi diretamente medido neste estudo.

Touros dominantes gastaram mais tempo com atividade sexual que seus subordinados, independente da incidência de cio no lote. As oportunidades para abordagem sexual no lote sob alta incidência de cio ocorreram muito concentradas no tempo. Isso pode ter ocasionado confundimento, levando à interações significativas da incidência de cio com a ordem do dia e com o período do dia. Por isso, conclusões sobre variação das atividades gerais considerando a ordem social dos touros sob alta incidência de cio ficaram comprometidas.

 

Conclusões

Durante a estação de monta os touros priorizam as atividades sexuais, com riscos de comprometimento de suas atividades de manutenção (alimentação e descanso).

 

Agradecimentos

Ao Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, vinculado ao Governo do Estado Mato Grosso do Sul, pelo apoio financeiro. Ao CNPq e à FUFMS pelas Bolsas de Iniciação Científica. À Fazenda Bodoquena S/A, Agropecuária Nove de Ouro e Fazenda Nhumirim da EMBRAPA-Pantanal pelo apoio integral ao projeto de pesquisa, através de auxílio na mão de obra, infraestrutura e financeiro neste projeto.

 

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Recibido: 25-1-08.
Aceptado: 22-10-08.

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