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Archivos de Zootecnia
On-line version ISSN 1885-4494Print version ISSN 0004-0592
Arch. zootec. vol.61 n.233 Córdoba Mar. 2012
https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922012000100011
Alimentação de leitões em creche com dietas contendo ácido ascórbico e bioflavonóides
Feeding piglets in post weaning with diets containing ascorbic acid and bioflavonoids
Lehnen, C.R.*1; Lovatto, P.A.1; Andretta, I.1; Rossi, C.A.1; Hauschild, L.1; Cavazini, N.C. e Fraga, B.N.1
1Departamento de Zootecnia. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS. Brasil. *cheilalehnen@gmail.com
RESUMO
Foi realizado um experimento para avaliar o desempenho de leitões em creche alimentados com dietas contendo ou não extratos cítricos. Foram utilizados 32 leitões, meio-irmãos paternos, com peso vivo médio inicial de 6,2 kg (± 0,87), durante 42 dias. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com dois tratamentos: dieta controle (DC) e DC + 750 mg kg-1 de um composto contendo extratos cítricos (ácido ascórbico + bioflavonóides), com oito repetições e dois animais por unidade experimental. O peso vivo final foi 4% superior (p<0,01) nos leitões alimentados com dietas contendo extratos cítricos em relação aos animais do grupo controle (30,5 vs. 28,9 kg). O consumo de ração dos animais alimentados com dietas contendo extratos cítricos foi 9% superior (p<0,01) ao grupo controle (0,77 vs. 0,84 kg). O ganho de peso foi 3,7% superior (p= 0,05) em leitões alimentados com dietas contendo extratos cítricos. A conversão alimentar não foi influenciada (p>0,05) pela adição de extratos cítricos na dieta. A adição de extratos cítricos contendo bioflavonóides e ácido ascórbico nas dietas pode melhorar o desempenho zootécnico de leitões pelo aumento na ingestão voluntária de alimento.
Palavras chave: Aditivos. Extratos cítricos. Vitamina C.
SUMMARY
An experiment was carried out to evaluate the post-weaning performance of piglets fed during 42 days diets with or without citric extracts. Thirty-two weanling piglets were used, with initial average live weight of 6.2 kg (± 0.87), during one period of 42 days. A complete randomized block design was utilized, with two treatments: control diet CD, and CD + 750 mg kg-1 of citric extracts (ascorbic acid + bioflavonoids), with eight replicates and two animals per experimental unit. Final live weight was 4% higher (p<0.01) in the animals fed with diets containing citric extracts than control group (30.5 vs. 28.9 kg). Average daily feed intake of animals fed diets with citric extracts was 9% higher (p<0.01) than control group (0.77 vs. 0.84 kg). Average daily weight gain was increased by 3.7% (p= 0.05) in piglets fed diets containing citric extracts. The feed conversion ratio was not influenced (p>0.05) by the citric extracts. Addition of citric extracts containing bioflavonoids and ascorbic acid in diets can improve piglet post-weaning performance by increasing voluntary feed intake.
Key words: Additives. Citric extracts. Vitamin C.
Introdução
A busca por produtividade induziu importantes avanços na suinocultura, especialmente em nutrição. Neste contexto, o uso de antibióticos promotores de crescimento foi fundamental para a melhora na eficiência alimentar e no desempenho dos animais (Utiyama, 2004). Com a possibilidade da indução de resistência cruzada com patógenos humanos e a presença de resíduos de antibióticos nos produtos finais (carne, leite e ovos), vários países têm restringido o uso de antimicrobianos como promotores de crescimento na alimentação animal (Soncini, 1999). Com isso, surgiram restrições e novas regulamentações quanto ao uso de antibióticos e quimioterápicos na alimentação animal, os quais atualmente são utilizados somente com finalidade curativa. A pressão pela retirada dos antimicrobianos das dietas tem aumentado a busca por produtos alternativos que garantam o máximo desempenho dos animais sem afetar a qualidade do produto final.
Em vista disso, alternativas têm sido pesquisadas e viabilizadas, dentre as quais o uso de extratos vegetais na dieta (Hauptli e Lovatto, 2006; Costa et al., 2007; Windisch et al., 2008). Esses aditivos têm ações antimicrobianas e imunomoduladoras sobre a microbiota intestinal e digestão dos nutrientes (Mellor, 2000). Os efeitos variam com a origem dos extratos e, portanto, com seus princípios ativos (Costa et al., 2007). Os principais componentes do extrato derivado de frutas cítricas são os compostos polifenólicos (bioflavonóides) e o ácido ascórbico.
Os bioflavonóides são compostos polifenólicos, encontrados em frutas, vegetais, sementes e flores, que apresentam estrutura química e características variadas. Esses compostos, pela ação inibitória sobre algumas enzimas e propriedade quelante a metais, inibem as reações em cadeia induzidas por radicais livres (Erlund, 2004). Dentre os bioflavonóides, os mais estudados são a quercetina, a miricetina, a rutina e a naringenina (Benavente-Garcia et al., 1997). São conhecidos como antioxidantes naturais e apresentam atividade antiinflamatória, antimicrobiana, antialergênica e imunoestimulante (Erlund, 2004; Cushnie e Lamb, 2005).
O ácido ascórbico é um importante cofator enzimático que participa de diversos processos de óxido-redução, de inativação de radicais livres e do aumento da absorção de ferro (Mahan et al., 2004). Ele também atua na colagênese e na síntese de epinefrina, corticosteroides e ácidos biliares (Aranha et al., 2000). Os benefícios da utilização terapêutica do ácido ascórbico, em estudos com animais, ainda incluem a proteção contra os efeitos colaterais de alguns medicamentos (Bianchi e Antunes, 1999).
Pelas propriedades individuais e ação sinérgica de seus princípios ativos, o uso de extratos cítricos nas dietas pode beneficiar o desempenho dos leitões em creche. No entanto, as informações disponíveis sobre a adição de extratos cítricos em dietas para suínos são incipientes (Gallois e Oswald, 2008). Este trabalho foi conduzido, portanto, com o objetivo de avaliar os efeitos do ácido ascórbico e dos bioflavonóides, através da adição de extratos cítricos em dietas para leitões em creche.
Material e métodos
Foram utilizados 32 leitões machos castrados homogêneos geneticamente, oriundos de criação comercial e desmamados aos 21 dias de idade, com peso de 6,2 (± 0,87) quilogramas. Os leitões foram alojados em 16 baias elevadas (1,50 x 1,37 x 0,80 m) com piso parcialmente vazado, equipadas com comedouros semiautomáticos e bebedouros tipo concha. A temperatura da sala-creche foi mantida dentro da zona de conforto térmico recomendada para a fase. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com dois tratamentos (dieta controle e dieta controle + 750 mg kg-1de Bioll® Herbotec1). Cada tratamento teve oito repetições e dois animais por unidade experimental. O critério para a formação dos blocos foi o peso vivo inicial dos leitões. A dieta controle foi formulada para atender as recomendações nutricionais do NRC (1998), divididas em três fases: 1 a 14, 15 a 28 e 29 a 42 dias (tabela I). Em todas as fases foi mantido na dieta, o óxido de zinco e promotores de crescimento (colistina e halquilol). Os animais receberam alimentação à vontade e tiveram livre acesso à água. Os dados de ganho de peso foram obtidos por pesagens semanais individuais dos animais. O consumo diário de ração foi obtido pela pesagem da ração fornecida menos as sobras presentes nos comedouros. A conversão alimentar foi estimada a partir das variáveis anteriores.
Os dados foram analisados através do programa Statistical Analysis Systems (SAS, 2000) com o uso do procedimento Proc Mixed. Os efeitos incluídos no modelo analítico foram tratamentos (T), período (P) e interação entre tratamento e período (T *P). Na análise de medidas repetidas no tempo foi utilizada a estrutura de covariância autorregressiva (Xavier, 2000; Malheiros, 2001).
Resultados e discussão
Não houve interação (p>0,05) entre tratamentos e período nos resultados de peso vivo dos leitões (tabela II). A adição de extratos cítricos na dieta aumentou (p<0,01) em 4% o peso vivo final dos leitões em relação aos alimentados com a dieta controle. No período entre o desmame e o final de creche, os leitões sofrem com diversos fatores estressantes (Teodoro et al., 2008). Os radicais livres liberados em excesso durante o estresse podem resultar em lesões celulares, responsáveis por alterações fisiológicas predisponentes a processos patológicos. Embora o organismo consiga prevenir reações indesejáveis e reparar moléculas de tecidos danificados, em situações de estresse oxidativo esses mecanismos têm atividade reduzida, o que altera o metabolismo e algumas funções hepáticas (Ferreira e Matsubara, 1997). A quercetina contida nas frutas cítricas é responsável pelo aumento nas concentrações de glutationa no fígado, inibindo a formação de radicais livres e a peroxidação (Nijveldt et al., 2001). Além disso, a glutationa é um precursor da síntese do ácido ascórbico, que no organismo atua como um importante antioxidante. Assim, é provável que a presença dos bioflavonóides e do ácido ascórbico contidos no extrato de frutas cítricas tenha melhorado a condição metabólica do animal, através da atuação como imunoestimulante, antioxidante e hepatoprotetor (Decker, 1997; Mahan et al., 2004). Neste contexto, os resultados obtidos neste estudo, corroboram com os realizados por Mahan et al. (2004) que verificaram que dietas contendo até 900 mg kg-1 de ácido ascórbico aumentam o peso vivo de leitões ao final da creche.
Os resultados de consumo de alimento, ganho de peso e conversão alimentar são apresentados na tabela III. Não houve interação (p>0,05) entre tratamentos e período nas variáveis estudadas. Entretanto, a dieta contendo extratos cítricos aumentou (p<0,01) em média 9% o consumo de ração pelos leitões. Nas primeiras duas semanas o consumo de ração foi 11 e 12,6% superior em leitões que receberam a dieta contendo extratos cítricos em relação aos animais da dieta controle. Nas demais semanas avaliadas a dieta contendo extratos cítricos aumentou (p<0,01) em média 8% o consumo de ração pelos leitões. Os fenóis e alcaloides liberados pela quercetina, rutina e naringenina podem estimular o consumo de alimento (Benavente-Garcia et al., 1997; Ader et al., 2000). Além disso, estes compostos atuam como conservantes impedindo a oxidação dos lipídeos, o que mantêm preservada a qualidade nutricional e a palatabilidade das dietas (Windisch et al., 2008).
Desse modo, a presença dos bioflavonóides e outros compostos fenólicos nos extratos cítricos podem melhorar a palatabilidade da dieta e aumentar o consumo de alimento pelos animais.
A presença de ácido ascórbico e bioflavonóides nos extratos cítricos adicionados à dieta aumentaram (p= 0,05) em 3,7% o ganho de peso dos leitões. No entanto, a conversão alimentar dos animais alimentados com dietas contendo extratos cítricos e do grupo controle não foi alterado (1,40 vs. 1,42; p>0,05). Dessa forma, os resultados indicam que o aumento do consumo através da adição de extratos cítricos na dieta refletiu em um aumento proporcional no ganho de peso dos animais. Neste contexto, a adição de extratos cítricos pode influenciar sob dois aspectos, o primeiro, relacionado à liberação de compostos fenólicos nas dietas e o segundo, associado ao efeito sinérgico entre o ácido ascórbico e os bioflavonóides sobre os processos de digestão e utilização dos nutrientes (Windisch et al., 2008). Resultados semelhantes foram obtidos com dietas contendo 150 mg kg-1 de ácido ascórbico por Fernandéz-Dueñas et al. (2008).
No entanto, a conversão alimentar dos animais alimentados com dietas contendo extratos cítricos e do grupo controle não foi alterado (1,40 vs. 1,42; p>0,05). Neste senti-do, a ação digestiva e metabólica dos bioflavonóides pode não ter sido suficiente para alterar significativamente a conversão alimentar. Além disso, outro aspecto a ser considerado é a presença de outros promotores de crescimento como a colistina, halquilol e óxido de zinco que influenciaram no desempenho dos animais do tratamento controle. Contudo é importante salientar que a adição de extratos cítricos estimulou o consumo de alimento nas primeiras semanas na fase de creche, sendo esta fase considerada crítica para a utilização digestiva dos nutrientes.
Entre outros benefícios da utilização de bioflavonóides e ácido ascórbico está a proteção de células e tecidos de lesões induzidas por radicais livres e por toxinas liberadas pelos micro-organismos aderidos ao epitélio intestinal (Cushnie e Lamb, 2005). Assim, em nível sistêmico, os extratos cítricos podem otimizar as defesas do organismo (Mahan et al., 2004). Além de melhorar a utilização dos nutrientes das dietas, através da redução de substrato disponível a bactérias patogênicas, reduzindo a incidência de diarréias em leitões (Kamel, 2001). Entretanto, a maioria dos estudos com bioflavonóides apresentam respostas benéficas em nível celular. Embora a utilização de extratos cítricos na dieta de leitões tenha apresentado resultados promissores, são necessários maiores estudos envolvendo o desempenho zootécnico e a utilização digestiva e metabólica destes compostos fenólicos em suínos.
Conclusões
A adição de 750 mg kg-1 de extratos cítricos, contendo bioflavonóides e ácido ascórbico, aumenta o consumo de ração, o ganho médio diário e o peso vivo de leitões em final de creche. A adição de extratos cítricos contendo bioflavonóides e ácido ascórbico nas dietas pode melhorar o desempenho zootécnico de leitões pelo aumento na ingestão voluntária de alimento.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Herbotec do Brasil Nutrição Animal Ltda pelo apoio narealização do experimento. À Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de mestrado de Ines Andretta e Bruno Neutzling Fraga e de doutorado de Cheila Roberta Lehnen. Ao Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa de Paulo Alberto Lovatto.
1Os principais componentes do Bioll® Herbotec são o ácido ascórbico e os bioflavonóides, compostos derivados de frutas cítricas como laranja (Citrus sinensis) e bergamota (Citrus aurantium bergamia), adicionadas a um veículo.
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Recibido: 20-9-10
Aceptado: 22-9-11