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Archivos de Zootecnia
On-line version ISSN 1885-4494Print version ISSN 0004-0592
Arch. zootec. vol.63 n.244 Córdoba Dec. 2014
https://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922014000400009
Bagaço de mandioca com ou sem complexo enzimático em dietas de frangos de corte
Cassava bagasse in broiler diets with or without addition of enzyme complex
Sousa, J.P.L.1*; Rodrigues, K.F.2A; Albino, L.F.T.3; Vaz, R.G.M.V.2B; Da Silva, G.F.2C; Siqueira, J.C.4; Santos Neta, E.R.5; Parente, I.P.6A; Amorim, A.F.1A e Da Silva, M.C.6B
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnología do Tocantins. Campus Dianópolis. Dianópolis, Tocantins. *jpzoot24@yahoo.com.br; 1Aalineamorim19@hotmail.com
2Universidade Federal do Tocantins. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Zootecnia. Araguaína, Tocantins. Brasil. 2Arodrigueskf@mail.uft.edu.br; 2Brobertavaz@mail.uft.edu.br; 2Cgerson@uft.edu.br
3Universidade Federal de Viçosa. Departamento de Zootecnia. Viçosa. Minas Gerais. Brasil. lalbino@ufv.br
4Universidade Federal do Maranhão. Departamento de Zootecnia. Chapadinha. Maranhão. Brasil. jeferjuca@hotmail.com
5Universidade Federal Rural da Amazonas. Departamento de Zootecnia. Paragominas. Pará. Brasil. tina.neta@yahoo.com.br
6Universidade Federal do Tocantins. Pós Graduação em Ciência Animal Tropical. Araguaína. Tocantins. Brasil. 6Aiberepereira@hotmail.com; 6Bmonicalixto_@hotmail.com
RESUMO
Objetivou-se avaliar a utilização de bagaço de mandioca (BM) em rações suplementadas com complexo enzimático (CE) para frangos de corte em duas fases. Foram avaliados o ganho de peso (GP), consumo de ração (CR) e conversão alimentar (CA) de frangos de corte nas fases de 1 a 21 e 22 a 40 dias, alimentados com rações contendo 0 e 20 % de inclusão de BM com e sem adição de CE. Os experimentos foram realizados num delineamento experimental em blocos casualizados com 4 tratamentos utilizando um arranjo fatorial 2x2 (0 e 20 % de BM, com e sem CE) com 8 repetições e 20 aves por unidade experimental. Não foi observada interação entre os tratamentos, inclusão de BM e CE. A inclusão do BM diminuiu o CR e o GP em ambas as fases de criação. Enquanto que a inclusão do CE melhorou o GP e a CA das aves na fase inicial, não afetando o desempenho na fase de 22 a 40 dias de idade, já menor custo de ração por quilograma de ganho de peso e os melhores índices de eficiência econômica e de custo para ambas as fases foi encontrado para os animais que foram submetidos a rações com 0 % de inclusão de bagaco de mandioca com adição de complexo enzimatico.
Palavras chave: Avicultura. Desempenho. Resíduo.
SUMMARY
The present work was conducted to evaluate the use of cassava bagasse (BM) in rations with enzyme complex (CE) as supplement for broilers in two phases. Two experiments were conducted to assess the weight gain (GP), feed intake (CR) and feed conversion (CA) in the phases 1-21 and 22-40 days of age, of broilers receiving diets containing 0 and 20 % of BM and, with or without CE. The experiments were conducted in a completely randomized block design with 8 replicates and 20 broiler per experimental unit using a 2x2 factorial arrangement (0 and 20 % of BM, with or without CE). There was no interaction between treatments, inclusion of BM and CE. The inclusion of BM decreased CR and GP in both phases. Whereas the inclusion of CE improved GP and CA at the initial stage did not affect the performance at 22-40 days of age, the cost of feed per kilogram of weight gain was lower and the rates of economic efficiency and cost for both phases was better in animals subjected to diets with 0 % of cassava bagasse inclusion with the enzymatic complex.
Key words: Poultry. Performance. Residue.
Introdução
Como forma de minimizar o custo das dietas a base de milho e farelo de soja alguns autores apontam a possibilidade de utilização de subprodutos (Santos Neta et al., 20011) provenientes do processamento da mandioca como ingrediente dessas rações, reduzindo especialmente a inclusão do milho (Costa et al., 2009; Campelo et al., 2009; Freitas et al., 2008; Maciel et al. 2008; Cruz et al., 2006).
Os subprodutos da mandioca, dentro deles o bagaço da mandioca, são descartes sólidos gerados a partir da retirada da fécula e, em geral, apresentam em torno de 3625 kcal/kg de energia bruta, 2450 EM/kg (Embrapa, 1991) e 80 % de amido (Leonel et al., 1998), o qual, poderia ser aproveitada na alimentação de aves.
No entanto, o uso desses subprodutos pode afetar o desempenho dos animais provavelmente devido à redução na disponibilidade de nutrientes da dieta causado pela presença de fibras solúveis e insolúveis nesses subprodutos. Essas fibras possuem a capacidade de aumentar o arraste dos nutrientes ingeridos para as fezes, como os minerais, as proteínas, os lipídeos e os carboidratos digestíveis, restringindo o seu aproveitamento pelo organismo. Salienta-se que essas alterações sao resultado tanto dos constituintes da fibra, bem como pela proporção desses componentes da fração fibra da dieta (Raupp et al., 2002).
Contudo, no intuito de melhorar o aproveitamento dos nutrientes pelos frangos de corte, alguns autores recomendam o uso de enzimas exógenas que podem melhorar o aproveitamento da digesta (xilanase, pectinases e glucanases), a degradação da celulose (celulases), das proteínas (proteases), do amido (amilases) e a utilização do fósforo (fitase) (Oliveira et al., 2009; Caires et al, 2008).
Sabendo-se do potencial fornecedor de energia e amido do bagaço de mandioca para a nutrição de aves, com isso, faz-se necessàrio o uso de enzimas exógenas para melhor aproveitamento deste ingrediente (Tavernari et al., 2008).
Portanto, objetivou-se com esse trabalho avaliar o desempenho de frangos de corte nas fases de 1o a 2lo e de 22o a 40o dia de idade da adição de bagaço de mandioca, com ou sem adição de complexo enzimático e os Índice de eficiência econômico e de custos.
Material e métodos
Dois experimentos foram conduzidos no setor de avicultura no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. Inicial (1 a 21 dias) e crescimento (22 a 40 dias).
Em ambos os experimentos as aves foram distribuídas em um delineamento em blocos ao acaso (DBC) de forma a minimizar o efeito da insolação dentro do galpão, pois o galpão utilizado é orientado no sentido norte-sul. O galpão utilizado é de alvenaria, telado e coberto com telha de barro, subdividido em boxes de 1,0 x 1,5 metros coberto com cama de maravalha e providos de um bebedouro tipo Nipple e um comedouro tubular. Ambas foram realizadas em esquema fatorial 2x2 (0 e 20 % de BM x com e sem CE) sendo quatro tratamentos, com 8 repetiçóes e 20 aves por unidade experimental.
As aves foram criadas segundo o manual da linhagem Cobb, sendo registrada a mortalidade para ser considerado durante a correção dos dados de consumo de ração. A temperatura máxima e mínima foi monitorada diariamente durante todo o período experimental.
As raçoes foram a base de milho e farelo de soja, formuladas para atender as exigencias nutricionais das aves na fase de 1 a 21 e de 22 a 40 dias de idade segundo Rostagno et al. (2005) Os valores do bagaço de mandioca foram considerados segundo Embrapa (1991) (tabela I).
O bagaço de mandioca utilizado foi obtido após o processamento das raízes de mandioca compreendendo as etapas de lavagem, descascamento das raízes, desintegração das células e liberação dos grânulos de amido, separação das fibras e do material solúvel e finalmente, a secagem. Ao final o material continha 88,72 % de matéria seca (MS), 1,5 % de proteína bruta (PB), 11,10 % de fibra bruta (FB) e 2973 kcal/kg de energia metabolizável.
O complexo enzimático utilizado foi o Allzyme SSF® que é produzido a partir do fungo Aspergillus niger, composto pelas enzimas fitase, protease, xilanase, β-glucanase, celulase, amilase e pectinase na dosagem de 200 g/ton de racão.
Os tratamentos foram caracterizados da seguinte forma: Tratamento 1-0 % de inclusão de bagaço de mandioca; Tratamento 2-0 % de inclusão do bagago de mandioca + complexo enzimático (200 g/ton); Tratamento 3 - 20 % de inclusão do bagaço de mandioca; Tratamento 4-20 % de inclusão de bagaço de mandioca + complexo enzimático (200 g/ton).
Foram utilizados 1280 frangos de corte machos da linhagem Cobb 500. No primeiro experimento foram utilizados 640 pintos de corte de um dia de idade com peso médio de 39,89 g. No segundo experimento os pintinhos foram criados, do 1o a 21o dia de idade, em galpão fechado recebendo àgua e ração a vontade segundo recomendações do manual da linhagem Cobb 500. No 22o dia esses animais foram pesados e sele-cionados 640 frangos com peso mèdio de 836,95 g.
As aves e as dietas foram pesadas no inicio e no final do período experimental, para avaliar o ganho de peso (GP) e o consumo de ração (CR) para calcular a conversão alimentar (CA).
Para verificar a viabilidade econômica dos dois ensaios, determinou-se o custo da ração por quilograma e ganho de peso (Yi), segundo Bellaver et al. (1985).
Yi= (Pi*Qi)/Gi
Em que,
Yi= custo da racäo por quilograma de ganho de peso no i-ésimo tratamento;
Pi= preco por quilograma da ração utilizada no i-ésimo tratamento;
Qi= quantidade de ração consumida no i-ésimo tratamento;
Gi= ganho de peso no i-ésimo tratamento.
Em seguida foram calculados o Índice de Eficiencia Economico (IEE) e o Índice de Custo (IC), de acordo com Fialho et al. (1992).
IEE= (MCe/CTei)*100;
IC= (CTei/MCe)*100.
Em que
MCe= o menor custo da ração por quilograma de ganho observado entre os tratamentos.
CTei= custo do tratamento i considerado.
As análises estatísticas das variáveis estudadas foram realizadas utilizando-se o software SAS 9.0 - por meio do procedimento GLM (General Linear Models) (SAS, 1998).
Resultados e discussão
Os resultados obtidos no experimento (1 a 21 dias de idade) são apresentados na tabela II. Como pode ser observada não houve interação (p>0,05) bagaço de mandioca (BM) e complexo enzimático (CE) consumo de ração (CR), ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA).
Os frangos alimentados com ração contendo 20 % de inclusão do BM apre-sentaram consumo de ração (CR) 7 % inferior (p<0,05) em relação aos frangos que receberam a ração sem a inclusão de BM independente do complexo enzimático. Esta diminuição no consumo pode ser pelo aumento na quantidade de óleo de soja na ração de 20 % de inclusão de BM, que pode estimular a produção de colecistoquinina (CCK), hormónio que causa inibição na fome, interferindo assim o consumo (Furlan e Macari, 2002). Essa afirmação esta de acordo com Nascimento et al. (2005) que encontraram em frangos de corte, menor consumo de ração utilizando raspa de mandioca em substituição ao milho.
Outro ponto relevante é que o BM, por apresentar alto teor de fibra bruta (11 % a 14 %), pode alterar a densidade da ração, e aumentar a capacidade de absorção de água. Essas características afetam a ingestão de alimento pelo volume ocupado no trato digestivo (Braga et al., 2005). Esse efeito volumoso da fibra pode explicar os resultados obtidos neste experimento, uma vez que o teor de fibra das dietas aumentou com a inclusão de 20 % do BM, atingindo 4,97 % o que pode provocar entre outros problemas um maior arraste e menor aproveitamento de nutrientes (Raupp et al., 1997).
Da mesma forma a inclusão de BM na ração reduziu (p<0,05) em 4,39 % o ganho de peso (GP) das aves. Contrário a isso a inclusão de 20 % de BM na dieta de frangos não influenciou a CA, pois a medida que aumentou CR e GP na ração 0 % BM houve uma diminuição proporcional no CR e GP da ração 20 % de BM.
A inclusão de CE não afetou (p>0,05) o CR dos frangos de corte. No entanto, melhorou em 3,03 % o GP (p<0,05) dos frangos independente do uso do BM, mostrando que o uso de CE melhora a disponibilidade dos nutrientes e isso reflete em melhor desempenho. Resultados semelhantes foram obtidos por Oliveira et al. (2007), usando CE em rações à base de milho e farelo de soja, porém, contraditórios aos encontrados no presente estudo também foram observados por Silva et al. (2000) que constataram que a suplementação com complexo enzimático (α-glucanase, pectinase, hemicelulase e amilase) não melhorou o GP de frangos de corte na fase de 1 a 21 dias de idade com rações com níveis de 0, 5,17 e 10,34 % de farinha de folhas de mandioca.
A CA melhorou em 3,19 % com a adição de CE (p<0,0199). Segundo Silva et al. (2000) isso pode ocorrer pois a atividade das enzimas xilanase, β-glucanase, celulase e pectinase são de ação específica para dietas fibrosas, proporcionando assim melhora no aproveitamento dos nutrientes dos alimentos.
Os resultados mostram que o menor custo de ração por ganho de peso vivo e os melhores índices de eficiência econômica (IEE) e índice de custo (IC) foram obtidos quando os frangos foram alimentados com rações sem inclusão do BM + CE (tabela III).
O segundo melhor IEE e IC foram obtidos com 20 % de inclusão do BM + adição de CE. Isso mostra que o uso de enzimas melhora a viabilidade económica da produção de frangos de corte. No segundo experimento (22 a 40 dias de idade) a mortalidade durante esta fase foi de 1,16 %.
Não foi observada interação significativa (p>0,05) para bagago de mandioca (BM) e complexo enzimático (CE) para consumo de ração (CR), ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA) (tabela IV).
A inclusão de 20 % de BM nas raçóes reduziu (p<0,05) em 7,38 % o CR, estando de acordo com a fase inicial de 1 a 21 dias de idade. O mesmo ocorreu com o GP que reduziu (p<0,05) em 6,91 % , podendo essa redução no GP ser explicada pela redução no consumo. Campelo et al. (2009) avaliando níveis crescentes de inclusão da farinha de raspa de mandioca (0, 18, 36 e 53 %) em rações para frangos de corte caipiras na fase de 30 a 80 dias de idade encontraram diminuição no peso final das aves. Já a CA não foi influenciada (p>0,05) pela inclusão de 20 % de BM, sendo proporcional à diminuição do GP e do CR.
A inclusão de CE não influenciou (p>0,05) o CR, GP e CA, podendo ser explicado pelo fato da ave estar com seu trato gastrointestinal completamente desenvolvido nessa fase, suprindo suas necessidades enzimáticas, nao aproveitando de forma significativa os efeitos do uso das enzimas exógenas. Igualmente, Strada et al. (2005) observaram que o CR pelas aves nao foi influenciado pela adição de CE em dietas a base de farelo de soja e sorgo ou farelo de soja e milheto na ragao de frangos de corte na fase de 22 a 42 dias de idade, concluindo que, a inclusão de complexo enzimáticos, tanto em raçães á base de farelo de soja e sorgo como á base de farelo de soja e milheto, nao proporcionou melhor GP em frangos de corte. Lima et al. (2002), que ao suplementarem as dietas com amilase e protease, nao encontraram diferenças na conversão alimentar no período de 1 a 42 dias de idade.
Os resultados mostram que o menor custo de ração por ganho de peso e os melhores índices de eficiencia econômica (IEE) e indice de custo (IC) foram obtidos quando os frangos foram alimentados com rações sem inclusão do bagago de mandioca, com CE. Isso evidencia que o uso de complexo enzimático è eficiente economicamente em rações para frangos de corte (tabela V).
Portanto, pode-se concluir que a inclusão do bagaço de mandioca possibilita desem-penho inferior comparado aos frangos mantidos com dietas a base de milho e farelo de soja em ambas as fases de criação. Enquanto que o desempenho na fase inicial foi superior nos tratamentos com inclusão do complexo enzimático não apresenta efeito na fase de 22 a 40 dias de idade. O nivel de 0 % de inclusão mais CE apresentou o menor custo de ração por quilograma de ganho de peso e os melhores índices de eficiência economica e de custo para ambas às fases.
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