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Cirugía Plástica Ibero-Latinoamericana

On-line version ISSN 1989-2055Print version ISSN 0376-7892

Cir. plást. iberolatinoam. vol.39 n.4 Madrid Oct./Dec. 2013

https://dx.doi.org/10.4321/S0376-78922013000400007 

 

 

Análise biomecanica da marcha de mulheres com hipertrofia mamária

Análisis de la biomecánica de la marcha en mujeres con hipertrofia mamaria

Biomechanics gait analysis of women with mammary hypertrophy

 

 

Schütz, G.R.*; Detanico, D.**; Goulart Jr., R.***; dos Santos, S.G.****

** Msc, Doutoranda do Programa de Pós-Gradução em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC - Brasil.
*** Médico Especialista em Cirurgia Plástica pela SBC, Florianópolis, SC - Brasil
**** Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC - Brasil.

Correspondência

 

 


RESUMO

A hipertrofia mamária é definida como um aumento anormal das mamas, ocasionando nas mulheres diversas adaptações, como alterações na marcha e no equilíbrio.
Nosso objetivo é analisar as características cinéticas e cinemáticas da marcha de mulheres com hipertrofia mamária.
Participaram 13 mulheres com hipetrofia mamária. Foi utilizada uma plataforma de força para a mensuração da componente vertical da marcha, sendo analisadas as variáveis: primeiro pico de força (PPF), segundo pico de força (SPF), taxa de aceitação de peso (TAP) e suporte médio da força (SMF). Para análise cinemática foram utilizadas duas câmeras filmadoras (30 Hz), sendo analisadas as variáveis espaço-temporais: TAS (tempo de apoio simples direito e esquerdo), TDA (tempo de duplo apoio), TTP (tempo total da passada), TA e TB (tempo de apoio e balanço), CPO (comprimento de passo direito e esquerdo), CPA (comprimento da passada), LPO (largura de passo) e v (velocidade de deslocamento).
As variáveis cinéticas PPF, SPF e TAP e as variáveis espaço-temporais TDA, TA, TB, CPO, CPA, LPO e v apresentaram valores diferentes dos considerados normais para mulheres na mesma faixa etária.
As mulheres analisadas se deslocam mais lentamente, com passos menores e com uma largura de passo maior, o que gera maior período de aceitação do peso com o pé plano na fase inicial do apoio.
Pode-se concluir que a marcha das mulheres com hipertrofia mamária apresenta características que diferem dos padrões biomecânicos de mulheres saudáveis na mesma faixa etária, se assemelhando às características de mulheres obesas.

Palavras chave: Hipertrofia Mamária Biomecânica, Marcha.


RESUMEN

La hipertrofia mamaria se define como un aumento anormal de las mamas y provoca en las mujeres que la padecen diversas adaptaciones en la marcha y en el equilibrio. El objetivo de este trabajo es llevar a cabo un análisis de las características cinéticas y cinemáticas de la marcha en las mujeres con hipertrofia mamaria.
Participan en nuestro estudio 13 mujeres con hipertrofia mamaria. Empleamos una plataforma de fuerza para medir el componente vertical de la marcha y analizamos diversas variables: primer pico de fuerza (PPF), segundo pico de fuerza (SPF), tasa de aceptación de peso (TAP) y fuerza de apoyo media (SMF).
Para el análisis cinemático empleamos dos cámaras filmadoras (30 Hz), analizando las siguientes variables espacio-temporales: TAS (tiempo de apoyo simple derecho e izquierdo), TDA (tiempo de doble apoyo), TTP (tiempo total del paso), TA y TB (tiempo de apoyo y equilibro), CPO (longitud del paso a derecha e izquierda), CPA (longitud de la zancada), LPO (anchura de la zancada) y v (velocidad de desplazamiento).
Encontramos que las variables cinéticas PPF, SPF y TAP y las variables espacio-temporales TDA, TA, TB, CPO, CPA, LPO y v, presentaron valores diferentes de los considerados como normales para mujeres de la misma franja de edad.
Creemos por tanto que las mujeres analizadas se desplazan más lentamente, con pasos más cortos y más anchos, lo que genera un tiempo mayor de contacto del peso con el pie plano en el apoyo inicial.
Como conclusión podemos establecer que la marcha en las mujeres con hipertrofia mamaria presenta características que la hacen diferente de los patrones biomecánicos presentes en las mujeres que no la padecen para la misma franja de edad, características que la hacen semejante a la de las mujeres obesas.

Palabras clave: Hipertrofia mamaria, Marcha, Biomecánica.

Código numérico 5249-5210-103-107


ABSTRACT

Mammary hypertrophy is an abnormal increase of breasts, resulting in women several adaptations, such as changes in gait and balance. Our objective is to analyze the kinematic and kinetic characteristics of gait in women with mammary hypertrophy.
Thirteen women with mammary hypertrophy took part of this study. A force plate was used to measure the vertical component of gait. The variables analysed were: first peak of force (FPF), second peak of force (SPF), weight acceptance rate (WAR) mid-stance (MS). Two video cameras (30 Hz) were used for kinematic analysis. The following spatio-temporal variables were analyzed: SLS (single support time right and left), DLS (double support time), ST (stride time), ScT (stance time) SwT (swing time), SL (step length right and left), SdL (stride length), SW (stride width) and v (velocity).
The kinetic variables FPF, SPF and WAR and the spatio-temporal variables DLS, ScT, SwT, SL, SdL, SW and v showed different values when compared with normal women in same-age. The women walk more slowly, with small step length and a greater stride width, which generates greater weight acceptance period with the flat foot in the early support.
It can be conclude that the gait of women with mammary hypertrophy has different characteristics from biomechanical standard in healthy women in same-age, similar with characteristics of obese women.

Key words: Mammary hypertrophy, Gait, Biomechanics.

Numeral Code: 5249-5210-103-107.


 

Introdução

A hipertrofia mamária é definida como o aumento anormal das mamas, caracterizada pela progressão volumétrica das mamas, em geral bilateral, devido principalmente ao aumento predominante do estroma e, em parte, do parênquima glandular. Alterações desta natureza têm sido tratadas como anomalias, sendo associadas a diminuição da qualidade de vida do indivíduo e ao surgimento de vários sintomas relacionados ao sistema músculo esquelético.

Estudos demonstram que a hipertrofia mamária pode alterar componentes funcionais das pacientes, acarretando transtornos de ordem circulatória, respiratória e postural (1), originando dores nas regiões do pescoço, ombro e coluna lombar (2-5) e repercutindo no desenvolvimento de desvios posturais, na posição do centro de gravidade do corpo e na diminuição das amplitudes de movimento dos membros superiores (6).

O resultado destas alterações pode refletir, entre outros aspectos, na forma de andar, ou seja, na marcha das mulheres. A marcha é o mais comum de todos os movimentos humanos e compreende uma forma de movimentação das mais complexas que o ser humano aprende (7) e somente quando este complexo sistema esquelético neuromuscular é alterado, percebe-se as limitações em entender a complexidade biomecânica e os mecanismos de controle de movimento. Assim a análise da marcha é reconhecida como ferramenta importante na abordagem clínica, no acompanhamento da evolução do tratamento e mesmo na prevenção de pacientes com incapacidades neuromusculares, podendo resultar na melhora da qualidade de vida do sujeito, a partir da conquista da mobilidade independente (8).

Comuns são estudos com obtenção de valores relacionados à cinética e à cinemática da marcha em diferentes populações (9), entretanto para este estudo, não foram encontrados nas fontes pesquisadas dados específicos referente às mulheres com hipertrofia mamária. Observou- se uma preocupação no efeito de diferentes atividades esportivas na mecânica do seio (10) e no desenvolvimento de acessórios e vestimentas adequadas a proteção e conforto da mulher (11-12), mas voltados às mulheres com o tamanho das mamas considerados normais. Com isto, no intuito de se obter parâmetros específicos nas mulheres com esse tipo de mama, este estudo objetivou analisar as características cinéticas e cinemáticas da marcha de mulheres com hipertrofia mamária.

 

Material e método

Sujeitos

Participaram deste estudo descritivo 13 mulheres com média de idade de 31 ± 10 anos, diagnosticadas com hipertrofia mamária nos graus III e IV. O grau de hipertrofia foi classificado utilizando o índice de Sacchini (20), que sugere uma classificação baseada na distância entre o mamilo e a borda lateral do externo e mamilo-sulco inframamário. Por este índice são consideradas mamas de tamanhos normais àquelas que apresentam medidas entre 9 e 11 cm, hipomastia as medidas abaixo de 9 cm e mamas hipertróficas aquelas com medidas acima de 11 cm. Todas as mulheres foram classificados com hipertrofia mamária, apresentando valores superiores a 11 cm.

Instrumentos e procedimentos

O presente estudo obedeceu aos procedimentos éticos, sendo aprovado no Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (protocolo 1943/2011) e tendo as mulheres assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para mensuração da massa corporal e da estatura das mulheres foi utilizada uma balança digital Toleto (capacidade de 150 kg e precisão de 100 g) e um estadiômetro portátil Seca Modelo 220 (200 cm e precisão em 1 mm), respectivamente. A partir destes indicadores será calculado o índice de massa corporal, conforme a equação: IMC = MC/EST2, onde MC = massa corporal (Jg); EST = estatura (m).

As coletas das variáveis cinéticas e cinemáticas da marcha das mulheres com hipertrofia mamária foram realizadas no Laboratório de Biomecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, Brasil).

Antecedendo as coletas propriamente ditas, foram disponibilizados cinco minutos para adaptação das mulheres ao ambiente laboratorial, onde as mesmas realizaram deslocamentos livres sobre uma passarela de 6 metros de comprimento (preparada para aquisição de variáveis cinéticas, estando a plataforma de força acoplada no centro do percurso) e sobre o piso (trajeto de 6 metros de comprimento preparado para aquisição de variáveis cinemáticas).

Para aquisição das variáveis cinéticas da marcha foi utilizada uma plataforma de força piezoelétrica (Kistler®, Quattro Jump, 9290AD, Winterthur, Switzerland), que mensura o componente vertical (Fy) da força de reação do solo (FRS) em uma frequência de aquisição de 500 Hz. Para executar os deslocamentos sobre a passarela com a plataforma de força, as mulheres usaram roupas leves e tênis, sendo realizados cinco deslocamentos (ida e volta), caminhando em velocidade livre (auto-selecionada) e pisando com apenas um dos pés (dominante) sobre a plataforma. Foram registrados cinco momentos de contato do pé com a plataforma e para fins de análise foi utilizada a média destes registros.

Os dados da Fy da FRS mensurados pela plataforma foram adquiridos por meio do software Quattro Jump®, sendo identificadas na curva as seguintes variáveis: a) primeiro pico de força (PPF): força máxima absoluta ocorrida durante o primeiro pico da FRS; b) segundo pico de força (SPF): força máxima absoluta ocorrida durante o segundo pico da FRS; c) taxa de aceitação de peso (TAP): inclinação da curva força x tempo durante a fase de contato do calcanhar, obtida pelo intervalo entre 10 a 90% do PPF; d) suporte médio da força (SMF): definido como o menor valor de força encontrado entre o PPF e o SPF. Foram coletadas, por questões de viabilidade e padronização, apenas as variáveis da FRS correspondentes ao membro dominante. Os valores coletados para cada variável foram normalizados pelo peso corporal (PC) das mulheres.

Para a aquisição das variáveis cinemáticas da marcha foram utilizadas duas câmeras filmadoras com frequência de aquisição de 30 Hz, uma posicionada perpendicular ao evento e outra com uma visão frontal/posterior, além de um calibrador bidimensional para reconstrução das coordenadas em cada situação. A análise das filmagens foi realizada no software Dartfish®, sendo mensuradas as medidas de tempo e distâncias relacionadas aos seguintes eventos constituintes do ciclo da marcha: 1 - toque inicial do pé direito no solo; 2 - saída do pé esquerdo do solo; 3 - toque inicial do pé esquerdo no solo; 4 - saída do pé direito do solo; e 5 - novo toque do pé direito no solo, finalizando um ciclo de passada (7).

Com base na definição destes eventos, foram mensuradas as seguintes variáveis espaço-temporais, de acordo com critérios de Perry (7): TAS (tempo de apoio simples direito e esquerdo), TDA (tempo de duplo apoio) e TTP (tempo total da passada), expressos em segundos; TA e TB (tempo de apoio e balanço), expressos em percentual do tempo da passada; CPO (comprimento de passo direito e esquerdo), CPA (comprimento da passada) e LPO (largura de passo), expressos em metros; e v (velocidade de deslocamento), expressa em m.s-1.

Para realizar os deslocamentos no piso, as mulheres utilizaram o mínimo de vestimentas (top e bermuda de lycra, preferencialmente pretos) e estavam descalças. Foram filmados cinco deslocamentos (ida e volta) com velocidade auto-selecionada, sendo três ciclos completos da marcha para cada vídeo (adotando-se o toque do calcanhar direito ou esquerdo no solo como o ponto de início de cada ciclo) (Fig. 1).

 

 

Tratamento dos dados e análise estatística

Para a análise das variáveis cinéticas e cinemáticas da marcha, as mulheres foram divididas em dois grupos: G1 - IMC ≤ 29 m.Kg-2 (eutrófico e sobrepeso) e G2 - IMC > 30 m.Kg-2 (obeso) de acordo com a OMS (1998). Isso foi realizado a fim de eliminar qualquer interferência do excesso de peso corporal nas variáveis analisadas, tendo em vista que o objetivo do estudo é verificar a interferência somente da hipertrofia mamária na marcha.

Para apresentação dos resultados foi utilizada estatística descritiva, com a identificação dos valores de média (X) e desvio padrão (sd). Foi utilizado o teste de Shapiro- Wilk para verificar a normalidade dos dados e para comparar as variáveis entre os grupos foi utilizado um teste t para amostras independentes com p < 0,05.

RESULTADOS

A descrição das variáveis antropométricas (massa corporal e estatura) das mulheres no grupo total (GT) e de acordo com a composição corporal (G1 e G2) está apresentada na Tabela I. Pode-se observar uma diferença significativa na massa corporal entre os grupos, sendo superior no G2.

 

 

Os valores das variáveis cinéticas e espaço-temporais da marcha das mulheres no GT, G1 e G2 são descritos na Tabela II. Pode-se verificar que não houve diferença significativa em nenhuma variável cinética e cinemática da marcha, indicando que a obesidade parece não interferir na marcha das mulheres analisadas.

 

 

Dentro do estudo da cinética da marcha, por sua maior magnitude em relação aos outras componentes, a força vertical é a componente mais estudada, sendo em parâmetros normais caracterizadas graficamente como um "M" (7,14,15). Buscando visualizar o comportamento da curva da componente vertical da FRS para as mulheres estudadas, foram elaboradas as Gráficos 1 e 2, que são valores da FRS normalizados pelo peso corporal e pelo tempo do passo, estabelecendo que o início dos dados da FRS seja em 0% e o final em 100% do tempo do passo, podendo assim serem calculados o valor médio e o desvio padrão. A Gráfico 1 mostra o comportamento da marcha no grupo de mulheres com hipertrofia mamária (GT) e a Gráfico 2 mostra o comportamento de acordo com a composição corporal (G1 e G2).

 

 

 

 

Discussão

Os parâmetros cinéticos e cinemáticos das marcha das mulheres analisadas não apresentaram diferença significativa entre o grupo de mulheres eutróficas/sobrepeso e obesas, indicando que a obesidade parece não interferir na marcha dessas mulheres, ou seja, até as mulheres mais magras apresentam um comportamento similar às obesas provavelmente devido a hipertrofia mamária.

A obesidade isoladamente já é fator de uma série de alterações musculoesqueléticas, como na postura (16), equilíbrio (17), possibilidade de osteoartrite (18) e diminuição da capacidade funcional de joelhos (19) e na marcha de mulheres (20). Quando aliado a hipertrofia mamária, esse quadro ainda é intensificado, com diagnósticos de alterações na posição do centro de gravidade do corpo, desvios posturais na coluna cervical e torácica, além da diminuição das amplitudes de movimento dos membros superiores (6).

Dos parâmetros da marcha observados para os grupos analisados (GT, G1 e G2), verificou-se diferenças nas variáveis cinéticas PPF, SPF e TAP e nas variáveis espaçotemporais de TDA, TA, TB, CPO, CPA, LPO e v quando comparados aos valores descritos para a marcha humana (7,15,21) e especificamente, valores de referência para mulheres de faixa etária próxima (22,23).

Na marcha humana dita normal, o PPF acontece no contato do calcanhar com o solo e o SPF na retirada do pé do solo, sendo que para estes eventos espera-se um acréscimo de 10 a 20% do peso corporal do sujeito, ou seja, de 1,10 a 1,20 PC. Entre estes dois eventos, há uma deflexão relacionada à flexão do joelho do membro de apoio, definindo o SMF que apresenta valores próximos a 0,80 PC (21). Foram observados neste estudo valores semelhantes para o SMF e inferiores para os PPF e SPF quando comparados a indivíduos normais (24,25). Entre os dois grupos foram observados valores do SPF ainda menores no G2 (Gráfico 2). Esta diferença pode ser resultado da maior massa a ser impulsionada, entretanto a diferença para o G1 não foi estatisticamente significativa.

Esta característica de redução da carga no contato inicial do pé com o solo, também é observada em sujeitos obesos. Isto pode ocorrer, segundo Almeida (26), que comparou a marcha de crianças obesas e não-obesas, devido a uma mudança de estratégia, buscando um amortecimento da maior quantidade de massa de uma forma lenta e gradual, advinda de um mecanismo de defesa do próprio sistema locomotor. Esta estratégia também pode ocorrer nas mulheres com hipertrofia mamária, tendo em vista que para manter o equilíbrio o organismo distribuiu o peso do corpo, diminuindo consequentemente a carga inicial. Outra explicação poderia ser a menor oscilação vertical do centro de gravidade causado pelo excesso de massa, refletindo numa menor resultante vertical.

A ocorrência ou não de mudança de estratégia no contato inicial com o solo pode ser observado pela variável TAP. Considerando-se forças de igual magnitude, podese dizer que valores altos de TAP indicam que o aparelho locomotor sofre ações da carga no contato inicial com solo num curto intervalo de tempo, caracterizando uma situação de grande impacto, enquanto valores menores indicam que as forças foram distribuídas em um intervalo maior de tempo, reduzem a expressão do impacto (14). As mulheres estudadas apresentaram menores valores da TAP do que considerado normal para mulheres na mesma faixa etária (24), o que pode apontar realmente para uma alteração na estratégia de abordar o solo no momento da pisada. Em adição, na retirada do pé seria necessário a produção de um grande impulso para movimentar o corpo, o que provavelmente não ocorre, representando valores diminutos para o SPF. Ainda, a aproximação dos valores dos picos de força ao valor de SMF, faz com a curva da força vertical apresente uma forma bimodal menos pronunciada, conforme observado nas Gráficas 1 e 2.

Alguns estudos (26) também destacaram isto em crianças obesas, assumindo a curva uma forma trapezóide e estando relacionado a um maior tempo de apoio unipodal. Essa característica também é observada quando o deslocamento é realizado em velocidades menores (27). Segundo Hennig (28), a relação entre a acomodação do peso e o impacto é influenciada pela velocidade, sendo associada também a alterações de equilíbrio durante a locomoção. Nas mulheres deste estudo, a velocidade de deslocamento foi considerada menor quando ao comparada a mulheres na mesma faixa etária (22), o que ratifica a forma bimodal menos pronunciada da curva da marcha.

No presente estudo também foram observados maiores valores de tempo de apoio simples unipodal, sem assimetria entre os membros direito e esquerdo e, consequentemente, um maior tempo total da passada do que esperado para mulheres desta faixa etária, quando comparado ao apresentado por Öberg et al. (23). Este maior tempo desprendido no contato com o solo é facilmente observado nos diferentes percentuais de apoio e balanço, no qual se espera que o tempo da passada apresente 60% para a fase de apoio e 40% para a fase de balanço (22).

Em relação às variáveis CPO e CPA, os valores assemelharam- se aos reportados por Dias da Silva (29) em mulheres obesas, sendo inferiores aos encontrados em mulheres eutróficas no mesmo estudo. Já a LPO, que segundo Öberg et al. (22) deve estar entre 0,05 e 0,10 m, foi superior aos valores considerados normais, estando o G1 no limite superior e o G2 com maiores valores, sem ser estatisticamente significativa a diferença entre os grupos. A diminuição do comprimento do passo e da passada pode ser explicada pelo aumento no tempo para a manutenção do equilíbrio e/ou pelo aumento na largura do passo. Francisco et al. (17) observaram que a obesidade é um fator agravante no déficit de equilíbrio estático e dinâmico, comparando obesas a partir da meia-idade com não obesas.

Uma característica observada nos indivíduos obesos é um aumento na base de suporte e do tempo total de deslocamento (TTP) (20), o que consequentemente gera uma diminuição no comprimento do passo e da passada quando comparado a indivíduos não-obesos (29). Essas características também foram observadas nas mulheres deste estudo e parece não ser exclusividade de pessoas obesas. Isso indica que as mulheres com hipertrofia mamária, independente de serem obesas, se deslocam mais lentamente, com passos menores e com uma largura de passo maior quando comparadas a mulheres normais na mesma faixa etária. Isso se deve provavelmente pelo excesso de peso da mama projetado para frente, o que intensifica a necessidade de aumentar a base de suporte para a manutenção do equilíbrio, alterando a magnitude das variáveis espaço-temporais da marcha.

De acordo com Cunha (30), indivíduos obesos tendem a apresentar maior largura da passada, maior dorsiflexão do tornozelo e maior abdução do membro inferior, o que gera maior período de aceitação do peso com o pé plano na fase inicial do apoio. Valores superiores de largura de passada também foram observados nas mulheres deste estudo, que provavelmente foram influenciados pela maior quantidade de massa da mama, o que gerou um deslocamento do centro de gravidade para frente e a necessidade de maior equilíbrio para locomoção.

 

Conclusão

Com base nos resultados, pode-se concluir que a marcha das mulheres com hipertrofia mamária difere dos padrões biomecânicos de mulheres saudáveis na mesma faixa etária, se assemelhando às características de mulheres obesas. No entanto, a obesidade por si só parece não interferir na marcha das mulheres analisadas, sendo a hipertrofia mamária o fator de maior influência. Convém ressaltar que embora a obesidade não tenha influenciado as variáveis espaço-temporais e cinéticas das mulheres, quando acompanhada da hipertrofia mamária a mesma tende a intensificar as características associadas à manutenção do equilíbrio e locomoção. Enfim, sugere se estudos que investiguem a marcha desse tipo de população após redução da mama (mastoplastia redutora), para que seja possível afirmar se as modificações dos padrões biomecânicos da marcha são advindos exclusivamente da mama hipertrófica.

 

 

Correspondência:
Dr. Gustavo Ricardo Schütz
Laboratório de Biomecánica/UFSC, Bloco V
Centro de Desportos
Universidade Federal de Santa Catarina
CEP 88040-900, Florianópolis-SC, Brasil
e-mail: gugaschutz@hotmail.com

 

 

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