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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob.  n.16 Murcia Jun. 2009

 

CLÍNICA

 

O saber-fazer do enfermeiro no Programa de Conservação Auditiva (PCA): discutindo uma prática a partir do conhecimento de graduandos de enfermagem

El saber hacer del enfermero en el Programa de Conservación Auditiva (PCA): discutiendo una práctica a partir del conocimiento de estudiantes de enfermería

 

 

*Dantas, C. de C., **Leite, J. L., ***De Oliveira, M. A., ****Dantas, F. de C.

*Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro EEAN/UFRJ.
**Doutora em Enfermagem. Professora titular Emérita UNIRIO.
***Graduando da Escola de Enfermagem do Centro Universitário Celso Lisboa (CEUCEL). ****Graduanda da EEAN/UFRJ. Brasil.

 

 


RESUMO

Trata-se de estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa. Objetivos: identificar o conhecimento de graduandos do último período sobre o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e analisar tal conhecimento, discutindo suas implicações e enfatizando informações necessária para atuação do enfermeiro em PCA. Os sujeitos/cenário foram acadêmicos de enfermagem, do último período, de uma instituição particular do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados de março a agosto de 2005 no primeiro, através de um questionário semi-estruturado, a 43 graduandos.

Encontraram-se 69% de sujeitos do sexo feminino. Com relação a idade, encontrou-se 27% com idade superior a 40 anos. Trabalham na enfermagem 49% da amostra e destes, 37% em enfermarias de clínica médica e 10% com a saúde do trabalhador. Em relação ao conhecimento do PCA apenas 7% responderam conhecer, sendo as respostas, inconsistentes. Considera-se profícuo que o enfermeiro bem como o futuro enfermeiro, tenha consciência da importância do PCA na preservação e conservação auditiva para o trabalhador, pois através deste, pode-se prevenir a integridade auditiva dos mesmos, melhorando assim, a qualidade de vida e saúde geral do trabalhador.

Palavras-chave: Enfermagem, Programa de Conservação Auditiva, graduandos.


RESUMEN

Se trata de estudio descriptivo-exploratorio con abordaje cuantitativo. Objetivos: Identificar el conocimiento de los alumnos de último periodo acerca del Programa de Conservación Auditiva (PCA) y analizar este conocimiento, discutiendo sus implicaciones y enfatizando las informaciones necesarias para la actuación del enfermero en el PCA. Los sujetos/escena habían sido estudiantes de enfermería del último periodo de una institución de Río de Janeiro. Los datos se recolectaron en el periodo de marzo a agosto de 2005, a través de un cuestionario semi-estructurado, dado a 43 graduandos. Se ha encontrado 69% de los sujetos del sexo femenino. Con respecto a la edad, se ha encontrado 27% con más de 40 años de edad. Trabajan en enfermería 49% de la muestra y de estos, 37% en las enfermerías de clínica médica y 10% con la salud del trabajador. En relación al conocimiento del PCA sólo 7% respondió conocer el Programa, y las respuestas son incoherentes.

Se considera útil que el enfermero, así como el futuro enfermero, tenga consciencia de la importancia del PCA en la preservación y conservación auditiva para el trabajador, porque a través de este, se puede prevenir la integridad auditiva de ellos, mejorando así la calidad de vida y la salud general del trabajador.

Palabras clave: Enfermería, Programa de Conservación Auditiva, Estudiantes.


ABSTRACT

It is an exploratory and descriptive study with a qualitative approach. Objectives: To identify the senior nursing students' knowledge of the Hearing Conservation Program (HCP). Additionally to analyze this knowledge and discuss its implications and emphasize the necessary information for nursing performance in the HCP. The subjects were senior nursing students in an institution of Rio de Janeiro, Brazil. The data collection was carried out from March to August 2005 through a semi-structured interview given to 43 graduating nurses. An analysis showed 69 % consisted of females. In regard to age, 27 % were found to be of age 40 or more. Of the sample 49 % work in nursing and of these 37% work in the nursing rooms of medical clinics and 10 % in worker health. Regarding the knowledge about HCP, only 7 % said they knew about the program and the answers are not coherent. It is of great importance that nurses and future nurses are aware of the importance of HCP in hearing preservation and conservation for the worker, because with this it is possible to ensure their hearingintegrity, improving their life quality and general health of the worker.


 

Considerações iniciais

O presente estudo tem a finalidade de investigar questões concernentes à audição. Este órgão do sentido é uma das estruturas fundamentais que, em conjunto com a comunicação, possibilita ao homem viver em harmonia em seu ambiente social, seja no trabalho, em entretenimentos ou familiar. Concomitante, a audição é um dos sentidos mais importantes para o desenvolvimento psicossocial do indivíduo e, dessa forma, tudo o que venha a comprometer esse sentido merece atenção especial(1).

Este estudo discorrerá sobre o seguinte objeto de estudo – o conhecimento que graduandos possuem sobre o Programa de Conservação Auditiva (PCA). Tendo em vista experiência prévia dos acadêmicos de enfermagem, na condições de técnicos de enfermagem, atuantes neste programa, outrossim preocupado com a atuação da enfermagem no âmbito do PCA, realizou-se extensa busca por literaturas cujo cerne de discussão pautasse em temáticas relativas a conservação auditiva. Isto posto, no tocante a buscas de pesquisas/trabalhos que discorressem sobre esta temática, realizadas em duas bibliotecas públicas de enfermagem do Rio de Janeiro e em fontes on-line (Biblioteca Virtual de Saúde - BIREME), utilizando-se como descritores ruídos, audição, deficiência auditiva e enfermagem, verificou-se certa escassez de literatura, principalmente, no tocante a investigações realizadas por enfermeiros.

Neste sentido, justifica-se a realização deste estudo tendo em vista esta escassez bem como a possibilidade de construção de uma pesquisa que permita um olhar diferenciado da enfermagem no tocante a prevenção da deficiência auditiva, fim contribuir para otimização da qualidade de vida da saúde do trabalhador.

Dentro dessa problemática, a partir da vivência como técnico de enfermagem atuante numa indústria de grande porte do município de Duque de Caxias, observou-se a falta da enfermagem na atuação do PCA. Desde então, muitas foram às inquietações e preocupações ocorridas, uma vez acreditando na importância e necessidade de uma participação ativa e dinâmica do profissional de enfermagem nesse programa. Tais inquietações geraram as seguintes indagações: Qual o conhecimento de acadêmicos de enfermagem do último período sobre o PCA? Estão estes futuros profissionais preparados para atuação nesta área? Que informações são necessárias para que um profissional possadesenvolver uma assistência de qualidade? Tendo em vista o exposto, traçaram-se os seguintes objetivos:

· Identificar as informações ou o conjunto delas que os graduandos do último período do curso de graduação referem sobre o PCA ;

· Analisar as informações referidas pelos estudantes com vistas à atuação do enfermeiro este programa;

· Discutir as implicações deste saber na formação do enfermeiro;

· Verificar a importância deste corpo de conhecimento na formação do enfermeiro.

 

Material e método

De modo a atender aos objetivos propostos realizou-se estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa. Os sujeitos/cenário foram acadêmicos de duas turmas do curso de enfermagem, do último período de uma instituição particular, localizada no Estado do Rio de Janeiro. A escolha por graduandos reside no fato de conhecer se os mesmos, futuros enfermeiros, possuem algum conhecimento sobre o PCA, fim possibilitar discussões, dentre outras, sobre a formação deste profissional.

Os dados foram coletados no primeiro e segundo semestre de 2005, através de um questionário semi-estruturado que permitiu caracterizar o perfil da clientela perquirida, bem como o conhecimento dos mesmos sobre o PCA. O questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador (2). Após coletados os dados estes foram submetidos a tratamento estatístico, que antes de tudo, fornecer uma descrição quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado. Definem-se e delimitamse as características dos membros dessas classes, e após, mede-se a sua importância ou a variação, ou qualquer outro atributo quantificável que contribua para o seu melhor entendimento. Mas a estatística pode ser considerada mais do que apenas um meio de descrição racional; é também um método de experimentação e prova, pois é método de análise(2).

De modo a atender os preceitos ético-legais da Resolução 196/96, foi fornecido a cada participante um termo de consentimento livre e esclarecido, após feita explanação da pesquisa e dirimindo possíveis dúvidas da mesma. Cabe ressaltar que o presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética da instituição que consistiu no cenário para coleta de dados, angariando, conseqüentemente, respaldo legal para realização deste estudo.

 

Apresentação dos resultados e discussão

O questionário foi aplicado a duas turmas do 9° per íodo do Curso de Graduação em Enfermagem de uma instituição particular. Foram distribuídos um questionário para cada aluno de cada turma, totalizando 43. Todos os questionários distribuídos foram devolvidos, conforme explicitado pelo gráfico 1, a seguir.

De acordo com o Gráfico 1 do total de questionários distribuídos, 5% retornaram em branco, 12% incompleto faltando preenchimento de algumas lacunas e 83% preenchidostotalmente. Em relação ao sexo, verifica-se, de acordo com o gráfico 2 a maioria pertence ao sexo feminino (69%) e 27% do sexo masculino.

Ao apreciar o perfil da clientela investigada segundo a idade, observa-se no gráfico 3 que a maioria possui mais de 40 anos (27%), seguido de 26% com idade compreendida entre 26 e 30 anos.

Em relação ao desenvolvimento de atividade laboral na enfermagem, verifica-se no gráfico 4 que do total de sujeitos investigados a maioria trabalha nesta profissão totalizando 49% da amostra e um quantitativo de 26% que não trabalha.

Em relação aos 49% que desempenham atividades na enfermagem, questionou-se também o setor de atuação. Através do gráfico 5 observa-se que a maioria atua em clínica médica (37%). Destaque para saúde do trabalhador com um total de 10% trabalhando nesta área.

Ao questionar os acadêmicos a respeito do conhecimento sobre o Programa de Conservação auditiva, verificou-se que a maioria não possui informações sobre este (76%), seguido de 12% que ouviu falar e apenas, 7% conheciam o PCA. Estes para os quais possuíam alguma informação sobre o programa compreendem o percentual que trabalha na área da saúde do trabalhador (gráfico 6).

Dos dados coletados, verificou-se que a maioria não conhece, estando, portanto estes acadêmicos com certo despreparo para atuar neste setor. Nos itens do questionário referente ao conhecimento sobre o PCA, apesar de 4 sujeitos terem respondido afirmativo, totalizando 7%, as informações descritas pelos mesmos são incompletas e, algumas, contraditórias. Tendo em vista o conhecimento exíguo nesta área do saber, torna-se relevante a busca de literaturas a fim de discutir tal temática.

Profissionais estes, recém-egressos da graduação, caso da oportunidade de trabalho nesta área, deverá buscar subsídios teóricos seja em livros, manuais ou Cursos de Pós- Graduação fim fazer valer uma assistência de qualidade no âmbito que possivelmente atuará. Assim, acredita-se que é de suma importância à participação do enfermeiro do trabalho no Programa de Conservação Auditiva direcionados a trabalhadores expostos a elevados níveis de ruído que através de ações baseadas no processo de enfermagem busca assim, ampliar os conhecimentos desta especialidade e seu efetivo papel na equipe multiprofissional de atenção ao trabalhador(3).

Visando contribuir para tais profissionais discorrer-se-á, a seguir, a respeito de questões imprescindíveis para o conhecimento de profissionais que possuem afinidade pelo tema ou que atuam/almejam atuar nesta área.

 

Discutindo o PCA: apontando subsidios sua compreensão

Alguns autores defendem o PCA como forma de controle e redução de perdas auditivas. Este ressalta fatores que podem levar a discusia ou a acusia, tais como: doenças metabólicas, vasculares, isquêmicas e iônicas; uso de medicamentos, estresse, predisposição genética, fatores nutricionais, exposição ao ruído e outros (1). Sabe-se que a poluição sonora, ou seja, o ruído propriamente dito pode ser encontrado em ambientes variados: no hospital, no lazer, em empresas, vias públicas, em nossas casas, dentre outros. Em vias públicas, o ruído emanado pelas mesmas em virtude de circulação de pessoal, veículos, máquinas, pode ser prejudicial como o ruído proveniente de um ambiente de trabalho (4). Para este último, o ocupacional, dever-se-á angariar esforços na tentativa de desenvolvimento/implementação de um Programa de Conservação Auditiva fim prevenir perda auditiva visando o controle/redução deste.

Segundo a Portaria do INSS com Respeito à Perda Auditiva por Ruído Ocupacional (PAIR) de 1997, constitui-se em doença profissional de enorme prevalência em nosso meio, tendo se difundido a numerosos ramos de atividades. Esta tem seu início e predomina, nas freqüências de 6.000, 4.000 e/ou 3.000 Hz, progredindo lentamente às freqüências de 8.000, 2.000, 1.000, 500 e 250 Hz, para atingir seu nível máximo, nas freqüências mais altas, nos primeiros dez a 15 anos de exposição estável a níveis elevados de pressão sonora.

O Programa de Conservação Auditiva é um conjunto de medidas que tem objetivos de impedir que determinadas condições de trabalho provoquem deterioração dos limiares auditivos. Deve ser desenvolvido dentro da empresa, por meio de uma equipe interdisciplinar, sendo o enfermeiro um dos profissionais importante para desenvolvimento e implementação deste programa, além do médico e engenheiro, principalmente (5).

Tendo em vista a preocupação com a saúde do trabalhador o ministério do trabalho defende Normas Regulamentadoras (NR) fim preservar saúde do profissional quando do desenvolvimento de atividade laboral. O enfermeiro deve possuir tais noções tendo em vista que o ruído pode estar presente em qualquer ambiente. Desta forma, este profissional deve se subsidiar em parâmetros e programas visando evitar riscos para todos em seu ambiente de trabalho, ofertando melhores condições para todos.

Torna-se salutar o enfermeiro ter ciência que a NR-9 da Portaria nº 3.214 do Ministério do Trabalho (6) determina que toda empresa deve ter um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Em se tendo o nível de pressão sonora elevado como um dos agentes de risco levantados por este programa, a empresa deve organizar sob sua responsabilidade um Programa de Conservação Auditiva. As informações que se seguem, referem-se ao desenvolvimento de um PCA, o qual foi baseado em literaturas afins, normas e regulamentações (1, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12) que trata das recomendações mínimas para a elaboração de um Programa de Conservação Auditiva. Desta forma, para que se tenha a eficiência deste programa, a equipe envolvida neste processo, em especial no que tange ao enfermeiro, deve atentar para as seguintes etapas:

1) Monitoramento da exposição do nível de pressão sonora elevado:

Primeiramente deverá ser feito uma avaliação do local no que diz respeito ao ruído.

Assim, deve-se fazer uma avaliação minuciosa dos níveis de pressão sonora elevados da empresa por setor com intuito de:

· avaliar a exposição de trabalhadores ao risco:

· determinar se os níveis de pressão sonora elevados presentes podem interferir com a comunicação e a percepção audível de sinais de alerta;

· priorizar os esforços de controle do nível de pressão sonora elevado e definir e estabelecer práticas de proteção auditiva.

· para identificar trabalhadores que vão participar do PCA;

· avaliar o trabalho de controle do nível de pressão sonora elevado.

2) Controles de engenharia e administrativos:

Os controles de engenharia e administrativos são os elementos mais importantes de um PCA, pois somente por meio da redução do nível de pressão sonora elevado ou da exposição é que se consegue prevenir os danos ocasionados pelo nível de pressão sonora elevado. Assim, os profissionais da engenharia, em especial, tem um peso muito importante nesta fase, uma vez que trabalham com questões que permitem definir como toda modificação ou substituição de equipamentos que cause alteração física na origem ou na transmissão do nível de pressão sonora elevado (com exceção dos EPIs), reduzindo os níveis sonoros que chegam no ouvido ao trabalhador. Outro grupo de profissionais são os administrativos, os quais podem contribuir no sentido de flexibilizar horário de trabalho/operações de máquinas, visando redução da exposição dos funcionários, bem como rodízio de empregados nas áreas de nível de pressão sonora elevado, funcionamento determinadas máquinas em turnos ou horários com menor número de pessoas presentes, dentre outros.

2) Monitoramento audiométrico:

Cabe aos profissionais da saúde, em especial o enfermeiro, gerenciar este processo concomitante aos demais profissionais da saúde envolvidos neste (fonoaudiólogos e médicos), primar por esta fase na identificação e subsequente manutenção e controle de possíveis alterações auditivas. Esta serve como parâmetro da eficiência/eficácia da implementação do PCA. Conforme o Boletim 03, são propósitos do monitoramento audiométrico:

· estabelecer a audiometria inicial de todos os trabalhadores;

· identificar a situação auditiva (audiogramas normais e alterados), fazendo o acompanhamento periódico;

· identificar os indivíduos que necessitam de encaminhamento ao médico otorrinolaringologista com objetivo de verificar possíveis alterações de orelha média;

· alertar os trabalhadores sobre os efeitos do nível de pressão sonora, bem como fornecerlhes os resultados de cada exame;

· contribuir significativamente para a implantação e efetividade do PCA.

· Os audiogramas iniciais devem ser utilizados como referência e comparados, em caráter coletivo ou individual, com os exames realizados posteriormente, de modo a verificar se as medidas de controle do nível de pressão sonora elevado estão sendo eficazes.

· O diagnóstico de perda de audição não desclassifica o trabalhador do exercício de suas funções laborativas. O monitoramento deve ser utilizado como prevenção da progressão de perdas auditivas induzidas por ruído e não como meio de exclusão de trabalhadores de suas atividades.

· Os trabalhadores devem receber cópia dos resultados de seus audiogramas.

3) Indicação de Equipamentos de Proteção Individual - EPI:

Uma vez em área de risco para o risco de audição algumas medidas devem ser tomadas no que concerne a proteção individual. O protetor auricular tem por objetivo atenuar a potência da energia sonora transmitida ao aparelho auditivo.

Segundo o Boletim a seleção do EPI mais adequado a cada situação é de responsabilidade da equipe executora do PCA. Para tanto, alguns aspectos devem ser considerados quando da seleção dos mesmos:

· nível de atenuação que represente efetiva redução da energia sonora que atinge as estruturas da cóclea;

· modelo que se adeqüe à função exercida pelo trabalhador;

· conforto;

· aceitação do protetor pelo trabalhador.

4) Educação e motivação:

Para que todo este processo seja eficaz, dever-se-á buscar pela adesão de todas as pessoas que compartilham do mesmo ambiente. Estas devem sem incluída em programas de esclarecimento acerca do assunto, realização de palestras com vistas a fazer que o funcionário se consciência da importância da prevenção e, principalmente, motivar a todos, ofertando infra-estrutura adequada e flexibilizando aspectos administrativos/operacionais. Esta sistematização visa ao prevenção de perdas auditivas. Preconiza-se que os trabalhadores devem compreender, pelo menos, as seguintes questões:

· os efeitos à saúde ocasionados pela exposição a nível de pressão sonora elevado;

· a interpretação dos resultados dos exames audiométricos;

· concepção, metodologia, estratégia e interpretação dos resultados das avaliações ambientais;

· Medidas de proteção coletivas e individuais possíveis.

5) Conservação de registros:

Tendo em vista a importância do registro para o avanço da ciência, dever-se-á primar pelo registro e consecutivo arquivamento de todos os dados colhidos no processo de desenvolvimento manutenção do PCA. O enfermeiro deve cuidar para que a pessoa jurídica arquive todos os dados referentes a resultados de audiometrias, bem como avaliações ambientais e medidas adotadas de proteção coletiva, inclusive disponibilizar aos trabalhadores e demais interessados afins tais como órgãos fiscalizadores, tendo em vista a importância da participação de todos para sucesso neste processo.

6) Avaliação da eficácia e eficiência do programa:

Para aprimoramento de todo este processo de desenvolvimento e manutenção do PCA dever-se-á realizar processos avaliativos periódicos a fim de aprimorar sempre que necessário, realizando os respectivos ajustes. O alcance pleno dos objetivos é estabelecido mediante avaliação sistemática e constante. O uso de check-list para acompanhar a aplicação do PCA pode ser muito útil e facilitador da avaliação, devendo-se atentar para os seguintes aspectos básicos:

· avaliação da perfeição e qualidade dos componentes do Programa;

· avaliação dos dados do exame audiológico;

· opinião dos trabalhadores.

Essas são as etapas preconizadas para o desenvolvimento manutenção de um PCA. O enfermeiro deve buscar pelo aprimoramento nesta área de atuação tendo em vista prestar melhor assistência para as pessoas que desenvolvem trabalhos em locais, onde o ruído é um fator que pode levar a serias complicações futuras. Concomitante a isto, encontra-se o fato, do enfermeiro ser um dos profissionais com grande potencial para, junto a equipe interdisciplinar, desenvolver um trabalho de qualidade visando a saúde do trabalhador.

 

Considerações finais

O perfil da amostra deste estudo caracterizou-se como majoritariamente feminina, total de 69% e apenas 27%, do sexo masculino. Com relação a idade, encontrou-se 27% com idade superior a 40 anos, seguido de 26% com idade compreendida entre 26-30 anos. Em relação ao exercício de atividade laboral, 49% trabalham na enfermagem como profissional de nível médio, e destes, 37% trabalham em enfermaria de clínica médica e um quantitativo de 10% na área da saúde do trabalhador.

No que tange ao conhecimento destes futuros profissionais a respeito do PCA, verificou-se que, das duas turmas de último período do curso de graduação em enfermagem, 76% não conhecem o Programa de Conservação Auditiva, seguido de 12% que ouviu falar e apenas 7% manifestaram conhecer. Entretanto, quando solicitado, através do instrumento, responder questões específicas sobre este programa praticamente todos não souberem descrever sobre o mesmo de forma correta.

No que tange à formação destes profissionais, verifica-se certa lacuna neste setor de atuação. Constatou-se, ao retornar com os resultados da pesquisa para os sujeitos do estudo, que durante a graduação quase nada se trabalhou a respeito da saúde do trabalhador e que, em especial o PCA não foi discutido em atividades intra ou extraclasse. Aqueles que informaram saber algumas informações a respeito consistem no grupo que trabalha dentro da saúde do trabalhador e que, portanto, algo tem trabalhado neste sentido, mas sem o aprofundamento técnico-científico que requer.

Desta forma, abre subsidio para a instituição e demais que porventura não abordam a saúde do trabalhador em seu currículo, repensar este campo de atuação da enfermagem e inserir no processo de ensino aprendizagem, tendo em vista um campo de atuação da enfermagem, que inclusive, a partir de 2003, com a Resolução-COFEN 286(13), o enfermeiro pode elaborar, emitir e assinar laudo técnico de condições ambientais de trabalho, estando o enfermeiro obrigado a manter registros sistematizados em prontuário do trabalhador.

O Programa de Conservação Auditiva consiste num conjunto de medidas que tem como principal objetivo a proteção da Saúde do Trabalhador, ou seja, prevenir que os trabalhadores expostos a níveis de ruído perigosamente altos desenvolvam perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional.

Considera-se profícuo que o enfermeiro bem como o futuro enfermeiro, tenha consciência da importância do PCA na preservação e conservação auditiva para o trabalhador, pois através deste, pode-se prevenir a integridade auditiva dos mesmos. Aliado a isso e através, da transformação progressiva da organização do trabalho, das condições de trabalho e dos processos de trabalho, tentar resgatar o sentido maior do trabalho, ou seja, uma atividade sem sofrimento, dor, doença ou morte, melhorando assim, a qualidade de vida e saúde geral.

Assim, as informações aqui trabalhadas, a respeito dos programas de conservação auditiva, em momento algum teve a pretensão de esgotar o assunto, dado sua alta complexidade.

Requer, ainda, a aplicação do questionário em outras instituições, dado que tal desconhecimento seja algo local e não de âmbito fora dos currículos da graduação em enfermagem.

Espera-se que alguns parâmetros trabalhados neste estudo possibilitem discussões/reflexões no campo de ensino, pesquisa e assistência acerca da formação e atuação do enfermeiro na área da saúde do trabalhador como um todo.

 

Referências

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