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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob.  n.20 Murcia Oct. 2010

 

ADMINISTRACIÓN-GESTIÓN-CALIDAD

 

Conhecimento de enfermeiros sobre métodos contraceptivos no contexto do programa saúde da família

Conocimiento de enfermeros acerca de los métodos anticonceptivos en el contexto del programa de salud de la familia

 

 

Moura Lopes, E*; Ferreira da Silva, S**; Costa de Moraes, M.L.**; De Sousa Aquino, P.***; Américo, C.F.****; Bezerra Pinheiro, A.K.*****

*Mestranda em Enfermagem. Universidade Federal do Ceará.
**Acadêmica de Enfermagem. Universidade Federal do Acre.
***Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal do Ceará.
**** Enfermeira. Universidade Federal do Ceará.
*****Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem. Universidade Federal do Ceará. Brasil.

 

 


RESUMO

A contracepção vem ganhando mais espaços de discussão nos últimos 40 anos. O enfermeiro como profissional que tem participação ativa neste processo, deve auxiliar, efetivamente, as pessoas que optam pela contracepção e buscam o serviço público de saúde. Objetivou-se avaliar o conhecimento de enfermeiros sobre métodos contraceptivos no contexto do Programa Saúde da Família (PSF) acerca dos métodos contraceptivos. Estudo descritivo com abordagem quantitativa, realizado entre julho e novembro de 2007. Participaram do estudo 71 enfermeiros do pSf de Fortaleza. A maioria dos enfermeiros, 59 (83,1%), é do sexo feminino e 22 (31%) trabalham no PSF há cerca de 4 a 6 anos. Os enfermeiros demonstraram maior conhecimento acerca dos métodos contraceptivos naturais e os itens com maiores percentuais de erros foram os métodos de barreira. Verificou-se que o conhecimento dos enfermeiros sobre os métodos contraceptivos não foi adequado, necessitando de maior atualização e capacitação desses profissionais.

Palabras chave: conhecimento, enfermagem, anticoncepção.


RESUMEN

La anticoncepción ha ganado más espacio para el debate en los últimos 40 años. La enfermera como profesional que tiene participación activa en este proceso, debe ayudar, efectivamente, a las personas que optan por buscar la anticoncepción y el servicio de salud pública. El objetivo fue evaluar los conocimientos de las enfermeras acerca de los métodos anticonceptivos en el contexto del Programa de Salud de la Familia (PSF) acerca de los métodos anticonceptivos. Estudio descriptivo con enfoque cuantitativo, realizado entre julio y noviembre de 2007. Los participantes del estudio fueron 71 enfermeras del PSF de Fortaleza. La mayoría de las enfermeras, 59 (83,1%), es de sexo femenino y 22 (31%) trabajan en el PSF alrededor de 4 a 6 años. Las enfermeras demostraron un mayor conocimiento acerca de los métodos naturales de anticoncepción y los items con mayor porcentaje de errores fueron los métodos de barrera. Se encontró que el conocimiento de las enfermeras acerca de métodos anticonceptivos no era suficiente, necesitando más actualización y capacitación de estos profesionales.

Palabras clave: conocimiento, enfermería, anticoncepción.


ABSTRACT

Contraception has gained room for debate in the last 40 years. The nurse as a professional that has active participation in this process to help. In practice, some people are opting to look for contraception and service in public health care. The objective was to evaluate the nurse's knowledge of contraceptive methods in the context of the Family Health Program (FHP) regarding contraceptive methods. Descriptive study with a quantitative focus, carried out between July and November 2007. The participants of the study were 71 nurses. Most of nurses, 59 (83.1%), were females and 22 (31%) worked there for about 4 to 6 years. Nurses showed a higher knowledge regarding natural contraceptive methods and the topics with the highest percentage of errors were barrier methods. It was found that the nurses' knowledge was not enough regarding contraceptive methods and therefore they need more training and updating for these professionals.

Key words: Knowledge, Nursing, and Contraception.


 

Introdução

A preocupação com o número de filhos e quando tê-los é um assunto cada vez mais em destaque. Questões como a ascensão da mulher no mercado de trabalho, dificuldades financeiras e sociais e a participação masculina no planejamento familiar fazem com que mulheres e casais adiem a maternidade e a paternidade e optem pela contracepção.

O planejamento familiar consiste em ações de regulação da fecundidade, garantindo direitos iguais a homens e mulheres em relação à prole1. Portanto, permite a escolha do casal acerca da melhor hora da concepção e envolve o conhecimento sobre a eficácia, as condições, as indicações e as contra-indicações dos métodos existentes.

A liberdade de escolha do método deve ser um direito assegurado ao casal e envolve o acesso às informações acerca do uso e características. Para tanto, é preciso informação profissional para que essa escolha aconteça da forma mais saudável, mantendo a autonomia do cliente.

Em relação à saúde da mulher, o marco inicial que a considerou em sua complexidade e holismo foi o surgimento do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), em 1984. O PAISM surgiu em resposta a pressões para instalação de um programa de controle da fecundidade no país e deslocou o limite das funções reprodutivas2.

Em 2003, foi elaborado pela área técnica de saúde da mulher, o Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PANAISM), que reflete o compromisso do Governo Federal na implementação de políticas públicas para garantir os direitos das mulheres. Um dos eixos de trabalho dessa área técnica é a atenção ao planejamento familiar, cujo objetivo é melhorar a informação e o acesso aos métodos contraceptivos3.

Como estratégia para atenção integral dos clientes, foi implantado, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF), que representa a atenção básica (âmbito municipal) e constitui em um conjunto de ações voltadas para a prática preventiva. Trata-se de uma proposta de trabalho em equipe, composta por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente comunitário, com a co-responsabilidade pela saúde de cerca de 1000 famílias4.

Uma das ações básicas do PSF no programa de atenção à saúde reprodutiva é a orientação quanto ao planejamento familiar. Este é definido como um conjunto de ações que oferece recursos cientificamente comprovados para concepção ou contracepção. É um direito sexual e reprodutivo que deve ser garantido pelo Governo5.

Dentre os componentes da equipe de saúde da família, o profissional de enfermagem mostra-se como elemento fundamental na realização, efetivação e continuidade das práticas do planejamento familiar, sendo imprescindível a capacidade e a competência por parte deste profissional. A atualização e a capacitação são necessárias para que o profissional seja apto a dar informações corretas e retirar dúvidas dos usuários, contribuindo para a autonomia de seus clientes. É necessário conhecimento técnico, científico e cultural, visando o atendimento da necessidade de saúde sexual e reprodutiva dos clientes, incluindo habilidade para dar informação e comunicar-se adequadamente4. Faz-se necessário, ainda que profissionais de saúde conheçam as necessidades de seus clientes a fim de proporcionar assistência de forma integral, promovendo saúde e gerando qualidade de vida6.

Tendo em vista a importância do enfermeiro no atendimento a clientes que buscam o serviço público de planejamento familiar, em particular métodos de contracepção, faz-se necessário saber o conhecimento de enfermeiros que lidam diretamente com essas pessoas.

Assim, objetivou-se verificar o conhecimento de enfermeiros acerca de métodos contraceptivos no contexto do Programa Saúde da Família.

 

Metodologia

Estudo descritivo, de corte transversal e abordagem quantitativa, realizado em Centros de Saúde da Família de Fortaleza (CSF). O município tem sua administração subdivida em seis Secretarias Executivas Regionais (SER). Para este estudo, foram selecionadas as SER I e III, que foram intencionalmente selecionadas devido ao maior acesso aos bairros pelas pesquisadoras, propiciando, portanto, maior facilidade de execução do estudo.

A população foi composta por todos os enfermeiros que atuam no Programa Saúde da Família das SER I e III, totalizando 88 profissionais. A amostra foi composta por 71 enfermeiros. Utilizaram-se como critérios de inclusão ser enfermeiro atuante no PSF das referidas SER e aceitar participar do estudo. Foram excluídos aqueles profissionais que estavam de férias, licença maternidade ou licença médica durante a coleta de dados.

A coleta de dados for realizada entre os meses de agosto e novembro de 2007. Foi aplicado um questionário estruturado contendo 34 questões, sendo estas objetivas, com itens verdadeiro ou falso sobre métodos anticoncepcionais, e questões subjetivas, que abordavam dados de identificação profissional. Os questionamentos específicos sobre os métodos anticoncepcionais foram elaborados a partir de manuais técnicos, sendo estes utilizados como parâmetro para definição de acerto ou erro.

Os dados foram digitados e organizados no Programa Excel, por meio de tabelas. Foi utilizado o Software Statistical Package for the Social Sciences 11.0 (SPSS) para armazenar e codificar os dados. Em seguida, foi realizada análise estatística descritiva e realizada discussão sob literatura pertinente.

O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do ceará e aprovado conforme protocolo 180/07. Foram seguidas as diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde-Ministério da Saúde, sob a qual todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido após terem sido esclarecidos sobre os objetivos do estudo.

 

Resultados e análise dos dados

Para obter uma caracterização geral da amostra, foram investigados o sexo, o tempo total de trabalho, o tempo de trabalho em PSF (Tabela 1).

A população do estudo foi predominantemente feminina, totalizando 59 (83,1%) profissionais. Os profissionais do sexo masculino representaram 12 (16,9%) enfermeiros.

A maioria dos profissionais, 23 (32,3%), possui entre 7 e 9 anos de trabalho, seguida por aqueles que têm entre 4 e 6 anos de profissão 22 (31%). Acerca do tempo de trabalho no PSF, 22 (31%) profissionais têm entre 7 e 9 anos e 20 (28,2%) têm entre 4 e 6 anos. Em relação aos cursos de especialização, dos 70 profissionais que responderam este item, 64 (91,4%) referiram ter pelo menos um curso de especialização.

Os enfermeiros foram questionados acerca dos métodos contraceptivos em questões específicas (Tabela 2).

 

A maioria dos profissionais, 58 (81,7%), acertou ao responder como verdadeiro que a droga de escolha para uma mulher que usará o contraceptivo hormonal oral pela primeira vez deve ser de baixa dosagem. Sabe-se que a escolha do primeiro método hormonal a ser utilizado por uma mulher deve recair sempre sobre um hormonal de baixa dosagem (0,03 mg de etinilestradiol ou 5 mg de estradiol), devido a uma melhor tolerância e eficácia apresentada por esses medicamentos. Em casos de sangramentos intermenstruais, é que deve haver a indicação para a pílula de média dosagem7,8.

Quando perguntados sobre o início obrigatório do contraceptivo oral durante o período menstrual, 40 (56,3%) erraram ao responder a sentença como verdadeira. O contraceptivo oral dever ser preferencialmente iniciado do primeiro ao quinto dia de menstruação, porém, se o contraceptivo oral for iniciado após esse período, deve ser utilizado um método de barreira ou o casal deve abster-se de relação sexual por sete dias, não havendo a obrigatoriedade do início do método durante o período menstrual7.

Perguntou-se aos profissionais se uma mulher que está amamentando pode usar a injeção trimestral. Destes, 29 (40,8%) erraram ao afirmarem a questão como falsa. A injeção trimestral pode ser utilizada por mulheres que estão amamentando, desde que obedecido um tempo mínimo de seis semanas após o parto5;7. Outros métodos são preferíveis, porém, se estes não estiverem disponíveis ou não forem aceitos, a mulher utiliza o contraceptivo injetável.

Afirmou-se que são necessários seis meses para a volta da fertilidade em uma mulher que utiliza hormonais orais combinados. A maioria dos enfermeiros, 65 (91,5%), acertou ao responderem essa questão como falsa, já que volta da fertilidade em mulheres que utilizam hormonais é imediata, não sendo necessário um tempo de seis meses para isso8.

Dos pesquisados, 63 (88,7%) acertaram ao referirem que é falsa a questão de que as pílulas exclusivas de progestágeno (PEP) alteram a quantidade ou a qualidade do leite materno. Dentre as vantagens da PEP aponta-se o fato de ela não interferir na amamentação, não afetando a qualidade nem a quantidade do leite materno7.

Os profissionais foram perguntados se a camisinha pode oferecer eficácia de aproximadamente 100% quando usada corretamente; 37 (52,1%) erraram a questão ao afirmá-la como falsa. A camisinha tem uma taxa de falha de 3% quando usada de maneira correta em todas as relações sexuais8. Sabe-se que o uso do preservativo é fundamental para a prevenção de DST e gravidez9. Sua eficácia ultrapassa 85%10; podendo chegar a 98% e 95% para o preservativo masculino e para o feminino, respectivamente11. A falha do preservativo é decorrente da falta de motivação para interromper carícias anteriores à relação e colocar o preservativo. A taxa de falha, portanto, está relacionada à própria falha do usuário ao não usar o preservativo de maneira correta12.

Acerca da camisinha feminina, os profissionais foram perguntados se esta deve ser evitada durante a menstruação. Desses, 8 (11,3%) erraram respondendo como verdadeiro. O preservativo feminino pode ser utilizado em todas as relações, inclusive durante a menstruação, não sendo obrigatória a não utilização durante o período menstrual8.

Quanto ao diafragma, foi perguntado se esse deve ser usado com espermicida e retirado 4 horas após a relação sexual. Neste item, 70 enfermeiros responderam e 42 (60%) erraram ao afirmá-la como verdadeira. O espermicida pode ser usado como auxiliar no uso do diafragma5. Recomenda-se que se use uma pequena quantidade de creme ou geléia espermicida no diafragma, mas apenas se o espermicida for um método coadjuvante7. O diafragma é um método eficaz que não causa efeitos sistêmicos, cujo tempo mínimo adequado para retirada após a relação é de 6 horas e no máximo 24 horas13.

Os profissionais foram perguntados acerca de tempo de ação do espermicida. Dos 70 profissionais que responderam, 51 (72,9%) acertaram ao afirmar como verdadeiro um intervalo de 1 a 2 horas. É recomendado que se espere de 10 a 15 minutos após a inserção do espermicida em forma de tablete ou supositório, não havendo essa necessidade para cremes, espumas e geléias, e sua ação é de 1 a 2 horas7.

Mesmo não sendo uma realidade da nossa população, é importante o conhecimento dos profissionais que atendem em planejamento familiar acerca desse e de todos os outros métodos.

Ao serem perguntados acerca da durabilidade do DIU, 67 enfermeiros responderam e destes, 65 (97%) acertaram respondendo essa questão como verdadeira, que afirmava que a durabilidade é de 5 a 10 anos. Essa variação de tempo de durabilidade do DIU varia de acordo com o tipo, sendo de 5 anos para o DIU Multiload Cu-375; 10 anos para o Tcu-380; e de 5 a 7 anos para o DIU com levonorgestrel8.

Esse grande tempo de durabilidade é uma das razões pelas quais as mulheres optam por esse método, além do método conferir maior autonomia em relação ao parceiro14.

Perguntou-se se os métodos da tabela, muco cervical e temperatura são indicados para adolescentes e mulheres no climatério e 4 (5,6%) enfermeiros erraram ao dizer que esta é uma sentença verdadeira. Sabe-se que métodos comportamentais são contra-indicados para mulheres com ciclo menstrual irregular7, como é o caso de adolescentes e mulheres no período do climatério.

Quanto ao item que versava sobre a possibilidade de haver espermatozóides no líquido que sai do pênis antes na ejaculação, na prática do coito interrompido, todos os profissionais, 71 (100%), acertaram ao responderem como verdadeira. O coito interrompido não é recomendado como única opção de método contraceptivo devido a sua grande possibilidade de falha por causa da presença de espermatozóides no líquido anterior à ejaculação e pela possível falta de controle do homem para interromper a relação5.

Quanto ao método da temperatura corporal basal, foi afirmado que relações durante a madrugada e refeições próximas ao horário de dormir podem alterar a eficácia do método e 25 (35,2%) enfermeiros erraram ao responder que essa questão é falsa. Além destes fatores, podem afetar a eficácia do método da temperatura corporal basal a ingestão de bebidas alcoólicas, sono interrompido, mudanças no ambiente e alterações emocionais8.

Quanto à questão que referia que algumas DST podem ser prevenidas por métodos naturais, 69 (97,2%) dos enfermeiros responderam como falso, acertando, pois não há nenhum método contraceptivo natural que evita DST durante o seu uso7.

Sobre o método do muco cervical foi afirmado que este se apresenta transparente, elástico, fluido, escorregadio e em pequena quantidade durante o período fértil; 37 (52,1%) enfermeiros erraram ao responder que essa afirmação é verdadeira, já que a quantidade é aumentada e não pequena7. É importante que se saiba essas características, principalmente para dar orientações à mulher, que pode ter maior facilidade em identificar seu período fértil observando apenas algum dos aspectos do muco, inclusive a quantidade, por ser algo mais fácil de perceber quando há alterações.

Os métodos comportamentais são, de longe, os menos utilizados e os menos conhecidos pela população, que apresenta mais dificuldades em "usá-los". Porém, os profissionais devem estar aptos para dar todas as orientações inerentes a esses métodos aos clientes que buscam o serviço de saúde e que estão interessadas em utilizar como contraceptivos algum método natural.

Um questionamento realizado estava relacionado à legislação que regulamenta a esterilização cirúrgica no Brasil, Lei 9.263, de 1996. Foi afirmado que é necessário que a mulher tenha dois filhos vivos ou que seja a mulher seja maior de 25 anos. Dos pesquisados, 23 (32,4%) erraram afirmando que é falsa essa questão.

Alguns autores afirmam que as maiores causas de erro acerca desta lei estão relacionadas à interpretação errônea na combinação dos critérios sobre idade e número de filhos. Muitos profissionais somam os dois critérios, quando é necessário apenas um deles, o que pode ser justificado pela questão que os médicos referem que as mulheres são jovens e há muito arrependimento. Um outro erro é o aumento do número de filhos mínimos exigidos15.

Quando questionados se o homem pode ter relações sexuais logo após a vasectomia sem riscos de engravidar a parceira, 62 (87,3%) enfermeiros acertaram, respondendo a sentença como falsa. Ao realizar vasectomia, é necessário que o homem realize espermogramas após 30 ejaculações e use preservativo ou outro método, pois há risco de gravidez, já que as primeiras ejaculações após a vasectomia podem conter espermatozóides. Portanto, até que o espermograma negative, o homem não deve ter relações sexuais5;8. Essa questão tornase inerente, pois a vasectomia consiste em um método simples e barato (em relação à laqueadura tubária), além de trazer para o homem a responsabilidade conjunta da contracepção.

Acerca das complicações da vasectomia, foi indagado se o sangramento pode ser uma das complicações. Dos 70 profissionais que responderam, 14 (20%) enfermeiros erraram ao dizer que essa afirmativa é falsa. Muitos profissionais se detêm somente no edema e no hematoma como complicação da vasectomia, não sabendo de outras possíveis complicações e não realizando, portanto, orientações acerca destas complicações. Além do edema, podem ser citados a dor, o hematoma e o sangramento e a infecção local (menos comuns) como complicações da vascetomia7.

Foi perguntado quanto tempo é necessário que a mulher abstenha-se de relações sexuais após realizar a laqueadura. Afirmou-se que são necessárias 2 semanas. Dentre os 70 enfermeiros que responderam, 39 (55,7%) enfermeiros responderam a afirmativa como verdadeira, errando, portanto esse item. Na verdade, após a realização da cirurgia para esterilização, a mulher deve abster-se de relações sexuais por apenas uma semana para a efetividade do método. A interrupção das relações se dá na ocorrência de dor7.

Vê-se a necessidade de capacitação dos profissionais para que esses possam passar o máximo de informações para seus clientes, obtenham a confiança dos usuários, sejam qualificados e consigam a efetividade e a continuidade do método contraceptivo e a autonomia dos clientes, fazendo com que estes também se tornem responsáveis e ativos em suas próprias escolhas e decisões.

 

Considerações finais

Os dados apontam a necessidade de capacitação por parte dos enfermeiros, no que se refere à práticas de contracepção, objetivando atuar de forma mais ativa, somando conhecimentos científicos a conhecimentos e valores populares, e dando oportunidade de esclarecimentos de dúvidas de clientes que buscam orientação.

A autonomia do profissional enfermeiro depende, também, do seu conhecimento, sendo necessário, portanto, que enfermeiros visem uma atuação independente e com competência.

Mostra-se ainda, que os enfermeiros devem buscar atualizações acerca dos métodos contraceptivos, inclusive aqueles que a unidade dispõe, visando melhores ações de enfermagem e fazendo com que os clientes recebam informações fidedignas.

Em busca de garantia da eficácia do método escolhido para a contracepção, é preciso que as informações transmitidas aos clientes sejam corretas e que as mulheres e os casais não mantenham qualquer dúvida acerca do método. Da atuação do profissional de saúde, inclusive o enfermeiro, depende a eficácia dos métodos, pois informações intrínsecas aos métodos e a maneira correta de transmiti-las estão diretamente relacionadas à seguridade do anticoncepcional e à conquista da autonomia da mulher e do homem em relação ao serviço.

 

Referências bibliográficas

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