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Enfermería Global

versión On-line ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.20 no.61 Murcia ene. 2021  Epub 01-Feb-2021

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.420751 

Revisões

Conforto de pacientes em cuidados paliativos: revisão integrativa

Mariana Cristina dos Santos Souza1  , Rosângela Garcia Jaramillo2  , Moema da Silva Borges3 

1Enfermeira, Mestre em Enfermagem e Doutoranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Universidade de Brasília – Brasil.

2Enfermeira, Mestre e Doutora em Enfermagem.

3Enfermeira, Mestre e Doutora em Ciências da Saúde, Docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Universidade de Brasília – Brasil.

RESUMO

Objetivo:

Identificar e sintetizar as pesquisas que versam sobre o conforto dos pacientes em cuidados paliativos.

Método:

Revisão integrativa em 11 bases de dados, com a seguinte questão de pesquisa: “Quais são as estratégias utilizadas para minimizar as necessidades de conforto dos pacientes em cuidados paliativos?”. Os estudos selecionados foram submetidos a análise de conteúdo, com auxílio do software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires - IRAMUTEQ.

Resultados:

Foram identificados 8.109 artigos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados e analisados 16 artigos. O dendograma gerado na análise realizada com auxílio do software IRAMUTEQ facilitou a identificação das principais estratégias utilizadas para minimizar as necessidades de conforto dos pacientes em cuidados paliativos, a saber: rede social de apoio, intervenções de conforto e a comunicação nos cuidados paliativos.

Conclusão:

A síntese dos estudos analisados indicou que as principais estratégias utilizadas para diminuir as necessidades de conforto dos pacientes em cuidados paliativos são o apoio (da equipe, social e familiar), contato físico, carinho, comunicação, conhecimento, alívio da dor, gentileza, banho, musicoterapia, radioterapia, contato com o ambiente externo (natureza), brincar, contato com outras pessoas e a espiritualidade. Os estudos demonstraram que várias intervenções não farmacológicas, que parecem triviais e de pouca complexidade tecnológica (como disponibilidade, carinho, apoio, banho), tem a capacidade de afetar significativamente o estado de conforto dos pacientes.

Palavras-chave: Enfermagem; Conforto do Paciente; Cuidado Paliativo; Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida; Tanatologia

INTRODUÇÃO

A morte, assim como o nascimento, consiste num episódio natural da existência humana. Ao longo do século XX, ela deixou de ser vivenciada nos lares do moribundo, ao lado de seus familiares - morte domada - para ser experienciada nos hospitais, de forma solitária, com o paciente circundado de aparelhos invasivos e tecnologia pesada - morte selvagem - 1,2.

Na atualidade, entende-se que o processo de morte e morrer precisa ser vivenciado da forma mais digna e confortável possível. Nesse contexto, o cuidado paliativo é apontado como um modelo integrativo na transição entre a vida e a morte, e remete a um resgate histórico da antiga prática da “morte domada”. O cuidado paliativo é “a abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, o que requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual” 3.

Paliar é confortar, aliviar sintomas, ouvir, respeitar, compartilhar, acolher, acompanhar até o fim e depois da vida o doente e os familiares. Nessa perspectiva, o cuidado paliativo tem como um de seus objetivos primordiais prover o máximo de conforto para o paciente 4,5.

Conforto, do latim “confortare”, significa fortificar, corroborar, conceder, consolar, aliviar, assistir, ajudar e auxiliar 5. O conforto pode ser descrito como um construto complexo e multidimensional, e consiste numa experiência subjetiva, positiva e individual, que pode ser vivida em situações de doença e/ou tratamento pelo indivíduo, sendo o final desejável no cuidado do paciente 5,6. Kolcaba define o conforto como a condição vivenciada pelas pessoas que recebem medidas de conforto. É a experiência imediata e holística da satisfação (ativa, passiva ou cooperativamente) das necessidades dos três tipos de conforto - alívio, tranquilidade e transcendência - nas quatro dimensões da experiência humana (física, psicoespiritual, ambiental e social) 7.

Pode-se definir o alívio como a condição de uma pessoa que teve uma necessidade específica satisfeita; tranquilidade como o estado de calma e contentamento; e transcendência como a condição na qual o indivíduo suplanta seus problemas e sofrimentos 7.

Assim, o conforto pode ser experienciado em quatro dimensões, são elas: 1- física, que pertence as sensações do corpo; 2- psicoespiritual, que pertence à consciência interna de si, incluindo autoestima, sexualidade, o conceito de si mesmo e o significado da vida e também a relação com uma ordem ou um ser superior; 3- ambiental, que diz respeito ao meio, condições e influências externas; e 4- social, relacionada as relações interpessoais e familiares 7.

Nesse sentido, conhecer as experiências de conforto dos pacientes torna-se um aspecto relevante para a prática da assistência paliativa, a fim de orientar os cuidados prestados de acordo com as necessidades dos pacientes, para maximizar o efeito das intervenções de conforto 4. Neste contexto, este estudo de revisão tem o objetivo de identificar e sintetizar as pesquisas que versam sobre o conforto dos pacientes em cuidado paliativo.

MÉTODO

Realizou-se a revisão integrativa, de forma sistemática. Para a elaboração da questão de pesquisa, utilizou-se a estratégia PICO (acrônimo para patient, intervention, comparison, outcomes). Assim, a questão de pesquisa delimitada foi: “Quais são as estratégias utilizadas para minimizar as necessidades de conforto dos pacientes em cuidados paliativos?” Nela, o primeiro elemento da estratégia (P) consiste no paciente em cuidados paliativos; o segundo (I), as estratégias; e o quarto elemento (O) conforto do paciente. Ressalta-se que, dependendo do método de revisão, não se aplica todos os elementos da estratégia PICO. Nesta revisão integrativa, o terceiro elemento, ou seja, a comparação, não foi utilizada.

A estratégia de pesquisa baseou‐se na combinação do PICO, gerando a seguinte combinação: (“Patients” OR “Hospice Care” OR “Palliative Care” OR “Terminal Care” OR “Palliative Medicine” OR “Neoplasms” OR “Death” OR “Aged”) AND (“Nursing Care” OR “Patient Care” OR “Patient Care Planning” OR “Hospice and palliative care nursing” OR “Patient Care Team” OR “Nurse-Patient relations” OR “Nursing” OR “Oncology Nursing” OR “Interpersonal Relations” OR “Palliative Care” OR “Patient Comfort” OR “Holistic Nursing”) AND (“Patient Comfort”).

A busca foi realizada em novembro de 2019 e os seguintes critérios de inclusão foram adotados: artigos originais publicados nos idiomas português, inglês e espanhol; no período de janeiro de 2009 a novembro de 2019, disponibilizadas on-line e em texto completo. Os critérios de exclusão foram: artigos repetidos e artigos que não abordaram o tema do conforto em cuidados paliativos.

As bases de dados utilizadas foram: Scientific Electronic Library Online (Scielo), Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), US National Library of Medicine (PUBMED), American Psychological Association (APA), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), CUIDEN, Web of Science, Cochrane e Scopus.

A análise dos estudos selecionados foi submetida a análise de conteúdo com auxílio do Software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ), que realiza análises quantitativas de dados textuais com base na similaridade de vocabulário e sobre tabelas, indivíduos/palavras. O corpus foi elaborado pelos estudos selecionados, traduzidos, excluindo tabelas, quadros e referências, organizados em um único arquivo de texto. Desta forma, o corpus analisado pelo software foi formado pelo conjunto dos 16 artigos selecionados.

RESULTADOS

Foram identificados 8.109 artigos e, após as etapas de triagem e elegibilidade, foram incluídos 16 para a análise (Figura 1).

Figura 1.  Fluxograma do processo de seleção dos estudos. Brasília, DF, 2020. 

No Quadro 1 reuniu-se dados relevantes dos artigos, como autores, revista, local, ano de publicação, objetivos e métodos.

Quadro 1.  Síntese dos artigos selecionados por autores, revista, local, ano objetivo e método. Brasília, DF, 2020. 

Os 16 artigos foram submetidos a análise de conteúdo pelo software IRAMUTEQ, que gerou a nuvem de palavras (Figura 2). A nuvem de palavras organiza as palavras em agrupamentos gráficos com base em sua frequência, tratando-se de uma análise lexical simples e fácil do ponto de vista gráfico.

Figura 2.  Nuvem de palavras dos artigos selecionados. Brasília, DF, 2020. 

O software efetuou a clivagem do corpus em 195 segmentos de texto (ST), com aproveitamento de 151 ST's (77,44%). Emergiram 6.984 ocorrências (palavras, formas ou vocabulários), sendo 1255 palavras distintas e 589 com uma única ocorrência. O conteúdo analisado foi categorizado em três classes: classe 1: Rede social de apoio, com 48 ST (31,8%); classe 2: Intervenções de conforto, com 70 ST (46,4%) e classe 3: A comunicação nos cuidados paliativos, com 33 ST (21,9%).

Figura 3.  Dendograma da análise dos artigos selecionados para o estudo. Brasília, DF, 2020. 

DISCUSSÃO

Nuvem de palavras

De acordo com a Figura 2, as palavras mais predominantes foram paciente, conforto, cuidado, paliativo, vida e dor. No cenário dos cuidados paliativos, de acordo com os artigos analisados, compreende-se que o paciente é o foco do cuidado, e que estes cuidados tem como principal objetivo o conforto do paciente. Os cuidados no final de vida são encarados de forma paliativa, devido ao desdobrar da doença de base. Porém, a condição paliativa visa buscar a qualidade de vida do paciente e minimização da dor, causada pela condição da doença.

Classe 1: Rede social de apoio

O termo apoio social, em sua primeira definição, foi concebido como as trocas interpessoais, que incluem os seguintes elementos: afeto, afirmação e ajuda. As trocas afetivas implicam o gostar, o admirar, o respeito e/ou o amor; as trocas de afirmação implicam no reconhecimento do outro e a legitimação de suas ações e; as trocas de ajuda são aquelas relacionadas com a assistência ou ajuda provida quanto a recursos, dinheiro, informações e cuidados 23,24. Esta rede social permeia toda a vida do indivíduo e, ao longo dela, vai se transformando 25. Como exemplos dessas redes, nos textos selecionados, se identificou a equipe de saúde, a família, os amigos, a sociedade e o emprego, fornecendo apoio psicológico e financeiro.

Os pacientes informaram que o simples fato de permanecerem em um hospital, sendo cuidados pela equipe de saúde, já transmitia conforto. A ansiedade era reduzida quando percebiam o papel dos enfermeiros nos cuidados e dos médicos. A presença de ambos proporcionava a redução do sentimento de solidão e acarretava alívio 21.

O apoio, por parte da equipe de saúde, é tão importante que um dos artigos expôs que um paciente decidiu mudar de médico porque este não lhe dava atenção e não se simpatizava com suas necessidades 12.

As enfermeiras foram descritas como afáveis, prestativas, gentis, compreensivas, fantásticas, simpáticas e próximas. Habilidades de cuidar, ter empatia, ser presente e digno de confiança emergiu como definição comum dos enfermeiros 15. A equipe médica contribui no alívio da ansiedade, do medo e da sensação de impotência, enquanto os acompanhantes são um elo entre o paciente e a equipe de saúde, fornecendo suporte emocional, segurança e ajudam com conselhos para a vida após a alta 21.

Na visão das crianças, os profissionais ajudam tendo tempo para brincar com elas, sendo confiáveis, desejando o melhor para elas, tendo relacionamento amigável, procurando o melhor para a saúde delas, demonstrando que se importam e as visitando quando estão sozinhas 14. Nesse contexto, os profissionais de saúde, ao estabelecem relacionamentos com pacientes, garantem sua segurança e proteção 21.

Os pacientes expressaram, como uma forma de conforto, a necessidade de apoio psicológico, não apenas durante o diagnóstico, mas também ao longo do curso de sua doença. Eles esperam que os profissionais considerem suas necessidades e se simpatizem com eles 12.

Durante a internação, o paciente também convive com outros pacientes na mesma situação e com seus acompanhantes. Esta também é uma forma de apoio, no qual todos se ajudam e, caso precisem de algo, conseguem suporte com as pessoas mais próximas 15,21. Um estudo envolvendo uma criança internada demonstrou que a convivência desta com outra criança melhorou sua escala de conforto. As autoras descrevem que esta intervenção não apenas ajudou a satisfazer a necessidade de alívio, mas também satisfez a necessidade de tranquilidade pela continuidade das interações e emoções das crianças, dando suporte uma a outra. Se os pacientes com câncer têm um ao outro dando apoio contra tensões, solidão e desamparo, a esperança e o desejo de manutenção da vida revive entre eles. As consequências dessas interações podem ajudar a superar sua dor e alcançar a transcendência 19.

O apoio familiar é muito presente nos pacientes em cuidados paliativos. Um dos artigos apontam os desejos de crianças em cuidados terminais sobre este apoio, referidos como: a presença dos familiares quando estão ansiosas; uma família unida; o suporte por parte da família; reviver memórias com a família; uma boa relação com os irmãos, não querer que a família minta; que nenhuma notícia ruim seja dita pela família; não se sentir um fardo; perceber que os parentes não estão se preocupando excessivamente com a saúde; sentir que os familiares não estão incomodados com ela; não ver os parentes excessivamente tristes, mas sim felizes e sorrindo 14. Promover um ambiente no qual os pacientes são capazes de se conectar verdadeiramente com seus parentes e familiares é um importante fator para atingir uma boa morte.

Outro apoio citado nos artigos foi o apoio financeiro. Os pacientes que tinham emprego gostariam que seus empregadores e empresas compreendessem o momento que estão passando e expressaram medo de serem demitidos pela doença. Alguns esperavam apoio financeiro devido a necessidade de tratamento contínuo em vários serviços, o uso de medicamentos caros, o impacto da doença em seu trabalho e renda e problemas para atender aos custos de tratamento 12.

No estudo sobre pacientes com Esclerose Múltipla, o apoio social foi um ponto citado pelos pacientes. Eles queriam o estabelecimento de uma consciência cultural, porque experimentaram o estigma social resultante de uma consciência inadequada desta doença entre pessoas e de seu mau comportamento e acreditavam que meios de comunicação podem ser eficazes nesta mudança de pensamento, através de informações fidedignas sobre a doença e educação para a população 12.

Estudo que elencou os motivos de desconforto dos pacientes indicou que o enfermeiro deve reduzir e modificar algumas variáveis que desencadeiam o conforto prejudicado, buscando o reestabelecimento de vínculos sociais e familiares que possam ter sido perdidos, evidencia-se assim, a importância dos apoios interpessoais durante o cuidado do paciente terminal 13.

Classe 2: Intervenções de conforto

Kolcaba afirma que os enfermeiros devem avaliar o paciente e compreender suas necessidades de conforto, prestar assistência de enfermagem e ajudar o paciente a fortalecer suas fontes de apoio (como enfrentamento, apoio à família e espiritualidade). De acordo com a teoria do conforto, sabe-se que intervenções relaxantes (massagem, toque terapêutico, etc.) amplia o conforto do paciente. Mudanças relacionadas ao relaxamento, pensamento positivo, sentir-se bem e feliz são observados em pacientes com maior conforto 26,27.

As intervenções em cuidados paliativos devem começar no ato do diagnóstico e se perpetuar durante todo o tratamento, gerenciando o controle da dor e de todos os sintomas globais 28. Estas podem ser realizadas por equipe multiprofissional composta por profissionais como enfermeiro, psicólogo, médico, assistente social, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, dentista e assistente espiritual 29.

A dor foi uma das necessidades que os pacientes expressaram. Para o alívio da dor, era importante que os enfermeiros tivessem tempo para ouvir as queixas dos pacientes, os ajudassem e estivessem atentos aos sinais de desconforto álgico. Um dos pacientes expressou que a conversa com os enfermeiros aliviava a dor. Este alívio também ocorreu quando os enfermeiros deram abraços ou seguraram nas mãos deles 15. Os sentimentos de preocupação, carinho, confiança e segurança também foram relacionados ao conforto em outros artigos 4,20,22.

Quando a dor é aliviada após a admissão no hospital e os sintomas são controlados (de maneira invasiva ou não), é possível que pacientes durmam, comam, se movam e esvaziem a mente, fazendo com que o corpo volte ao normal. O alívio da dor, com a ajuda dos médicos e dos outros pacientes, ajuda os pacientes a atingirem o conforto e, atingindo o conforto, estes conseguem melhorar sua vitalidade 21.

Outra necessidade citada foi o controle do estresse. No estudo com crianças em estágio terminal, elas disseram que desejavam o alívio da dor e do stress físico; a suspensão de testes, das medicações e tratamentos dolorosos e desnecessários; o conforto e cuidado/carinho; garantia sobre os testes e tratamentos e cuidado e gentileza quando partes doloridas do corpo fossem tocadas 14.

Dois dos artigos selecionados apontaram que o banho figura como uma intervenção de conforto. A prática do banho diminuiu a dor, a frequência cardíaca, a fadiga, a ansiedade, e melhorou o bem-estar dos pacientes. O bem-estar está relacionado a possibilidade do paciente mover os membros, que normalmente eram pesados ​​demais para levantar fora da água, corroborando com outros estudo que evidenciaram que a mobilidade física prejudicada acentuava o desconforto nos pacientes 10,13. As respostas que os pacientes deram sobre o banho foram que este foi confortável, fácil, descansado, agradável, relaxante e emocionante. Após perguntados se gostariam de continuar com a prática, todos disseram que sim. O banho trouxe conforto físico e psicológico aos pacientes, e concluiu-se que o método é seguro e analgésico para os pacientes terminais 11.

Uma outra intervenção identificada para atingir o conforto do paciente foi a musicoterapia. Esta ajuda no alívio dos sofrimentos físicos e psicológico, tem a capacidade de ajudar os pacientes a se reconectar com memórias felizes, ajuda na identificação de momentos-chave da vida que ajudaram a definir seus relacionamentos, auxiliaram os pacientes a se divertirem novamente e estreitar laços afetivos (com os amigos, familiares e equipe de saúde). Os pacientes também afirmaram que a musicoterapia os deixa relaxados, melhorando seu humor e bem-estar. A musicoterapia ajuda na busca da transcendência e significado, criando um ambiente duradouro de conforto para os pacientes e suas famílias 8.

A radioterapia foi outra estratégia citada. O estudo constatou uma correlação positiva com o conforto após as sessões de radioterapia e a qualidade de vida dos pacientes, diminuindo os sintomas do câncer 9.

As unidades de cuidados paliativos foram citadas como fonte de alívio do desconforto físico e também fonte de conforto na esfera humana, devido a atenção da equipe de saúde e rápido agir frente as necessidades dos pacientes. Fatores como a competência profissional e o cuidado individualizado são diferenciais para o conforto do paciente em cuidados paliativos. Porém, estas unidades também são vistas de maneira desconfortável, devido as perdas físicas e sociais dos pacientes ali internados e a consciência de finitude 4.

O ambiente também influenciou no sentimento de perda de liberdade, pelo fato deste não ter um espaço externo (contato com a natureza) e também a necessidade de dividir o quarto com outro paciente privando sua liberdade. Entretanto, o fato de compartilhar um quarto representou, para alguns, a melhora no conforto social, permitindo que compartilhassem sua experiência com outros pacientes. Em suma, evidencia-se a importância providenciar um ambiente físico que seja o mais similar possível com a vida cotidiana dos pacientes, para que assim estes possam viver e socializar normalmente até a sua morte 14,20.

O conforto também veio da relação com o sagrado, sendo representado por Deus e pela natureza 4. A espiritualidade influencia a percepção do paciente no desconforto e na sua doença. Um dos estudos mostrou que os pacientes que se aproximaram Deus tinham maior probabilidade de ter um melhor bem-estar emocional, e, de maneira contrária, aqueles que se distanciaram de Deus eram mais propensos a ter seu bem-estar emocional prejudicado. Portanto, é importante que os enfermeiros incentivem os pacientes a melhorar seu bem-estar emocional através da oração e outras práticas espirituais 18.

Classe 3: A comunicação nos cuidados paliativos

A comunicação é mais uma forma de intervenção de conforto que pode ser implementada nos pacientes terminais. Uma comunicação efetiva pode potencializar o conforto do paciente, assim como falhas na comunicação ou omissão de informações potencializam seu desconforto e impactam na confiabilidade do serviço.

Um dos problemas enfrentados por alguns pacientes foi a omissão do diagnóstico pelo médico. Para outros, o diagnóstico foi levantado de forma ambígua, de maneira que o paciente experimentou medo e preocupação por causa da falta de conhecimento adequado. Era esperado que os médicos lhes dissessem o diagnóstico e fornecesse informações adequadas sobre a doença e possíveis tratamento durante todas as etapas da doença, para prevenir que o paciente desenvolva uma expectativa de recuperação rápida 12. Os pacientes exprimem desejo de saber da verdade acerca de sua condição e tratamento 14.

Outro fator relacionado a comunicação foi a declaração de que o paciente estava em cuidados paliativos. No estudo com pacientes portadores de HIV, a maior parte dos participantes não sabia o significado de cuidados paliativos e alguns, que compreendiam um pouco, tinham a percepção negativa, choque e medo, por relacionar diretamente os cuidados paliativos com a morte. Porém, quando o pesquisador esclareceu a definição, os participantes referiram que não recebiam esse tipo de cuidado e que estavam ansiosos para conhecer mais 16.

Outro estudo também evidenciou que os participantes relacionaram os cuidados paliativos à morte, e que esse tipo de tratamento era inserido quando não tinha mais nada a se fazer pelo paciente. Rejeição e resistência eram reações comuns, e muitos afirmaram que tentaram não pensar em cuidados paliativos, buscando não ser negativos. Outros não consideraram o assunto relevante para eles, porque achavam que não se qualificavam para cuidados paliativos (negação da condição atual). A resistência ao cuidado paliativo foi um tema predominante, mas os participantes também declararam que suas dúvidas iniciais foram atenuadas pela explicação dos oncologistas ou pesquisadores 17.

Alguns pacientes, que tiveram experiências pregressas com seus parentes em fase terminal, disseram que fora oferecido os cuidados paliativos como última opção, normalmente seguido de um pedido de desculpas. O desconhecimento do termo pode impedir o progresso da promoção de cuidados paliativos nos estágios iniciais das doenças crônicas e doenças terminais 16,17.

Notou-se que os pacientes precisavam ser instruídos para obter mais informações sobre a doença e como auxiliar no tratamento, a fim de se transformarem em agente promotor de cuidado 14. Embora os enfermeiros perguntassem sobre a dor do paciente, estes não conversavam com eles sobre sua dor. Os pacientes esperavam que enfermeiros fornecessem informações e compartilhassem conhecimentos. O suporte ofertado por meio das informações adequadas afeta o enfrentamento do paciente frente à condição, de maneira que os pacientes experimentam menor incerteza e ansiedade quando informações e conhecimentos são compartilhados de forma verbal e não verbal 14,18. Evidenciou-se que alguns pacientes também destacaram a importância de materiais escritos sobre dor e a doença 12,14.

Os participantes também enfatizaram a importância de educar suas famílias sobre a doença e seus efeitos. Eles sentiram que isso resultou na melhor aceitação da família com os problemas dos pacientes e o ajuste das expectativas baseadas na condição do paciente 12.

Com relação aos pacientes pediátricos, considerando que as crianças geralmente são imaturas e têm uma capacidade limitada de se comunicar verbalmente, brincar com outras pessoas, incluindo a equipe, pode ser uma alternativa útil na comunicação verbal e um elemento essencial do cuidado 14.

A comunicação vai muito além das palavras e do conteúdo, uma vez que contempla a escuta atenta, o olhar e a postura, tornando-se uma medida terapêutica eficiente para pacientes em fase terminal 30.

Como limitação do estudo, entende-se que o uso da estratégia PICO de busca nas bases de dados, apesar da comprovação de sua eficiência em outros estudos, ainda é uma estratégia em desenvolvimento e alguns estudos podem não ter sido captados. Como pontos fortes, podemos citar o uso de um software no auxílio da identificação das palavras mais prevalentes e do dendograma que guiou com maior eficiência os conteúdos das classes a serem discutidas e o processo de busca e seleção de artigos pelas pesquisadoras, deixando, assim, o processo de seleção mais criterioso.

CONCLUSÃO

A síntese dos estudos analisados indica que as principais estratégias utilizadas para atenuar as necessidades de conforto dos pacientes em cuidados paliativos são o apoio (da equipe, social e familiar), contato físico, carinho, comunicação, conhecimento, alívio da dor, gentileza, banho, musicoterapia, radioterapia, contato com o ambiente externo (natureza), brincar, contato com outras pessoas e a espiritualidade.

Os estudos demonstraram que várias intervenções não farmacológicas, que parecem triviais e de pouca complexidade tecnológica (como disponibilidade, carinho, apoio, banho), tem a capacidade de afetar significativamente o estado de conforto dos pacientes.

Faz-se necessário fortalecer o uso dessas intervenções na prática dos cuidados paliativos, visando a melhoria da assistência ao paciente e cuidados paliativos, atendendo as esferas físicas, psicológicas, sociais e espirituais, bem como capacitar os profissionais no uso destas intervenções e no cuidado integral do paciente.

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Recebido: 31 de Março de 2020; Aceito: 07 de Maio de 2020

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