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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.20 n.63 Murcia Jul. 2021  Epub Aug 02, 2021

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.456911 

Originais

Qualidade de vida no trabalho de enfermeiros de instituições hospitalares da rede pública

Eduarda dos Santos Ribeiro1  , Elianara Kelly Vieira da Silva1  , Letícia de Albuquerque Jatobá1  , Wanneska Nogueira Andrade1  , Lays Nogueira Miranda1 

1 Centro Universitario Tiradentes - UNIT, Maceió, Alagoas, Brasil. eduarda.dsantos@souunit.com.br

RESUMO:

Objetivo

Analisar a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) dos enfermeiros de instituições hospitalares da rede pública.

Método

Estudo quantitativo descritivo de corte transversal, realizado em dois hospitais públicos localizados no município de Maceió/AL, no período de fevereiro a abril de 2020, onde 78 enfermeiros responderam dois questionários de auto-preenchimento, sendo o primeiro um questionário sociodemográfico e outro questionário estruturado relacionados à avaliação da QVT (TQWL-42). Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva.

Resultados

Predominou o sexo feminino (93,6%), carga horária total de 60h ou mais (56,4%), turnos de trabalho matutino, vespertino e noturno (41%), tipo de contrato concursado (74,4%), o aspecto significância da tarefa apresentou média positiva (4,34) e o aspecto serviço de saúde e assistência social apresentou média negativa (2,35). Prevaleceu a esfera psicológico/comportamental com a média de (3,69) e, segundo a representação gráfica da amostra de acordo com o TQWL-42, o aspecto significância da tarefa obteve resultado satisfatório (83,49).

Conclusão

A QVT dos enfermeiros foi avaliada como nem positiva, nem negativa, sendo necessário a ampliação de novos estudos sobre a importância dos aspectos, a fim de solucionar as problemáticas em questão.

Palavras-chave: Qualidade de vida; Saúde do trabalhador; Enfermagem

INTRODUÇÃO

Qualidade de Vida (QV) é estabelecida através de conceitos interdisciplinares de conhecimento que abrange fatores psíquicos e sociais, considerando percepções acerca da vida e seus valores individuais, objetivos e preocupações. Ressalta-se que tal definição torna-se ampla por abranger a autoavaliação de variados contextos de vida, como autocuidado, nível socioeconômico e bem estar espiritual, físico e psicomental 1.

No âmbito profissional, evidencia-se a influência do estresse do ambiente na QV do indivíduo, situação particularmente observada nos profissionais da área da saúde, em especial o enfermeiro, pois a prática profissional exige ações de alta complexidade e estreitas relações humanas, afinal, o mesmo relaciona-se diretamente com o paciente, lidando com todos os tipos de emoções, inclusive a morte 2.

Pode-se relacionar como fontes de estresse qualquer ação em que o enfermeiro precisa enfrentar e/ou adaptar-se. Dessa forma, os aspectos associados a essas atividades no setor hospitalar, como realização dos cuidados a pacientes graves, sons de equipamentos, alta movimentação de pessoas, sobrecarga de trabalho, insatisfação profissional, baixa remuneração, baixa valorização da profissão, conflitos interpessoais, jornada dupla e noturna, psicológico para lidar com a morte, entre outros, fatores esses que interferem de modo direto na QV do indivíduo, afetando sua eficácia no exercício profissional 3.

Em contexto nacional, estudos relacionados à Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) são considerados exíguos, principalmente no ramo da enfermagem, realidade essa que afeta diretamente a vida do profissional, visto que o bem-estar refere-se a um fator paralelo à saúde do indivíduo, o que pode acarretar num impacto social significativo, pois interfere tanto na vida do trabalhador, quanto do ser que necessita de cuidados 4.

No mais, estudos apontam que a qualidade da assistência prestada pelos profissionais de enfermagem sofre influência de inúmeros elementos, a exemplo do convívio interpessoal em âmbito profissional, remuneração satisfatória, reconhecimento e valorização da função realizada, além de fatores externos, como saúde, lazer e condição afetiva, aspectos estes diretamente relacionados com a QVT5.

Assim, considerando o enfermeiro como parte fundamental do planejamento e execução da assistência prestada no âmbito hospitalar, urge a necessidade de analisar a QVT destes profissionais que atuam em instituições hospitalares da rede pública, a fim de contribuir para a análise crítica das condições de vida e saúde destes, bem como provocar a reflexão dos gestores sobre a importância da elaboração de estratégias que favoreçam a QV de seus servidores, a fim de fomentar a melhoria da assistência prestada.

MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo descritivo de corte transversal, uma vez que busca observação do fator e do efeito num mesmo momento histórico, com base na avaliação individual de cada um dos membros da população, a qual pode ocorrer por meio de censo ou amostragem de parte dela (6,7.

O presente estudo foi desenvolvido em hospitais da rede pública de saúde localizados no município de Maceió/Al, em que a coleta de dados se deu entre os meses de abril e maio de 2020, sob gestão das esferas administrativas estadual e federal, sendo a amostra composta por 78 enfermeiros destas unidades hospitalares. O recrutamento dos participantes ocorreu por meio de amostragem aleatória simples.

Foram incluídos neste estudo enfermeiros efetivos ou contratados, com idade acima de 18 anos e registrados no Conselho Regional de Enfermagem de Alagoas (COREN/AL) e excluídos os enfermeiros que exerciam exclusivamente função administrativa, estevam em período de licença (maternidade, sem vencimentos, qualificação profissional e outras) e possuíssem menos de um ano de atuação profissional como enfermeiros no âmbito hospitalar.

O presente estudo foi realizado por meio da aplicação de dois questionários de auto-preenchimento, sendo o primeiro um questionário sociodemográfico e o outro um questionário estruturado relacionado à avaliação da QVT (TQWL-42)8. O primeiro instrumento trata-se de um questionário estruturado contendo questões relacionadas aos dados pessoais (idade, gênero, estado civil e escolaridade presença de filhos/dependentes), ao processo de trabalho (titulação, presença de outros vínculos, carga horária semanal na unidade hospitalar e somando-se a outros vínculos, unidade hospitalar em que trabalha, tempo médio de deslocamento até o trabalho, renda mensal total e por vínculo, tempo de atuação no âmbito hospitalar, setor de atuação, turnos de trabalho, tipo de contrato de trabalho) e à saúde (uso de medicamentos, atividades de lazer, sono e repouso, comorbidades e prática de atividade física).

O instrumento TQWL-42 foi desenvolvido e validado com o objetivo de avaliar a QVT, com base nos moldes dos instrumentos WHOQOL e com o objetivo de avaliar a QVT de forma global sem enfoque num aspecto específico. Assim, o mesmo é composto por 47 questões, das quais cinco são destinadas ao conhecimento da amostra e quarenta e duas estão divididas em cinco esferas: Biológica/Fisiológica, Psicológica/Comportamental, Sociológica/Relacional, Econômica/Política e Ambiental/Organizacional (8.

Após o preenchimento, os formulários foram recolhidos pelos pesquisadores, atendendo à disponibilidade dos participantes, para processamento e análise dos dados. Os dados coletados foram organizados em planilhas do Microsoft Office Excel® para formulação do banco de dados e realização de estatística descritiva.

O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Tiradentes CEP/UNIT de Maceió-AL, pelo parecer nº 3.814.667 e sob o número de registro na Plataforma Brasil - CAAE:14364819.4.0000.5641.

RESULTADOS

Os dados sociodemográficos dos enfermeiros avaliados foram distribuídos por faixa etária, sexo, estado civil, filhos dependentes, escolaridade, renda mensal total e uso de medicamento controlado. A maioria dos enfermeiros estavam inclusos na faixa etária de 36-46 anos (44,8%), o sexo feminino prevaleceu (93,6), estado civil casado(a)/união estável (74,3%), um filho (34,6), ensino superior completo (55,1), 7 ou mais salários mínimos (44,9%) e não utilizava medicamento controlado (88,5%), como ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1:  Perfil sociodemográfico dos enfermeiros da rede pública de saúde do estado de Alagoas. Maceió (AL), Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa

O perfil de trabalho dos enfermeiros foi avaliado de acordo com a quantidade de vínculos empregatícios, carga horária total, setor hospitalar, tempo médio de deslocamento, tempo de serviço na empresa, turno de trabalho e tipo de contrato, como ilustrado na Tabela 2. A maioria dos enfermeiros possuía apenas um vínculo empregatício (39,7%), carga horaria total de 60 horas/semana ou mais (56,4%), atuantes nas unidades de internação (29,5%), tempo de deslocamento até o trabalho de 15-30 minutos (41,0%), possuía tempo de serviço na empresa de 3-5 anos (33,3%), laboravam nos turnos matutino, vespertino e noturno (41,0%) e eram concursados (74,4%).

Tabela 2:  Perfil de trabalho dos enfermeiros da rede pública de saúde do estado de Alagoas. Maceió (AL), Brasil, 2020. 

Fonte: dados da pesquisa

A caracterização da amostra foi distribuída de acordo com os aspectos do instrumento TQWL-42, como ilustrado na Tabela 3. Os aspectos disposição física e mental (3,06), capacidade de trabalho (3,93), autoestima (3,79), significância da tarefa (4,34), feedback (3,77), relações interpessoais (3,81), autonomia (3,31), tempo de lazer (3,06), recursos financeiros (3,11), segurança de emprego (3,62), variedade da tarefa (3,13), identidade da tarefa (3,69) e auto avaliação da QV (3,09) apresentaram médias positivas.

Os aspetos serviço de saúde e assistência social (2,35), tempo de repouso (2,88), desenvolvimento pessoal e profissional (2,85), liberdade de expressão (2,94), benefícios extras (2,74), jornada de trabalho (2,74), condições de trabalho (2,60) e oportunidade de crescimento (2,60) apresentaram médias negativas.

Tabela 3:  Caracterização da amostra de acordo com a distribuição dos aspectos do instrumento TQWL-42. Maceió (AL), Brasil, 2020. 

DP = desvio padrão

Fonte: dados da pesquisa

A caracterização da amostra de acordo com a distribuição das esferas, mostrou que a esfera psicológico e comportamental apresentou média homogênea (3,69), como ilustrado na Tabela 4. As esferas sociológico e relacional (3,28), econômico e político (3,05), biológico e fisiológico (3,05) e ambiental e organizacional (3,01) apresentaram médias heterogêneas. A média geral (3,21) indicou que os resultados obtidos não foram nem satisfatórios nem insatisfatórios.

Tabela 4:  Caracterização da amostra de acordo com a distribuição das esferas do instrumento TQWL-42. Maceió (AL), Brasil, 2020. 

DP = desvio padrão

Fonte: dados da pesquisa

A representação gráfica da amostra evidenciou que o aspecto significância da tarefa apresentou resultado muito satisfatório com média 83,49, seguido de disposição física e mental (51,44), capacidade de trabalho (73,24), autoestima (69,87), feedback (69,63), relações interpessoais (70,35), autonomia (57,85), tempo de lazer (51,44), recursos financeiros (52,72) segurança de emprego (65,38), variedade da tarefa (53,21), identidade da tarefa (67,31) e auto avaliação da QV (52,24), os quais apresentaram resultados satisfatórios.

Os aspectos insatisfatórios foram serviço de saúde e assistência social (33,65), tempo de repouso (46,96), desenvolvimento pessoal e profissional (46,15), liberdade de expressão (48,56), benefícios extras (43,43), jornada de trabalho (43,43), condições de trabalho (40,06) e oportunidade de crescimento (40,06).

A representação gráfica da amostra, de acordo com a Figura 1, evidenciou que o aspecto significância da tarefa apresentou resultado muito satisfatório com média 83,49, seguido de disposição física e mental (51,44), capacidade de trabalho (73,24), autoestima (69,87), feedback (69,63), relações interpessoais (70,35), autonomia (57,85), tempo de lazer (51,44), recursos financeiros (52,72) segurança de emprego (65,38), variedade da tarefa (53,21), identidade da tarefa (67,31) e auto avaliação da QV (52,24), os quais apresentaram resultados satisfatórios.

Os aspectos insatisfatórios foram serviço de saúde e assistência social (33,65), tempo de repouso (46,96), desenvolvimento pessoal e profissional (46,15), liberdade de expressão (48,56), benefícios extras (43,43), jornada de trabalho (43,43), condições de trabalho (40,06) e oportunidade de crescimento (40,06).

Figura 1:  Representação gráfica da amostra de acordo com a distribuição dos aspectos do instrumento TQWL-42. Maceió (AL), Brasil, 2020. 

DISCUSSÃO

A maioria dos enfermeiros entrevistados no presente estudo são do sexo feminino (93,6%), dado que se torna compreensível devido ao fato de que, por natureza, as mulheres são ligadas à prática do cuidado, ocasionando numa grande discrepância no número de enfermeiras atuantes em relação aos profissionais enfermeiros do sexo masculino (9,10.

Outra variável estudada foi estado civil, a qual possui uma relação direta com a QV do indivíduo, assim, esse estudo apresentou a maior parte dos trabalhadores como casado(a)/união estável (74,36%). A literatura aponta que, compartilhar conexões afetivas, possuir vínculos conjugais, ter e criar filhos, desfrutar de uma companhia e possuir alguém para dividir emoções e opiniões, são fatores que influem de forma positiva na QV, uma vez que o ser humano, por natureza, necessita de contato social para um desenvolvimento saudável (10.

Foi constatado que 55,13% dos profissionais possuem apenas ensino superior completo, o que influencia na QV do indivíduo, uma vez que é comprovado que profissionais que possuem menor escolaridade tendem a enfrentar situações mais complicadas ao exercer a função, como também no dia a dia, gerando um efeito negativo na QV do trabalhador (11,9.

Os resultados deste estudo, acerca da QVT de enfermeiros da rede pública de saúde, apontam que o aspecto significância da tarefa apresentou resultado muito satisfatório com média 83,49 e os aspectos disposição física e mental, capacidade de trabalho, autoestima, feedback, relações interpessoais, autonomia, tempo de lazer, recursos financeiros, segurança de emprego, variedade da tarefa, identidade da tarefa, autoavaliação da QV foram citados como satisfatórios (51,44, 73,24, 69,87, 69,23, 70,35, 57,85, 51,44, 52,72, 65,38, 53,21, 67,31, 52,24, respectivamente).

Ainda, foram citados como insatisfatórios os aspectos serviço de saúde e assistência social, tempo de repouso, desenvolvimento pessoal e profissional, liberdade de expressão, benefícios extras, jornada de trabalho, condições de trabalho e oportunidade de crescimento (33,65, 46,96, 46,15, 48,56, 43,43, 43,43, 40,06, 40,06, respectivamente).

Os aspectos citados acima, avaliados numa escala de 1 a 5, fazem parte do TQWL-42, (8 instrumento de mensuração da QVT utilizado no presente estudo, que possui 5 esferas, sendo estas biológica e fisiológica, psicológica e comportamental, sociológica e relacional, econômica e política, ambiental e organizacional, as quais apresentaram média geral de 3,21, significando que os resultados obtidos não foram satisfatórios, nem insatisfatório, ou seja, a QVT foi analisada pelos integrantes como nem boa, nem ruim. Além disso, a esfera que apontou maior homogeneidade foi a psicológica e comportamental, ou seja, os aspectos envolvidos mostraram pouca diferença entre os resultados e a de maior heterogeneidade, a esfera sociológico e relacional, o que significa que os resultados apresentaram discrepância entre as respostas.

No que tange à disposição física e mental, os dados obtidos na presente pesquisa apontam uma média de 3,06, sendo esse aspecto fortemente influenciado por fatores relacionados à privação de sono, trabalho noturno, desgaste físico, entre outros, pois durante o sono ocorrem processos neurobiológicos que são fundamentais para a disposição do indivíduo durante o dia. Assim, o sujeito que se priva desse momento possui o ânimo afetado. Ainda, no que se refere ao trabalho noturno e desgaste físico, tem-se que é capaz de alterar o ciclo de sono do profissional, acarretando em efeitos negativos como obesidade, ansiedade, irritabilidade, insônia, cansaço e desânimo (12.

Quanto à capacidade de trabalho, os dados obtidos mostram que a maioria dos enfermeiros estudados sente-se capaz de realizar sua função, apresentando média de 3,93, o que coincide com o estudo desenvolvido no município de Ponta Grossa, PR, onde o mesmo aponta que o estresse, dor, depressão e o esgotamento profissional se relacionam com a perda de empatia, o que afeta a QV, causando impactos na sua capacidade de trabalho 13.

Ao analisarmos fatores relacionados à significância da tarefa, este estudo obteve média 4,34, o que representa um resultado muito satisfatório, significando que os participantes do estudo enxergam sua função como de grande importância, o que influencia positivamente no bem-estar do indivíduo, uma vez que se sentir satisfeito com o trabalho acarreta num melhor desenvolvimento do desempenho para assistência adequada para com os pacientes (12,14.

É importante ressaltar que o feedback advindo das gerências também contribui para o processo de trabalho e deve ser reconhecido pelos profissionais como uma estratégia para regular a atenção desenvolvida, ao mesmo tempo em que contribui para a orientação das práticas e seleção daquelas que apresentaram resultados mais eficientes, com a finalidade de conferir valor aos profissionais e seu processo de trabalho, visto que o apoio de superiores e profissionais influencia na satisfação com o trabalho e com a vida (11,15.

Outro aspecto estudado foi a liberdade de expressão, sobre a qual o presente estudo obteve média de 2,94, significando que grande parte dos enfermeiros entrevistados expõe como insatisfatório esse aspecto, que é representado como permissão para pensar e opinar no local de trabalho, uma vez que a fala vivenciada no exercício da função é imprescindível na estruturação do trabalho, pois reflete de forma direta no prazer e autonomia dos profissionais (16.

No que diz respeito à autonomia, a média obtida foi 3,31, tendo esse aspecto forte ligação com a independência profissional e tomada de decisões, a qual possibilita aos enfermeiros liberdade para a realização das atividades laborais dentro de seus conhecimentos, com o intuito de gerar resultados positivos, a fim de causar impacto benéfico na qualidade de vida do mesmo, além de promover melhoria na assistência prestada ao paciente (17.

Na avaliação do tempo de lazer, este estudo concluiu que a maioria dos participantes do estudo apontam possuir tempo adequado para lazer, o que indica uma avaliação positiva, pois indivíduos que não praticam essas atividades possuem maior chance de desenvolver Síndrome de Burnout, alteração psicológica decorrente de alto nível de estresse no trabalho, causando prejuízos em sua QV. Além disso, a diminuição de oportunidade para atividades de lazer é consequência de vários fatores, como: múltiplos vínculos empregatícios, ritmo acelerado de trabalho e sobrecarga de trabalho (18)(13)(14.

O aspecto recursos financeiros foi avaliado com média 3,11, sendo um resultado satisfatório com tendência para insatisfatório, indicando que grande parte dos enfermeiros apontam uma predisposição à insatisfação no que se refere à remuneração. Baixo salário é um fator contribuinte para o aumento da sobrecarga de trabalho, uma vez que obriga o profissional a assumir múltiplos vínculos empregatícios. Ademais, a desvalorização financeira do profissional enfermeiro se dá pela lei da oferta e procura, em que há um maior número de enfermeiros para o número de vagas para trabalho, causando uma diminuição do salário (9)(12)(19.

Ao considerar os fatores que podem estar interferindo na jornada de trabalho, é possível apontar alguns aspectos: baixa remuneração, sobrecarga de trabalho, trabalho noturno e duplo vínculo empregatício. A QV do profissional de enfermagem é afetada negativamente por um baixo salário, pois o obriga a procurar outro trabalho, inclusive noturno, para completar suas finanças, ocasionando uma sobrecarga física e emocional, influenciando de forma negativa na sua QV (10)(19)(20)(21.

Ao analisar o fator condições de trabalho, este estudo obteve resultado insatisfatório, sinalizando que a grande maioria dos profissionais em questão apresentam descontentamento no tocante às condições trabalhistas. Sabe-se que as circunstâncias onde o profissional atua interfere diretamente na sua assistência ao paciente e ainda aumentam os riscos de acidentes e reações adversas, uma vez que causa sofrimento psicofísico com desânimo, estresse, ansiedade, entre outros 12)(14)(19)(20)(21.

Na análise do aspecto oportunidade de crescimento, este estudo alcançou média de 2,60, o que significa que a maioria dos enfermeiros em questão consideram que não há um plano de carreira adequado para a profissão, devido à grande desvalorização existente, ausência de reconhecimento e falta de motivação, fatores estes que são imprescindíveis para a realização profissional e melhoria da assistência do enfermeiro22.

CONCLUSÃO

Assim, a análise da QVT dos enfermeiros foi avaliada como nem positiva, nem negativa, através do questionário TQWL. Diante do exposto, nota-se que todos os aspectos citados possuem influência direta na QVT dos enfermeiros, em especial os itens que foram citados como aspectos negativos no presente estudo, como serviço de saúde e assistência social, tempo de repouso, desenvolvimento pessoal e profissional, benefícios extras, jornada de trabalho, condições de trabalho e oportunidade de crescimento. Esses dados substanciam a importância de um olhar especial para os fatores que influem na QVT do profissional enfermeiro, não apenas relacionados às condições físicas, como também às psicológicas, sendo essencial para esses trabalhadores um planejamento de melhorias e atenção que alcance todos os pontos citados.

Com os resultados dessa pesquisa, é possível concluir que a QVT está relacionada com diversos fatores psicofísicos e, inclusive, reflete na qualidade da assistência prestada ao cliente durante o exercício profissional. Dessa forma, faz-se necessário a ampliação de novas pesquisas relacionadas às temáticas abordadas, como a importância do serviço de saúde e assistência social, autoestima e desenvolvimento pessoal e profissional, com o objetivo de obter uma melhor compreensão destes fatores e solucionar a problemática enfrentada pelos gestores hospitalares no que se refere a QVT dos enfermeiros.

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Recebido: 20 de Novembro de 2020; Aceito: 05 de Março de 2021

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