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Enfermería Global

On-line version ISSN 1695-6141

Enferm. glob. vol.20 n.64 Murcia Oct. 2021  Epub Oct 25, 2021

https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.441691 

Revisões

Ensino da segurança do paciente na enfermagem: revisão integrativa

Ruth Cardoso Rocha1  , Maria Augusta Rocha Bezerra1  , Brenda de Meneses Barbosa Martins2  , Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes3 

1 Doctora. Profesora del curso de Enfermería Campus Amilcar Ferreira Sobral, Universidad Federal del Piauí . Teresina, Piauí, Brasil. ruthbioenf@hotmail.com

2 Licenciada en Enfermería. Enfermera del Hospital Regional Tibério Nunes . Floriano, Piauí, Brasil

3 Doctora. Profesora Efectiva del curso de Enfermería, Universidad Federal de Piauí . Teresina, Piauí, Brasil.

RESUMO:

Objetivo:

Identificar na literatura evidências científicas sobre como é realizado o ensino de segurança do paciente na Enfermagem.

Metodologia:

Revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados: LILACS, MEDLINE, BDENF, IBECS, CINAHL, Web of Science e SCOPUS.

Resultados:

Foram selecionados 11 artigos publicados a partir de 2007, predominantemente nos Estados Unidos, descritivos e de intervenção, cuja estratégia para o ensino de segurança do paciente na Enfermagem mais utilizada foi a simulação e em uma pesquisa o método da aprendizagem baseada em problema.

Conclusão:

O ensino sobre segurança do paciente na Enfermagem tem sido realizado na maioria das vezes por meio de simulação, mas é pouco difundido no Brasil. Portanto, é fundamental a inclusão desta temática nas matrizes curriculares de Enfermagem desde o início do curso e uso de métodos e estratégias robustos de ensino.

Palavras-chave: segurança do paciente; ensino; educação; enfermagem

INTRODUÇÃO

A segurança do paciente é temática prioritária na área da saúde e está diretamente relacionada à qualidade do cuidado prestado. É desafiadora para instituições de saúde, porque mesmo diante de esforços para melhorar a assistência ainda é considerável a quantidade de erros e eventos adversos que ocorrem. Deste modo, a segurança do paciente se estabelece como problema grave que ocupa papel primordial nas políticas públicas e configura-se um desafio.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu a segurança do paciente como redução, a mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado em saúde. Com a intenção de enfrentar os diversos problemas envolvendo a segurança do paciente, definiu esse tópico como sendo de alta prioridade, reconhecendo a necessidade de promovê-la como princípio fundamental para todo sistema de saúde, sugerindo que os conteúdos acerca do tema fossem inseridos na matriz curricular dos cursos dessa área1)(2.

Em países em desenvolvimento, um em cada 10 pacientes são prejudicados ao receber cuidados hospitalares. Além disto, o risco de infecção associado aos cuidados de saúde nesses países é até 20 vezes maior do que em países desenvolvidos3. Diante dessa realidade, o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria nº 529, lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente, visando entre outros objetivos, promover e apoiar a implementação de iniciativas para segurança do paciente, além de fomentar a inclusão do tema no ensino técnico, de Graduação e Pós-Graduação em saúde4.

Assim, o Programa Nacional de Segurança do Paciente está estruturado em quatro eixos, e observa-se principalmente a partir do eixo 3 que é de grande relevância a introdução de conteúdos que contemplem a segurança do paciente na matriz curricular dos cursos de saúde, melhorando conhecimento, habilidades e atitudes por parte dos discentes, repercutindo em melhor formação, em prol do cuidado seguro prestado ao paciente5,6.

Neste sentido, é necessária aprendizagem contínua para que o panorama de segurança do paciente sofra mudanças significativas. Algumas medidas que podem ser implementadas são: notificar eventos adversos e analisar suas causas reais, melhorar a qualidade do ensino nas instituições formadoras, utilizar protocolos clínicos e adotar estratégias para mais do que evitar erros, promover uma cultura de segurança no local de atuação profissional7,8.

Inserida neste contexto, a Enfermagem, entre as diversas classes de profissionais da saúde, tem importante papel nos proces sos que visam garantir e melhorar a qualidade da assistên cia prestada e consequentemente proporcionar segurança aos pacientes que estão sob seus cuidados9,10. Por ter função primordial na assistência em saúde, este profissional necessita de formação para a segurança do paciente11.

Poucos são os estudos que abordam o ensino de segurança do paciente na Enfermagem e não existe revisão integrativa da literatura sobre como ele é realizado, portanto este estudo é necessário12)(13)(14. Torna-se relevante, visto que o conhecimento científico focado neste tópico é incipiente, com escassez bibliográfica, principalmente no Brasil. Pretende-se, assim, contribuir com a disseminação dos resultados obtidos estimulando novas pesquisas acerca do ensino da segurança do paciente, subsidiando a reflexão e planejamento da formação em enfermagem para a construção de competências e habilidades essenciais com vistas ao cuidado seguro. Diante do exposto, este estudo objetivou identificar na literatura evidências científicas sobre como é realizado o ensino de segurança do paciente na Enfermagem.

METODOLOGIA

Trata-se de revisão integrativa da literatura e para sua elaboração adotou-se as etapas: identificação/formulação do problema; busca na literatura/realização da coleta de dados; avaliação dos dados; análise dos achados dos artigos incluídos na revisão e apresentação e interpretação dos resultados15.

Na primeira, elencaram-se conhecimentos disponíveis sobre ensino de segurança do paciente na Enfermagem. Deste modo, esse estudo foi guiado pela seguinte questão de pesquisa: quais as evidências disponíveis na literatura sobre como é realizado o ensino da segurança do paciente na Enfermagem? Para sua elaboração, adotou-se a estratégia PICo, na qual P corresponde aos Participantes, I ao fenômeno de Interesse e Co ao contexto do estudo (Quadro 1)16.

Quadro 1.  Questão de pesquisa segundo a estratégia PICo 

P- participantes; I-fenômeno de interesse; Co-Contexto do estudo; MeSH = vocabulário controlado da base Pubmed; Títulos CINAHL = vocabulário controlado da base CINAHL; DeCS = vocabulário controlado da base LILACS

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A busca dos artigos foi realizada em dezembro de 2017 nas bases de dados: Literatura Latina Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), via Pubmed, Web of Science e SCOPUS, por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em área com Internet Protocol (IP) reconhecido.

Foram utilizados descritores controlados (Descritores em Ciências da Saúde - DeCS, Medical SubjectHeadings - MeSH e Títulos CINAHL) e para assegurar ampla busca, foram selecionados descritores dos vocabulários controlados de cada base de dados, empregando-se os operadores booleanos “AND” e “OR”. Tendo em vista que cada base possui suas particularidades, optou-se por diferentes estratégias de busca em cada uma delas (Quadro 2).

Quadro 2.  Estratégia de busca nas bases dados 

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em periódicos que abordassem o ensino da segurança do paciente na Enfermagem, nos idiomas inglês, português ou espanhol. Foram excluídos: capítulos de livros, notícias, carta resposta, editoriais, teses de doutorado, dissertações de mestrado, relatórios téc nicos, artigos de revisão, aqueles estudos em duplicidade e que não respondiam ao questionamento da pesquisa. Ressalta-se que não houve limitação quanto ao ano de publicação dos artigos.

Procedeu-se à seleção por meio da leitura do título e resumo das publicações, excluindo aquelas que claramente não atendiam à questão desta revisão e mantendo aquelas em que havia certeza ou dúvida. Após leitura exaustiva de cada publicação na íntegra, foram excluídas aquelas que definitivamente não atendiam à questão desta revisão.

Para extração de dados foi utilizado um formulário contendo as variáveis de interesse: base de dados, periódico, autores, título do artigo, ano de publicação, idioma, país de origem da publicação, objetivo, método, resultados, conclusões e nível de evidência.

No que diz respeito aos conceitos embasadores, ressalta-se que a método de ensino foi definido nesse estudo como ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo específico17; e que a definição de estratégia foi estabelecida como arte de aplicar ou explorar os meios e condições favoráveis e disponíveis, com vista a consecução de objetivos específicos18.

Utilizou-se a classificação do nível de evidência sugerida por Melnyk e Fineout-Overholt19 que considera: I ‒ evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise de ensaios de relevantes ensaios clínicos randomizados ou oriundas de diretrizes clínicas embasadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados controlados; II ‒ evidências provenientes de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; III ‒ evidências originárias de ensaios clínicos sem randomização bem delineados; IV ‒ evidências oriundas de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; V ‒ evidências proveniente de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; VI ‒ evidências proveniente de um único estudo descritivo ou qualitativo; VII ‒ evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas.

O processo de seleção das publicações foi realizado em três etapas. Na primeira, houve a exclusão das publicações duplicadas nas bases de dados, dando preferência para a inclusão do artigo na primeira base de dados em que o mesmo foi encontrado; assim, do total de 650, foram retirados 11. Na segunda etapa foi realizada a leitura dos títulos e resumos das 639 publicações restantes, excluindo aquelas que claramente não atendiam à questão desta revisão e mantendo aquelas em que havia certeza ou dúvida. Nessa etapa permaneceram 21 artigos. Na terceira etapa, após realizada leitura exaustiva de cada publicação remanescente na íntegra, exclui-se aquelas que definitivamente não atenderam à questão desta revisão, de modo que a amostra final foi constituída por 11 artigos. A Figura 1 ilustra o processo de seleção dos artigos desta revisão integrativa, a qual seguiu as recomendações PRISMA20.

Figura 1.  Fluxograma de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos na revisão integrativa da literatura 

A análise e síntese dos dados extraídos dos artigos foi realizada de forma descritiva, assim, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão 15. Os artigos incluídos nesta revisão foram classificados em duas categorias temáticas: método e estratégia para o ensino de segurança do paciente na Enfermagem e importância do conhecimento e inclusão da temática na matriz curricular dos cursos de Enfermagem.

O estudo não foi submetido à apreciação de Comitê de Ética em Pesquisa, por não tratar de investigação que envolve seres humanos.

RESULTADOS

Dos 11 artigos analisados, cinco (46%) eram dos Estados Unidos (21)(22)(24)(25)(29), três (27%) do Reino Unido, dois (18%) da Austrália, um (9%) da Coreia do Sul. Em relação ao idioma, onze (100%) estavam em inglês. Os delineamentos mais frequentes foram: descritivo quantitativo, descritivo qualitativo e intervenção.

Os artigos foram publicados entre 2007 e 2017, prevalecendo publicações nos anos de 2014 e 2016, sendo três e quatro em cada ano respectivamente. No que se refere às bases, tanto CINAHL e SCOPUS possuíram quatro artigos analisados cada, seguido de WEB OF SCIENCE com dois, MEDLINE com apenas um. Ressalta-se que após o processo de seleção dos artigos, as bases de dados IBECS, BDENF e LILACS não tiveram artigos incluídos na amostra final. O nível de evidência da maioria dos artigos foi o VI (Quadro 3).

Quadro 3.  Características dos artigos incluídos na revisão 

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

DISCUSSÃO

Os resultados desta revisão revelaram que não existem estudos brasileiros sobre como é realizado o ensino da segurança do paciente na Enfermagem. Isto se justifica pelo fato da inserção e tentativa de unificação dos conteúdos sobre segurança do paciente serem proposições recentes nas escolas brasileiras e desta maneira não fazem parte (ou foram inseridas recentemente) da matriz curricular dos cursos de Enfermagem13.

No que concerne ao idioma, observou-se que todos estavam em inglês. Este achado relacionou-se com as bases de dados, em que os artigos foram encontrados (SCOPUS, MEDLINE, CINAHL, WEB OF SCIENCE) que requerem artigos na língua inglesa e demonstram que o assunto deve ser mais difundido nos países de língua espanhola e portuguesa.

Em relação ao delineamento, prevaleceram estudos descritivos e de intervenção. Todos apresentaram resultados de pesquisas realizadas em instituições de ensino superior com intuito de enfatizar a qualidade do ensino da segurança do paciente, por meio de questionários e análise de fatores relevantes que envolviam a temática.

Outro aspecto observado, referiu-se aos assuntos abordados na matriz curricular que envolviam o ensino da segurança do paciente, tais como: eventos adversos associados aos procedimentos cirúrgicos e outros procedimentos invasivos, erros de medicação, processo de prescrição, distribuição e administração e uso de tecnologia para minimizá-los, dentre outros 14)(21)(22)(23)(24)(25)(26)(27)(28)(29.

Método e estratégia para o ensino de segurança do paciente na enfermagem

A simulação foi a estratégia de ensino mais utilizada, evidenciada por cenários de compartilhamento de lições aprendidas que fornecem oportunidade de gestão do cuidado antes de chegar ao paciente21.

Em estudo de intervenção desenvolvido com 175 estudantes de Enfermagem utilizou-se simulação por meio de abordagem tripla, envolvendo visualização de cenário pré-gravado, no qual práticas de segurança foram violadas e outro cenário de práticas seguras. Na avaliação dos alunos, a simulação foi positiva21.

No Reino Unido, pesquisa revelou que a simulação é estratégia chave para aprendizagem, pois reúne teoria e prática, oferecendo aos estudantes oportunidade de aprenderem melhor através de experiências simuladas, além de auxiliar o aluno a agir diante de situações difíceis que podem comprometer a segurança do paciente no campo de prática23. Estudo qualitativo desenvolvido nos Estados Unidos corroborou essas informações ao evidenciar a simulação como elemento chave na preparação dos alunos, sendo sua adição ao currículo valiosa, reforçando o significado de desenvolver relacionamentos colaborativos para promoção do cuidado seguro25.

Investigação na Austrália observou conjunto de estratégias de ensino aplicadas por meio de vídeos que simulam ambientes clínicos como primeira experiência para estudantes, antes da prática habitual em ambiente hospitalar. Desta forma, os autores destacaram que são necessárias discussões por parte dos professores para auxiliarem os alunos a identificar fatores que contribuem para segurança do paciente ainda como estudantes28.

Estudo experimental realizado nos Estados Unidos expôs estudantes a variedade de cenários de simulação com intuito de sensibilizá-los quanto ao cuidado seguro. Quando usada corretamente, a simulação oferece oportunidade única para ensinar aos estudantes de Enfermagem importantes princípios de segurança do paciente. Constatou ainda que há pouca informação prática disponível para ajudar a orientar os educadores que estão interessados ​​em adotar essa tecnologia24.

Destacou-se também a aprendizagem por meio de módulos online e flipped classroom. A primeira intervenção obteve maior efeito no aumento do conhecimento dos estudantes sobre a melhoria da qualidade da segurança do paciente22.

Ainda como intervenção educacional, pesquisa realizada na Coreia do Sul com 206 estudantes constatou que a maioria dos pesquisados havia recebido educação sobre segurança do paciente, mas não em disciplinas da graduação, apenas por meio de palestras que foram ministradas durante o curso. Tal fato demonstra que é incipiente a inserção da temática segurança do paciente nas matrizes curriculares12.

Percebe-se que quase a totalidade dos artigos (10/11) elencaram estratégias de ensino e aprendizagem. O método de ensino foi referido apenas no estudo realizado na Austrália com 28 estudantes de Enfermagem que utilizou a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) para demonstrar fatores complexos e multidisciplinares de falhas relacionadas à administração de medicamentos. Esta atividade permitiu troca de conhecimento entre educadores e alunos, fazendo com que os mesmos levassem suas habilidades à prática clínica, tornando-se tais recursos eficazes em demonstrar a complexidade do erro relacionado à medicação26.

Estratégias como simulação12)(21)(24)(25)(28)(29, realização de prática supervisionada com análise de eventos significativos, reflexões sobre a prática assistencial 14, observação27, vídeos28, palestras, discussão23,26, exposição em sala de aula28,29, módulos online22,28 foram constatados nos artigos analisados. Estes difundem a importância dessas estratégias para o ensino da segurança do paciente quanto à inserção do tema nos currículos, demonstrando que para se inseri-lo é necessário adotar medidas que contribuam para uma melhor qualidade do ensino como a utilização de métodos ativos12)(22)(23)(26)(27.

Importância do conhecimento e inclusão da temática na matriz curricular dos cursos de enfermagem

Esta categoria revela que a maior parte dos artigos expôs a importância do conhecimento dos docentes e alunos de Enfermagem e a inclusão da temática na matriz curricular dos cursos de Enfermagem desde o início da academia23.

Em face disto, observou-se relevância do conhecimento dos profissionais como facilitadores do ensino, conforme corroborado em estudo realizado na Coréia do Sul com o objetivo de avaliar competências dos educadores para o ensino da segurança do paciente. Constatou que os educadores apresentaram nível relativamente baixo de habilidade e conhecimento acerca do assunto, em que os participantes relataram necessidades educacionais sobre medicação e prevenção de infecção. Dessa forma este estudo enfatiza que os professores devem ser qualificados para ensinar a segurança do paciente aos futuros enfermeiros30.

Portanto, os educadores de Enfermagem possuem uma tarefa desafiadora, para não só incorporar a qualidade na educação em segurança nos currículos, mas também desenvolver habilidades em seus alunos como consciência situacional, raciocínio e julgamento clínico, trabalho em equipe e comunicação interpessoal eficaz e, assim, ensinar de modo claro atitudes preventivas, ajudando a evitar algo que possa ocorrer futuramente31. Com isso, de acordo com a regulamentação profissional o ensino deve concentrar-se cada vez mais em esforços para garantir que os profissionais sejam competentes e aptos para ensinar e praticar o cuidado seguro14.

Corroborando, estudo realizado no Reino Unido apontou que deve haver empenho, por parte dos educadores de enfermagem, em garantir o conhecimento atualizado e relevante para estudantes, e desafiá-los a considerar a segurança em uma maneira holística, incentivando-os a pensar além da lista de verificação de segurança do paciente. Dessa forma, tais estudantes são convidados a refletir sobre o verdadeiro risco para o paciente e, de forma eficaz, contribuir para o cuidado seguro do mesmo32.

No entanto, todos os profissionais de saúde devem ser habilitados a oferecer cuidados centrados no paciente como membros de uma equipe interdisciplinar, enfatizando a prática baseada em evidências, bem como, abordagens que garantam a melhoria da qualidade do cuidado29.

Para que haja melhoria do ensino da segurança do paciente, faz-se necessária inserção do assunto nos currículos dos cursos de enfermagem. O ensino da segurança do paciente mostra-se fragmentado e carece de aprofundamento e amplitude conceitual, conforme recomenda o guia da Organização Mundial da Saúde, havendo necessidade de uma revisão dos currículos, para se contemplar uma abordagem interdisciplinar e transdisciplinar para o desenvolvimento deste tema12.

Diante do exposto, propõe-se que os currículos de enfermagem sejam revisados e inovados a partir do engajamento de todos os atores envolvidos (alunos, educadores, líderes de saúde e gestores), para que se empenhem em melhorar a cultura de segurança do paciente nos ambientes de ensino e aprendizagem31.

Em pesquisa realizada no Reino Unido, com o objetivo de explorar as maneiras formais e informais de como estudantes de medicina, enfermagem, farmácia e de fisioterapia aprendem sobre a segurança do paciente, relataram que esta não era visível como um tema curricular, e dessa forma necessita de maior relação e diálogo entre a educação e organização dos serviços de saúde, para assim ocorrer um processo de ensino-aprendizagem eficaz14.

No entanto, pode-se compreender, através de análise minuciosa, que os artigos abordam apenas a questão do ensino voltado para profissionais e graduandos, sejam eles de Enfermagem ou de outros cursos da área da saúde (Farmácia, Fisioterapia e Medicina). Constata-se, dessa maneira, que a inserção do assunto nos currículos de graduação é de valiosa importância não apenas para a enfermagem, mas também para os cursos da saúde, pois a segurança do paciente envolve um emaranhado de ações que englobam uma equipe multidisciplinar afim de garantir o cuidado seguro, livre de danos ao paciente de modo geral14.

Conforme dados da pesquisa “Perfil da Enfermagem no Brasil”, realizada em 2015, a equipe de enfermagem é composta por um quadro de 80% de técnicos e auxiliares e 20% de enfermeiros33. Nesse sentido, enfatiza-se a ausência de estudos que envolvam o curso técnico em enfermagem, demonstrando uma urgente necessidade de exposição da temática e estudos que revelem como se apresenta o cenário do ensino em segurança do paciente neste público que representa a maior força de trabalho para enfermagem brasileira e necessita ter uma formação adequada para exercerem o cuidado seguro ao paciente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que há lacuna de estudos nacionais sobre a temática desta revisão. Foi possível constatar ainda que a inclusão da segurança do paciente na matriz curricular contribui para formação mais sólida do estudante de Enfermagem, garantindo subsídios para o cuidado seguro. As estratégias e métodos como: simulação, aulas práticas supervisionadas com análise de eventos significativos, estudos de caso, vídeos, discussão em sala de aula auxiliam na inserção do ensino de segurança do paciente nesse processo.

O estudo poderá contribuir para planejamento de métodos e estratégias de ensino de segurança do paciente na Enfermagem. Sugere-se a inserção desse tópico na matriz curricular dos cursos de Enfermagem, bem como a adoção de métodos e estratégias de ensino eficazes para melhorar a qualidade do ensino da segurança do paciente, visto que ficou evidenciado que durante a graduação os estudantes possuem poucas disciplinas que enfoquem este tópico. Além disso, deve-se também realizar capacitações para profissionais destes cursos, a fim de habilitá-los para discutir com competência e qualidade o ensino da segurança do paciente.

Quanto às limitações, observou-se que a maioria das pesquisas obteve nível de evidência IV, além da existência de poucos estudos específicos sobre o ensino na formação profissional em Enfermagem, que dificultaram maiores comparações e aprofundamentos sobre o assunto. Recomenda-se a realização de novos estudos, permitindo ampliação e produção de evidências científicas confiáveis para que o assunto possa ser criteriosamente investigado e consequentemente haja a melhoria da qualidade do ensino da segurança do paciente na formação profissional de Enfermagem por meio de métodos e estratégias eficazes para o aprendizado.

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Recebido: 02 de Setembro de 2020; Aceito: 10 de Janeiro de 2021

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